MELO,
Flaviano
*gov.
AC 1987-1990; sen. AC 1991-1999; pref. Rio Branco 2001-2002; dep. fed. AC
2007-2011; 2011-
Flaviano Flávio Batista de Melo nasceu em Rio Branco no dia 17 de
novembro de 1949, filho de Raimundo Hermínio de Melo e de Laudelina Batista de
Melo. Seu irmão, José Batista de Melo, foi deputado federal
pelo Acre de 1983 a 1991 e constituinte em 1987-1988.
Engenheiro
civil, Flaviano graduou-se pela Faculdade de Engenharia de Barra do Piraí (RJ),
em 1974. Logo depois, foi contratado pela Construtora Mendes Júnior
para trabalhar nas obras da ponte Rio-Niterói e
do Metrô do Rio de Janeiro. Em Salvador,
trabalhou na construção da plataforma petrolífera
de Pampo e, em Recife, no projeto de ampliação do porto desta cidade. Em 1977,
concluiu o curso de engenharia de segurança na Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
De volta
ao Acre, graças a uma antiga amizade de seu pai, foi
nomeado prefeito de Rio Branco pelo governador Nabor Júnior,
em 1982, iniciando aí sua carreira política.
Em 1986, na convenção regional do Partido do Movimento Democrático
Brasileiro (PMDB), partido de Nabor, foi indicado candidato da legenda nas
eleições de novembro ao governo do estado, derrotando Rui Lino. Permaneceu na
prefeitura de Rio Branco até maio desse ano, quando foi obrigado a se
desincompatibilizar do cargo para concorrer ao Executivo estadual.
Nas
eleições de novembro desse ano, apoiado por uma coligação que, além
do PMDB, era composta pelos partidos Comunista Brasileiro (PCB), Comunista do
Brasil (PCdoB) e Trabalhista Brasileiro (PTB), elegeu-se governador do Acre,
derrotando os candidatos Mário Maia, da coligação dos partidos
Democrático Social (PDS) com o Democrático
Trabalhista (PDT) e o da Frente Liberal (PFL), e Hélio
Pimenta, do Partido dos Trabalhadores (PT).
Antes de
sua posse, definiu-se como um “socialdemocrata”, pronunciando-se a respeito de alguns
temas que seriam debatidos pela Assembléia Nacional Constituinte, cujos
trabalhos teriam início em fevereiro de 1987. Defendeu o
parlamentarismo, a redução do papel das forças
armadas na defesa externa, o direito de greve e a reforma agrária;
elogiou a Teologia da Libertação, a qual considerou ser a adequação da Igreja
aos novos tempos e às lutas sociais, ao mesmo tempo em que
defendeu o mandato de cinco anos para o presidente José Sarney (1985-1990).
Empossado
em 15 de março de 1987, em substituição a Iolanda
Fleming, Flaviano Melo articulou-se com a bancada federal acreana a fim de
viabilizar o apoio para a proposta dos cinco anos de mandato para o presidente
Sarney. Em troca, recebeu do governo federal a promessa de um envio de verbas
para a pavimentação da rodovia Porto Velho-Rio Branco (BR-364), que havia sido
adiada já que o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), que financiaria a obra, considerou que o projeto
desrespeitava o direito dos indígenas e agredia o meio ambiente.
Em maio
seguinte promoveu o encontro dos presidentes José Sarney e Alan García, do Peru, em Assis Brasil, para discutir a continuação,
pelo solo peruano, da estrada que ligava Rio Branco àquele município (BR-317). Com isso, seria garantida
uma via de acesso ao oceano Pacífico, projeto perseguido por sucessivos
governos acreanos.
Em
janeiro de 1988, o governo do Acre se envolveu num conflito político
com o de Rondônia pela posse das localidades de Vila
Estrema e Nova Califórnia, na fronteira dos dois estados. No
final de 1987, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), resolvendo uma dúvida que se arrastava desde o início
de 1980, concluiu que a região pertencia a Rondônia. Como o Acre recusava-se a aceitar o
laudo do IBGE, Rondônia enviou um destacamento da Polícia
Militar (PM) para a região. Em resposta, Flaviano Melo ordenou que a PM acreana
ocupasse pontos estratégicos nas imediações da BR-364,
argumentando que a infra-estrutura ali existente havia sido edificada por seu
estado.
No mês seguinte, Flaviano enfrentou um movimento na Assembléia
Legislativa que visava afastá-lo do governo. O governador recusara-se
a atender a um pedido de verba suplementar para custear um aumento de salários
autoconferido pelos deputados, alegando ter de arcar com os prejuízos
causados por enchentes que assolaram o estado, sobretudo a capital, Rio Branco.
O líder do PMDB na Assembléia,
partido do governador, por sua vez, atacou os deputados acusando-os de
corrupção e de desvio de verbas públicas para a compra de tratores, bois e
aviões.
Em maio
de 1988, em visita ao Clube de Engenharia, no Rio de Janeiro, Flaviano foi
hostilizado por manifestantes ligados ao Partido Verde (PV), que o acusaram de
não se comprometer com a preservação da floresta amazônica.
Os verdes exigiram que o governo do Acre desse garantias de vida aos dirigentes
do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri (AC), cujo presidente era Chico
Mendes, que estavam acampados na sede do Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento Florestal (IBDF) daquele município,
protestando contra a derrubada de seringueiras pelos grandes pecuaristas da
região. Os sindicalistas exigiam que a lei que proibia a derrubada de árvores
nativas fosse cumprida. Menos de 24 horas depois da ocupação, dois seringueiros
haviam sido feridos gravemente.
Ao se
aproximarem as eleições municipais de novembro de 1988, Flaviano Melo se viu
envolvido em suspeitas de desvio de alimentos doados ao estado por ocasião das últimas
enchentes. Sua esposa, Antônia Cruz Melo, presidente da Legião
Brasileira de Assistência (LBA) do Acre desde 1987, ficara
responsável pela distribuição dos donativos.
Pouco antes das eleições, 118 toneladas de alimentos foram apreendidas na
capital do estado e em mais quatro municípios pela Polícia
Federal, pois havia suspeitas de que os donativos estavam sendo usados em benefício
dos candidatos do PMDB. A presidência da LBA e o
governador, contudo, justificaram-se dizendo que, sem a ajuda das prefeituras
municipais, os alimentos doados não tinham como ser distribuídos.
Em
dezembro de 1988, pouco depois das eleições municipais, Chico Mendes foi
assassinado, trazendo à tona o grave conflito social existente
no estado. Aparentemente sensível à causa dos seringueiros, Flaviano Melo mandara criar
quatro reservas extrativistas, um projeto de preservação que visava evitar que
o avanço das pastagens prejudicasse a extração do látex.
Esse projeto, todavia, desagradava aos fazendeiros que, ligados à União
Democrática
Ruralista (UDR), consideravam a pecuária extensiva a sua única
fonte de riqueza. Eles eram provenientes do Sul e aí se
estabeleceram, em meados da década de 1970, favorecidos pelos baixos
preços das terras na região.
Depois
do assassinato, pessoas ligadas a Chico Mendes começaram
a sofrer ameaças. Em janeiro de 1989, a Polícia
Federal retirou do estado os agentes encarregados da investigação do caso,
acusando Flaviano de dificultar o trabalho dos policiais. Em fevereiro
seguinte, o Comitê Chico Mendes encaminhou um ofício
ao então ministro da Justiça, Oscar Dias Correia, pedindo
intervenção federal no Acre, diante do qual o governador Flaviano Melo reagiu
dizendo que os principais suspeitos pela morte de Chico Mendes, Darli Alves da
Silva e seu filho Darci Alves Pereira, estavam presos. Ainda nesse mesmo mês, o governo do Acre começou
as discussões com representantes do capital japonês em torno do projeto de construção de uma estrada que
ligaria Rio Branco à cidade peruana de Pucalpa. O projeto,
visto por Flaviano Melo como um marco da integração acreana, foi prontamente
condenado pelos ecologistas.
Em maio
seguinte, Flaviano Melo ameaçou enviar um destacamento militar para
Vila Estrema e Nova Califórnia. O governador acreano, que estava
em Brasília na ocasião, soube que duzentos soldados da PM de
Rondônia foram mantidos na região, apesar de um acordo para a
retirada das polícias militares dos dois estados da área
em litígio. Flaviano pediu providências ao ministro Oscar Dias Correia, a fim de solucionar
o impasse; caso contrário, enviaria um destacamento da PM de
seu estado para a região. Nesse mesmo mês,
sem que fosse dada uma solução para o impasse com Rondônia,
Flaviano Melo sofreu ameaças de morte, através
de cartas e telefonemas anônimos, por parte de um grupo chamado “Comando
Suicida”. As ameaças
foram associadas ao fato de a PM estar em greve por aumento de salários.
Somente no final de maio de 1989, a região dos municípios
de Vila Estrema e Nova Califórnia foi ocupada por um contingente
significativo do Exército e as polícias
militares dos estados em litígio deixaram a região.
Permaneceu
à frente do Executivo acreano até março de 1990, quando se desincompatibilizou do cargo para concorrer a uma
cadeira no Senado, ainda no PMDB, nas eleições de outubro desse ano, sendo
substituído no cargo pelo vice-governador Edson
Simões Cadaxo. Vitorioso, assumiu sua cadeira no Senado em fevereiro de 1991.
Tornou-se membro titular das comissões de Assuntos Econômicos, Serviços de Infra-Estrutura, Educação, Relações Exteriores e Defesa Nacional e Fiscalização e Controle, e suplente da
Comissão de Assuntos Econômicos.
Com a
ascensão de Fernando Collor à presidência da República em 1990, no ano seguinte
intensificaram-se as especulações e insinuações em torno de possíveis
atos de corrupção no governo. A situação atingiu o clímax
em maio de 1992, quando a revista Veja publicou uma entrevista de Pedro Collor,
irmão do presidente, na qual denunciava a existência de um esquema de corrupção sob o comando de Paulo César
Farias, o PC, ex-tesoureiro da campanha presidencial. Essa denúncia
levou o Congresso a instalar uma comissão parlamentar de inquérito
(CPI) no mês seguinte. As conclusões dessa comissão
levaram ao envolvimento do presidente e foi pedido o seu impeachment. A Câmara dos Deputados aprovou a admissibilidade do afastamento do presidente
na sessão do dia 29 de setembro desse ano e o processo foi encaminhado ao
Senado. Em 2 de outubro, Collor transferiu o cargo, em caráter
interino, ao vice-presidente Itamar Franco. No dia 29 de dezembro seguinte,
quando do julgamento desse processo pelo Senado, pouco antes da votação, o
presidente afastado apresentou sua renúncia, que foi rejeitada pela mesa da
casa. Em seguida, com voto favorável do senador Flaviano Melo, o plenário
do Senado aprovou o impeachment, que afastou Fernando Collor
definitivamente do poder e ainda cassou os seus direitos políticos
por oito anos. Com esse resultado, Itamar Franco foi efetivado na chefia do
Executivo brasileiro.
Durante
o ano de 1995, entre as principais matérias em pauta, Flaviano Melo votou a
favor do dispositivo constitucional que limita os juros em 12% ao ano; da
quebra do monopólio dos governos estaduais na
distribuição do gás canalizado; do novo conceito de empresa
nacional, acabando com todas as diferenças
jurídicas entre empresas
brasileiras e estrangeiras; da quebra da reserva de mercado na navegação de
cabotagem, que permitiu que as embarcações estrangeiras passassem a operar no
transporte de cargas e passageiros entre portos do país;
do fim dos monopólios estatal das telecomunicações e da
Petrobras na exploração do petróleo; e votou contra a criação da
Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira
(CPMF), que ficou conhecida como “imposto do cheque”.
Em maio
de 1997, votou a favor da emenda constitucional que permitia aos ocupantes do
Poder Executivo concorrerem a novo mandato, quando ela foi aprovada no Senado.
No pleito de outubro de 1998 disputou a reeleição na legenda do PMDB, mas foi
derrotado pelo candidato do PT, Tião Viana. Permaneceu no Senado até o
fim de janeiro do ano seguinte, quando se encerraram o seu mandato e a
legislatura.
Em 2000
estourou o caso “Flávio Nogueira”,
um escândalo financeiro ocorrido na época
em que Flaviano Melo era governador do Acre. O caso se refere ao desvio de
recursos públicos do Tesouro Estadual do Acre, que
eram depositados por alguns dias no Banco do Brasil, em nome de “Flavio
Nogueira”, em aplicações que rendiam até 80%
ao mês. Depois de determinado período,
o valor do depósito retornava ao Estado e o excedente,
o “lucro” com as operações, era transformado em títulos
ao portador em nome de “Flávio Nogueira”. A sentença sairia em julho de 2001, assinada pelo juiz federal Jair Facundes,
condenando 13 envolvidos, entre os quais o secretário de Finanças do prefeito Flaviano Melo, Raimundo
Nonato Menezes de Araújo. Flaviano Melo, apontado como o
principal implicado no caso, não foi citado no processo. No
entanto, Facundes sugeriu a continuidade das investigações para averiguar a participação de outros envolvidos no caso.
Nas
eleições de outubro de 2000, Flaviano Melo elegeu-se prefeito de Rio Branco,
derrotando Raimundo Angelim Vasconcelos (PT), iniciando o mandato em janeiro do
ano seguinte. Em 2002, com pouco mais de um ano na prefeitura, Flaviano deixou
o cargo para concorrer ao governo estadual no pleito marcado para outubro.
Flaviano tomou essa decisão devido ao fato de a coligação partidária
que o apoiava, o Movimento Democrático Acreano (MDA), ter garantido nas
eleições municipais de 2000, 12 das 22 prefeituras do estado do Acre, incluindo
os três maiores colégios:
Rio Branco, Cruzeiro do Sul e Sena Madureira. No seu lugar, assumiu o vice-prefeito Isnard Leite.
Flaviano
concorreu com Jorge Viana, que, eleito pelo PT em 1998 para o governo do Acre,
tentava a reeleição. Durante a campanha, Flaviano entrou com uma ação no
Tribunal Regional Eleitoral do Acre – TRE/AC, cassando a candidatura de Jorge
Viana, alegando que todas as placas e obras do governo do Estado exibem o símbolo da administração Jorge Viana, que é o desenho de uma castanheira estilizada
com o slogan "Governo da Floresta". Por cinco votos a um, o TRE
entendeu o fato como propaganda ilegal, e impugnou a candidatura de Viana.
Contudo, Viana impetrou recurso no Tribunal Superior Eleitoral - TSE, que
garantiu sua candidatura. Jorge Viana acabou vencendo as eleições já no primeiro turno, com 64% dos votos. Flaviano ficou em segundo lugar, com
32,9% dos votos.
Em
outubro de 2006, Flaviano Melo elegeu-se deputado federal pelo PMDB, iniciando
o mandato na Câmara dos Deputdos em fevereiro de 2007.
Ainda nesse ano, foi processado por peculato na Justiça
Federal do Acre por envolvimento no caso “Flávio Nogueira”.
Como
deputado federal, foi autor do projeto de lei (PL-422/2007), que propõe que
empresas públicas e privadas ofereçam
gratuitamente serviços especializados em segurança,
medicina e odontologia do trabalho a seus funcionários.
Em 2009, o projeto de lei tramitava nas Comissões de Desenvolvimento Econômico Indústria e Comércio
(CDEIC), Seguridade Social e Família, e para ser encaminhado para
aprovação e votação no Congresso.
Flaviano
também elaborou o Projeto de Decreto Legislativo (PDC
981/2008), que propõe a realização
de referendo popular no qual os acreanos poderão decidir no voto se querem ou
não a mudança da hora oficial do Acre (fuso horário).
O projeto é uma contraposição a Lei 11.662, de 24 de
abril de 2008, de autoria do senador Tião Viana (PT/AC), que alterou o fuso horário
no Acre, no Pará e em parte do Amazonas. Em 2009, o PDC 981/2008 encontrava-se em tramitação na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara
dos Deputados.
Nas
eleições de 2010 reelegeu-se deputado federal pelo PMDB, com 36.301 votos
recebidos. Como parte de suas atividades parlamentares, integrou a Comissão de
Desenvolvimento Urbano e também as Comissões de Relações
Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN) e de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia (CINDRA).
Casou-se
com Beth Lino. Teve dois filhos.
FONTES: Estado
de S. Paulo (18/11/1986, 25/02/1988, 27/05/1988
e 17/02/1989); Folha
de S. Paulo (10/08/1986, 17/08/1986, 14/09/1986,
12/10/1986, 12/11/86, 15/03/1987, 16/03/1987, 25/08/1987, 29/05/1987, e 16/08/1987,
17/2/1989, 20/05/1989, 23/05/1989, 04/01/1990 e 14/01/1996); Globo
(25/11/1986, 16/03/1987, 05/04/1987, 21/02/1988, 09/05/1988, e 27/05/1988, 21/02/1989,
23/02/1989, 22/05/1997, 09/10/1998 e 31/01/2007); Jornal do Brasil (16/03/1987, 29/05/1987, 12/01/1988, 23/02/1988, 22/10/1988,
23/10/1988, 26/12/1988, 27/01/1989, 17/02/1989, 15/03/1989, 29/05/1989 e 03/01/1990); SENADO. Dados biográficos (1991-1995 e 1995-1999);
TRIB. REG. ELEIT. AC. Relação, Página 20 (19/07/2001 e 13/03/2003); Portal da Câmara dos Deputados.
Disponível em: <http://www.camara.gov.br>. Acesso em 10/02/2014.