TALARICO, José
*dep. fed. DF 1956-1957; dep. fed. GB 1960 e 1961-1962.
José Gomes Talarico nasceu na cidade de São Paulo no dia 11 de novembro de 1915, filho de José Talarico e de Marcelina Gomes. Seu pai, imigrante italiano, era arquiteto e amigo do presidente Washington Luís (1926-1930) e de várias personalidades do Partido Republicano Paulista (PRP). Seu irmão, Pedro Gomes Talarico, foi membro do PRP e, mais tarde, um dos fundadores e dirigentes da União Democrática Nacional (UDN) em São Paulo.
José Talarico estudou no Ginásio Moura Santos e fez o curso de criminologia na Escola de Polícia do Instituto Paulistano, em sua cidade natal. Estudou também na Faculdade de Filosofia de São Bento, mas não chegou a completar o curso.
Iniciou-se na política como estafeta do movimento revolucionário de 1924. Partidário do Governo Provisório chefiado por Getúlio Vargas, assumiu em 1932 a direção administrativa do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz, da Faculdade de Medicina de São Paulo. Conforme seu depoimento, tornou-se "uma espécie de profissional, porque o centro era uma das organizações universitárias de maior expressão que havia em São Paulo... e obrigava à existência de uma estrutura profissional". Em 1933 foi recebido pelo presidente Vargas no Rio, juntamente com uma caravana de estudantes paulistas, e conseguiu apoio para a construção do estádio Oswaldo Cruz, o primeiro estádio universitário de São Paulo. Paralelamente à direção administrativa do Centro Oswaldo Cruz, foi secretário do grêmio universitário do PRP, trabalhando também nesse período no gabinete do presidente do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos (IAPM), Luís Aranha, e no gabinete do ministro da Fazenda, Oswaldo Aranha (1931-1934).
Começou sua carreira jornalística ainda em 1933 como repórter do Correio Paulistano, mas trabalhou também na sucursal paulista do jornal carioca A Noite de 1937 a 1938. Nesse último ano, deixou a direção administrativa do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz e ajudou a fundar a União Nacional dos Estudantes (UNE), em dezembro, com o nome de Conselho Nacional dos Estudantes, durante o II Congresso Nacional dos Estudantes. Ainda em 1938 foi nomeado inspetor federal do ensino secundário e, em 1939, foi eleito presidente da Confederação Brasileira de Esportes Universitários e exerceu na época o cargo de secretário-geral da Federação Universitária Paulista de Desportos (FUPE).
Mudou-se para o Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 1941, passando a trabalhar na redação do jornal A Noite. Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), participou das manifestações públicas - organizadas pela UNE e por outras entidades antifascistas - em favor da entrada do Brasil no conflito contra a Alemanha e a Itália. Nesse mesmo ano foi nomeado inspetor do trabalho e passou a desempenhar papel de relevo na burocracia do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Em 1944 participou da luta pela regulamentação da profissão de jornalista e ajudou a fundar o sindicato da categoria no Rio de Janeiro, sendo eleito seu representante junto à Federação Nacional dos Jornalistas, então criada. Foi presidente da comissão organizadora da federação e, em seguida, seu primeiro vice-presidente.
Em 1945 foi um dos fundadores do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), juntamente com José Segadas Viana. Ligado ao Movimento Queremista, que defendia a continuidade do governo Vargas e a convocação de Assembleia Nacional Constituinte, apoiou o presidente da República e foi preso ao tentar organizar resistência quando de sua queda, em outubro daquele ano. Em 1950 participou da campanha de Vargas para as eleições presidenciais e, com a vitória de Getúlio, voltou ao Ministério do Trabalho, onde chefiou o serviço de imprensa do ministro Segadas Viana de 1951 a 1953. Nesse período, assumiu também a direção da sucursal do Diário de Minas no Rio de Janeiro. Em 1954, nos últimos meses do governo de Vargas, presidiu a Comissão de Imposto Sindical por designação do ministro Hugo de Faria.
Em outubro de 1954, candidatou-se a deputado federal pelo Distrito Federal na legenda do PTB, mas só obteve uma suplência. De novembro de 1955 a janeiro de 1956, presidiu a Comissão Técnica de Orientação Sindical, por designação do ministro do Trabalho Nélson Omegna. Foi convocado três vezes para exercer o mandato na Câmara, de setembro de 1956 a maio de 1957, de junho a julho e de novembro a dezembro de 1957, e participou da Frente Parlamentar Nacionalista (FPN). Formada em 1956 por deputados do PTB, da UDN, do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e do Partido Social Democrático (PSD), a FPN tinha grande atuação na Câmara dos Deputados, defendendo plataforma nacionalista contrária à intervenção do capital estrangeiro na economia nacional, em especial no setor energético, e à remessa de lucros para o exterior. Em 1958, Talarico voltou à Comissão Técnica de Orientação Sindical como substituto do presidente. Nesse ano foi preso durante greve de motoristas - cujo comando fora instalado na sede da UNE - quando levou ao palácio do Catete os membros da diretoria do Sindicato dos Motoristas.
Em outubro de 1958, candidatou-se mais uma vez a deputado federal pelo Distrito Federal na legenda do PTB, e obteve novamente uma suplência, exercendo o mandato de setembro a outubro de 1960. Nomeado subchefe do gabinete do ministro do Trabalho em 1960, foi assessor técnico do vice-presidente João Goulart até 1961, além de presidente da Associação de Servidores do Ministério do Trabalho. Após a renúncia do presidente Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961, apoiou a posse de João Goulart na Presidência da República, contestada por setores militares e realizada sob o sistema parlamentarista de governo. De novembro de 1961 a fevereiro de 1962, voltou a exercer o mandato na Câmara e, eleito deputado estadual na Guanabara na legenda do PTB em outubro desse último ano, foi empossado em fevereiro de 1963.
Durante o governo de João Goulart, ganhou projeção como assessor sindical do presidente, sendo frequentemente acusado por parlamentares da UDN de exercer o "peleguismo" no Ministério do Trabalho. Participou da comissão organizadora do comício de 13 de março de 1964, promovido por Goulart em favor das chamadas reformas de base. Essa foi uma das últimas manifestações do presidente na chefia do governo e reuniu grande público, tendo como oradores líderes políticos, sindicais e estudantis. Ainda em março de 1964, na Rebelião dos Marinheiros, José Talarico foi um dos enviados de Goulart para tentar um entendimento com os revoltosos, que se recolheram ao Sindicato dos Metalúrgicos, no Rio de Janeiro, em protesto contra as restrições impostas à categoria. O incidente, contornado com tolerância pelas autoridades, representou o golpe final para a deposição de Goulart dias depois.
Além de vice-presidente da mesa, Talarico foi líder do PTB na Assembleia Legislativa da Guanabara até 7 de abril de 1964, quando passou a ser perseguido por defender o governo Goulart, deposto com a vitória do movimento político-militar de 31 de março. Teve o mandato cassado e os direitos políticos suspensos em 14 de abril pelo Ato Institucional nº. 1 (AI-1), editado no dia 9 daquele mês, e em novembro seguinte foi preso devido à divulgação de um plano que estaria sendo armado para dinamitar o chamado "trem da vitória", procedente de convenção em São Paulo para lançamento da candidatura de Carlos Lacerda à Presidência da República. José Talarico foi envolvido por conhecer pessoas ligadas ao plano e ficou detido durante 50 dias, sendo depois excluído do processo.
Em 1966, colaborou na formação da Frente Ampla, movimento de oposição ao governo do marechal Humberto Castelo Branco, que reuniu correntes populares sob a influência do ex-presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961), de João Goulart, de Carlos Lacerda e, eventualmente, de Jânio Quadros. O objetivo era redemocratizar o país com eleições livres e diretas e reforma dos partidos e das instituições, mas o movimento não obteve sucesso.
Nos anos subsequentes à instituição do regime militar, José Talarico manteve-se em permanente contato com o ex-presidente João Goulart, exilado no Uruguai, e foi preso em diversas ocasiões por causa de suas constantes viagens àquele país. Após a morte de Goulart em 1976, decidiu, juntamente com outros companheiros, “delegar” ao ex-governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola a liderança do projeto trabalhista.
Detido 28 vezes e torturado pelo regime militar, foi beneficiado pela Lei da Anistia de 28 de agosto de 1979, aposentando-se de suas funções no Ministério do Trabalho. No contexto de abertura do regime, que levou à extinção do bipartidarismo em novembro de 1979 e a consequente reformulação partidária, a disputa pela sigla do PTB cindiu o grupo em duas correntes, uma liderada por Ivete Vargas e outra pelo próprio Brizola. Inicialmente contrário à divisão, Talarico acabou optando pelo grupo do ex-governador e ajudando na fundação do Partido Democrático Trabalhista (PDT), em maio de 1980.
Como elemento de ligação de Brizola com a presidente nacional do novo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Ivete Vargas, nas negociações em torno da unificação dos dois partidos, José Talarico deixou o PDT e rompeu com Brizola no início de 1982, descontente com a marginalização dos trabalhistas históricos na diretoria regional do partido no Rio de Janeiro. Ingressou em seguida no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), mas voltou ao PDT poucos meses depois e nessa legenda se elegeu deputado estadual no Rio de Janeiro em novembro de 1982. Assumindo o mandato em fevereiro do ano seguinte, foi eleito líder do partido e do governo Brizola (1983-1987) na Assembleia Legislativa, derrotando, por 13 votos a 11, o deputado estadual Afonso Celso. Em agosto de 1983 defendeu a tese de um governo de coalizão com o PMDB e o PTB - ideia reprovada pelo governador - que quase lhe causou a destituição do cargo de líder do PDT na Assembleia Legislativa, sendo mantido, no entanto, pela bancada do partido.
Preterido para o cargo de presidente da Assembleia por Brizola, Talarico foi nomeado conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro em substituição ao conselheiro Carlos Costa, falecido. Antes de assumir o cargo, participou do Colégio Eleitoral de 15 de janeiro de 1985, como delegado da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, tendo votado no ex-governador de Minas Gerais Tancredo Neves para presidente da República. Eleito com expressiva votação sobre o candidato governista Paulo Maluf, Tancredo, no entanto, não chegaria a assumir o cargo em 15 de março de 1985, data marcada para a posse. Gravemente enfermo, viria a falecer em 21 de abril seguinte, sendo substituído na presidência pelo vice José Sarney.
Abrindo mão do mandato de deputado estadual, Talarico tomou posse no Tribunal de Contas, em sessão solene, no dia 22 de janeiro de 1985. No ano seguinte, aposentou-se do cargo. Em julho de 1988, filiou-se ao PMDB e apoiou a candidatura de José Colagrossi à Prefeitura do Rio de Janeiro. Realizado em novembro seguinte, o pleito foi no entanto vencido pelo candidato do PDT, Marcelo Alencar.
Em maio de 1994, esteve presente na solenidade de assinatura, pelo presidente Itamar Franco (1992-1994), do protocolo para devolução aos estudantes do terreno da Praia do Flamengo no Rio de Janeiro, onde ficava a sede da União Nacional dos Estudantes - da qual fora um dos fundadores em 1938 - invadida e destruída por incêndio em abril de1964, um dia após o movimento político-militar que depôs o presidente João Goulart (1962-1964).
Afastado da política e da vida partidária, tornou-se membro da diretoria da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
Diretor da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) e membro de seu conselho técnico durante 12 anos, foi também diretor da Federação Paulista de Futebol, da Federação Paulista de Atletismo, secretário da Federação Paulista de Esportes e presidente da Confederação Brasileira de Esportes Universitários. Foi ainda delegado do Brasil em sessões da Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra, na Suíça, da Assembleia das Nações Unidas, em Nova Iorque, e do Conselho Mundial da Paz.
Faleceu no Rio de Janeiro no dia 6 de dezembro de 2010.
Do seu primeiro casamento, teve um casal de filhos, Luiza Maria e José Luiz. Contraiu segundas núpcias com Alzira Almeida Santos, e, posteriormente casou-se com Francisca Rodrigues Talarico.
Publicou Interpretação e prática da legislação trabalhista.
Em 1998, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) lançou o livro José Talarico, da coleção “Conversando sobre política”, com depoimentos prestados por ele ao Núcleo de Memória Política Carioca e Fluminense, do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) .
FONTES: ARQ. DEP. PESQ. JORNAL DO BRASIL; CÂM. DEP. Súmulas; CAMPOS, Q. Fichário; FREIRE, A. Conversando; Globo (30/8/83, 23/1/85, 18/5/94 e 7/12/10); Grande encic. Delta; INF. BIOG; Jornal do Brasil (17/6/80, 28/1/83, 9/12/84 e 10/7/88); JUREMA, A. Juscelino; NÉRI, S. 16; Pasquim (26/6/80); SILVA, H. 1964; TRIB. SUP. ELEIT. Dados (3,4 e 6); VÍTOR, M. Cinco.