ALVES,
José de Paula Rodrigues
*diplomata; emb. Bras. Paraguai 1921-1922 e
1924-1926; emb. Bras. Argentina 1926-1930; emb. Bras. Chile 1931-1935; emb.
Bras. Argentina 1938-1944.
José de Paula Rodrigues Alves nasceu em Guaratinguetá (SP) no dia 16 de outubro de 1883,
filho de Francisco de Paula Rodrigues Alves e de Ana Guilhermina Rodrigues
Alves, ambos pertencentes a famílias de grandes plantadores e comerciantes de
café em São Paulo. Seu pai foi deputado durante o Império, constituinte em
1891, senador, ministro da Fazenda nos governos de Floriano Peixoto e Prudente
de Morais, três vezes presidente de São Paulo (1887-1888, 1900-1902 e
1912-1916) e presidente da República de 1902 a 1906. Novamente eleito para a chefia da nação em 1918, não reassumiu o cargo em virtude da enfermidade que o
acometeu, vindo a falecer em janeiro de 1919. Sua mãe era filha de José
Martiniano de Oliveira Borges, visconde de Guaratinguetá. Dois dos seus sete
irmãos, Francisco de Paula e Oscar Rodrigues Alves, atuaram na política, tendo
o último sido deputado por São Paulo à Assembléia Nacional Constituinte de
1934.
José
de Paula Rodrigues Alves freqüentou o Colégio Militar do Rio de Janeiro, então
Distrito Federal, onde obteve, em 1900, o diploma de engenheiro geógrafo.
Matriculou-se em seguida na Faculdade de Direito de São Paulo, participando em
meados de 1902, junto com Antônio Carlos de Sales Júnior e Pedro Odilon do
Nascimento, da redação de A Época, órgão do Círculo Jurídico Acadêmico.
Concluiu seus estudos universitários em 1905.
No
ano seguinte, ingressou na carreira diplomática, atuando como secretário da III
Conferência Pan-Americana, realizada em julho no Rio de Janeiro. Promovido a
segundo-secretário em novembro, foi designado para servir em Haia, na Holanda,
onde atuou entre junho de 1907 e março de 1908, quando foi transferido para a
embaixada brasileira em Londres. Permaneceu nesse posto durante quase cinco
anos, período em que também participou, como secretário da delegação
brasileira, das festas comemorativas do cinqüentenário da unificação italiana,
realizadas em março de 1911.
Em maio de 1913 foi promovido a primeiro-secretário e
destacado para Buenos Aires, onde chegou em setembro desse ano e ficou até
junho de 1915. Nesse intervalo, assumiu duas vezes a chefia da embaixada na
qualidade de encarregado de negócios — a primeira no mês seguinte à sua chegada
e a segunda entre dezembro de 1913 e abril de 1915 — e foi promovido, em
outubro de 1914, a conselheiro da carreira diplomática, posto equivalente ao de
ministro-conselheiro na atual escala hierárquica do Itamarati.
Sua missão seguinte, iniciada em março de 1916, foi a chefia
da embaixada brasileira em Estocolmo, onde exerceu, até dezembro do ano
seguinte, as funções de encarregado de negócios. Promovido duas vezes por
merecimento, passou à condição de ministro-residente a partir de julho de 1917,
tornando-se, em junho do ano seguinte, embaixador extraordinário e ministro
plenipotenciário. Deixou a Suécia em setembro de 1918, cerca de dois meses
antes da data prevista para o início do novo mandato de seu pai na presidência
da República. De volta ao Brasil, foi incumbido por ele de convidar Afrânio de
Melo Franco para a pasta da Viação no ministério que estava organizando, mas a
grave enfermidade e o subseqüente falecimento do presidente eleito mudaram o
rumo dos acontecimentos.
José de Paula Rodrigues Alves permaneceu mais de um ano
afastado das atividades diplomáticas, em gozo de férias e licença, só
retornando a elas em junho de 1920, quando assumiu a embaixada brasileira em
Pequim, onde atuou durante um ano. Entre dezembro de 1921 e agosto de 1922,
chefiou a representação diplomática do Brasil no Paraguai, retornando em
seguida ao Rio de Janeiro.
Em abril e maio de 1923, integrou a delegação brasileira que,
sob a chefia de Afrânio de Melo Franco, participou da V Conferência
Pan-Americana, realizada em Santiago. Nesse encontro — o primeiro do gênero
depois do fim da Primeira Guerra Mundial — a questão do desarmamento suscitou
intensas divergências entre o Brasil e a Argentina que, apoiada inicialmente
pelo Chile, propunha a redução das despesas militares em igual proporção para todos
os países do continente, medida considerada inaceitável pelo governo de Artur
Bernardes. Rodrigues Alves, representante brasileiro na Comissão de Armamento,
participou intensamente desses debates. Apesar das diferentes fórmulas
conciliatórias propostas pelos Estados Unidos, Chile e Honduras, não foi
possível dar um caráter resolutivo ao texto final da conferência, cujas
conclusões se mantiveram no terreno das recomendações.
Rodrigues Alves serviu na sede do Ministério das Relações
Exteriores, no Rio de Janeiro até 1924, ano em que reassumiu a chefia da
embaixada no Paraguai. Em dezembro de 1925, no desempenho dessa função, foi
promovido a embaixador, continuando em Assunção até janeiro de 1926. Em agosto
desse ano, assumiu em caráter efetivo o posto de embaixador na Argentina, onde
permaneceu até novembro de 1930, quando foi colocado em disponibilidade por ato
do Governo Provisório oriundo da revolução que derrubara no mês anterior o
governo de Washington Luís e procurava afastar dos cargos públicos os servidores
do antigo regime. A chefia da embaixada em Buenos Aires foi entregue inicialmente a um encarregado de negócios, Rubens Dunham, sendo
depois ocupada por Joaquim Francisco de Assis Brasil.
Em pouco tempo, porém, Rodrigues Alves retornou à atividade,
sendo nomeado embaixador em Santiago. Permaneceu nesse posto entre julho de 1931 e abril de 1935, recebendo em seguida a missão de chefiar a delegação
brasileira à conferência internacional que, em junho desse ano, obteve a
assinatura de um armistício entre Bolívia e Paraguai, pondo fim à Guerra do
Chaco. O tratado final de paz, entretanto, só foi assinado em julho de 1938,
baseado em um laudo arbitral que, formulado pelos Estados Unidos, Argentina,
Brasil, Chile, Peru e Uruguai, garantiu ao Paraguai a posse da maior parte da
região disputada.
Em dezembro de 1936, Rodrigues Alves chefiou a delegação
brasileira à Conferência Interamericana de Consolidação da Paz, realizada em Buenos Aires. Com a presença de José Carlos de Macedo Soares, ministro das Relações
Exteriores, e Osvaldo Aranha, embaixador nos Estados Unidos, o conclave aprovou
declaração de princípios sobre cooperação interamericana e de solidariedade
contra a guerra ou ameaça de guerra, além de assinar um protocolo de
não-intervenção de um país nos assuntos internos do outro, pondo fim, do ponto
de vista legal, a um longo período de intervenções armadas no continente.
Em julho de 1938, assumiu mais uma vez a chefia da missão
brasileira em Buenos Aires. Nesse posto, desempenhou relevante papel durante a
Segunda Guerra Mundial, especialmente a partir da definição brasileira em favor
dos Aliados, que não correspondia à posição de neutralidade assumida pelo
governo argentino, que então se defrontava com um surto de movimentos
nacionalistas e simpatizantes do Eixo.
Rodrigues
Alves foi secretário-geral da III Reunião de Consulta dos Ministros das Relações
Exteriores das Repúblicas Americanas, realizada no Rio de Janeiro entre 15 e 28
de janeiro de 1942 sob a presidência do chanceler brasileiro Osvaldo Aranha.
Nesse encontro, a posição defendida pela Argentina impediu que se obtivesse a
ruptura coletiva de relações diplomáticas com os países do Eixo, alcançando-se
tão-somente recomendação nesse sentido. Levada à prática pelo Brasil no próprio
dia de encerramento do conclave, essa recomendação só não foi adotada pela
Argentina e o Chile, que permaneceram neutros.
As relações brasileiro-argentinas, historicamente delicadas,
tornaram-se mais difíceis a partir da divergência das posições adotadas pelos
dois países diante da conflagração mundial, o que gerou sucessivas ondas de
boatos sobre movimentos de tropas na fronteira. Nesse período, Rodrigues Alves
reiterou diversas vezes em seus comunicados ao governo de Vargas a importância
de o Brasil reforçar seus contingentes militares estacionados na região
limítrofe, ao mesmo tempo que, em contato direto com os chefes das forças
armadas argentinas, buscava evitar um acirramento dos conflitos fronteiriços.
Depois
da ascensão do general Pedro Ramirez ao poder em junho de 1943, Rodrigues Alves
teve intensa participação nos esforços desenvolvidos pelo Brasil e os Estados Unidos
no sentido de modificar a posição argentina, o que foi efetivamente alcançado
em janeiro de 1944, quando esse país também rompeu relações diplomáticas com as
potências do Eixo. Entretanto, essa decisão desagradou militares nacionalistas
que, organizados em torno do Grupo de Oficiais Unidos (GOU), forçaram a
renúncia de Ramirez e empossaram o general Edelmiro Farrel na presidência da
Argentina.
Nessa
ocasião, as avaliações feitas pelo embaixador Rodrigues Alves e o chanceler
Osvaldo Aranha não coincidiram. O ministro manifestou-se profundamente alarmado
com os novos rumos da política argentina, dirigida, segundo ele, por “um
movimento nacionalista militar dos mais perigosos para a nossa segurança e para
a paz da América”. Rodrigues Alves, entretanto, acreditava que a situação
evoluiria favoravelmente aos interesses brasileiros caso o general Juan Domingo
Perón, novo ministro da Guerra, conseguisse manter sob controle a ala mais
radical do Exército argentino.
Rodrigues Alves não pôde acompanhar a evolução desses
acontecimentos e a precisão de seus prognósticos. No dia 6 de maio de 1944
faleceu em Buenos Aires, em pleno exercício do cargo. Seu corpo foi
transportado para o Rio de Janeiro pelo cruzador La Argentina.
Foi casado com Antônia Lopes Esteves Rodrigues Alves.
Publicou discursos, estudos e conferências sobre história
diplomática. Foi membro da Sociedade Brasileira de Direito Internacional, do
Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e da Junta de História e Numismática
Americana de Buenos Aires.
Paulo Brandi
FONTES: Almanaque
Abril; ARQ. GETÚLIO VARGAS; ARQ. OSVALDO ARANHA; BANDEIRA, L. Presença; BARBOSA,
F. Retratos; CASTRO, P. Subdesenvolvimento; Efemérides paulistas; FRANCO,
A. Estadista; Grande encic. Delta; GUIMARÃES, A. Dic.;
INST. HIST. GEOG. BRAS.; Jornal do Brasil (7/5/44); LEITE, A. História;
MELO, L. Dic.; MIN. REL. EXT. Almanaque (1945); MIN. REL.
EXT. Anuário (1943); Novo dic. de história; SILVA, H. 1937; SILVA,
H. 1938; SILVA, H. 1939; SILVA, H. 1942; TÁVORA, J.
Vida.