HOUAISS,
Antônio
*min.
Cultura 1993.
Antônio Houaiss nasceu
no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 15 de outubro de 1915, filho dos
libaneses Habib Assad Houaiss e Malvina Farjalla Houaiss.
Fez o
curso primário em colégios da rede pública do Rio de Janeiro, formando-se
perito-contador pela Escola de Comércio Amaro Cavalcanti em 1933 e terminando o
curso secundário de madureza dois anos depois. Bacharel em letras clássicas na
Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, atual Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1940, licenciou-se em 1942.
Entre
1934 e 1946 lecionou português, latim e literatura no magistério secundário
oficial do Distrito Federal. Nesse período, de 1941 a 1943 foi também membro examinador de português de concursos promovidos pelo Departamento
Administrativo do Serviço Público (DASP), além de seu colaborador permanente na
elaboração de provas de português de 1942 a 1945. Ainda entre 1943 e 1945 foi professor contratado pela Divisão Cultural do Ministério das Relações
Exteriores para lecionar português e dar cursos sobre questões culturais
brasileiras no Instituto de Cultura Uruguaio-Brasileiro de Montevidéu. Neste
último ano, foi aprovado em concurso para a carreira diplomática.
No ano de
1947, ao optar pela diplomacia, pediu exoneração do cargo de professor, devido
à lei de desacumulação. Vice-cônsul do Brasil em Genebra entre 1947 e 1949,
nesse período acumulou esse cargo com o de secretário da delegação permanente
do Brasil em Genebra junto à Organização das Nações Unidas (ONU). Em seguida,
ocupou o cargo de secretário da embaixada do Brasil na República Dominicana
(1949-1951) e na Grécia (1951-1953). Integrou ainda representações brasileiras
às assembléias gerais das Nações Unidas, da Organização Internacional do
Trabalho, da Organização Mundial da Saúde e da Organização Mundial de
Refugiados.
Filólogo,
colaborador e pesquisador da Casa de Rui Barbosa, atual Fundação Casa de Rui
Barbosa (1956-1958), foi secretário-geral do Primeiro Congresso Brasileiro de
Língua Falada no Teatro, em 1956, em Salvador. Apresentou a tese que se tornou base das conclusões sobre as normas da língua
falada culta no Brasil. Em 1958, foi secretário-geral do Primeiro Congresso
Brasileiro de Dialectologia e Etnografia, em Porto Alegre, tendo sido encarregado da elaboração dos anais. Nesse mesmo ano, foi membro da
Comissão Machado de Assis e, em 1960, foi eleito membro da Academia Brasileira
de Filologia.
Paralelamente
a essas atividades, de 1957 a 1960 foi assessor de documentação da Presidência
da República durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), quando
foram publicados 83 volumes documentais do qüinqüênio presidencial. Nomeado, em
1960, primeiro secretário e depois ministro de segunda classe da delegação
permanente do Brasil junto à ONU em Nova Iorque, funções que exerceria até 1964, integrou, em 1962, a Comissão de Anistia de Presos Políticos de
Ruanda-Urundi, que em Usumbura examinou os processos de 1.220 presos políticos,
anistiados todos pela Assembléia Geral das Nações Unidas por proposta daquela
comissão. No ano seguinte, trabalhou como relator da IV Comissão da Assembléia
Geral das Nações Unidas.
Com a
vitória do movimento político-militar de 31 de março de 1964, teve seus
direitos políticos suspensos por dez anos. Foi afastado do Itamarati por
decisão do próprio Ministério das Relações Exteriores, sob a alegação que deixara
de ser portador de título eleitoral. Redator do Correio da Manhã entre
1964 e 1965, foi superintendente da Editora Delta S.A., do Rio de Janeiro, de 1965 a 1970, período em que foi editor-chefe da Enciclopédia Mirador Internacional.
Em 1º de
abril de 1971 foi eleito para ocupar a vaga de Álvaro Lins na Academia
Brasileira de Letras (ABL), tendo sido empossado em 27 de agosto do mesmo ano.
Presidente do Sindicato
dos Escritores do Rio de Janeiro entre 1978 e 1981, foi beneficiado pela Lei da
Anistia, assinada pelo presidente João Figueiredo em agosto de 1979. Contudo,
optou por não retomar a carreira diplomática. Presidente do Conselho de
Administração da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) (1983- 1986),
integrou, entre março e julho de 1984, comissão constituída pelo Ministério da
Justiça para estudar a legislação censória e suas práticas no Brasil e propor
medidas anticensórias. Foi ainda membro da Comissão Nacional para o
Estabelecimento de Diretrizes que promovessem o Aperfeiçoamento do
Ensino/Aprendizagem da Língua Portuguesa, instituída pelo Decreto nº 91.372 de
26 de junho de 1985, com relatório conclusivo em 20 de dezembro do mesmo ano.
Em maio de 1986, como
membro da delegação brasileira ao Encontro para a Unificação Ortográfica da
Língua Portuguesa, realizado no Rio, exerceu o cargo de secretário-geral e
delegado porta-voz brasileiro. Nessa época, integrou em Brasília, na Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), um grupo interdisciplinar sobre “A
política da língua”. Nesse ano, iniciou, na ABL, projeto de grande porte, ao
qual se dedicaria por diversos anos: a criação de um monumental dicionário da
língua portuguesa, com um número de verbetes superior ao do dicionário de
Aurélio Buarque de Holanda.
Filiado
ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), em novembro de 1986 foi candidato a
suplente de senador pelo Rio de Janeiro na chapa de Evandro Lins e Silva, mas
os eleitos foram Nélson Carneiro e Afonso Arinos.
Em 1988,
organizou o Congresso Internacional de Tradutores no Instituto Internacional de
Cultura, em Campos (RJ), tendo sido o vice-presidente e o secretário-executivo
do encontro. No ano seguinte participou em Lisboa do júri do primeiro Prêmio
Luís de Camões, conferido a Miguel Torga. Ainda em 1989, ano do
restabelecimento das eleições diretas para presidente da República, seu nome
chegou a ser cogitado para vice-presidente na chapa do candidato do Partido dos
Trabalhadores (PT), Luís Inácio Lula da Silva.
Com a
aprovação do pedido de impeachment do presidente Fernando Collor pela
Câmara dos Deputados em 29 setembro de 1992 e a posse, em caráter interino, do
vice-presidente Itamar Franco, em 2 de outubro, foi indicado para ocupar o
Ministério da Cultura, que havia sido transformado em secretaria pelo governo
Collor. Houaiss substituiu Sérgio Paulo Rouanet. Empossado em 19 de outubro,
teve o apoio de artistas e intelectuais e definiu como prioridades de sua
administração a recuperação e a preservação do patrimônio histórico e cultural,
a retomada da atividade cinematográfica e um projeto de sustentação da língua
portuguesa, por meio do estreitamento dos vínculos com Portugal e com as
ex-colônias portuguesas na África. Durante sua administração, enfrentou
dificuldades em relação aos recursos destinados a sua pasta, limitados a 0,04%
do Orçamento da União, buscando apoio na iniciativa privada.
Ao deixar o ministério, em
outubro de 1993, afirmou ter cumprido “o mínimo a que se propôs” com a lei
audiovisual do cinema aprovada, as verbas da extinta Embrafilme liberadas e a
reforma administrativa do presidente Itamar Franco encaminhada, recriando o
Ministério da Cultura. Em seguida, foi designado embaixador do Brasil na
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em Paris. Foi substituído por José Jerônimo Moscardo de Sousa, embaixador do Brasil na
Associação Latino-Americana para o Desenvolvimento e Integração (ALADI).
Em 1994,
tornou-se membro do Conselho Nacional de Política Cultural, exercendo a
vice-presidência e renunciando no ano seguinte, já no governo de Fernando
Henrique Cardoso, eleito em outubro de 1994.
Em
dezembro de 1995, foi eleito presidente da Academia Brasileira de Letras, em
substituição a Josué Montello. Considerado o candidato da “ala esquerda” da
instituição, foi apoiado pelos romancistas Antônio Callado e Lígia Fagundes
Teles, pelo jurista Evaristo de Morais Filho, pelo jornalista Barbosa Lima
Sobrinho, entre outros. Na véspera da eleição, o seu adversário na disputa, o
poeta Ledo Ivo, abriu mão da candidatura. Na cerimônia de posse, destacou,
entre seus planos para a instituição, a elaboração de um projeto de atualização
do dicionário da Academia, escrito por Antenor Nascentes em 1954, com data de
conclusão prevista para 1997, ano do centenário da ABL. Além disso, considerou
prioritários a realização de simpósios e um grande congresso sobre o ensino no
Brasil.
Ficou à
frente da ABL durante o ano de 1996, sendo substituído pela escritora Nélida
Piñon. Em março de 1997, foi criado oficialmente o Instituto Antônio Houaiss de
Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa, com sede no Rio de Janeiro.
Foi ainda
diretor do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos.
Um dos
traços marcantes da personalidade de Houaiss foi seu interesse pela
gastronomia, tendo sido membro destacado da Confraria dos Gastrônomos do Rio de
Janeiro.
Faleceu
no Rio de Janeiro em 7 de março de 1999.
Era
casado com Rute Marques de Sales, falecida em julho de 1988. Não teve filhos.
Tradutor
do clássico Ulisses, de James Joyce, publicou, entre outras obras, Anais
do Primeiro Congresso Brasileiro de Língua Falada no Teatro (1956); Augusto
dos Anjos, poesia (antologia, introdução e notas, 1960), The New
Barsa Dictionary of the English and Portuguese Languages (1964), Elementos
de bibliologia (1967), Edições críticas de obras de Machado de Assis (1975),
Pequeno dicionário enciclopédico Koogan-Larousse (1979), Magia da
cozinha brasileira (1979), Webster’s dicionário inglês-português (1982),
A crise de nossa língua de cultura (1983), A cerveja e seus mistérios
(1986), Socialismo: vida, morte e ressurreição (1993) e A modernidade
no Brasil: conciliação ou ruptura? (1995).
Verônica
Veloso
FONTES: ABL.
Anuário (1993-1997); Estado de S. Paulo (15/12/92, 13/5, 10/6 e
9/8/93, 8/8/96); Folha de S. Paulo (10 e 26/10/92, 18/1/93, 7 e
9/12/95); Globo (11/8/86, 16 e 23/10/92, 30/4/93, 6 e 8/12/95); INF.
INSTITUTO ANTÔNIO HOUAISS DE LEXICOGRAFIA; Jornal do Brasil (10, 17 e
20/10, 15/12/92, 6/6/93, 20/10/95, 24/1/97).