LACERDA,
Carlos
*jornalista; dep. fed. DF 1955 e 1956-1960; gov. GB
1960-1965.
Carlos Frederico Werneck de Lacerda, embora registrado em Vassouras (RJ), nasceu no Rio de
Janeiro, então Distrito Federal, em 30 de abril de 1914, filho de Maurício
Paiva de Lacerda e de Olga Werneck de Lacerda. Seu pai foi jornalista, deputado
federal de 1912 a 1920, revolucionário em 1922 e 1924, novamente deputado
federal e revolucionário em 1930, membro da Aliança Nacional Libertadora (ANL)
e acusado de envolvimento no levante comunista de 1935. Seu avô por parte de
pai, Sebastião Eurico Gonçalves de Lacerda, foi ministro da Indústria, Viação e
Obras Públicas de 1897 a 1898, no governo de Prudente de Morais, e ministro do
Supremo Tribunal Federal (STF) de 1912 a 1925. Seus tios, Fernando e Paulo de
Lacerda, foram líderes do Partido Comunista Brasileiro, então chamado Partido
Comunista do Brasil (PCB).
Carlos Lacerda cursou o primário na escola pública José de
Alencar e o ginásio no Liceu Francês, de onde se transferiu para o Internato
Pio-Americano. Fugindo dessa escola, concluiu mais tarde o secundário em outro
colégio na capital da República.
Iniciou sua carreira profissional em 1929, escrevendo artigos
para o Diário de Notícias, publicados numa seção dirigida por Cecília Meireles.
Em 1932, durante o Governo Provisório chefiado por Getúlio Vargas, ingressou na
Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro. Em inícios de 1934,
ainda acadêmico, aproximou-se da Federação da Juventude Comunista, órgão do
PCB. Em setembro seguinte, ao lado de Ivan Pedro Martins e de Edmundo Muniz,
passou a integrar a comissão organizadora do I Congresso da Juventude do
Brasil, promovido pelos estudantes da Faculdade de Direito com o apoio da
federação, com o objetivo de congregar os estudantes em torno de posições
democráticas, debatendo formas de luta contra a expansão do fascismo no Brasil,
representado pela Ação Integralista Brasileira (AIB). Ainda em 1934, segundo registrou
em seu livro Depoimento, abandonou o curso de direito após ter concluído que “a
advocacia era uma profissão muito estranha, porque os casos que me interessavam
não davam dinheiro e os casos que davam dinheiro não me interessavam”.
A rápida passagem pelo marxismo
Nessa mesma época, ao lado de Roberto Sisson, de Francisco
Mangabeira e de Francisco Chicovate, entre outros, Lacerda participou do grupo
articulador da Aliança Nacional Libertadora (ANL), organização fundada afinal
em 23 de março de 1935 com o caráter de “frente popular”, cujo programa,
baseado na mobilização das massas, propunha a luta contra o integralismo, o
imperialismo e o latifúndio. Compareceu no dia 30 de março à sessão de
instalação da ANL, realizada no Teatro João Caetano, no Rio, com a incumbência
de lançar o nome de Luís Carlos Prestes — líder comunista então oficialmente no
exílio, mas de fato clandestino no país — para a presidência de honra do
movimento, sugestão que recebeu aclamação unânime dos presentes. Foi também um
dos signatários do manifesto de fundação da Liga pela Defesa da Cultura Popular
— vinculada à ANL —, publicado em 16 de abril no jornal A Pátria, do Rio de
Janeiro.
Reunindo comunistas, socialistas, numerosos sindicatos de
trabalhadores, organizações juvenis e feministas, a ANL experimentou rápido
crescimento em todo o país e liderou, no dia 5 de julho, manifestações públicas
em comemoração aos levantes tenentistas de 1922 e 1924. Durante a realização do
ato público no Rio, contrariando a decisão majoritária do diretório nacional da
organização, Lacerda leu um manifesto redigido por Prestes, no qual o povo era
exortado, em tom insurrecional, à luta pelo poder. Esse episódio expressou o
aumento da influência do PCB no interior do movimento aliancista. Entretanto,
no dia 11 de julho, o presidente Vargas decretou o fechamento da ANL, cuja
sede, situada no Distrito Federal, foi lacrada dois dias depois. Desde então os
comunistas se empenharam na preparação de um levante armado para a derrubada de
Vargas e a instituição de um governo “popular-nacional-revolucionário com
Prestes à frente”, proposta que seria lançada em um dos editoriais do semanário
A Marcha — o jornal fundado por Francisco Mangabeira em outubro, teria Lacerda
como redator.
O
movimento eclodiu afinal em novembro — no dia 23, em Natal, no dia 24, em
Recife, e no dia 27, no Rio —, mas foi rapidamente debelado, seguindo-se uma
violenta onda de repressão, com a prisão de milhares de oposicionistas e a
instauração do estado de sítio em todo o território nacional. Correndo o risco
de ser preso, embora não tenha participado diretamente do levante, Lacerda
refugiou-se na casa de um ex-colega de faculdade, Adalberto João Pinheiro, e de
lá seguiu para uma fazenda em Vassouras, onde permaneceu alguns meses.
Em fevereiro de 1937, já iniciada a campanha para as eleições
presidenciais que seriam realizadas em 1938, o Partido Constitucionalista de
São Paulo lançou a candidatura de Armando Sales, que acabara de deixar o
governo paulista desincompatibilizando-se para concorrer ao pleito. Em 25 de
maio foi lançado o nome de José Américo de Almeida como candidato do governo,
cuja campanha, embora apoiada pela maioria dos situacionismos estaduais,
adquiriu, no entanto, tonalidades de esquerda. Favorável a José Américo, Lacerda
seguiu para Belo Horizonte em uma caravana de estudantes, que, segundo seu
próprio depoimento, tinha por pretexto fazer a propaganda da candidatura de
José Américo e combater a de Armando Sales como reacionária “...mas, na
realidade, o que a gente fazia era uma campanha antiintegralista, e, evidente,
muito ligeiramente comunista”. De Minas os estudantes desceram o rio São
Francisco rumo à Bahia. Aí estavam no dia 1º de outubro, quando o governo
decretou o estado de guerra, reiniciando a onda de prisões. Mais uma vez
ameaçado, Lacerda refugiou-se na ilha de Itaparica, onde, no entanto, foi
descoberto e preso, sendo em seguida transferido para o Rio de Janeiro. Em 10
de novembro de 1937, foi deflagrado o golpe que determinou o fechamento do
Congresso Nacional e a abolição de todos os partidos políticos no país,
instaurando o Estado Novo. Embora nessa ocasião se encontrasse preso na Polícia
Central, poucos dias depois Lacerda foi posto em liberdade por insuficiência de
provas.
A
partir de 1938 dedicou-se às atividades jornalísticas, escrevendo artigos para
a revista mensal Observador Econômico e Financeiro e para a revista Diretrizes
— lançada nesse ano por Samuel Wainer. Colaborou na revista Seiva, também
surgida em 1938, na Bahia, única publicação antifascista e legal na época, sob
o pseudônimo de Marcos Pimenta. Trabalhou ainda como secretário de redação de O
Jornal — órgão líder da cadeia dos Diários Associados, de propriedade de
Francisco de Assis Chateaubriand, onde permaneceria até 1944.
Seu rompimento com os comunistas ocorreu em 1939, conforme
registrou em Depoimento, quando se convenceu que a “solução comunista”
implicava na instituição de “uma ditadura, pior do que as outras, porque muito
mais organizada, e, portanto, muito mais difícil de derrubar”. Esse rompimento
foi consolidado com a publicação, no Observador Econômico e Financeiro, de um
artigo de sua autoria encomendado pelo Departamento de Imprensa e Propaganda
(DIP), no qual contava a história do comunismo no Brasil e afirmava ao final
que, graças ao Estado Novo, o PCB havia sido desbaratado e seus líderes presos.
Em conseqüência, os comunistas acusaram-no de traidor, contrariando sua versão,
segundo a qual o próprio comitê central do partido o autorizara a escrever o
artigo, já que, se não o fizesse, a incumbência caberia a “um jornalista
ferrenhamente anticomunista”.
Na oposição a Vargas
O
ano de 1945 seria marcado pela consolidação do processo de redemocratização do
país. No dia 22 de janeiro, teve início em São Paulo o I Congresso Brasileiro de
Escritores, que definiu um posicionamento de contestação dos intelectuais
brasileiros ao Estado Novo. Na sessão de encerramento foi aprovada uma
declaração de princípios exigindo a legalidade democrática através do sufrágio
universal, direto e secreto, e o pleno exercício da soberania popular, de cuja
comissão redatora Lacerda participou.
Ainda no início desse ano, começou a trabalhar como freelance
no Correio da Manhã, que em 22 de fevereiro publicou uma entrevista de sua
autoria feita com José Américo, na qual o ex-candidato à presidência da
República criticava o regime instituído e reivindicava a convocação de
eleições. Essa entrevista alcançou grande repercussão e foi considerada o marco
da supressão da censura à imprensa — pois pela primeira vez o DIP não esboçou
qualquer reação —, abrindo caminho para outras manifestações de oposição
através dos órgãos de divulgação.
Em 28 de fevereiro, quando Vargas assinou uma lei prevendo
eleições com data a ser marcada em 90 dias, já se iniciavam as articulações em
torno da escolha de nomes à sucessão presidencial. Ainda nesse mês os
oposicionistas — que em maio constituíram a União Democrática Nacional (UDN) —
lançaram a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes. As forças governistas, por
sua vez, lançaram em março a candidatura do general Eurico Gaspar Dutra e em
maio tiveram seu respaldo partidário com a criação do Partido Social
Democrático (PSD). Lacerda filiou-se à UDN e apoiou a candidatura de Eduardo
Gomes, ao mesmo tempo que, como redator do Diário Carioca, moveu violenta
campanha contra o candidato do PCB às eleições presidenciais — o engenheiro
Iedo Fiúza, ex-prefeito de Petrópolis (RJ). Nesse sentido, escreveu um trabalho
panfletário intitulado O rato Fiúza.
Em 29 de outubro de 1945, Vargas foi deposto por decisão do
alto comando do Exército e José Linhares, presidente do STF, assumiu a chefia
do governo. Em 2 de dezembro de 1945 Dutra foi eleito presidente da República
na legenda da coligação entre o PSD e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), e
na mesma ocasião foram eleitos os representantes à Assembléia Nacional
Constituinte.
Em
1946, por sugestão de Lacerda, foi criada no Correio da Manhã a seção
intitulada “Na tribuna da imprensa”, que passou a assinar, visando, segundo seu
próprio depoimento, fazer uma “crônica da Constituinte” que fosse ao mesmo
tempo uma “reportagem sobre a vida nacional”. Também a partir desse ano, por
influência de Alceu Amoroso Lima e de Gustavo Corção, começou a freqüentar o
mosteiro de São Bento e se converteu ao catolicismo. Assim, em 1947 casou-se no
religioso com Letícia Abuzzini de Lacerda, com quem já se casara no civil nove
anos antes, e batizou ainda seus dois primeiros filhos, Sérgio e Sebastião.
Em 19 de janeiro de 1947 foi eleito vereador no Distrito
Federal na legenda da UDN. Assumindo o mandato em março seguinte, empenhou-se
na campanha em favor da autonomia do Distrito Federal, defendendo a eleição do
prefeito, ao invés de sua nomeação pelo presidente da República. Quando, ainda
em 1947, o Senado votou o Estatuto do Distrito Federal, retirando da Câmara
Municipal o poder de examinar os vetos do prefeito, Lacerda renunciou ao
mandato em sinal de protesto. Nessa ocasião proferiu um discurso acusando o
Senado de ter usurpado os poderes do povo e estabelecido uma verdadeira
ditadura do presidente da República sobre o carioca, temendo a oposição no Rio
de Janeiro.
Em 1949 foi afastado do Correio da Manhã em conseqüência da
publicação de um artigo em que atacava a família Soares Sampaio, ligada por
laços de amizade a Paulo Bittencourt, proprietário do jornal. Conservando, no
entanto, o direito de usar o título de sua coluna — “Tribuna da imprensa” — da
maneira que melhor lhe conviesse, decidiu lançar um novo jornal com esse nome.
Assim, em 27 de dezembro de 1949, fundou a Tribuna da Imprensa, que,
representando as principais propostas da UDN, viria a fazer oposição à forças
políticas vinculadas ao getulismo.
Em inícios de 1950 já estavam em andamento as articulações
para a escolha de candidatos à eleição presidencial, marcada para o mês de
outubro. Em 19 de abril a UDN lançou a candidatura de Eduardo Gomes e no dia
seguinte o PTB, com o apoio do Partido Social Progressista (PSP), chefiado por
Ademar de Barros, lançou a de Getúlio Vargas. Defendendo a necessidade de se
propor um único candidato “democrático” para combater Vargas, Lacerda
colocou-se contra a indicação de Cristiano Machado pelo PSD. Considerava
imprudente dividir “as forças democráticas diante da coligação totalitária” e,
pretendendo reunir a UDN e o PSD em torno de Eduardo Gomes, chegou inclusive a
tentar dissuadir o candidato pessedista de concorrer às eleições. Seus
esforços, entretanto, não tiveram êxito, e, em 17 de maio, o PSD lançou oficialmente
a candidatura de Cristiano Machado. Integrando-se à campanha udenista, Lacerda
desenvolveu intensa oposição a Vargas através de seu jornal, fazendo
referências à violência policial vigente durante o Estado Novo.
Em
meados de 1950 a Tribuna da Imprensa participou da VI Conferência
Interamericana de Imprensa, realizada em Nova Iorque, durante a qual Lacerda
foi eleito membro do conselho diretor da Associação Interamericana de Imprensa
e designado secretário da organização no Brasil. Nesse mesmo evento o jornal
apresentou uma moção que acabaria por constituir a Declaração de princípios da
imprensa do continente americano, e pleiteou dos governos americanos a retirada
do papel de jornal da lista de mercadorias sujeitas a licença prévia.
O atentado da Toneleros
Em 3 de outubro de 1950, Vargas foi eleito presidente da
República, tendo como vice João Café Filho. Logo após a divulgação dos
resultados, a UDN exigiu a impugnação da chapa vencedora, alegando que os
candidatos não haviam alcançado maioria absoluta, como determinava a
Constituição. Através da Tribuna da Imprensa, Lacerda foi um dos principais
defensores dessa tese, que acabaria por ser derrotada em 18 de janeiro de 1951,
quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se pronunciou afirmando que a Constituição
fazia referência apenas à maioria simples, confirmando dessa forma a vitória de
Vargas.
Ao
longo do governo Vargas, a Tribuna da Imprensa tornou-se porta-voz da oposição,
encabeçando os mais violentos ataques ao governo. A partir de 1951 Lacerda
liderou uma campanha contra o jornal Última Hora, de propriedade de Samuel
Wainer, acusando-o de ter conseguido ilicitamente um financiamento do Banco do
Brasil de quase 250 milhões de cruzeiros antigos e se referindo ao caso como um
“fenômeno de corrupção através da imprensa”. Em abril de 1953, foi instaurada
afinal na Câmara dos Deputados uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para
apurar as transações efetuadas pela Última Hora. Essa comissão, controlada pela
UDN, procurou sem êxito elementos que provassem o envolvimento de Vargas em
crime de favorecimento àquele jornal e abrissem, dessa forma, a possibilidade
de um impeachment do presidente.
Em agosto de 1953 Lacerda fundou no Rio de Janeiro o Clube da
Lanterna, que, congregando diversos parlamentares, principalmente udenistas,
tinha por objetivo combater o governo Vargas. Tornou-se presidente de honra da
nova organização, cujo órgão oficial era a revista O Maquis. Em janeiro de 1954
foi criada, também no Rio de Janeiro, uma coligação partidária de oposição ao
governo federal, a Aliança Popular contra o Roubo e o Golpe, tendo em vista as
eleições legislativas e para o governo de 11 estados, fixadas para outubro
daquele ano. Foi integrada por parlamentares da seção carioca do Partido
Libertador (PL), do Partido Republicano (PR) e da UDN, e recebeu a adesão de
Lacerda, que teve seu nome incluído na relação de candidato da aliança à Câmara
Federal. O programa da nova agremiação constituía-se de três pontos básicos: o
planejamento democrático, em oposição ao “dirigismo” estatal, a defesa da livre
iniciativa e a ênfase no municipalismo.
Em
19 de maio seguinte foi realizada na sede da Associação Brasileira de Imprensa
(ABI) a primeira reunião oficial do Clube da Lanterna, que estabeleceu como
objetivo imediato a concentração de esforços para uma vitória oposicionista nas
eleições de outubro. A campanha de oposição ao governo tornou-se mais intensa
com a proximidade das eleições. Em junho Vargas foi acusado pela Tribuna da
Imprensa de malversação de fundos públicos e chamado por Lacerda de “patriarca
do roubo” e “gerente-geral da corrupção no Brasil”.
Em agosto, a situação política se agravou quando, na
madrugada do dia 5, ao voltar de um comício no Colégio São José, no Rio,
Lacerda foi alvejado na porta de sua casa, à rua Toneleros, em Copacabana. O
atentado — que se tornou conhecido como Atentado da Toneleros — resultou na
morte do major-aviador Rubens Florentino Vaz, integrante de um grupo de
oficiais da Aeronáutica que dava proteção a Lacerda, que escapou com um
ferimento no pé. Conduzido imediatamente ao Hospital Miguel Couto, recebeu a
visita de vários políticos, repórteres e de Eduardo Gomes, então diretor das
rotas aéreas da Força Aérea Brasileira (FAB), unidade onde trabalhava Rubens
Vaz. Nessa ocasião, responsabilizou o governo pelo atentado e ainda no dia 5
afirmou na Tribuna da Imprensa que “elementos da alta esfera governamental”
estavam implicados no crime. No dia seguinte, o presidente do Clube de
Aeronáutica, brigadeiro Inácio de Loiola Daher, convocou uma reunião que contou
com a presença de cerca de seiscentos oficiais do Exército, da Marinha e da
Aeronáutica, da qual resultou um comunicado exigindo a completa apuração do
atentado.
A
crise político-militar que já se delineava foi agravada logo no início das
investigações, a cargo da polícia civil: no dia 7 de agosto, o motorista de
táxi Nélson Raimundo de Sousa — que informara à polícia que o autor do crime
havia fugido em seu carro — prestou depoimento incriminando um membro da guarda
pessoal de Getúlio, Climério Euribes de Almeida. Em 9 de agosto Lacerda assinou
um violento editorial na Tribuna da Imprensa exigindo a renúncia de Vargas.
Dois dias depois, durante o encontro secreto que manteve com o vice-presidente
Café Filho no Hotel Serrador, propôs-lhe que pressionasse Vargas a renunciar e
que assumisse a presidência da República. Sugeriu ainda que tentasse obter o
apoio do ministro da Guerra, general Euclides Zenóbio da Costa, assegurando-lhe
a manutenção dos quadros militares existentes, caso assumisse a presidência.
No dia 12, Lacerda lançou um editorial na Tribuna da Imprensa
exortando as forças armadas a exigirem a renúncia de Vargas. As dimensões
assumidas pelo episódio levaram o ministro da Aeronáutica, brigadeiro Nero
Moura, a autorizar, nesse mesmo dia, a instauração de um IPM. Desde então, as
investigações foram conduzidas com total autonomia e os interrogatórios e
depoimentos passaram a ser realizados na base aérea do Galeão, o que deu origem
à expressão “República do Galeão”. No dia 13 de agosto, soldados da Aeronáutica
prenderam Alcino João do Nascimento, que prestou depoimento confessando a
autoria do crime e implicando Climério Euribes de Almeida e Lutero Vargas,
filho do presidente, em sua preparação.
Com a confirmação do envolvimento da guarda pessoal do
presidente no atentado, a oposição intensificou sua campanha exigindo a
renúncia de Vargas. A bancada udenista na Câmara, liderada pelo deputado Afonso
Arinos de Melo Franco, passou a colocar sistematicamente o assunto em discussão.
No dia 18 de agosto ocorreu a prisão de Climério Euribes de Almeida, que
confessou ter sido contratado por Gregório Fortunato — chefe da guarda pessoal
e homem de confiança de Getúlio — para eliminar Lacerda. No dia 19, o Clube da
Lanterna dirigiu um apelo a Zenóbio da Costa para que as forças armadas
promovessem a deposição do presidente.
No dia 22, a exigência da renúncia de Vargas começou a
generalizar-se nos meios militares. Em reunião no Clube de Aeronáutica, os
brigadeiros lotados no Rio assinaram um manifesto nesse sentido, que foi
transmitido a Vargas pelo marechal João Batista Mascarenhas de Morais, chefe do
Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA). Diante da gravidade do momento, na
noite de 22 Lacerda se transferiu com a família para a base aérea do Galeão. Em
23 de agosto a situação tornou-se crítica com a decisão da alta oficialidade da
Marinha de apoiar a exigência da Aeronáutica e com o lançamento do Manifesto
dos generais, documento assinado por 30 generais do Exército endossando a
decisão dos brigadeiros. Ainda nesse dia, em discurso pronunciado no Senado,
Café Filho rompeu publicamente com o presidente.
Isolado politicamente e na iminência de ser deposto, Vargas
suicidou-se em 24 de agosto. Ao ser divulgada a notícia, vários jornais
antigetulistas foram depredados no Rio e populares tentaram empastelar a
redação da Tribuna da Imprensa. Enquanto isso, Lacerda era escoltado por
oficiais da Aeronáutica até a casa de um amigo, na ilha do Governador, onde
permaneceu por quatro dias.
A grande mobilização popular que se seguiu à morte de Getúlio
desarmou a ofensiva contra o governo e tornou inviável a consumação de uma
ofensiva militar. Café Filho assumiu de imediato a presidência da República,
privilegiando, na composição dos quadros de seu governo, setores políticos e
militares identificados com a UDN. Os ministros de Estado, presidentes de
autarquias e ocupantes de cargos de confiança ligados ao PTB e ao PSD, foram
substituídos por elementos próximos à UDN ou por pessoas sem vínculos
partidários.
Apesar
da comoção causada pela morte de Vargas, o inquérito sobre o atentado da
Toneleros foi reaberto ainda no mês de setembro. Entretanto, somente em outubro
de 1956 os acusados seriam julgados e condenados a penas que variam de 11 a 13
anos de reclusão.
Liderando a conspiração golpista
A partir de setembro de 1954, Lacerda desencadeou uma intensa
campanha na Tribuna da Imprensa no sentido do adiamento das eleições de 3 de
outubro, pois temia que a morte de Vargas pudesse garantir uma votação maciça
aos candidatos petebistas. Essa posição contava com o apoio de importantes
segmentos udenistas, do PR, do PL e inclusive do PSD, temeroso que uma vitória
petebista pudesse provocar uma reação militar. As eleições, não obstante, foram
realizadas na data marcada, apresentando um resultado que não alterou de forma
significativa a composição do Congresso. O PSD e o PTB registraram pequenos
avanços, enquanto a UDN perdeu dez cadeiras. No Distrito Federal, a Aliança
Popular contra o Roubo e o Golpe conseguiu eleger seis de seus 19 candidatos,
sendo Lacerda o deputado mais votado.
A partir de novembro, a sucessão presidencial tornou-se o
tema central das discussões políticas no país, com o lançamento da candidatura
de Juscelino Kubitschek, então governador de Minas Gerais, à presidência da
República. Lançada pela direção nacional do PSD, essa candidatura encontraria
forte oposição das principais autoridades militares e dos udenistas, que
defendiam a tese de um candidato único às eleições presidenciais, um candidato
de “união nacional”.
Em artigo publicado no dia 4 de janeiro de 1955 na Tribuna da
Imprensa, Lacerda reconheceu as divergências existentes no interior das forças
armadas e defendeu a interferência dos militares na vida política do país.
Preconizando que o governo deveria ser entregue a “mãos fortes”, conclamava a
“união das forças democráticas” que, a seu ver, encontravam-se ameaçadas com a
possibilidade de vitória de Kubitschek. Ainda nesse mês o ministro da Marinha,
almirante Edmundo Jordão Amorim do Vale, entregou ao presidente Café Filho um
documento assinado pelos três ministros militares, e por destacados oficiais do
Exército, da Marinha e da Aeronáutica, ressaltando a conveniência de um
candidato único às eleições presidenciais, que deveria receber a aprovação das
forças armadas.
Apesar
da oposição dos udenistas e dos setores militares a eles vinculados, Kubitschek
teve sua candidatura homologada pelo PSD em 10 de fevereiro. No mês de abril o
PTB lançou a candidatura de seu presidente nacional, João Goulart, à
vice-presidência, formalizando-se dessa forma a aliança entre o PSD e os
trabalhistas. Enquanto isso, os adeptos da proposta de união nacional
encontravam dificuldades para lançar um candidato de ressonância junto ao
eleitorado. Na ocasião, os nomes mais cotados eram o do general Juarez Távora e
do pessedista Etelvino Lins, governador de Pernambuco, indicado por setores do
PSD contrários à candidatura de Kubitschek.
Em
reunião realizada no dia 4 de abril, os udenistas e os pessedistas dissidentes
lançaram afinal a candidatura de Etelvino Lins. Em meados desse mês, foi
inaugurado o comitê eleitoral da campanha, integrado, entre outros, por
Lacerda. No dia 26 o Clube da Lanterna solidarizou-se com essa candidatura —
homologada dois dias depois pela convenção nacional da UDN —, e no dia 4 de
maio, logo após o início da campanha eleitoral, Lacerda chegou a Recife
integrando a comitiva de Etelvino Lins.
Em meados de junho começou a ser articulado o apoio da UDN à
candidatura de Juarez Távora, já homologada pelo Partido Democrata Cristão
(PDC) em 11 de maio e pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), esvaziando a
candidatura de Etelvino Lins, que em 22 de junho decidiu retirá-la. A partir de
então o Clube da Lanterna colocou-se ao lado de Juarez Távora, cuja candidatura
foi homologada pela UDN em 31 de julho. Entretanto, descartada a possibilidade
de lançamento de um candidato único às eleições de outubro e diante dos sinais
de vitória da chapa vinculada à herança getulista, a ala udenista radical,
organizada em torno do Clube da Lanterna e liderada por Lacerda, passou a
preconizar cada vez mais abertamente o golpe militar para impedir a eleição de
Juscelino e Goulart.
Em 19 de agosto Lacerda publicou na Tribuna da Imprensa o
artigo intitulado “Justiça, liberdade, autoridade e reconstrução: programa para
o contragolpe”, apontando as medidas que julgava necessárias para a resolução
da crise política: instituição do parlamentarismo ou de um colegiado; extinção
dos partidos políticos com menos de um milhão de votos; adiamento das eleições
presidenciais de 3 de outubro de 1955 para no mínimo 1º de janeiro de 1956;
dissolução do Congresso e convocação, em fevereiro de 1956, de uma assembléia
constituinte que votaria a nova constituição elaborada pelo gabinete
parlamentarista; entrega da chefia do primeiro gabinete a um chefe militar;
promulgação de nova lei eleitoral e revisão da política do petróleo, com a
cessão do direito de pesquisa ao capital privado estrangeiro. Paralelamente, ao
lado do contra-almirante Carlos Pena Boto, líder da Cruzada Brasileira
Anticomunista (CBA), Lacerda desenvolvia um trabalho entre os militares de
divulgação de suas teses. Em setembro, o Congresso recusou o projeto de emenda
constitucional proposto pela UDN, que transferia o poder de eleger o presidente
à Câmara dos Deputados caso o candidato eleito não obtivesse a maioria absoluta
nas urnas.
Em
meados desse mês um novo episódio contribuiria para o aprofundamento da crise.
No dia 17, sempre na Tribuna da Imprensa, Lacerda publicou uma carta datada de
5 de agosto de 1953 e dirigida a João Goulart, naquela época ministro do
Trabalho, cuja autoria foi atribuída ao deputado argentino Antonio Jesus
Brandi. O documento causou grande impacto, pois relatava os entendimentos
secretos que Goulart teria mantido com Juan Domingo Perón, então presidente da
Argentina, no sentido da implantação de uma república sindicalista no Brasil, e
tratava ainda do contrabando de armas argentinas para o país através do Rio
Grande do Sul. Poucos dias depois de sua divulgação, o ministro da Guerra,
general Henrique Teixeira Lott, ordenou a abertura de um IPM, chefiado pelo
general Emílio Maurel Filho. Em 3 de outubro o Ministério da Guerra, com base
nas sindicâncias desenvolvidas por Maurel em Buenos Aires, emitiu uma nota admitindo
a autenticidade da denúncia. Entretanto, como a informação foi divulgada no
mesmo dia do pleito, não chegou a pesar negativamente em termos eleitorais, mas
prejudicou a imagem de Goulart. Surpreendentemente, no final do mês, o
inquérito concluiria que a carta era “incontestavelmente falsa”, e apontaria
como seus autores os indivíduos Cordero e Mafussi, que mais tarde seriam presos
e condenados pela justiça.
Em 3 de outubro realizaram-se as eleições, garantidas por
tropas do Exército. Iniciadas as apurações, à medida em que a vitória de
Juscelino e Goulart ia se delineando, a UDN e seus aliados lançaram-se numa
batalha judiciária visando a anulação do pleito, com uma argumentação centrada
em três pontos: a ocorrência de corrupção eleitoral, a contestação dos votos
dados pelos comunistas aos candidatos e, mais uma vez, a tese da maioria
absoluta. Em meados do mês foram concluídas as apurações, que deram a vitória a
Juscelino e Goulart. O primeiro recebeu 36% do total de votos e o segundo teve
mais de duzentos mil votos de vantagem sobre Mílton Campos, candidato udenista
à vice-presidência.
À
frente da ala golpista da UDN, Lacerda pronunciou um discurso na Câmara
solicitando a suspensão da Constituição de 1946 — o que implicaria a supressão
de todos os direitos individuais — “até que o país voltasse à normalidade”, mas
sua sugestão não encontrou eco no interior da própria bancada udenista. Apesar
disso, firme em sua proposta, continuou a publicar na Tribuna da Imprensa
violentos artigos defendendo a interdição da posse dos eleitos e pedindo
insistentemente a intervenção dos militares na política nacional. Em matéria
datada do dia 5 de outubro, lançou um apelo àqueles que tinham “nas mãos a
força capaz de decidir a questão”, afirmando que era preferível ferir a
legalidade do que “entregar o Brasil a contraventores e criminosos do pior dos
crimes, que é o de enganar o povo com o dinheiro que lhe roubam”. Em apoio a
Lacerda, Pena Boto declarou a O Globo em 14 de outubro que era “indispensável
impedir que” Juscelino e Goulart tomassem “posse dos cargos para que foram
indevidamente eleitos”.
Na área militar, os ministros da Marinha, Amorim do Vale, e
da Aeronáutica, Eduardo Gomes, procuravam convencer o general Lott do acerto
das teses udenistas, instando-o a se entender com o presidente do TSE, Luís
Gallotti, para que este considerasse válida a tese da maioria absoluta. O
ministro da Guerra que, no decorrer de 1955, se manifestara repetidas vezes a
favor da realização das eleições e da posse dos eleitos, posicionou-se,
entretanto, contra qualquer interferência das forças armadas no Judiciário.
Em
1º de novembro, durante o enterro do general Canrobert Pereira da Costa, o
coronel Jurandir Bizarria Mamede, na condição de porta-voz da diretoria do
Clube Militar, fez um discurso contra a posse dos eleitos. Considerando o
acontecimento uma demonstração de indisciplina militar, Lott passou a
reivindicar do presidente Café Filho a punição de Mamede, já que este servia na
Escola Superior de Guerra (ESG), subordinada à Presidência da República.
Paralelamente, a pressão para o golpe continuava sendo desenvolvida por Lacerda
que, no editorial da Tribuna da Imprensa de 4 de novembro intitulado “A hora
das forças armadas”, declarou que o momento da implantação de um “novo regime”,
a cargo dos militares, estava próximo, e que o legalismo se constituía “apenas
num pretexto para entregar o poder aos inimigos do Brasil... O dilema é este:
ou se estabelece o regime de emergência, ou tomam posse Juscelino e Goulart
para imporem ao país, em pouco tempo, uma ditadura e, como inevitável
conseqüência, uma guerra civil”.
No
dia 8 de novembro, Café Filho — que se encontrava internado para tratamento de
saúde — transmitiu o governo ao presidente da Câmara dos Deputados e seu
sucessor legal, Carlos Luz, que manteve o mesmo ministério, já que era um
elemento do PSD notadamente próximo ao esquema udenista. No dia seguinte
Lacerda assinou mais um violento artigo intitulado “Não podem tomar posse”, no
qual afirmava que Carlos Luz não assumira o governo para preparar a posse de
Juscelino e Goulart. Declarava ainda que “o governo inaugurado ontem, sob o
aspecto legal de uma sucessão rotineira, é um governo que só nasceu e só se
manterá pelo consenso dos chefes militares responsáveis pelo 24 de agosto, cujo
equívoco agora estão em condições de desfazer”.
Em
10 de novembro, ao tomar conhecimento da decisão de Carlos Luz de não autorizar
a punição de Mamede, Lott pediu demissão da pasta da Guerra. Entretanto, quando
se dirigia ao Ministério da Guerra para preparar a transmissão do cargo a seu
sucessor, general Álvaro Fiúza de Castro — solidário ao movimento golpista —,
Lott foi convencido por diversos generais de sua confiança a permanecer em suas
funções e, dessa forma, provocar a deposição do presidente. Assim, na madrugada
de 11 de novembro a capital federal foi ocupada por tropas do Exército e o
comando das operações militares centralizado no Ministério da Guerra, sob a
chefia de Lott. O jornal Tribuna da Imprensa e a sede do Clube da Lanterna
foram sitiados e, aos poucos, todas as unidades do Exército foram se
posicionando a favor de Lott.
Logo
que foi informado do movimento, Carlos Luz obteve de Pena Boto,
comandante-em-chefe da Esquadra, a prontidão dos navios da Marinha e, em
seguida, recebeu a adesão de Eduardo Gomes e de Amorim do Vale, que emitiram
uma nota expressando o apoio de suas armas ao presidente. Ainda na manhã de 11
de novembro, Carlos Luz embarcou no cruzador Tamandaré rumo a Santos (SP), levando
26 pessoas de sua confiança, entre as quais Carlos Lacerda e diversos oficiais
da Aeronáutica e do Exército. O brigadeiro Eduardo Gomes já havia seguido de
avião para São Paulo, onde pretendia organizar a resistência ao movimento
chefiado por Lott. Enquanto isso o ministro da Marinha permanecia no Rio para
organizar o restante da Esquadra, que deveria partir da baía da Guanabara
naquela mesma noite.
Refletindo a posição de Lott e dos chefes militares
comprometidos com a posse de Kubitschek e Goulart, o Congresso aprovou pouco
mais tarde o impedimento de Carlos Luz por 228 votos contra 81, dando posse na
presidência da República a Nereu Ramos, vice-presidente do Senado e elemento
seguinte na ordem legal de sucessão. Nesse mesmo dia o novo presidente iniciou
a nomeação de seu ministério, reconduzindo Lott à pasta da Guerra e designando
o brigadeiro Vasco Alves Seco e o almirante-de-esquadra Antônio Alves Câmara
Júnior respectivamente para os ministérios da Aeronáutica e da Marinha.
Ao
tomar conhecimento da notícia de seu impedimento — divulgada pelo rádio às 17
horas do dia 11 — Carlos Luz enviou mensagem a Eduardo Gomes e a Amorim do Vale
recomendando-lhes a suspensão de qualquer resistência, a fim de evitar
derramamento de sangue. Enquanto isso o Tamandaré, impossibilitado de atracar
no porto de Santos — ocupado por tropas do general Olímpio Falconière da Cunha,
retornou ao Rio, ancorando no dia 13 na baía da Guanabara. Após afirmar que não
tomaria qualquer medida legal contra a decisão do Congresso, Carlos Luz
conseguiu desembarcar, enquanto Lacerda, aconselhado por seus companheiros
udenistas Afonso Arinos de Melo Franco e Juraci Magalhães, asilou-se na
embaixada de Cuba. Obtendo salvo conduto pela interferência do embaixador
cubano no Brasil, Gabriel Landa, junto ao Itamarati, ainda no mês de novembro
Lacerda embarcou para Cuba, de onde partiu para os Estados Unidos, fixando-se
na cidade de Norwalk, Connecticut, com sua família.
No Brasil, em entrevista à agência norte-americana de
notícias United Press em 16 de novembro, o general Lott apontou Lacerda como um
dos líderes da conspiração, que visava a intervenção no Poder Judiciário, a
dissolução do Congresso e a entrega da chefia do Executivo a um militar,
intenção amplamente divulgada em seus artigos publicados na Tribuna da
Imprensa. Em 22 de novembro o Congresso aprovou o impedimento de Café Filho
que, restabelecido, pretendia reassumir a presidência da República, e confirmou
Nereu Ramos como presidente legal até a posse de Juscelino em janeiro de 1956.
Durante sua estadia nos Estados Unidos, Lacerda trabalhou
como correspondente da Tribuna da Imprensa e colaborou também com O Globo e O
Estado de S. Paulo. Em meados de 1956 transferiu-se para Lisboa, de onde, no
mês de novembro, retornou ao Brasil.
Na campanha de Jânio Quadros à presidência
Em 11 de novembro de 1956 Lacerda desembarcou no Rio,
recebido por grande manifestação popular, e logo em seguida reassumiu o mandato
de deputado federal e a direção da Tribuna da Imprensa, dando início, de
imediato, aos ataques ao governo Kubitschek.
Em
27 de março de 1957 leu na tribuna da Câmara um telegrama secreto, escrito em
código, pertencente ao arquivo do Ministério das Relações Exteriores e
proveniente da embaixada brasileira em Buenos Aires. O telegrama fazia
referência a um inquérito realizado pelo Exército da Argentina, que implicava
João Goulart como negociador, junto a Perón, então presidente argentino, de uma
transação de exportação de madeiras para aquele país, cujo pagamento reverteria
para a campanha eleitoral de Getúlio Vargas em 1950. Eleito líder da UDN na
Câmara em abril, Lacerda foi acusado pelo governo de ter fornecido elementos
para a decifração do código secreto do Itamarati. Em seguida o ministro das
Relações Exteriores, José Carlos de Macedo Soares, enviou uma mensagem à Câmara
— acompanhada por ofício da Procuradoria Geral da Justiça Militar — pedindo
licença para processá-lo por crime contra a segurança nacional.
O
“caso Lacerda” ganhou intensa repercussão, ultrapassando o âmbito parlamentar.
Intelectuais e artistas como Cândido Portinari, José Maria Belo, Gustavo
Corção, Mário Pedrosa, Manuel Bandeira e Millôr Fernandes, entre outros,
subscreveram um manifesto contra a medida intentada por Macedo Soares.
Memoriais foram distribuídos nos bairros cariocas, colhendo assinaturas a favor
de Lacerda, que chegou a sugerir, inclusive, a criação de uma comissão de
juristas para formular processos contra diversos políticos com o objetivo de
revidar o que denominou a ação da maioria contra a oposição. Em 16 de maio o
episódio teve um desenlace favorável a Lacerda, com a recusa da Câmara, por uma
diferença de 12 votos, em conceder a licença para processá-lo.
Em 1958, após lhe ter sido vedado pelo governo o acesso ao
rádio e à televisão, Lacerda organizou, ao lado de Juraci Magalhães, presidente
da UDN, as chamadas “caravanas da liberdade”. Integradas por grupos de
udenistas que percorriam o país realizando comícios, as caravanas se tornaram,
segundo o próprio Lacerda, “o momento popular da UDN”, o que denominou o início
de fato do “diálogo povo-UDN”. Assim, nas eleições de outubro desse ano, o
partido obteve uma importante vitória no Distrito Federal: Afonso Arinos
derrotou o petebista Lutero Vargas para o Senado e Lacerda foi reeleito
deputado federal com 143.012 votos, ultrapassando com larga margem os demais
candidatos.
No início de 1959, em concordância com a proposta da UDN de
desencadear uma agressiva campanha popular para derrubar a coligação entre o
PSD e o PTB, Lacerda começou a articular no interior do partido a candidatura
do ex-governador de São Paulo, Jânio Quadros, à presidência da República nas
eleições fixadas para outubro do ano seguinte. Na convenção nacional do
partido, realizada em março, tornou-se o principal defensor da candidatura de Jânio,
que se caracterizava por ser um político apartidário e o mais violento detrator
da candidatura de Juraci Magalhães que, segundo suas palavras, “seria manobrada
pelo Catete para destruir as chances de vitória da UDN”. Em 1º de maio foi
eleito líder da minoria — representada pelo bloco UDN e PL — na Câmara.
Em junho, a UDN se dividiu em torno das duas candidaturas: de
um lado colocaram-se os adeptos de Juraci, que acreditavam obter o apoio de
certa ala do PSD e do próprio Kubitschek. De outro, os lacerdistas que,
juntamente com setores udenistas contrários à qualquer aproximação com os
pessedistas, apoiavam Jânio. Em artigos publicados na Tribuna da Imprensa,
Lacerda desenvolveu intensa campanha em favor de seu candidato.
Em
agosto, acompanhado do udenista Aluísio Alves, favorável a Juraci, Lacerda
viajou à Europa com o objetivo de discutir com Jânio, que lá se encontrava, as
possibilidades de unificação do partido. Esses encontros, contudo, não
conduziram a um acordo sobre a questão.
Dois meses depois, em virtude de desentendimentos com o então
presidente da UDN, José de Magalhães Pinto, favorável a Juraci e um dos
principais expoentes da ala liberal do partido, Lacerda renunciou à liderança
da minoria na Câmara. Assim, enquanto os udenistas se enredavam nos debates e
nas divisões internas, o PDC antecipou-se, homologando, em sua convenção
nacional realizada em 18 de outubro, a candidatura de Jânio Quadros à
presidência e a de Fernando Ferrari à vice-presidência da República.
Na convenção nacional da UDN, realizada em 8 de novembro,
Jânio venceu Juraci por 122 votos. Na ocasião Lacerda advertira que a escolha
de Juraci significaria admitir a derrota, enquanto Jânio, com a excelente
reputação e popularidade que adquirira à frente do governo paulista, embora não
pertencesse à UDN, representava para o partido a possibilidade da vitória e de
“aliança com o povo”. A candidatura de Leandro Maciel, político sergipano, à
vice-presidência, foi também homologada, levando Jânio a contar, dessa forma,
com dois nomes à vice-presidência em sua chapa. Contrário a essa situação,
Lacerda tentou mostrar que a divisão nos votos poderia levar à vitória de João
Goulart, candidato à vice-presidência na chapa encabeçada pelo general Lott,
lançada pela aliança entre o PSD e o PTB. A campanha eleitoral foi iniciada com
esse impasse, pois enquanto Jânio apoiava a candidatura de Ferrari, a UDN
procurava impor o nome de Leandro Maciel. Com o acirramento das divergências,
em 25 de novembro Jânio renunciou à sua candidatura.
Em 2 de dezembro Lacerda foi informado da eclosão de um
levante militar em Aragarças (GO), liderado pelo tenente-coronel-aviador João
Paulo Moreira Burnier e o major-aviador Haroldo Veloso, em protesto contra os
rumos políticos do governo Kubitschek. Temendo represálias, solicitou ao
deputado republicano Bento Gonçalves que notificasse os fatos ao general Lott,
ainda ministro da Guerra. O levante militar, que se tornou conhecido como
Revolta de Aragarças, foi debelado três dias depois.
No dia 5 de dezembro, em meio ao clima de agitação política
reinante e diante da intermediação de Lacerda, Jânio reconsiderou sua posição e
reassumiu a candidatura à presidência da República. Em abril de 1960,
desprestigiado pela UDN e após ter sido alvo de violentos ataques por parte de
Lacerda, Leandro Maciel renunciou à disputa da vice-presidência, sendo
substituído logo em seguida na chapa por Mílton Campos.
A
campanha de Jânio teve como eixo o combate ao governo Kubitschek, acusado de
corrupto e responsável pela inflação e a alta do custo de vida, e atacado pelos
gastos com a construção da nova capital. Esses temas encampavam as teses
udenistas moralistas, anticorrupção, que passaram a atrair os setores populares
tradicionalmente hostis à UDN e canalizaram o descontentamento dos militares e
das camadas médias com as promessas de “limpeza” na administração e
estabilização da economia. Lacerda participou de forma assistemática da
campanha eleitoral de Jânio, já que estava preocupado em articular sua própria
candidatura ao governo do estado da Guanabara. A mudança da capital federal
para Brasília e a criação do novo estado — pela Lei nº 3.752, de 14 de
abril de 1960 —, possibilitaram à UDN disputar a chefia do Executivo carioca
nas eleições previstas para outubro seguinte. Homologada por seu partido em
maio e sendo apoiada também pelo PDC e pelo PR, a candidatura de Lacerda,
segundo seu própria depoimento, “se impunha naturalmente”, já que não havia “na
UDN do Rio ninguém que pudesse disputar comigo”. De acordo com Isabel Picaluga,
a campanha eleitoral de 1960 assumiu, na Guanabara, as características de uma
disputa entre forças pró e antilacerdistas. Os opositores de Lacerda
apresentaram três candidatos: o deputado trabalhista Sérgio Magalhães, apoiado
pelo PTB e pelo PSB, defensor de uma plataforma nacionalista; o general Ângelo
Mendes de Morais, lançado pelo PSD, e Tenório Cavalcanti, pelo Partido Social
Trabalhista (PST).
Segundo declararia mais tarde em suas memórias, Lacerda
direcionou sua campanha eleitoral para a discussão dos problemas concretos e
imediatos do novo estado. “Quanto ao Brasil, estamos tranqüilos, vamos eleger o
Jânio Quadros. Então; não vamos pensar no Brasil, vamos pensar no Rio, onde a
gente discute problemas mundiais, mas não discute água, não discute esgoto. Há
duzentas mil crianças em idade escolar sem escola primária: então, vamos fazer
um programa escolar.” Criticava a campanha de Sérgio Magalhães, seu mais forte
concorrente, afirmando que o candidato trabalhista “falava sobre imperialismo e
nacionalismo, que não tinham nada a ver com os temas de uma Guanabara nascente,
e que, pela primeira vez, estava tomando consciência de que era um estado com
interesses locais a defender”.
Realizado
o pleito, Lacerda obteve 357 mil votos, 35% do total, derrotando Sérgio
Magalhães por uma margem de 24 mil votos. Paralelamente, Jânio foi eleito
presidente da República, derrotando o general Lott, candidato pela aliança
entre o PSD e o PTB, e João Goulart venceu a eleição para a vice-presidência, comprovando
a eficácia dos chamados “comitês Jan-Jan” — incentivados por uma dissidência do
PTB paulista em aliança com setores sindicais vinculados ao janismo que
defenderam a eleição conjunta de Jânio e Jango, nome como era conhecido
Goulart. Segundo Isabel Picaluga, a vitória de Lacerda foi assegurada pela
divisão do eleitorado antilacerdista frente aos três candidatos apresentados.
Anos depois, o próprio Lacerda admitiria esse fato: “Eu ganhei a eleição porque
o Tenório, candidatando-se, pegou votos na favela e os tirou do Sérgio
Magalhães.” Além de ter sido eleito governador, a campanha que desenvolveu em
favor de Jânio consolidou o prestígio de Lacerda junto aos setores empresariais
e financeiros de São Paulo, e sua liderança na UDN carioca tornou-se inquestionável.
Primeiro governador da Guanabara
Em 5 de dezembro de 1960 Lacerda foi empossado como primeiro
governador da Guanabara, iniciando de imediato a execução de uma ampla reforma
administrativa, que visava a descentralização — regional e setorial — das
tarefas executivas, a implantação de sistemas auxiliares de administração, o
adequado grupamento de funções antes dispersas e a distinção entre o nível de
planejamento e o de execução. Essa reforma — que seria transformada em lei em
1962 — tinha por objetivo, segundo seu promotor, criar uma máquina
administrativa eficiente e capaz de executar o programa de recuperação da
cidade do Rio de Janeiro e de viabilização do estado proposto pelo governo.
Inicialmente foram criadas três administrações regionais —
Lagoa, São Cristóvão e Campo Grande — por decreto de janeiro de 1961. Mais
tarde foram criadas outras 18, compondo um total de 21 regiões administrativas.
A reforma determinou ainda a criação das secretarias de Segurança Pública, de
Justiça, de Serviços Sociais, de Serviços Públicos e de Turismo, além da
Secretaria do Governo, encarregada da coordenação dos programas do governo e da
elaboração da proposta orçamentária.
Em
julho de 1964, através de decreto, uma nova organização foi estabelecida para a
Secretaria de Finanças, que teve seus serviços ampliados e seus órgãos
modernizados para atender às novas condições administrativas do estado.
No
tocante ao desenvolvimento da produção industrial, o governo criou em 1961 a
Companhia Progresso do Estado da Guanabara (Copeg), e sua subsidiária, a Copeg
— Crédito e Financiamento. Na área do abastecimento de gêneros alimentícios,
foi criada a Companhia Central de Abastecimento (Cocea), sociedade de economia
mista instalada em dezembro de 1962.
Foi
elaborado também o Plano de Habitação Popular, amplamente financiado pelo
governo norte-americano através da Aliança para o Progresso, propondo a
urbanização de áreas destinadas à construção de casas populares para a
viabilização de um programa de remoção de favelas. Assim, durante a gestão de
Lacerda foram executadas remoções de várias favelas e seus moradores foram
transferidos para os conjuntos habitacionais da Cidade de Deus, em Jacarepaguá,
Vila Kennedy, em Senador Camará, Vila Aliança, em Bangu e Vila Esperança, em Vigário
Geral. Por diversas vezes os favelados opuseram forte resistência à remoção,
recusando-se a deixar suas casas pelos conjuntos habitacionais. A destruição da
favela do morro do Pasmado por um incêndio de “causas ignoradas”, que ocorreu
ao mesmo tempo em que se processava a remoção, alcançou grande repercussão na
época. A longa distância do centro da cidade, a precariedade dos transportes e
a infra-estrutura ainda em fase de instalação nos conjuntos habitacionais,
gerariam grande descontentamento entre os ex-favelados.
Um outro episódio rumoroso que marcou o governo Lacerda foi o
da matança de mendigos — efetuada pelo Serviço de Recuperação de Mendigos —,
cujos corpos foram jogados no rio da Guarda. Esse caso, ocorrido em 1962, teve
repercussão internacional e, apesar de ter punido os culpados, Lacerda
continuou a ser acusado por seus adversários de o “governador mata-mendigos”.
A área de segurança pública contou, além da respectiva
secretaria, com a criação da Força Policial, encarregada do policiamento civil
do estado, e a remodelação da Polícia Militar. Em dezembro de 1962 foi criado o
Instituto de Assistência aos Servidores do Estado da Guanabara (IASEG),
resultante da fusão de três órgãos: o Hospital dos Servidores do Estado da
Guanabara — cujas obras de recuperação e ampliação seriam concluídas em 1965 —,
o Departamento de Assistência e a Superintendência de Obras.
No setor da educação, foram instaladas 231 novas escolas e
1.885 salas de aula, o que permitiu ao governo tornar efetivamente compulsório
o ensino primário, através de decreto de janeiro de 1962. O total de novos
estabelecimentos acrescentados à rede de escolas oficiais de nível médio foi de
72.
Uma outra lei, de outubro de 1961, autorizou o Executivo a
organizar, sob o regime de fundação, a Universidade do Rio de Janeiro,
denominada a partir de então Universidade do Estado da Guanabara (UEG). A mesma
lei incorporou administrativa e financeiramente as faculdades de Ciências
Econômicas e de Serviço Social do Estado da Guanabara, a Escola de Enfermagem
Raquel Haddock Lobo e o Hospital de Clínicas Pedro Ernesto. Em 1963 foram
incorporados o Instituto Vila-Lobos e o Instituto de Belas-Artes.
Os mais elevados investimentos feitos durante o governo
Carlos Lacerda concentraram-se no setor de obras públicas, principalmente no
programa viário e no abastecimento de água e esgoto. O plano viário, cuja
execução foi iniciada em 1962, visava criar um sistema de vias radiais ligando
o centro às diversas regiões do estado e estabelecer a interligação dessas regiões
entre si. As principais obras realizadas nessa administração foram a conclusão
dos viadutos dos Marinheiros, Fuzileiros, Saint-Hilaire, Engenheiro Noronha e
do túnel Santa Bárbara, a perfuração dos túneis Rebouças e a complementação das
pistas laterais da avenida Brasil. Foi inaugurado também o sistema de ônibus
elétrico e criada para administrá-lo a Companhia de Transportes Coletivos
(CTC). Essa experiência, que determinou a retirada dos antigos bondes da Zona
Sul da cidade, não teve êxito, e pouco tempo depois a rede de ônibus elétricos
foi desativada.
Visando garantir os recursos necessários à implantação do
programa de expansão do sistema de abastecimento de água, o governo promoveu
uma revisão da tarifa de água e recorreu ao financiamento externo. Assim, em
maio de 1962 obteve um empréstimo no valor de 24 milhões de dólares,
posteriormente acrescido de outro no valor de 12 milhões de dólares, do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID). Esse empréstimo foi aplicado, quase na
totalidade, no programa de abastecimento de água, que abrangia obras de adução
e de distribuição. Ainda no governo Lacerda foram concluídas as obras das
adutoras de Paquetá e de Jacques-Acari e, em 1961, teve início a construção da
adutora do Guandu. O restante do empréstimo do BID foi aplicado na ampliação da
rede de esgotos sanitários.
Assim
como outros governadores hostis a Goulart, Lacerda recebeu substanciais
auxílios financeiros do governo norte-americano. Com o progressivo
deterioramento das relações dos Estados Unidos com o governo brasileiro, o
presidente John Kennedy suspendeu todas as verbas da Aliança para o Progresso
que pudessem ser utilizadas para financiar o déficit do balanço de pagamentos
do Brasil. Além disso, a embaixada norte-americana passou a firmar acordos
apenas com os governadores e prefeitos simpáticos às posições daquele país.
Articulando novos golpes: contra Jânio e Goulart
Logo nos primeiros meses do governo Jânio Quadros, as
divergências entre Lacerda e o presidente se explicitaram. Na liderança da ala
radical da UDN carioca, o governador da Guanabara foi se distanciando cada vez
mais dos setores liberais do partido, que tendiam a apoiar o presidente.
Centrando suas críticas na política externa independente empreendida pelo
ministro Afonso Arinos — que defendia o estabelecimento de relações comerciais
com os países socialistas, o reconhecimento do governo de Fidel Castro em Cuba
e um novo padrão de relacionamento com os países africanos —, Lacerda
desencadearia uma violenta campanha de teor anticomunista, especialmente
através dos jornais Tribuna da Imprensa e O Globo. De acordo com o próprio
Afonso Arinos, o alvo principal de Lacerda “a princípio, fui eu, ou melhor, a
política renovadora que pretendia instalar no Itamarati... De qualquer forma, a
política externa foi o primeiro ponto de convergência da frustração reacionária
contra Jânio Quadros”.
A convenção nacional da UDN realizada em abril de 1961 em
Recife foi marcada, segundo Maria Vitória Benevides, pela mensagem
“anticomunista e antinacionalista de Carlos Lacerda”, que desfrutava “de uma
posição privilegiada no partido”. Suas divergências com o governo
aprofundaram-se ainda em meados de abril, quando se deu o episódio da invasão
de Cuba por tropas anticastristas sediadas nos Estados Unidos e na América
Central. Enquanto Jânio se manifestava contra a ação intervencionista, Lacerda
declarava total apoio aos invasores, que foram pouco depois derrotados pelas
forças do governo cubano. No início de junho, em pronunciamento na televisão
Tupi, Lacerda atacou mais uma vez a política do governo brasileiro em relação a
Cuba, afirmando ainda que, diante do agravamento dos conflitos com Jânio,
propusera ao presidente sua renúncia do governo carioca.
Apesar disso, na reunião de governadores realizada no Rio de
Janeiro, sob o patrocínio de Jânio, no final do mês, Lacerda obteve do governo
federal uma série de financiamentos para a realização de obras na Guanabara:
quatro bilhões de cruzeiros dirigidos para as áreas de abastecimento de água,
esgoto, favelas, hospitais, prevenção de enchentes, assistência ao menor,
turismo e penitenciárias, 250 milhões para a Copeg e 31 milhões e quinhentos
mil para a construção de escolas primárias e para o programa de educação de
adultos.
Segundo Isabel Picaluga, a pregação antigovernista de
Lacerda, “privilegiando os aspectos políticos capazes de acirrarem o
anticomunismo dos militares e das classes médias”, sensibilizou amplos setores
da UDN e das forças armadas. A crise política atingiu seu clímax em agosto, com
a vinda ao Brasil do ministro da Indústria e Comércio de Cuba, Ernesto “Che”
Guevara. Assim, na noite do dia 18, quando Guevara desembarcava em Brasília,
Lacerda se entrevistava com Jânio no palácio Alvorada e mais uma vez ameaçava
renunciar ao governo carioca. Mais tarde, ao retornar de um encontro com o
ministro da Justiça, Oscar Pedroso Horta, considerou bloqueada sua pretensão de
se hospedar no palácio ao ter sua bagagem devolvida pelo presidente. Na manhã
seguinte, enquanto viajava de volta ao Rio, Jânio condecorava Guevara com a
Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, medida que teve uma repercussão
desfavorável entre amplos setores militares. Em represália, no mesmo dia 19,
Lacerda condecorou na Guanabara o líder anticastrista Manuel Antônio de Verona,
dirigente da Frente Revolucionária Democrática Cubana, que se encontrava no
Brasil em busca de apoio ao seu movimento. Esse episódio levou diversos
políticos e militares governistas a denunciarem a existência de um dispositivo
militar golpista para depor Jânio.
Em 21 de agosto, a Assembléia Legislativa da Guanabara se
reuniu em sessão secreta com o objetivo de formular um pedido de impedimento de
Lacerda, mas a medida não foi levada adiante. No dia 22, em encontro com o
governador paulista Carlos Alberto de Carvalho Pinto, Lacerda declarou que o
governo federal estava preparando um golpe. Na noite de 24 de agosto,
denunciou, em pronunciamento na televisão carioca, a existência de uma
conspiração arquitetada por Jânio e Pedroso Horta, afirmando ainda que fora sondado
pelo ministro da Justiça sobre a possibilidade de ser realizada uma manobra
política que permitisse ao governo estabelecer o estado de emergência.
Às
primeiras horas do dia 25, por iniciativa de Lacerda e do deputado Armando
Falcão, foi realizada uma reunião na Câmara dos Deputados entre os líderes
partidários. Na ocasião foi aprovado um requerimento de autoria de José Maria
Alkmin, líder da maioria, solicitando a convocação do ministro da Justiça
àquela casa para prestar declarações a respeito das denúncias de Lacerda. As
denúncias foram refutadas por Pedroso Horta através de uma nota na manhã de 25
de agosto. Nesse mesmo dia Jânio apresentou aos ministros militares sua carta
de renúncia, na qual declarava que “forças terríveis” haviam-se levantado contra
ele. Segundo Hélio Jaguaribe, “o dispositivo militar sobre o qual o sr. Quadros
apoiava seu governo já havia transferido sua solidariedade e lealdade para o
sr. Lacerda. Militarmente, o sr. Quadros foi deposto naquela ocasião”.
Na
ausência de João Goulart, que se encontrava em missão no exterior, o governo
foi assumido pelo presidente da Câmara, o pessedista Pascoal Ranieri Mazzilli.
A crise desencadeada com a renúncia de Jânio se agravou com o veto dos
ministros militares à posse de Goulart na presidência da República, posição
defendida por Lacerda e encampada pela Tribuna da Imprensa. Assim, com o poder
que desfrutava como governador da Guanabara, Lacerda conseguiu censurar vários
jornais contrários ao golpe que se tramava contra a posse de Goulart,
impedindo-os de circular ou obrigando-os a sair com enormes espaços em branco.
A mobilização das forças legalistas, lideradas pelo
governador gaúcho Leonel Brizola e pelo comandante do III Exército, sediado em
Porto Alegre, general José Machado Lopes, e a divisão existente no interior das
forças armadas impediram que o golpe contra Goulart fosse desfechado.
Procurando uma solução constitucional para a crise político-militar, em 2 de
setembro o Congresso aprovou o ato adicional que instituiu o regime parlamentarista
e estabeleceu para o início de 1965 a realização de um plebiscito que decidiria
sobre a sua continuidade. Os ministros militares aceitaram essa solução de
compromisso e, no dia 7 de setembro de 1961, Goulart assumiu a presidência da
República.
O “golpismo redivivo“ contra Goulart
Para
Maria Vitória Benevides o “golpismo redivivo, por um lado, e ataques de ordem
pessoal ao governo, por outro”, reeditaram, “na ação política da UDN, o padrão
de oposição violenta, característica do período getulista. Desta vez a denúncia
da inoperância e perfídia seria associada, em graus de crescente radicalização,
às denúncias de infiltração comunista”.
Em outubro de 1961, em conseqüência de dificuldades
financeiras, Lacerda vendeu a Tribuna da Imprensa para Manuel Francisco do
Nascimento Brito. No mês seguinte, criticou severamente o reatamento das
relações diplomáticas do Brasil com a União Soviética — rompidas desde 1947 —,
promovido em 23 de novembro pelo novo ministro das Relações Exteriores,
Francisco Clementino de San Tiago Dantas, que ampliou dessa forma o alcance da
política externa independente inaugurada pelo governo Jânio Quadros.
Em janeiro de 1962 Lacerda propôs a criação da Companhia
Estadual de Telefones (Cetel) e enviou uma mensagem à Assembléia Legislativa da
Guanabara revelando sua intenção de intervir nos serviços da Companhia
Telefônica Brasileira (CTB) — subsidiária da Light que mantinha um serviço
extremamente precário no estado. A questão da nacionalização da CTB vinha sendo
examinada desde o final de 1961, quando Goulart decretou a intervenção federal
na empresa e constituiu um grupo de trabalho para estudar a melhoria dos
serviços telefônicos e levantar o patrimônio líquido daquela subsidiária,
avaliado afinal no relatório apresentado em dezembro em 13 bilhões de
cruzeiros.
Com
a encampação da Companhia Telefônica Rio-Grandense — subsidiária da
International Telephone & Telegraph (ITT) — efetivada pelo governador
Leonel Brizola em fevereiro de 1962, provocando fortes protestos do governo
norte-americano, a questão da nacionalização das concessionárias de serviços
públicos ganhou ampla repercussão na imprensa e se tornou objeto de intenso
debate político. Em abril, quando Goulart visitou os Estados Unidos, os dois
países definiram que as nacionalizações respeitariam o “princípio de justa
compensação, com reinvestimento em outros setores importantes para o
desenvolvimento do Brasil”. Em conseqüência desses entendimentos, foi criada em
maio a Comissão de Nacionalização das Empresas Concessionárias de Serviços
Públicos (Conesp), que examinou o caso da CTB, aprovou as conclusões do grupo
de trabalho e designou o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico (BNDE), Leocádio Antunes, para negociar a compra da empresa.
Em 26 de junho, o primeiro-ministro do gabinete
parlamentarista, Tancredo Neves, renunciou, sendo substituído no cargo pelo
pessedista Francisco de Paula Brochado da Rocha. Este, ao ser empossado em 12
de julho, comprometeu-se a antecipar para dezembro de 1962 a realização do plebiscito,
posição defendida pelas forças nacionalistas e de esquerda. Ao mesmo tempo em
que a UDN se manifestava contra a medida, Lacerda passou a dirigir violentos
ataques a Goulart, acusando-o de estar comprometido com os comunistas e de
tramar um golpe, além de apontar insistentemente que a concessão de plenos
poderes ao presidente apenas o ajudaria em seus propósitos “subversivos”. No
início de setembro, o Conselho de Ministros emitiu uma nota de crítica a
Lacerda por “agravar sua posição hostil à convivência federativa e ao respeito
que as autoridades do país se devem reciprocamente” e colocar “em risco a
marcha constitucional do processo político em busca de soluções para a crise
institucional”.
Diante
da recusa do Congresso em aprovar a antecipação do plebiscito, em 14 de
setembro Brochado da Rocha renunciou. Pouco depois, entretanto, em conseqüência
da pressão exercida pelo Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), que contava com
o apoio de militares nacionalistas, o Congresso fixaria a realização do plebiscito
para 6 de janeiro de 1963, ocasião em que seriam concluídos os trabalhos do
novo gabinete, chefiado por Hermes Lima.
As eleições de outubro de 1962 marcaram uma significativa
derrota política para Lacerda. O jornalista Elói Dutra, que desenvolvia violenta
campanha contra seu governo no jornal Última Hora, venceu as eleições para
vice-governador da Guanabara na legenda da coligação entre o PTB e o PSB, que
patrocinou também a vitória de Aurélio Viana no Senado sobre o candidato
udenista Juraci Magalhães. Os resultados para a Câmara Federal confirmaram a
derrota da UDN, que conseguiu fazer apenas seis representantes, num total de
21. Entretanto, as eleições para a Assembléia Legislativa apresentaram um
resultado equilibrado para a UDN e o PTB, que se colocaram muito à frente dos
demais partidos. Por outro lado, apesar da ferrenha campanha que desenvolveu
contra a antecipação do plebiscito, quando os resultados deste determinaram a
volta ao regime presidencialista, Lacerda apoiou a mudança de regime, uma vez
que naquele momento já articulava sua própria candidatura à sucessão
presidencial.
Em abril de 1963, o governo brasileiro firmou um acordo com a
American and Foreign Power Company (Amforp) estabelecendo que os bens da
empresa no Brasil seriam comprados por 135 milhões de dólares. Desagradando aos
setores nacionalistas, que consideraram o preço da compra exorbitante e lesivo
aos interesses do país, o acordo foi também alvo dos ataques de Lacerda, que
aproveitou a ocasião para criticar os planos de compra da CTB — que vinham
sendo empreendidos pelo BNDE —, sob a alegação de que o equipamento da empresa
estava obsoleto e fora superavaliado. A forte reação ao acordo com a Amforp
levou à criação de uma CPI para examinar a questão e determinou a suspensão das
negociações para a compra das concessionárias de serviços públicos, até então,
em andamento.
Ainda nesse mês, o governador de São Paulo, Ademar de Barros,
lançou o Manifesto dos governadores democratas, firmando um acordo entre os
governadores não comprometidos com Goulart, entre eles Lacerda, que foi um dos
primeiros signatários do documento.
Em
abril, foi realizada em Curitiba a convenção nacional da UDN, marcada pelas
rivalidades entre Lacerda e o governador de Minas, Magalhães Pinto, que já
articulavam suas candidaturas à presidência da República nas eleições previstas
para 1965. Segundo Maria Vitória Benevides, essa convenção acusaria “o ponto de
não retorno na aliança dos udenistas ortodoxos com os militares”. Exemplo disso
foi o discurso do presidente da UDN, Olavo Bilac Pinto, na sessão de
encerramento, conclamando as forças armadas a interromperem “o curso visível
desse processo revolucionário, restituindo à família brasileira a
tranqüilidade”.
No final de setembro, em entrevista que concedeu a Julian
Hart, do jornal norte-americano Los Angeles Times, Lacerda acusou Goulart de
estar aliado com os comunistas e previu a iminente queda de seu governo,
afirmando que os militares discutiam se seria “melhor tutelá-lo, patrociná-lo,
colocá-lo sob controle até o término do seu mandato ou destituí-lo agora
mesmo”. Considerando a entrevista injuriosa às forças armadas, em 1º de outubro
os ministros militares lançaram uma nota conjunta condenando a atitude de
Lacerda e pressionaram Goulart para que enviasse mensagem ao Congresso
solicitando o estado de sítio por 30 dias, o que foi feito no dia 4 seguinte. A
medida, entretanto, encontrou a oposição unânime dos partidos, obrigando
Goulart a retirar o pedido três dias depois. Interpretou-se na época que o
governo utilizaria o estado de sítio para intervir simultaneamente nos governos
da Guanabara e de Pernambuco, este último exercido por Miguel Arrais, um líder
das forças nacionalistas e de esquerda.
Ao mesmo tempo, era levada a efeito uma tentativa de prender
Lacerda. A conspiração, aparentemente articulada no palácio presidencial,
previa sua prisão, no dia 4 de outubro, por um grupo de pára-quedistas. Avisado
pelo coronel Francisco Boaventura Cavalcanti, que se recusara a participar da
ação, Lacerda conseguiu escapar. Em novembro, o coronel Boaventura foi punido
disciplinarmente, em função dos pronunciamentos que continuou a fazer
denunciando o governo pelo que considerava seus objetivos “subversivos”.
O pedido de estado de sítio e a prisão frustrada de Lacerda
reforçaram as suspeitas de que o presidente estaria ensaiando soluções
antidemocráticas para o impasse político. A partir dessa época, um grande
número de oficiais do Exército — liderados pelo chefe do Estado-Maior do
Exército (EME), general Humberto Castelo Branco —, que até então permaneciam à
margem das conspirações militares visando a derrubada de Goulart, aproximou-se
da corrente golpista.
Em 22 de novembro chegaram ao Brasil quatro generais norte-americanos
para, em contato com oficiais brasileiros, com Lacerda e com Ademar de Barros,
se inteirarem da situação política do país.
Em
inícios de 1964, através da Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS),
Lacerda mandou apreender a cartilha Viver é lutar — aprovada pela Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e editada pelo MEC para a alfabetização
dos camponeses — e convocou um de seus defensores, o arcebispo de Aracaju, dom
José Távora, para prestar depoimento.
Nesse período, caracterizado por um acelerado processo de
radicalização política, enquanto as forças da direita se preparavam para
desfechar o golpe, os partidos políticos tentavam articular as candidaturas à
sucessão presidencial de 1965. Em fevereiro o PSP lançou a candidatura de Ademar
de Barros e, em março, o PSD homologou a de Juscelino Kubitschek. A candidatura
de Lacerda, lançada pela UDN paranaense, deveria ser homologada pela convenção
nacional do partido, marcada para 10 de abril, que, entretanto, não chegaria a
se realizar.
Recorrendo à mobilização das massas populares para se
fortalecer no governo e pressionar o Congresso para que aprovasse as chamadas
reformas de base, Goulart marcou um comício para o dia 13 de março, no Rio de
Janeiro, organizado com o apoio do CGT.
Opondo-se
à manifestação, Lacerda decretou o dia 13 ponto facultativo na Guanabara e
declarou, logo após a realização do evento que contou com a presença de cerca
de duzentas mil pessoas —, que o Exército fora “chamado a garantir com as armas
de defesa nacional um ato ilegal, promovido pelos agentes de uma potência
estrangeira no Brasil”. Acusou ainda Goulart, na Tribuna da Imprensa, de ter
“furado a barreira da Constituição” com um discurso “subversivo, provocador e
estúpido”, e conclamou o Congresso a “levantar-se e defender o que resta da
liberdade e da paz neste país”.
Intensificando a partir de então as articulações golpistas,
Lacerda se reuniu em Porto Alegre com os governadores gaúcho, Ildo Meneghetti,
e paulista, Ademar de Barros, decidindo a realização de um encontro de
governadores naquela capital no dia 2 de abril para se organizarem contra o
governo Goulart na defesa das instituições democráticas. Em 18 de março, após
ter enviado uma carta a Kubitschek nesse sentido, convocou também todos os
governadores.
No dia seguinte, 19 de março, ao lado da esposa de Ademar,
Leonor de Barros, do senador Auro de Moura Andrade e do ex-ministro da Guerra,
general Nélson de Melo, Lacerda liderou em São Paulo a Marcha da Família com
Deus pela Liberdade. A manifestação, organizada pela União Cívica Feminina
paulista, tinha como objetivo estimular o sentimento anticomunista das classes
médias, fundado, em grande parte, no catolicismo mais conservador. Logo após o
evento, Lacerda e Ademar selaram oficialmente o acordo contra Goulart, enquanto
o governador de Minas, Magalhães Pinto, lançava um manifesto rompendo com o
governo federal.
No dia 20, o general Castelo Branco distribuiu uma circular
reservada, conclamando os militares a se colocarem contra o governo e o
movimento sindical e apelando para o combate ao comunismo. Em 30 de março o CGT
lançou uma nota de apoio ao governo e acusou os governadores Lacerda, Ademar,
Magalhães Pinto e Ildo Meneghetti de participarem de uma conspiração para depor
o presidente.
Em 31 de março de 1964 foi deflagrado o movimento
político-militar contra o governo, com o deslocamento das tropas comandadas
pelo general Olímpio Mourão Filho, sediadas em Juiz de Fora (MG), em direção ao
Rio de Janeiro. Entrincheirado no palácio Guanabara, Lacerda organizou a defesa
contra um anunciado ataque — chefiado pelo almirante Cândido Aragão, comandante
do Corpo de Fuzileiros Navais, fiel a Goulart. Para essa defesa contava com um
batalhão da Polícia Militar e com voluntários usando lenços com as cores da
Guanabara, azul e branco, que se reuniram na Escola Anne Frank, situada em
terreno do palácio. O ataque, entretanto, não chegou a ser desfechado, uma vez
que Aragão foi imobilizado na ilha das Cobras por um núcleo de resistência da
Marinha, chefiado pelo almirante Arnold Hasselmann Fairbairn. Com a adesão do I
e II exércitos ao movimento no dia 1º de abril, e do III Exército no dia
seguinte, Goulart deixou o Rio Grande do Sul, exilando-se no Uruguai.
Aliado à “linha dura”
Nas
primeiras horas do dia 2 de abril, Pascoal Ranieri Mazzilli, que, como
presidente da Câmara dos Deputados, era o elemento seguinte na ordem de
sucessão, foi empossado na presidência da República. Paralelamente, o general
Artur da Costa e Silva, o brigadeiro Márcio de Sousa Melo e o almirante Augusto
Rademaker assumiram de fato o governo do país, constituindo o autodenominado
Comando Supremo da Revolução. No dia 8 de abril, ao lado dos governadores
Ademar de Barros, Ildo Meneghetti, Nei Braga, do Paraná, e Fernando Correia da
Costa, de Mato Grosso, Lacerda participou de uma reunião com Costa e Silva em
que se decidiu o apoio à candidatura do general Castelo Branco à presidência da
República. No dia 9, o Comando Supremo da Revolução baixou o Ato Institucional
nº 1 (AI-1), determinando a eleição do presidente da República pelo Congresso
dois dias depois e outorgando ao Executivo o poder de cassar mandatos
parlamentares e suspender direitos políticos. Assim, em 11 de abril Castelo
Branco foi eleito e quatro dias depois assumiu o governo.
Em
maio Lacerda seguiu para a Europa em viagem oficial para divulgar os objetivos
do novo regime. Esteve na França, Inglaterra, Itália, Grécia, Alemanha,
Portugal e Estados Unidos, concedendo entrevistas à imprensa e entrando em
contato com as autoridades governamentais. No início de julho retornou ao
Brasil e reassumiu o governo da Guanabara, que durante sua ausência ficara sob
a chefia do vice-governador Rafael de Almeida Magalhães. Seu apoio ao governo
Castelo Branco, todavia, durou pouco. Alijados das principais decisões
políticas, Lacerda e seus adeptos da UDN foram se desligando progressivamente
do projeto político-militar que por muitos anos haviam defendido.
Assim, ao longo do mês de julho, Lacerda desenvolveu
sistemática oposição à proposta de prorrogação do mandato de Castelo, que
contava com o apoio de amplos setores da UDN. A emenda constitucional sobre a
matéria fora redigida pelos senadores udenistas Afonso Arinos e João Agripino,
e endossada por Bilac Pinto, presidente do partido. Em cartas dirigidas a esse
último — datadas de 16 e 21 de junho — Lacerda dizia: “Você está presidindo a
liquidação da UDN e isto não é tão grave. Gravíssimo é que vocês estão
liquidando o que existia de democracia no Brasil, ao colaborar para a
prorrogação dos mandatos.” Afirmava ainda que, “votada a prorrogação, não
haverá eleições nem em 1966, nem tão cedo. Isto é o 10 de novembro com a
aprovação do Congresso”. Na reunião da executiva da UDN, que aprovou a tese da
prorrogação, Lacerda tentou em vão dissuadir seus correligionários, alegando
que a medida seria “um instrumento contra sua vitória certa nas eleições de
1965”. Já no mês anterior, a candidatura de Juscelino Kubitschek fora
descartada, com a cassação dos direitos políticos do ex-presidente por dez
anos. Segundo Maria Vitória Benevides, o governador da Guanabara se aproximara
“da linha dura, anti-Castelo, e passara a contar com a oposição dos setores
mais liberais dentro da própria UDN, para quem, Lacerda, se eleito, seria um
ditador!”
Em 22 de julho de 1964 o Congresso aprovou o adiamento das
eleições para outubro de 1966 e a prorrogação do mandato de Castelo Branco até
março de 1967. Durante uma reunião realizada na casa de Roberto Marinho —
proprietário do jornal O Globo, em 28 de agosto, Castelo Branco afirmou que o rompimento
com Lacerda era inevitável e que, caso ele pretendesse liderar uma
contra-revolução, não contaria com apoio das forças armadas nem da própria UDN.
Em
artigo publicado na revista Manchete no dia 7 de novembro, Lacerda justificou
sua pretensão de se candidatar à presidência declarando que “entendo que a
revolução ou não tem programa, ou tem o meu programa, que não é só meu, porque
é nosso, do povo”. Criticou ainda a política econômica implementada pelo
governo sob a direção de Roberto Campos e Otávio Gouveia de Bulhões,
considerando-a “anti-revolucionária em sua essência,... reacionária em seus
objetivos, e desumana em seus métodos”. No dia seguinte, 8 de novembro, foi
realizada em São Paulo a convenção nacional extraordinária da UDN, que deveria
apontar a candidatura de Lacerda à presidência da República. Convocada à
revelia dos aliados de Magalhães Pinto, que pretendiam lançar sua candidatura,
a convenção representou uma significativa vitória para Lacerda, escolhido por
309 votos contra apenas nove em branco, consagrando a tese da unidade
partidária em torno de um candidato forte, do ponto de vista nacional.
Durante o ano de 1965 Lacerda continuou divergindo do governo
federal, tendo, por várias ocasiões, criticado abertamente Castelo Branco. Na
convenção da UDN, realizada em Niterói no mês de abril, Ernâni Sátiro, apoiado
por Lacerda e Magalhães Pinto — a essa altura, unidos na oposição ao governo
federal —, foi eleito presidente do partido, derrotando Aliomar Baleeiro. Na
convenção estadual realizada em junho, foi homologada a candidatura de Carlos
Flexa Ribeiro — secretário de Educação do governo de Lacerda e apoiado por ele
— às eleições para governador da Guanabara, fixadas para 5 de outubro. O
candidato lacerdista derrotou Raimundo de Brito e Adauto Lúcio Cardoso.
No dia 28 de junho, foi publicado um artigo no jornal O Globo
referindo-se à possível constituição de uma frente de oposição ao regime,
constituída por elementos descontentes com o governo Castelo Branco e tendo por
eixo uma aliança entre Lacerda e Magalhães Pinto. Essa frente poderia contar
com a adesão da chamada “linha dura” das forças armadas — favoráveis à
radicalização da “ação revolucionária” — e de setores que discordavam do
projeto de reforma agrária do governo (o Estatuto da Terra, aprovado em
novembro de 1964), como grupos industriais de São Paulo e de Minas e
cafeicultores do norte do Paraná. Essa frente oposicionista não chegou
entretanto a se concretizar em virtude do esfriamento das relações entre
Lacerda e Magalhães Pinto, o qual não pretendia se incompatibilizar abertamente
com o governo federal.
O PSD e o PTB, por sua vez, haviam formado uma coligação em
oposição à UDN, muito identificada nesse período com o novo esquema governista.
O PTB que, no Rio, liderava a coligação, havia escolhido como candidato ao
governo do estado um ex-ministro de João Goulart, Hélio de Almeida. A lei das
inelegibilidades impediu, no entanto, essa candidatura, ao declarar inelegíveis
aqueles que houvessem sido ministros de Estado entre 23 de janeiro de 1963 e 31
de março de 1964. Diante disso, a coligação aprovou, em 2 de agosto, o
lançamento da candidatura do marechal Henrique Lott, que também foi considerado
inelegível pelo fato de ter domicílio eleitoral fora da Guanabara, na cidade de
Teresópolis (RJ). Inviabilizadas essas duas candidaturas, o PSD e o PTB
acabaram por apoiar o nome do pessedista Francisco Negrão de Lima, antigo
inimigo de Lacerda.
Rompido com Castelo Branco, Lacerda continuou a estimular a
oposição da “linha dura” à candidatura de Negrão, afirmando que o presidente da
República tinha, em cada estado, um candidato “contra a Revolução”. No pleito
de 5 de outubro, Negrão de Lima derrotou Flexa Ribeiro por 52,68% dos votos
nominais, contra 40,04%. Com a vitória da oposição na Guanabara, Lacerda passou
a pregar um “golpe revolucionário” nesse estado, contando para tanto com a
adesão dos oficiais de “linha dura”, que também firmaram posição contrária à
posse de Negrão de Lima e de Israel Pinheiro, eleito governador de Minas Gerais
na legenda do PSD. O governo manteve, no entanto, os resultados eleitorais e,
poucos dias depois, em entrevista à imprensa, Lacerda pediu a deposição de
Castelo Branco.
A vitória da oposição na Guanabara e em Minas precipitou o
“endurecimento” do regime com a decretação, em 27 de outubro de 1965, do Ato
Institucional nº 2 (AI-2). O AI-2 reabriu o processo de punições extralegais de
adversários do regime, cujo julgamento foi transferido para a Justiça Militar,
extinguiu os partidos políticos e determinou eleições indiretas para a
presidência da República, que se fariam através do Congresso, por maioria
absoluta. Em 29 de novembro foi editado o Ato Complementar nº 4, determinando
que os novos partidos a serem criados deveriam apresentar um mínimo de 120
deputados e 20 senadores, e se organizar dentro de 45 dias.
A suspensão das eleições diretas para a presidência da
República colocou um ponto final nas pretensões de Lacerda que, frustrado com o
rumo dos acontecimentos, em 4 de novembro de 1965 afastou-se do governo da
Guanabara, sendo substituído por Rafael de Almeida Magalhães. O vice-governador
permaneceu no cargo até o início do mês seguinte, quando foi substituído pelo
desembargador Martinho Garcez Neto, presidente do Tribunal de Justiça, que governou
até a posse de Negrão de Lima, em 5 de dezembro.
Com a perspectiva da reorganização partidária, Lacerda
começou a articular, ainda em 1965, o Partido da Renovação Democrática
(Parede). A iniciativa, contudo, não teve êxito diante da adesão da grande
maioria da UDN ao novo partido situacionista, a Aliança Renovadora Nacional
(Arena), atendendo ao apelo de Castelo Branco. Embora mantendo-se
descomprometido tanto com a Arena como com o partido oposicionista, o Movimento
Democrático Brasileiro (MDB), Lacerda prosseguiu no combate ao governo. Segundo
Carlos Castelo Branco, apesar de o governo ter procurado minimizar a ação de
Lacerda, “a verdade é que suas entrevistas e declarações [foram] alcançando
ressonância, num ambiente político saturado de pessimismo e ansioso pela
afirmação de forças de contraste ao poder maciço do dispositivo militar
dominante”.
Na Frente Ampla
Em setembro de 1966, a imprensa já se referia abertamente à
constituição de uma ampla frente política — denominada pelos jornais de Frente
Ampla —, reunindo Lacerda, seu principal articulador, Juscelino Kubitschek e
João Goulart. Em entrevista ao Jornal da Tarde, de São Paulo, Lacerda defendeu
a conveniência de uma aliança com Kubitschek e Goulart e conclamou o povo a
fazer uma “revolução de verdade”. Suas negociações com Juscelino, que se
encontrava exilado em Lisboa, foram empreendidas através de um antigo
pessedista e então deputado pelo MDB, Renato Archer. Os entendimentos com
Goulart, que vivia exilado em Montevidéu, foram feitos por intermédio do
ex-petebista e então emedebista, Armindo Doutel de Andrade.
Em fins de setembro, o jornal A Tarde, de Salvador, fez um
balanço da situação da frente, anunciando que Juscelino e Goulart haviam
concordado em assinar o manifesto elaborado por Lacerda. Na realidade, ambos
aceitaram a primeira parte do documento, que analisava a situação política
nacional e colocava a necessidade de união acima de divergências passadas para
lutar pela restauração democrática do país, mas fizeram reparos ao restante, que
tratava dos objetivos da organização. A divulgação do manifesto foi marcada
para depois de 3 de outubro, dia da eleição pelo Congresso do marechal Artur da
Costa e Silva à presidência da República.
Atento às articulações da Frente, o governo não afastava a
possibilidade de tomar medidas de represália. Além disso, desconfiando que os
objetivos da Frente eram minar a aprovação do nome de Costa e Silva pelo
Congresso, os militares da “linha dura” ameaçaram retirar a cobertura que
sempre haviam dado a Lacerda, caso ele prosseguisse na tentativa de acordo com
os “banidos pela Revolução”.
Apesar
de toda essa movimentação, em 28 de outubro de 1966 a Frente Ampla foi lançada
através de um manifesto dirigido ao povo brasileiro e publicado na Tribuna da
Imprensa. Elaborado e assinado exclusivamente por Lacerda, o documento apontava
quatro questões centrais: a redemocratização do país através de eleições livres
e diretas, a reforma partidária e institucional, a retomada do desenvolvimento
econômico e a adoção de uma política externa soberana. Apesar de não ter sido
assinado por Juscelino e Goulart, seu texto refletiu as negociações travadas
anteriormente entre eles e Lacerda e teve uma repercussão favorável junto à
opinião pública e ao MDB.
Nas eleições de 15 de novembro de 1966 o partido governista
obteve uma ampla vitória. Por outro lado, a força política de Lacerda se fez
valer através da eleição de candidatos dos dois partidos, direta ou
indiretamente a ele vinculados. Na Guanabara, seu apoio a Mário Martins foi decisivo
para que este se elegesse senador na legenda do MDB.
Dias
depois do lançamento do manifesto, Lacerda seguiu para Lisboa com o objetivo de
se encontrar com Juscelino. Em 19 de novembro de 1966, os dois emitiram uma
nota conjunta — a Declaração de Lisboa —, na qual afirmavam ter colocado de
lado as divergências passadas e manifestavam sua disposição de trabalhar juntos
numa frente ampla de oposição ao governo militar. Comprometiam-se ainda com a
orientação política do manifesto de 28 de outubro e conclamavam o povo
brasileiro a participar das discussões para a “formação do grande partido
popular que se fez necessário à nação”. Após a formalização da aliança com
Juscelino, Lacerda intensificou os entendimentos com Goulart no sentido de
obter seu compromisso efetivo com a Frente Ampla.
Nessa
época, Lacerda entrou também em contato com setores de esquerda e com o PCB.
Foram realizadas reuniões na casa do industrial Alberto Lee, no Cosme Velho,
com a presença do brigadeiro cassado Francisco Teixeira, o editor Ênio
Silveira, o ex-deputado Wilson Fadul, entre outros. Diante da proposta de
unidade, o PCB se dividiu em duas correntes: uma delas, favorável à frente, e
outra, que acreditava que, com a ausência de Juscelino e Goulart do país,
Lacerda seria o único a lucrar com o movimento. Data dessa época, igualmente, a
aproximação da chamada “corrente ideológica” (ala esquerda) do MDB com a
frente.
Em março de 1967, já no governo de Costa e Silva, por várias
vezes foi noticiado o lançamento de um manifesto da Frente Ampla. Entretanto, a
ausência de consenso quanto ao seu conteúdo impediu a divulgação do documento.
Em maio, os ministros das Relações Exteriores, Magalhães Pinto, e do
Planejamento, Hélio Beltrão, insistiram com Lacerda para que reconsiderasse
suas posições e passasse a colaborar com o governo. Ainda nesse mês, os
articuladores da frente decidiram proclamar o recesso do movimento, aguardando
uma definição mais clara da orientação governamental. Em agosto, contudo, as
relações da frente com o governo se agravaram até que, no final do mês, o
ministro da Justiça Luís Antônio da Gama e Silva proibiu a presença de Lacerda
na televisão devido às suas críticas ao governo Costa e Silva.
Em 1º de setembro, ficou deliberado que a direção da frente
seria formada exclusivamente de parlamentares, além de dois elementos
apolíticos, ligados à Igreja. Foi decidido também que emissários seriam
enviados aos estados com a incumbência de mobilizar a opinião pública em torno
da redemocratização do país, do desenvolvimento econômico e da justiça social.
No dia seguinte, entretanto, 120 dos 133 parlamentares oposicionistas decidiram
não ingressar na frente, desconfiando das intenções de Lacerda em utilizar o
movimento como base para sua candidatura à presidência da República.
Paralelamente, os contatos de Lacerda com Goulart mostravam
bons resultados. No dia 24 de setembro o primeiro viajou para o Uruguai e no
dia seguinte firmou com o ex-presidente uma nota conjunta definindo a Frente
Ampla como um “instrumento capaz de atender... ao anseio popular pela
restauração das liberdades públicas e individuais, pela participação de todos
os brasileiros na formação dos órgãos de poder e na definição dos princípios
constitucionais que regerão a vida nacional”. A adesão de Goulart teve péssima
repercussão nos meios militares, levando os oficiais da “linha dura” a
declararem sua intenção de retirar o apoio que dispensavam a Lacerda.
Desde
então, a direção da Frente Ampla procurou dar um conteúdo mais popular ao
movimento, passando a enfatizar a luta contra a política salarial do governo e
a necessidade de aproximação com o setor estudantil. Promoveu dois grandes
comícios populares, o que não ocorria desde a instauração do regime militar no
país. O primeiro, convocado para dezembro de 1967 na cidade de Santo André, no
ABC paulista, transformou-se na maior concentração operária realizada até então
no Brasil. O segundo teve lugar em Maringá, no norte do Paraná, em inícios de
abril de 1968, num momento político de grave tensão, com o movimento estudantil
mobilizando uma parcela considerável da opinião pública contra o regime
militar, e conseguiu reunir mais de 15 mil pessoas.
No
dia 5 de abril de 1968, através da Portaria nº 177 do Ministério da Justiça,
Gama e Silva proibiu todas as atividades da Frente Ampla, ordenando à Polícia
Federal que detivesse todos aqueles que violassem a proibição.
Diante do agravamento da situação política, em 13 de dezembro
de 1968 foi editado o AI-5 e no dia seguinte Lacerda foi preso e conduzido ao
Regimento Marechal Caetano de Farias, da Polícia Militar do Estado da
Guanabara. Após uma semana em greve de fome, conseguiu ser libertado por estar
com a saúde debilitada, ameaçado, segundo relatou em suas memórias, de entrar
em coma diabética. Em 30 de dezembro teve os direitos políticos suspensos por
dez anos.
No
início de 1969 viajou para a Europa e, em maio, seguiu para a África como
enviado especial de O Estado de S. Paulo e do Jornal da Tarde. De volta ao
Brasil, dedicou-se às atividades empresariais nas companhias Crédito Novo Rio e
Construtora Novo Rio, e às atividades editoriais na Nova Fronteira e Nova
Aguillar, todas empresas de sua propriedade. Colaborou ainda em O Estado de S.
Paulo e no Jornal do Brasil, sob o pseudônimo de Júlio Tavares.
Faleceu no Rio de Janeiro em 21 de maio de 1977.
Teve três filhos.
Além
de ter trabalhado intensamente como tradutor, publicou O rato Fiúza (1946), O
caminho da liberdade (1957), O poder das idéias (1963), Brasil entre a verdade
e a mentira (1965), Paixão e ciúme (1966), Crítica e autocrítica (1966), O cão
negro (1971), Em vez (1975), Xanam e outras histórias (1977), A casa do meu
avô; pensamento, palavras e obras (1977), Depoimento (1978) e Discursos
parlamentares (1982).
A
seu respeito foram publicados os livros Juscelino, a UDN e Carlos Lacerda
(1956), do padre Pedro Maciel Vidigal; Ideologia e populismo: A. de Barros, M.
Arrais, C. Lacerda, L. Brizola (1979), de Guita Grin Debert; Carlos Lacerda,
meu amigo (1980), de Antônio Dias Rebelo Filho, e Esse incrível Lacerda, de
Fernando Bueno, L. M. de Sousa e Guimarães Padilha.
Vilma Keller
FONTES: Almanaque
Mundial (1963 e 1965); ARQ. DEP. PESQ. JORNAL DO BRASIL; BANDEIRA, L. Governo;
BANDEIRA, L. 24; BENEVIDES, M. Governo Kubitschek; BENEVIDES, M. UDN; CACHAPUZ,
P. Cronologia; CAFÉ FILHO, J. Sindicato; CÂM. DEP. Anais (1960/1961-2); CÂM.
DEP. Deputados; CÂM. DEP. Relação dos dep.; CÂM. DEP. Relação nominal dos
senhores; CARNEIRO, G. História; CARONE, E. Estado; CONG. BRAS. ESCRITORES. I;
CORRESP. GOV. EST. GB; CORTÉS, C. Homens; COSTA, M. Cronologia; COUTINHO, A.
Brasil; DULLES, J. Anarquistas; DULLES, J. Getúlio; Encic. Mirador; FIECHTER,
G. Regime; Grande encic. Delta; Jornal do Brasil (22 e 24/5/77); Jornal do
Comércio, Rio (18/6/67 e 22/5/77); KLEIN, L. Cronologia; KUBITSCHEK, J. Meu
(3); LACERDA, C. Depoimento; LEVINE, R. Vargas; LOURENÇO, M. Jânio; MACEDO, R.
Efemérides; MACHADO, F. Últimos; Maquis; MIN. GUERRA. Subsídios; NABUCO, C.
Vida; NÉRI, S. 16; PICALUGA, I. Partidos; POERNER, A. Poder; QUADROS, J.
História; REIS JÚNIOR, P. Presidentes; RIBEIRO FILHO, J. Dic.; SILVA, H.
História; SILVA, H. 1935; SILVA, H. 1945; SILVA, H. 1964; TAVARES, J.
Radicalização; Tribuna da Imprensa (16/7/54 e 23/5/77); VIANA FILHO, L.
Governo; VÍTOR, M. Cinco; WROBEL, F. Movimento.