FLORES,
Jorge Oscar de Melo
*pres. FGV 1992-2000.
Jorge Oscar de Melo Flores
nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 6 de maio de 1912, filho
de Alberto Flores e de Edelvira de Melo Flores. Como sua mãe faleceu por
ocasião de seu nascimento, foi criado pela avó materna, Edelvira Pereira Pinto
de Melo, viúva do almirante Custódio José de Melo.
Fez os cursos primário e secundário no Colégio Andrews e em
1927 foi aprovado em primeiro lugar para a Escola Politécnica, hoje Escola de
Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Colou grau como
engenheiro geógrafo em 1930 e em 1932 formou-se em engenharia civil. Naquela
mesma universidade, em 1949, obteria o grau de doutor em ciências físicas e
matemáticas. Em 1933 começou a trabalhar como engenheiro da Divisão de Águas do
Departamento Nacional de Produção Mineral do Ministério da Agricultura. Aí
permaneceria até 1945.
Em 1936 iniciou suas atividades didáticas, tornando-se
professor-assistente da cadeira de hidráulica teórica e aplicada da Escola
Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil — atual Universidade Federal
do Rio de Janeiro —, atividade que desempenharia até 1973. Em 1940 passou a
exercer também as funções de avaliador das instituições da Previdência, função
que ocuparia até 1948. De 1940 a 1943 trabalhou no Conselho Nacional de Águas e
Energia Elétrica como assistente e diretor interino da Divisão Técnica. Em 1942
começou a trabalhar no setor de obras da Coordenação de Mobilização Econômica.
Nesse mesmo ano, foi escolhido fiscal das obras financiadas pelo Banco do
Brasil, cargo que acumulou com o de diretor do Serviço de Obras do Departamento
Administrativo do Serviço Público (DASP), órgão no qual exerceria várias outras
funções. Em 1944 integrou ao lado de Luís Simões Lopes a Comissão Organizadora
da Fundação Getulio Vargas (FGV), ocupando vários postos de relevo. Em 1946
tornou-se membro do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura
(IBECC).
Em 1949 assumiu a direção da Sul América Capitalização, sem
abandonar as demais atividades, passando ainda a atuar como perito em questões
de abastecimento. Em 1953, participou da comissão da Presidência da República
encarregada de planejar e executar serviços municipais de águas.
Membro
do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD) de 1954 a 1958, entre 1955 e 1975 foi diretor e membro do conselho de administração da Mecânica Pesada
S.A. (SP) e da Termoelétrica de Charqueadas (RS). De 1957 a 1978 foi diretor da Sul América Seguros Terrestres, Marítimos e Acidentes, função que acumulou
com outras atividades, entre as quais a de diretor e vice-presidente do Banco
Lar Brasileiro e a de gerente da Sociedade Civil de Planejamento e Consultas
Técnicas (Consultec), empresa da qual foi um dos fundadores em 1959.
Em 1958 começou sua longa carreira como representante de
entidades de classe, entre elas o Sindicato de Empresas de Seguros Privados e
Capitalização do Rio de Janeiro (1958-1969), o Sindicato dos Bancos do Estado
da Guanabara (1962-1968), a Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados
e Capitalização (1964-1967) e a Federação Nacional dos Bancos (1966-1983). Em
1959 passou a integrar também o Conselho Superior das Classes Produtoras.
Em
1960 dirigiu a revista Análise e Perspectiva Econômica e tornou-se
membro curador da Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira.
No início da década de 1960, atuou politicamente
representando interesses dos empresários junto a parlamentares e auxiliando na
captação de recursos financeiros para subsidiar atividades político-ideológicas
formadoras de uma opinião contrária às posições de esquerda. Foi com essa
perspectiva que foi fundado, em 1962, o Instituto de Pesquisas e Estudos
Sociais (IPÊS), órgão articulado por empresários de São Paulo e do Rio de
Janeiro com o objetivo de se opor ao governo de João Goulart (1961-1964),
considerado estatizante e permeável à influência comunista. Melo Flores teve
papel de destaque na organização e orientação do IPÊS, entidade que viria a
participar ativamente do movimento político-militar que derrubou Goulart em 31
de março de 1964, abrindo caminho para a instalação do regime militar no país.
No governo do marechal Humberto de Alencar Castelo Branco
(1964-1967), Jorge de Melo Flores participou dos estudos para a reforma
administrativa e nos anos posteriores, sem abandonar várias de suas funções,
integrou conselhos consultivos e ocupou cargos de direção em empresas como
Ciquine Indústrias Químicas do Nordeste S.A., Algimar S.A., Indústria
Brasileira de Aço, Companhia Fiduciária do Rio de Janeiro, Luz Steárica, Moinho
Santista, ITN Trading, Molas Sueden S.A., Sulatec Participações S.A. Foi ainda
presidente e vice-presidente do Comitê Brasileiro da Câmara de Comércio
Internacional, da Associação de Exportadores Brasileiros, da Câmara de Comércio
Internacional e da Federação das Câmaras de Comércio Exterior.
Nos anos 1970 participou de entidades como a Pró-Matre, o
Centro de Integração Empresa-Escola da Guanabara, o Centro Comunitário de
Favelas. Em 1973, quando era presidente do Instituto Superior de Estudos
Contábeis da FGV, tornou-se membro diretor da Ação Comunitária do Brasil no Rio
de Janeiro. Dois anos depois, foi um dos fundadores da Academia Brasileira de
Ciência da Administração e passou a integrar o conselho técnico da Fundação Mílton
Campos, órgão de estudos da Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido
situacionista.
Membro
do conselho diretor da FGV, em 1976 foi eleito vice-presidente da entidade, em
substituição ao economista Eugênio Gudin. Assumiu as novas funções num momento
em que a instituição começava a perder o apoio financeiro do governo federal, o
que determinou uma série de restrições nos gastos e investimentos.
Em
1992, Melo Flores foi eleito presidente da FGV, em substituição a Luís Simões
Lopes, seu fundador, tendo como vice-presidente o economista e ex-ministro da
Fazenda Mário Henrique Simonsen. Durante a sua gestão aprofundou-se a crise
financeira da instituição, uma vez que o governo federal praticamente deixou de
enviar-lhe recursos. Foi a partir dos anos 1990 que a fundação intensificou o
número de cursos de educação continuada, de contratos e convênios para a
prestação de serviços de consultoria, permitindo a manutenção de seus cursos de
pós-graduação e as atividades de pesquisa. Essas mudanças exigiram uma reestruturação
do modelo de funcionamento da instituição, que contou com a ativa participação
de Melo Flores.
Foi também diretor financeiro do Museu de Arte Moderna do Rio
de Janeiro, instituição onde ocupou vários cargos relevantes.
Faleceu no Rio de Janeiro no dia 31 de julho de 2000.
Era casado desde 1940 com Vanda Dias Flores, com quem teve
uma filha.
O biografado prestou depoimento de 27 horas ao Centro de
Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (Cpdoc), da FGV,
que ganhou a forma de livro em 1998, com o título Na periferia da história,
organizado pelas pesquisadoras Maria Celina D’Araújo, Inês Cordeiro de Farias e
Lúcia Hipólito. Além dessa obra, publicou vários artigos e trabalhos,
notadamente sobre hidráulica, energia elétrica, seguros, questões imobiliárias,
comerciais e de exportação. Parte de sua produção intelectual, publicada em
periódicos ligados a órgãos de classe, tem caráter doutrinador, referendando
posições do empresariado contra possíveis desvios de percurso na ordem econômica
e social.
Maria
Celina D’Araújo colaboração especial
FONTE: FLORES, J. Na
periferia.