LUNARDI, Lídio
*pres. CNI 1956-1961.
Lídio Lunardi nasceu em Belo Horizonte no dia 22 de fevereiro de 1907, descendente de imigrantes italianos. Seu avô,
Giovanni Lunardi, fundou em 1889 a primeira fábrica de ladrilhos do Brasil,
localizada inicialmente em Juiz de Fora (MG) e transferida depois para Belo
Horizonte por iniciativa de seu pai, que trabalhou também como artesão na
construção do palácio da Liberdade, sede do governo mineiro. Seu irmão Antônio
Lunardi foi vereador e deputado estadual.
Lídio Lunardi realizou seus primeiros estudos na Itália, onde
morou durante oito anos. Retornou ao Brasil repentinamente, depois que um
incêndio destruiu a loja de ferragens de seu pai e colocou sua família em
dificuldades financeiras. Freqüentou então o curso comercial em Belo Horizonte e passou a trabalhar na indústria paterna, Lunardi Filhos Limitada, cuja
direção assumiu mais tarde junto com o irmão. Em 1928, instalou a primeira
indústria de esmaltados do estado e a terceira fábrica de fogões do Brasil,
lançadora dos produtos da marca Luna.
Lunardi participou ativamente da organização sindical do
empresariado mineiro, exercendo a presidência do Sindicato da Indústria de
Ladrilhos Hidráulicos e Produtores de Cimento de Belo Horizonte e do Sindicato
da Indústria de Mármores e Granitos. Nessa época, foi também conselheiro e
secretário da diretoria da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais
(FIEMG), cuja presidência ocupou mais tarde em dois mandatos consecutivos.
Durante sua gestão, representou a FIEMG junto à Confederação Nacional da
Indústria (CNI) e patrocinou a formação do Fórum Econômico de Belo Horizonte,
onde políticos e empresários travaram intensos debates sobre a economia
nacional a partir de 1956. Esses encontros contribuíram para a criação, nesse
mesmo ano, da Usiminas, empresa siderúrgica de grande porte organizada com o
apoio do governador José Francisco Bias Fortes e do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico (BNDE), contando com capitais japoneses, da Companhia
Vale do Rio Doce, dos governos estadual e federal, e de diversos empresários
privados.
Lunardi
instituiu, ainda, seminários e simpósios para a discussão de problemas do
desenvolvimento econômico, especialmente os relacionados ao aumento da
produtividade. Na condição de presidente da FIEMG, dirigiu os departamentos
regionais do Serviço Social da Indústria (Sesi) e do Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (Senai). Em dezembro de 1956, tomou posse na
presidência da CNI.
A CNI e o caso da American Can
Em março de 1957, a CNI, atendendo a pedido da Federação das
Indústrias de São Paulo (FIESP), dirigiu-se à Carteira de Comércio Exterior do
Banco do Brasil (Cacex) para expor a situação da indústria de estamparia e
litografia em folha de flandres e solicitar que a entidade fosse previamente
consultada antes de a Cacex decidir sobre a concessão de incentivos para a
instalação em São Paulo de uma fábrica no ramo, com capitais da American Can
Company. O ofício da CNI manifestava-se contra “a concessão de qualquer
benefício a firmas estrangeiras isoladas ou em associação com empresas
nacionais... para a instalação de nova unidade fabril no ramo em questão”.
Lídio Lunardi participou de intensa polêmica então estabelecida em torno do
tema, defendendo publicamente a posição de que o mercado brasileiro de latas
estava convenientemente abastecido e que as regalias cambiais solicitadas pelos
capitais norte-americanos eram negadas à indústria nacional para a renovação e
modernização de sua maquinaria. Os setores contrários à entrada da empresa
norte-americana alertavam também para o perigo de dumping e, durante a
campanha, utilizaram lemas jocosos, como American, can, Brazilian can
not. Por outro lado, os que defendiam a concessão dos benefícios
cambiais solicitados — previstos na Instrução nº 113 da Superintendência da
Moeda e do Crédito (Sumoc) — indicavam a existência de um truste nacional nesse
ramo que, encabeçado pelo grupo Matarazzo, mantinha os preços artificialmente
altos e possuía ligações com a Continental Can, principal concorrente da
American Can nos Estados Unidos.
Apesar
da posição contrária assumida pela CNI, o conselho da Sumoc deferiu por
unanimidade o pedido da empresa norte-americana. A questão, entretanto, ficou
em suspenso por mais um ano, em virtude da reação dos empresários brasileiros,
levando à formação, em junho de 1958, de uma comissão parlamentar de inquérito
(CPI) para investigar o caso da American Can e os efeitos ocasionados pela
Instrução nº 113 da Sumoc sobre a economia nacional. No fim dos seus trabalhos,
essa CPI manifestou-se a favor da elaboração, pelo Poder Legislativo, de um
estatuto disciplinador dos investimentos estrangeiros no país e da revogação
dos dispositivos legais que estabeleciam tratamento discriminatório
desfavorável ao capital nacional, inclusive a Instrução nº 113. Declarou-se
também contrária ao atendimento das solicitações da American Can.
O afastamento da CNI
Em
julho de 1957, Lunardi assumiu a presidência do conselho de administração da
revista Desenvolvimento e Conjuntura, recém-lançada pela CNI com o
objetivo de “interpretar os aspectos fundamentais do desenvolvimento econômico
do país”. No mês seguinte, foi realizada em Recife a III Reunião Plenária da
Indústria, que exaltou o papel da livre iniciativa no crescimento econômico do
país e, ao mesmo tempo, apoiou a proposta dos representantes de Santa Catarina
para a concessão de um voto de confiança à Petrobras, “pelos resultados que vem
obtendo no desenvolvimento dos seus trabalhos”. Somente a Federação das
Indústrias do Distrito Federal votou contra essa moção, reafirmando sua
oposição ao monopólio atribuído por lei a essa empresa estatal. A reunião
recomendou também que, após a reforma do sistema de tarifas, a CNI preparasse
um substitutivo à Instrução nº 113 da Sumoc e se empenhasse ao máximo junto aos
poderes competentes para a elaboração de uma legislação reguladora da entrada
de capitais estrangeiros no país, com o objetivo de conceder igualdade de
tratamento ao capital nacional.
Em janeiro de 1958, o nome de Lunardi foi cogitado para a
presidência da Usiminas, sendo apoiado por algumas entidades de classe. A
Associação Comercial e a Federação do Comércio, no entanto, não aprovaram sua
indicação e, pouco depois, o presidente Kubitschek e o governador Bias Fortes
escolheram o engenheiro Amaro Lanari para o cargo. Em junho desse ano, Lunardi
promoveu em Belo Horizonte a Conferência Internacional de Investimentos que,
mais uma vez, frisou a importância do capital privado no combate ao
subdesenvolvimento e reafirmou a necessidade de se conceder igualdade de
condições à atuação dos capitais nacionais e estrangeiros.
No dia 15 de outubro de 1958, Lunardi foi eleito para novo
mandato à frente da CNI. Em dezembro do mesmo ano, promoveu o I Seminário de
Estatística e, de 18 a 24 de janeiro de 1960, patrocinou a IV Reunião Plenária
da Indústria, realizada em Goiânia. Reeleito em 1960, teve seu terceiro mandato
interrompido em março do ano seguinte em virtude de acusações então formuladas
a respeito de irregularidades na utilização das verbas do Sesi. Nessa ocasião,
a direção da entidade passou a uma junta composta pelo vice-presidente José
Vilela de Andrade, Osmário Ribas e Zulfo de Freitas Mallmann, que renunciaram
coletivamente em agosto seguinte, acompanhando atitude semelhante do presidente
da República, Jânio Quadros. Nova junta foi formada em outubro, integrada por
Fernando Gasparian, Paulo Barreto e José Pironnet. Em 5 de janeiro de 1962, o
ministro do Trabalho, André Franco Montoro, decidiu destituir Lídio Lunardi da
presidência da CNI, com base nas sindicâncias que comprovaram as
irregularidades praticadas durante sua administração,
Além de dirigir a indústria de mármores e ladrilhos de sua
família, Lunardi manteve várias fábricas de ladrilhos, mosaicos, artefatos de
cimento, extração de mármores e granitos e abrasivos, como a Mármores e
Granitos do Brasil S.A., Esmeril Lunardi S.A., Marmoraria Lunardi S.A. etc.
Explorou também fontes hidrominerais através da Indústria e Comércio de Águas
S.A. e organizou em Goiânia a empresa Lunardi S.A., de engenharia, comércio e
indústria. Montou a maior serraria de mármore da América Latina, localizada em
Contagem (MG) e destinada à industrialização do mármore produzido em suas
próprias pedreiras, na serra do Cipó.
Faleceu no Rio de Janeiro no dia 28 de dezembro de 1984.
Era casado com Lucila de Barros Correia Lunardi.
Sônia
Dias
FONTES: BANDEIRA,
L. Presença; CONF. NAC. IND.; CONSULT. MAGALHÃES, B.; Correio da
Manhã (13/10/61 e 6/1/62); Desenv. e Conjuntura (10/57, 3/58, 3/60 e
3/61); Jornal do Brasil (3/1/85); Observador Econ. Fin. (12/56,
3, 5 e 7/58); SALES, D. Razões; SCHLESINGER, H. Encic.