MEIRELES, Henrique
*pres. BC 2003-2011
Henrique
de Campos Meireles
nasceu em Anápolis (GO) no dia 31 de agosto
de 1945, filho do advogado
Hegesipo de Campos Meireles e da estilista Diva
Silva Campos. Seu
avô materno,
Graciano da Costa e Silva, foi por três vezes prefeito
de Anápolis. Seu pai
exerceu interinamente o cargo
de interventor federal
em Goiás durante
a administração de Joaquim Machado de Araújo (1946-1947). Seu
tio Jonas Ferreira
Alves Duarte, eleito vice-governador de Goiás em
1950, assumiu por três
vezes a chefia
do Executivo estadual em substituição
ao governador Pedro Ludovico (1951-1954).
Seu primo
Aldo Arantes foi presidente da União Nacional dos Estudantes (1961-1962) e deputado
federal em
várias legislaturas. Um outro primo, Haroldo
Duarte, foi deputado federal na legislatura
1963-1967.
Henrique
Meireles realizou os estudos secundários no Liceu
de Goiânia, onde iniciou sua atuação política como líder estudantil.
Presidente do grêmio
acadêmico de seu
colégio, comandou, em 1962, uma greve de estudantes
contra o aumento
das passagens de ônibus
na capital. Ligado à Juventude
Estudantil Católica,
sofreu cerrada oposição
do Partido Comunista
Brasileiro (PCB) quando
de sua eleição
para a presidência
da Confederação dos Estudantes
Goianos em
1963.
Concluído
o ensino médio,
ingressou no curso de engenharia da Escola
Politécnica da Universidade
de São Paulo. Formado em 1972, especializou-se em
engenharia de produção.
No início da carreira,
trabalhou como industrial
e chegou a montar uma fábrica
para a produção de blocos de concreto.
Suas atividades
como empresário
não teriam, contudo,
vida longa.
Em
1974, decidido a trabalhar
no mercado financeiro,
mudou-se para o Rio de Janeiro e ingressou no Banco
de Boston. Foi o início de uma longa e prestigiosa
carreira na instituição
– à qual estaria ligado por quase 30 anos. Já no ano seguinte,
assumiu o cargo de diretor-superintendente da Boston
Leasing. Exerceu essa função até
1978, ano em
que concluiu mestrado
em ciências
da administração pela
Universidade Federal
do Rio de Janeiro.
De
1981 a 1984, ocupou a vice-presidência do Banco
de Boston no Brasil. Nesse mesmo período, presidiu a Associação
Brasileira das Empresas
de Leasing. Em 1984 realizou um curso de
especialização em administração
avançada na Universidade
de Harvard, nos Estados
Unidos. De volta do Brasil, assumiu a presidência do Boston no país.
Durante sua
gestão, decorrida até 1996, ampliou
consideravelmente os ativos da sucursal brasileira do banco.
Nesse meio tempo atuou ainda como diretor-executivo da Federação
Brasileira de Bancos
(1989-1996) e presidiu a Associação Brasileira de Bancos
Internacionais (1989-1996) e a Câmara Americana de Comércio (1995-1997).
O sucesso de sua administração levou-o ao cargo
de presidente mundial do Banco de Boston em
1996, quando se tornou o primeiro
estrangeiro a presidir
um banco
americano nos
Estados Unidos. Três
anos depois,
o Boston fundiu-se com o Fleet Financial
Group, e Meireles assumiu a presidência
do Global Bank do FleetBoston Financial,
que exerceu até 2002, tornando-se responsável
pelos setores
de atacado da instituição
nos Estados
Unidos e de todas as operações internacionais do grupo.
Paralelamente, desempenhou também as funções de membro
do conselho da Bolsa
de Mercadorias e Futuros,
em São
Paulo (2001-2002) e do Conselho das
Américas, em Nova
York (2002), além de ter se tornado, no decorrer de 2001, diretor
da Câmara de Comércio
Brasil-Estados Unidos, também em Nova York.
Na área acadêmica,
foi agraciado em 1997 com o título de
doutor honoris causa pelo
Bryant College, de Rhode Island. Além
disso, passou a integrar os conselhos
consultivos de várias instituições universitárias norte-americanas. No ano
seguinte, em Harvard, tornou-se membro
do Comitê de Conselheiros
da Iniciativa de Políticas
Corporativas e do Conselho Consultivo do Reitor
da Faculdade de Administração
Pública. Em 1999 foi indicado para ocupar este
último cargo na Faculdade de Administração
do Massachusets Institute of Technology, em
Cambridge. Durante o ano 2000 passou a fazer parte do Conselho
de Administração do Boston College.
De volta ao Brasil
Em
2001, Meireles começou a preparar sua saída do
FleetBoston e anunciou a intenção de
candidatar-se a algum cargo
eletivo no Brasil. Em
passagem pelo
país, deu início
às articulações visando seu futuro político. Recebeu convites
para ingressar no Partido do Movimento
Democrático Brasileiro
(PMBD) e no Partido da Frente Liberal
(PFL) e chegou a negociar com
o Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB). Em outubro,
no entanto, decidiu acatar
sugestão do presidente
da República, Fernando Henrique Cardoso
(1995-2003), e filiou-se ao Partido da Social Democracia
Brasileira (PSDB).
Em julho de 2002, ano em que se tornou membro do Conselho Consultivo
do Centro de Assuntos
Latino-Americanos da Universidade George Washington, e no qual atuaria até
o ano seguinte, aposentou-se do FleetBoston e voltou em
definitivo para
o Brasil. No pleito de 6 de outubro, candidatou-se a deputado
federal pelo
PSDB de Goiás. Com cerca
de 183 mil votos,
foi o deputado mais
votado de seu estado.
Também em outubro,
Luís Inácio Lula da Silva, candidato do Partido
dos Trabalhadores (PT), foi eleito presidente da República
com quase
53 milhões de votos,
depois de derrotar
no segundo turno
o candidato José Serra (PSDB).
Após
o pleito presidencial, Lula deu início às negociações para a formação de seu governo.
A escolha dos nomes para comandar a economia foi a que gerou maiores
expectativas, visto que durante a campanha eleitoral a situação econômica do
país deteriorara-se significativamente. Com dólar em alta e inflação voltando a
ameaçar – fato inédito desde a implantação do Plano Real em 1994 –, temia-se que
o futuro governo pudesse promover mudanças radicais na economia, o que, segundo
alguns analistas, traria como conseqüência a fuga dos investidores. A suspeita
era em grande medida procedente, uma vez que o PT fora o principal crítico do
modelo econômico adotado durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. No
entanto, já durante a campanha, o partido comprometera-se com a manutenção da
estabilidade econômica e vinha dando claros sinais de que não pretendia alterar
os rumos da economia. Nesse sentido, a definição dos novos titulares da área adquirira
grande importância.
Para o Ministério da Fazenda, Lula anunciou o
nome do médico sanitarista e ex-prefeito de
Ribeirão Preto Antônio Palocci.
Fundador do PT e tido como um “moderado”, Palocci foi o principal interlocutor
de Lula com o empresariado durante a campanha presidencial.
O
passo seguinte seria a definição do novo presidente do Banco Central (BC). Em
dezembro de 2006, após pelo menos três tentativas com outros executivos do
sistema financeiro, o nome de Henrique Meireles surgiu como a opção mais
provável. Sua indicação não deixou de ser uma surpresa, afinal Meireles acabara
de se eleger pelo principal partido de oposição ao governo recém-eleito. No
entanto, suas relações com o PT não eram tão recentes assim.
Meireles
e Lula se conheceram durante a campanha presidencial de 1989. Na época, o
banqueiro promoveu o único encontro do candidato petista com representantes das
multinacionais. Em 1994, criou com o então deputado federal Aloísio Mercadante
(PT-SP) a Fundação Travessia, voltada para a assistência de “meninos de rua”.
Meireles foi o primeiro presidente da entidade e Ricardo Berzoini, que na época
atuava como sindicalista, seu primeiro secretário-executivo.
A fim
de assumir o comando do BC, Meireles renunciou ao mandato de deputado federal e
deixou o PSDB. Foi empossado na presidência do banco em janeiro de 2003, após
sua indicação ter sido aprovada pelo Senado Federal.
Na Presidência do
Banco Central – Primeiro Governo Lula (2003-2006)
Meireles
iniciou sua gestão com a economia em crise, com o dólar cotado em quase R$ 4,00 e a inflação, puxada pela alta da moeda
americana, em cerca de 12,5% ao ano. O crescimento da economia
era praticamente nulo e o desemprego aumentava de forma preocupante. A fim de
combater a alta inflacionária, Meireles obteve de Lula o compromisso com a autonomia operacional do BC,
o que na prática garantia ao banco liberdade para definir a política monetária
do país sem interferências ou pressões de natureza política. Além disso, o
governo comprometeu-se com a consolidação dos três pilares que haviam
sustentado a política econômica até então: regime de
metas para a
inflação; câmbio flutuante
e austeridade fiscal.
No
primeiro semestre de 2003, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco
Central, órgão responsável pela definição da taxa básica de juros da economia,
conhecida como taxa Selic, aumentou os juros em 1,5 pontos percentuais, de 25%
para 26,5% ao ano. A medida logo surtiu efeito e no início do segundo semestre
a inflação já dava sinais de recuo. Além disso, o dólar começou a voltar a um ponto de equilíbrio, caindo para valores
próximos de R$ 3,00. Mesmo com a queda da inflação, o Índice
Nacional de Preços
ao Consumidor Amplo
fechou o ano em
9,3%, índice superior à meta fixada pelo governo (8,5%).
Com a
diminuição dos índices inflacionários, o Banco Central deu início, no segundo
semestre de 2003, a um período de queda gradual dos juros que se estenderia até
abril de 2004, quando a taxa chegou a 16% ao ano – ainda assim a mais alta do
mundo. Domada a crise, as perspectivas eram de retomada do crescimento
econômico (em 2003, a economia havia retrocedido 2,2%) e de aumento da
confiança dos investidores externos. Impulsionada por um expressivo aumento das
exportações, que propiciou um saldo de US$ 33 bilhões na balança comercial, a
economia brasileira cresceu cerca de 5% em 2004.
As
boas notícias na área econômica foram, no entanto, abaladas com a divulgação,
ainda em maio de 2004, de que um primo de Meireles, o engenheiro Marco Túlio Pereira de Campos,
havia sido detido ao tentar embarcar no aeroporto
de Congonhas, em São
Paulo, portando R$ 32 mil não declarados ao fisco. Em sua defesa, Campos
apresentou uma série de documentos dando conta de que atuava como procurador de
Meireles. Segundo a imprensa, esses papéis teriam revelado uma incompatibilidade
de cerca de R$ 100 milhões entre o patrimônio de Meireles e o que havia sido
declarado por ele quando assumira o cargo de presidente do Banco Central.
Temeroso de que o caso pudesse comprometer a estabilidade
econômica do país e também colocar em risco a permanência de Meireles no BC, o
governo anunciou em agosto a edição de uma Medida Provisória (MP) concedendo ao
presidente do Banco Central o status
de ministro de Estado, que dessa forma passava a gozar da prerrogativa
constitucional do foro privilegiado, através da qual seus detentores somente
podem ser julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A MP foi
provada pelo Congresso Nacional em dezembro de 2004.
Em abril do ano seguinte, o procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, solicitou ao STF a abertura de um inquérito
contra Meireles por suspeita
de crime eleitoral, remessa ilegal de dinheiro ao exterior e sonegação fiscal. Conduzida pelo Ministério
Público Federal, a investigação considerou que
o patrimônio assumido por Meireles em
1996 (cerca de R$ 1,8 milhão) era incompatível com a declaração feita por ele
no ano de 2001 (em torno R$ 105 milhões), o que sugeria um ganho de cerca de R$
20 milhões por ano. Segundo os advogados do presidente do BC, a diferença era
explicada pelos altos salários recebidos por Meireles durante sua atuação no
Banco de Boston. Em agosto de 2007, o inquérito seria arquivado pelo STF a
pedido do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, sucessor de
Fonteles no cargo.
Após
o bom desempenho de 2004, a economia brasileira voltaria a registrar um tímido
crescimento no ano seguinte. Para os críticos da política monetária, tal fato
teria sido decorrência de um novo ciclo de aumento de juros promovido pelo
Copom. Depois de permanecer em 16% entre abril e setembro de 2004, o BC voltara
a subir os juros em razão do aquecimento da demanda. Oito meses depois, em maio
de 2005, a Selic encontrava-se em 19,75% ao ano.
Na
área cambial, a escalada do dólar verificada no início do governo fora
finalmente deixada para trás. Impulsionada por sucessivos recordes na balança
comercial, a moeda americana baixara significativamente sua cotação. O fortalecimento das
reservas internacionais administradas pelo BC permitira, inclusive, que o
governo anunciasse, em abril de 2005, a não renovação do acordo com o Fundo Monetário Internacional, medida
comemorada pelos formuladores da política econômica como um sinal de que o país
começava a superar a sua crônica vulnerabilidade externa.
Em
abril de 2006, depois de ver seu nome envolvido em denúncias de corrupção,
Palocci deixou o Ministério da Fazenda. Na ocasião, Meireles chegou a ser
cogitado para assumir o cargo, mas sua indicação foi rejeitada pelos setores
mais à esquerda do PT. Para o lugar de Palocci, foi indicado o então presidente
do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Guido
Mantega, considerado um crítico da ortodoxia econômica do Banco Central.
Segundo matéria da revista Veja,
Meireles somente teria aceitado permanecer no governo com a condição de se
reportar diretamente a Lula e de não ficar subordinado ao novo ministro.
Em outubro
de 2006, após disputa no segundo turno com Geraldo Alckmin (PSDB-SP), Lula foi reeleito presidente da República com mais de 58
milhões de votos. Logo após o pleito, alguns ministros, entre eles Guido
Mantega, chegaram a declarar que o segundo mandato do petista seria marcado por
alterações na política econômica que levariam a uma queda mais acelerada dos
juros. Diante da reação negativa dos investidores, Lula desautorizou seus
auxiliares e reafirmou o compromisso com o controle da inflação e a manutenção
da austeridade fiscal. Também confirmou a permanência de Meireles
no comando no Banco Central.
Ao
fim do primeiro mandato de Lula, a inflação estava em 3,2%, o desemprego
registrava tendência de queda e as reservas internacionais atingiam o nível recorde de US$
83 bilhões. O PIB, no entanto, crescera em média apenas 2,6% nos seus quatros
anos de governo, índice pouco superior ao registrado na gestão de Fernando
Henrique Cardoso. Em relação à política cambial, a manutenção dos juros em patamares
elevados teve como conseqüência imediata a atração de grande quantidade de
capitais externos de curto prazo, resultando numa progressiva apreciação do
real frente ao dólar.
Na Presidência do
Banco Central – Segundo Governo Lula (2007-2010)
O ano de 2007 foi
marcado pela retomada
do crescimento econômico em vários
setores, impulsionada, sobretudo, pela expansão do crédito e pela recuperação
do poder de compra da população. Com a inflação dentro da
meta, o BC iniciara ainda em 2005 um novo ciclo de redução da Selic, o qual se
estenderia por um período de dois anos. Em setembro de 2007, a taxa básica de
juros caíra para 11,25% ao ano, a mais baixa desde a implantação do real.
No final do ano, o PIB do país registrava um crescimento de 5,4%, a maior taxa
desde 2004.
A
expansão da economia prosseguiu até o primeiro semestre de 2008, mas em abril
desse ano o Copom decidiu interromper a tendência de queda dos juros e anunciou
a elevação da taxa para 11,5%. Além disso, no quarto trimestre do ano a
economia brasileira registrou forte desaceleração, um reflexo de que a crise
financeira global iniciada em 2007 chegara ao país.
Originada
nos Estados Unidos em março de 2007, a desestruturação do sistema financeiro
internacional teve início com a chamada “crise do subprime”, modalidade de empréstimo imobiliário baseada em
hipotecas de alto risco. Na ocasião, uma crise generalizada de inadimplência no
setor se alastrou rapidamente e atingiu todo o sistema de crédito mundial,
provocando o fechamento de grandes bancos e acarretando perdas bilionárias.
No
Brasil, a crise não se fez sentir inicialmente, uma vez que o sistema bancário
do país não possuía papéis atrelados ao subprime
norte-americano. O problema começou a se manifestar quando diversos setores
passaram a sofrer com a contração do crédito, resultando na queda das
exportações e no crescimento do desemprego – com a conseqüente retração do
consumo interno.
Para
reduzir os efeitos da crise, o Banco Central anunciou a redução do depósito
compulsório que os bancos são obrigados a destinar ao BC como parte dos
recursos captados em suas operações. Além disso, o banco injetou mais de R$ 40
bilhões em instituições de crédito de pequeno e médio porte como forma de
aumentar a liquidez da economia. Ao mesmo tempo, adotou medidas para evitar a
disparada do dólar – um forte fator inflacionário – por meio de leilões de
moeda americana nos mercados à vista e futuro.
Como o primeiro semestre apresentara um bom desempenho
econômico, o PIB brasileiro registrou em 2008 uma taxa de expansão de 5,1%, o
que mitigou em parte os efeitos da crise. Entretanto, os primeiros sinais de
recuperação da economia mundial surgiram apenas em março de 2009, quando se
verificou uma lenta recuperação das principais bolsas de valores do mundo. No
Brasil, a economia voltaria a crescer timidamente no segundo trimestre do ano
(1,9%).
Com o desaquecimento da economia, o Copom iniciara uma
nova fase de queda nos juros em janeiro de 2009, quando a Selic passou de
13,75% para 12,75%. Em abril, a taxa atingiu o seu menor nível histórico: 8,75%
ao ano, patamar no qual se manteve nos meses seguintes.
Em setembro de 2009, Henrique Meireles
filiou-se ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), fato que
suscitou especulações sobre a possibilidade de sua candidatura nas eleições de outubro do ano seguinte. Segundo alguns
analistas, seu nome era cotado para disputar o governo de Goiás ou até mesmo, em
um cenário menos provável, para integrar como vice uma chapa do PT encabeçada
pela ex-ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Optou no entanto por não
concorrer a cargo eletivo, mantendo-se à frente do Banco Central até o fim do
governo Lula.
Em
novembro de 2010 Henrique Meireles anunciou que sairia do BC ao final daquele
ano. Segundo o portal de notícias G 1,
ao informar sua decisão à imprensa se dizendo feliz, gratificado e realizado,
Meireles justificou que regras de boa prática de governança de bancos centrais aconselhavam que
um presidente de BC não ficasse mais do que dois mandatos no cargo. No dia 1º
de janeiro de 2011, após eleição de Dilma Rousseff, do PT, para a presidência
da República, foi substituído por Alexandre Antonio Tombini. Após 8 anos como
presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meireles foi quem mais
permaneceu nesse cargo na história do país.
Em março de 2011 foi convidado pela presidente
Dilma para assumir a presidência do Conselho Público Olímpico (APO), instância
máxima da Autoridade Pública Olímpica (APO), formado por representantes dos
Governos Federal, Estadual e Municipal que tem por finalidades a aprovação ou
modificação do estatuto e do orçamento da APO, a aprovação da Matriz de
Responsabilidades e da Carteira de Projetos Olímpicos e a nomeação dos membros
do Conselho de Governança e do Conselho Fiscal. Meireles exerceu o cargo por
quatro anos, sendo substituído pela empresária Luiza Trajano, sócia da rede
Magazine Luíza.
Desde março de 2012 assumiu a presidência do
conselho consultivo da J & F Holding, grupo que controla, entre outras
empresas, o JBS (Friboi), líder mundial em
processamento de carne bovina, ovina e de aves, além de companhias que atuam
nos segmentos de produtos de limpeza, higiene pessoal, produtos financeiros,
florestamento e comercialização de madeira, entre outras. De acordo com a
revista Valor Econômico, uma das
principais tarefas de Meireles quando de seu ingresso na empresa foi montar uma
estrutura de governança corporativa para a holding,
criando a possibilidade de abrir o capital do grupo.
Ainda em março de 2012 Henrique Meireles tornou-se
membro do Conselho de Administração da Azul Linhas Aéreas. Mesmo sem ocupar nenhum cargo político desde que se
afastou do banco central, no decorrer de 2012 mudou seu domicílio eleitoral
para São Paulo e filiou-se ao Partido Social Democrático (PSD). Após a
reeleição de Dilma Rousseff para a presidência da República nas eleições gerais
de 2014, teve seu nome cotado para assumir o Ministério da Fazenda no início
do segundo mandato. Posteriormente foi um dos nomes mais citados para assumir a
Petrobrás após a renúncia de Graça Foster, então presidente da companhia, em
fevereiro de 2015.
No mesmo período, geriu
o processo de criação do Banco Original, que em março de 2016, após três anos
de gestação, foi lançado ao grande público como um banco totalmente digital,
sem agências físicas, que oferece todas as funções de um banco tradicional via
internet e aplicativo, e o saque em qualquer caixa eletrônico 24 horas. De
propriedade do grupo J&S, dono do frigorífico JBS, e comandado pelo
empresário Joesley Batista, o Banco Original teria como um de suas metas
alcançar 100 mil clientes no primeiro ano de existência e 2 milhões em uma
década, segundo informações levantadas pelo jornal Estado
de São Paulo.
Dois meses após o
lançamento do Original, desvinculou-se do banco e retornou à vida política. Em maio de 2016, em decorrência do afastamento provisório
da presidente Dilma Rousseff sob acusação de crime de irresponsabilidade
fiscal, e a consequente posse do então presidente interino Michel Temer, por
até 180 dias, Meireles assumiu o cargo de Ministro da Fazenda,
substituindo Nelson Barbosa. Dentre os aspectos assinalados em seu discurso de
posse, defendeu a publicação de metas realistas, enfatizando que a crise
econômica brasileira teria se agravado pela falta de confiança do mercado após
números que não se confirmaram para a meta fiscal prevista pelo governo
anterior. O ministro apontou ainda que trabalharia com foco no equilíbrio
fiscal e que, em caso de necessidade, poderia recorrer ao aumento temporário de
impostos.
Em agosto,
consolidou-se no Ministério, após votação no Congresso que confirmou o
afastamento da presidente Dilma por impeachment e a permanência de Michel Temer
no cargo de presidente da República. Durante seus primeiros meses de
gestão, Meireles enfatizou a necessidade de realizar no Brasil a reforma da
previdência social, tida como demanda fundamental à gestão Temer. Em diversas de
suas colocações, o ministro assinalou a relação entre as contas públicas e a
urgência da aprovação da reforma previdenciária pelo Congresso Nacional. Na
visão do ministro, a reforma não seria apenas um
meio de garantir a aposentadoria dos trabalhadores, mas um instrumento central do
processo de recuperação da sustentabilidade fiscal e da retomada do crescimento
econômico.
Situando as propostas do governo Temer para o
reaquecimento da economia, Meireles citou a importância de medidas
microeconômicas que visam beneficiar a vida dos brasileiros com o aumento da
produção e a geração de riquezas. No que diz respeito as mudanças macro, que
buscavam mexer nas estruturas sob a justificativa do equilíbrio fiscal e do
crescimento econômico, um dos destaques da sua gestão foi criação da proposta de emenda constitucional (PEC) 241, criada
para limitar o aumento dos gastos públicos. Antes
de ser definitivamente aprovada pelo Congresso Nacional, em dezembro de 2016, a
proposta foi defendida por Henrique Meireles em pronunciamento transmitido em
cadeia nacional de televisão. Em outra ocasião, o ministro ratificou seu
posicionamento pela PEC colocando-a, junto da reforma da previdência e da
redução do papel do Estado, no “tripé” que garantiria a retomada do crescimento
econômico do país.
Publicados amplamente pela imprensa, os principais
pontos da chamada PEC do teto de gastos definiram as seguintes diretrizes, cujos
pontos foram resumidos pelo portal de
notícias G1: as despesas da União só poderão crescer conforme a inflação do ano
interior; a inflação para 2017, que servirá de base para os gastos, será de 7,
2%; nos demais anos de vigência da medida, o teto
corresponderá ao limite do ano anterior corrigido pela inflação medida pelo
Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA); com relação aos gastos
mínimos em saúde, o texto prevê que passem em 2017 para dos atuais 13, 7% para
15% da receita corrente líquida; e que a partir de 2018 esses investimentos se
enquadrem no teto de gastos, sendo corrigidos pela inflação; a partir do décimo
ano de vigência do limite dos gastos, o presidente da República poderá propor
um projeto de lei ao Congresso para mudar a base de cálculo.
Em janeiro de 2017, em
entrevista à imprensa, o ministro da Fazenda garantiu que o tempo de recessão
experienciado pelo Brasil teria chegado ao fim e que, apesar de ainda viver as consequências das dificuldades
enfrentadas, o país estaria voltando a crescer e reconquistando a confiança dos
investidores.
No
decorrer de sua trajetória profissional Henrique Meireles atuou ainda como membro dos Conselhos de Administração
da Raytheon Corporation, da Bestfoods e da Champion International Financial.
Fundador e presidente da Associação Viva o Centro, entidade que visa promover o
desenvolvimento urbano e social no centro da capital paulista, também presidiu
o conselho da Fundação José e Paulina Nemirovsky e foi conselheiro da Fundação
Anchieta.
Casou-se com
a psiquiatra alemã Eva Missine e não teve filhos.
Luís Octavio de Souza/Luciana
Pinheiro
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(11/12/2006); O Estado de S. Paulo
(10/03/2009); Folha de S. Paulo
(08/10/2001, 17/08/2004, 09/12/2004, 07/04/2005 e 03/08/2007); Isto É (13/12/2006); Valor Econômico (25/10/06 e 07/10/09); Veja (07/03/2001, 06/11/2002, 18/12/2002;
29/01/2003, 30/04/2003, 27/08/2003, 24/09/2003, 05/11/2003, 14/01/2004, 03/03/2004,
24/03/2004, 11/08/2004, 18/08/2004, 22/09/2004, 01/12/004; 09/03/2006, 06/04/2005;
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Brasil. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/. Acesso em 21/11/2009;Portal
do Banco Original. Disponível em: < https://www.original.com.br/>. Acesso
em 02/03/2017; BALISTIERO, Ricardo. A Política Econômica
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