SILVA,
Edmundo Barbosa da
*
diplomata.
Edmundo
Pena Barbosa de Silva nasceu em Curvelo (MG) no
dia 11 de fevereiro de 1917, filho de Alexandre Barbosa da Silva e de Isabel
Pena Barbosa da Silva.
Estudou
nos colégios Arquidiocesano de Mariana (MG), Arnaldo Bittencourt e Santo
Inácio, no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, cursando em seguida a
Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, pela qual se bacharelou
em 1937. Fez ainda o curso de direito internacional público e o de relações anglo-brasileiras
na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, concluindo-os em 1940.
Iniciou
sua carreira diplomática em março de 1939 como cônsul de terceira classe,
passando a servir na Divisão Especial do Ministério das Relações Exteriores
para a Salvaguarda dos Interesses Italianos na Grã-Bretanha em agosto de 1939.
No mês seguinte foi removido para a embaixada brasileira em Londres, onde
permaneceu até dezembro de 1941. Retornou então à Secretaria do Itamarati e em
dezembro de 1943 foi promovido a cônsul de segunda classe. Em novembro do ano
seguinte serviu como assessor da delegação brasileira à Conferência
Internacional de Aviação Civil, em Chicago, nos Estados Unidos, tornando-se
auxiliar do Gabinete Civil da Presidência da República em maio de 1945.
Após
o Estado Novo (1937-1945), atuou, em fevereiro e março de 1946, como assessor
da delegação brasileira à última reunião da United Maritime Authority, em
Londres. Em maio do mesmo ano representou o Itamarati junto à Comissão de
Estudos Relativos à Navegação Aérea Internacional (CERNAI), integrando ainda
as delegações brasileiras que negociaram os acordos sobre transportes aéreos
com os Estados Unidos, com a Grã-Bretanha e com Portugal.
Em
1947 voltou a integrar as delegações brasileiras que negociaram os acordos
sobre transportes aéreos com a França em janeiro, em Paris, com o Chile em
julho, no Rio de Janeiro, e com os Países Baixos, a Suécia, a Noruega e a
Dinamarca em novembro, também na capital federal. Nesse período foi em abril
assessor do representante do Brasil no Conselho Consultivo Marítimo Provisório,
em Paris, e, em agosto, assistente do subsecretário-geral na Conferência
Interamericana para Manutenção da Paz e da Segurança no Continente, realizada
no Rio de Janeiro. No ano seguinte atuou como delegado do Brasil à II
Assembléia da Organização de Aviação Civil Internacional (OACI), reunida em
junho em Genebra, integrando mais uma vez as delegações que negociaram os
acordos sobre transportes aéreos com a Argentina em junho, no Rio de Janeiro, e
com a Suíça, em Berna, no mês de agosto. Em dezembro do mesmo ano voltou a
representar o Itamarati junto à CERNAI.
Delegado
do Brasil à III Reunião da Assembléia da OACI, realizada em Montreal, no
Canadá, em junho de 1949, tornou-se secretário executivo da Comissão Consultiva
de Acordos Comerciais em maio de 1950, sendo promovido em setembro seguinte a
cônsul de primeira classe. Nesse mesmo ano exerceu as funções de secretário
executivo e de presidente substituto da Comissão Consultiva de Acordos Comerciais,
sendo promovido em novembro a conselheiro de embaixada. Em 1951 representou o
ministro das Relações Exteriores na Comissão de Desenvolvimento Industrial
(CDI), tendo atuado também como presidente da Comissão Consultiva do Trigo.
Em
abril de 1952 tornou-se chefe da Divisão Econômica do Departamento Econômico e
Consular, passando a integrar em setembro do mesmo ano a Seção de Segurança
Nacional do Ministério das Relações Exteriores. Ainda em 1952 chefiou a missão
brasileira encarregada das negociações com a Argentina, sendo designado em
abril do ano seguinte coordenador do temário da V Conferência da Comissão
Econômica para a América Latina (CEPAL), realizada no Rio de Janeiro. Esteve à
disposição do ministro da Fazenda de novembro a dezembro de 1953, a fim de
realizar negociações relativas aos atrasados brasileiros em Londres.
Promovido
a ministro da segunda classe em janeiro de 1954, integrou a seção brasileira
na Comissão Mista Brasil-Argentina, chefiando nesse mesmo mês a missão
brasileira junto aos países-membros da Organização dos Estados Americanos
(OEA). Atuou como delegado do Brasil junto à OEA no Rio de Janeiro nos meses
de janeiro e fevereiro seguintes, chefiando em março a delegação brasileira à X
Conferência Interamericana, realizada em Caracas, na Venezuela. Em agosto
tornou-se chefe do Departamento Econômico e Consular do Ministério das
Relações Exteriores.
Em
setembro de 1954 integrou a missão, presidida pelo ministro da Fazenda Eugênio
Gudin (1954-1955), que participou do encontro anual do Banco Internacional
para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD) e do Fundo Monetário
Internacional (FMI). Na reunião, a missão brasileira procurou sem êxito
negociar um empréstimo junto ao Federal Reserve Bank dos Estados Unidos.
Recorreu então aos bancos particulares norte-americanos, obtendo duzentos
milhões de dólares de um grupo de 19 instituições financeiras daquele país,
lideradas pelo Chase Manhattan Bank e The First National City Bank.
Em
novembro do mesmo ano presidiu a comissão preparatória da Reunião de Ministros
da Fazenda ou Economia dos Países Americanos - IV Sessão Extraordinária do
Conselho Interamericano Econômico e Social - realizada em Petrópolis (RJ), da
qual foi consultor especial. Ainda em 1954 representou o Ministério das
Relações Exteriores na Comissão Consultiva de Intercâmbio com o Exterior
(Cocie), da Carteira de Comércio Exterior (Cacex).
Em
abril de 1955 chefiou a delegação brasileira nas negociações sobre o sistema
de pagamentos unilaterais com a Inglaterra, Países Baixos, Áustria, República
Federal da Alemanha, Itália e França. Nesse mesmo mês chefiou também a missão
econômica brasileira em Bonn, na República Federal da Alemanha, e em abril do
ano seguinte, a delegação brasileira nas negociações do acordo comercial com o
estado de Israel. Em maio integrou a comissão para elaborar um projeto de
reestruturação do Ministério das Relações Exteriores. Ainda em 1956 tornou-se
membro do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), consultor do Conselho de
Desenvolvimento, e membro da comissão de minério desse organismo.
Também
em 1956 chefiou a delegação brasileira que deu início às negociações com a
Polônia para o acordo que substituiria o ajuste de pagamentos de 10 de abril de
1954 e o acordo de comércio de 23 de novembro do mesmo ano, denunciados pelo
governo brasileiro em janeiro de 1956.
Em
fevereiro de 1957 chefiou a seção brasileira da Comissão Mista Brasil-Itália
de Desenvolvimento Econômico, encabeçando nesse mesmo ano a comissão nacional
da Food and Agriculture Organization (FAO). Em janeiro do ano
seguinte integrou a delegação brasileira à Conferência Internacional do Café,
realizada no Rio de Janeiro. Chefe da delegação brasileira nas negociações do
ajuste de comércio e de pagamentos com o Japão, realizadas também no Rio de
Janeiro em junho de 1958, bem como da que compareceu à XIII Sessão das Partes
Contratantes do Acordo Geral sobre Comércio e Tarifas (GATT), realizada em Genebra,
integrou ainda nesse mês o grupo de trabalho para estudo das correntes de importação
do Ministério da Fazenda. Em agosto participou da Reunião de Consulta sobre
Política Comercial da CEPAL, realizada em Santiago do Chile.
Promovido
a ministro de primeira classe em maio de 1959, chefiou em setembro a delegação
brasileira na reunião para negociações relativas ao estabelecimento de uma zona
de livre comércio na América Latina, realizada em Montevidéu, integrando em
dezembro desse ano o grupo interno de coordenação e execução da política
econômica exterior do Itamarati. Ainda em 1959 chefiou a missão brasileira à
União Soviética e a delegação brasileira à XV Sessão das Partes Contratantes
do GATT, reunida em Tóquio.
Em
fevereiro de 1960 integrou o grupo de trabalho para estudo do sistema de formação
e aperfeiçoamento do diplomata, chefiando em abril desse ano a delegação
brasileira nas negociações do Acordo Substitutivo do Ajuste de Pagamentos e do
Acordo Comercial com a Polônia e, em maio, a delegação à XVI Sessão das Partes
Contratantes do GATT, realizada em Genebra. No mês de julho presidiu a Comissão
Mista Brasil-Polônia e, em outubro, chefiou a delegação brasileira à
Conferência Tarifária e nas negociações tarifárias bilaterais do GATT, bem
como à XVII Sessão das Partes Contratantes do GATT, mais uma vez realizada em
Genebra. Também em outubro tornou-se secretário-geral interino do Ministério
das Relações Exteriores, função que deixaria em fevereiro de 1961. Nessa
condição, em dezembro de 1960 atuou como ministro interino durante a gestão de
Horácio Lafer. Durante o período de 1960 a 1961 integrou o conselho técnico da
Federação Nacional de Comércio e presidiu o GATT.
Em
janeiro de 1961 presidiu a seção brasileira da II Reunião Plenária da Comissão
Mista Brasil-Paraguai. Em março foi nomeado coordenador dos assuntos da
Operação Pan-Americana do Tratado de Montevidéu, das negociações sobre o III
Acordo para a Compra dos Produtos Agrícolas Brasil-Estados Unidos e da agenda
da Conferência de Quito. Também foi indicado assessor na formação de planos e
programas nacionais e internacionais relativos à Operação Pan-Americana e à
Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC), coordenando para isso
os trabalhos dos órgãos governamentais a eles vinculados, aos quais foram
facultados, por intermédio do Ministério das Relações Exteriores, os recursos
técnicos e administrativos indispensáveis à execução desse encargo. No mês
de julho presidiu o grupo brasileiro da Comissão Mista Brasil-Itália e
integrou a delegação à Reunião Extraordinária do Conselho Interamericano e
Social (CIES), em Punta del Este, no Uruguai.
Em
outubro de 1961 tornou-se presidente do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA).
Nesse cargo, determinou que fossem realizados estudos por equipes
especializadas de economia sob sua orientação, daí resultando a conclusão de
que a política de contenção da produção deveria ser transformada em política
de expansão. Elaborou então um plano segundo o qual deveria ser atingida uma
base de cem milhões de sacas do produto em 1970. No entanto, deixou a
presidência em julho de 1962, antes da aprovação definitiva de seus projetos,
os quais viriam a concretizar-se em 1963. Nesse período, em novembro de 1961,
atuou como subchefe da delegação brasileira à XIX Sessão das Partes Contratantes
do GATT, ainda em Genebra, integrando no mês seguinte a Comissão de Promoções
do Itamarati e a delegação brasileira ao II Período de Sessões da II
Conferência da ONU sobre o Açúcar, em Genebra. Em julho de 1962 ocupava a
diretoria do Departamento Econômico do Itamarati e, em outubro seguinte,
integrou a delegação do Brasil à XIII Sessão do Conselho Internacional do
Açúcar e à XIV Sessão do Comitê Consultivo, em Londres. Durante a vigência do
sistema parlamentar de governo no Brasil (1961-1963) foi, em dezembro de 1962,
assistente especial do Conselho de Ministros. Em julho do ano seguinte
chefiou a delegação brasileira à XIV Sessão do Conselho Internacional do
Açúcar, em Londres, chefiando em maio de 1964 a delegação brasileira à I
Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (I UNCTAD), realizada
em Genebra. Também chefiou a delegação brasileira nas negociações do Acordo
sobre Fomento e Garantia de Investimentos Privados com a República Federal da
Alemanha, em junho, e com os Estados Unidos, em setembro, tendo sido ambas as
reuniões realizadas na cidade do Rio de Janeiro.
Em
novembro de 1965 atuou como delegado do Brasil à II Conferência Interamericana
Extraordinária (CIE), no Rio de Janeiro. Em 1966 foi colocado à disposição do
governo do estado do Rio de Janeiro, condição em que permaneceria pelo menos
até 1975, tendo integrado em 1967 o Comitê de Promoção do Mercado Comum
Latino-Americano, em Washington.
Em
outubro de 1976 tornou-se membro da diretoria e do conselho de administração da
Companhia Auxiliar de Empresas de Minério (Caemi) e, como tal, foi indicado em
agosto de 1982 para substituir o economista Sérgio Quintela na presidência da
Companhia Jari. Criada pelo milionário norte-americano Daniel Ludwig prevendo
o cultivo, com técnicas modernas, de arroz e madeira para a produção de papel e
celulose, além de outras atividades, como a mineração do caulim, essa companhia
foi adquirida, ainda no início de 1982, por um consórcio de 23 empresas
brasileiras, tendo à frente Augusto Trajano de Azevedo Antunes, do grupo
Caemi, e o Banco do Brasil.
No
início de setembro de 1982, ao tomar posse no novo cargo, Barbosa da Silva anunciou
as metas de sua administração à frente do Projeto Jari, cujo maior problema
naquele momento era o baixo preço da celulose no mercado internacional. Nesse
sentido, estabeleceu a completa revisão do projeto de modo a reduzir os custos,
aumentar a produtividade e racionalizar a produção. Como objetivo principal
deu-se ênfase à produção de polpa de papel, a custo mais baixo, para alimentar
a fábrica de celulose, além do incentivo às pesquisas para o aumento da
produção de polpa. De acordo com a nova orientação adotada pelo grupo, ficou
estabelecida a idéia de criar um "pólo de desenvolvimento" dentro das
terras da empresa para diversificar suas atividades.
Barbosa
da Silva foi também assessor da delegação brasileira junto ao Conselho Consultivo
Marítimo Provisório, em Paris. Dono de fazendas no norte do estado do Rio de
Janeiro, dedicou-se à lavoura açucareira.
Membro do conselho de curadores da Fundação
Getúlio Vargas desde 1983 e sócio mantenedor da Associação Promotora de Estudos
da Economia desde 1989, tornou-se presidente de honra do conselho de
administração da Generali do Brasil – Companhia Nacional de Seguros em 1993 e,
no ano seguinte, membro do Conselho Empresarial de Agricultura e Agro-Indústria
da Associação Comercial do Rio de Janeiro.
Casou-se, em primeiras núpcias, com Lígia
Barbosa da Silva, com quem teve um casal de filhos, e, em segundas núpcias, com
Maria Custódia Barbosa da Silva, com que teve três filhos.
Publicou, entre outros, Pan-Americanismo e a paz (tese
-1937), Política aeronáutica brasileira, O café nos mercados
europeus (1956), Sistema brasileiro de pagamentos multilaterais (1957),
Comércio internacional brasileiro, O Itamarati e os problemas do
intercâmbio exterior (1958), A economia da cana-de-açúcar no Brasil –
consolidação e expansão (1962), Panoramas da agroindústria canavieira no
Brasil. Transformação da estrutura agrária no Nordeste (1963), Amapá –
Problema típico de desenvolvimento regional (1964), Educação e
deseducação – crime social (1967), Ação comunitária do Brasil – Um
movimento em marcha (1968), Jari – um pólo de desenvolvimento, Pirataria
no mares – a tradição brasileira e o caso do “Santa Maria” (1997).
FONTES: Almanaque Abril (1983); CORTÉS, C. Homens;
Globo (13/8/82); INF. BIOG.; Jornal do Brasil (22/8/76 e 17/9/82);
MIN. REL. EXT. Almanaque (1971); OLIVEIRA, H. Presidentes;
SALES, D. Razões.