MORAIS,
Ângelo Mendes de
*militar; pref. DF
1947-1951; ch. Depto. Ger. Admin. Ex. 1952-1953; ch. Depto.
Téc. Prod. Ex. 1954-1956; ch. Depto. Prod. e Obras Ex. 1956-1958; dep. fed. DF
1959-1960; dep. fed. GB 1960-1971.
Ângelo
Mendes de Morais nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito
Federal, no dia 17 de dezembro de 1894, filho de Antônio Mendes de Morais,
também militar, e de Eugênia de Queirós Morais. Era sobrinho-neto de Prudente
de Morais, presidente do Brasil entre 1894 e 1898.
Ingressou
na Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, em maio de 1913, sendo
declarado aspirante-a-oficial da arma de artilharia em abril de 1918. Foi
promovido a segundo-tenente em dezembro desse ano. Pertenceu à primeira turma
de pilotos aviadores militares formada no Brasil em janeiro de 1920, ocasião em
que passou ao posto de primeiro-tenente. Fez um curso de pilotagem na França,
com estágio de um ano, e cursos de aviação militar nos Estados Unidos, na
Argentina e em Portugal.
Promovido
a capitão em novembro de 1922, nessa patente combateu no Amazonas a Revolta de
5 de Julho de 1924, irrompida também em Sergipe e em São Paulo. Com exceção desse último estado, o levante foi rapidamente sufocado. Em fevereiro
de 1928 foi promovido a major e em junho do ano seguinte foi transferido da
artilharia para a arma da aviação do Exército, tornando-se chefe de gabinete da
1ª Divisão da Diretoria de Aviação do Exército e membro da comissão
encarregada da instalação do 2º Regimento de Aviação. Em junho de 1933 foi
promovido a tenente-coronel.
Após o fracassado Levante Integralista de 11 de maio de 1938,
participou das negociações para a retirada do tenente Severo Fournier que
comandara o ataque integralista ao palácio Guanabara — da embaixada italiana,
onde se encontrava asilado. Em julho, o tenente foi levado da embaixada para o
forte Duque de Caxias. No mesmo mês, Mendes de Morais escreveu um relatório
pormenorizado ao ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra, no qual, além
de narrar as negociações que haviam permitido a retirada de Fournier da
embaixada, classificava de “crime” a revolta integralista. No entanto, segundo
Hélio Silva no livro 1938: terrorismo em campo verde, o próprio Mendes
de Morais teria assinado sua ficha de inscrição na Ação Integralista Brasileira
(AIB) pouco antes da proclamação do Estado Novo (10/11/1937).
Promovido a coronel em setembro de 1938, em dezembro
seguinte, ao lado de outros oficiais brasileiros, foi designado para estagiar
na Itália e na Alemanha, a convite dos governos daqueles países. Com a criação
do quadro do Ministério da Aeronáutica em janeiro de 1941, optou pela
permanência no Exército, passando a servir no Ministério da Guerra. Em dezembro
de 1942 foi promovido a general-de-brigada. No mês seguinte, tendo o governo
brasileiro — que declarara guerra às potências do Eixo (Alemanha, Japão e
Itália) — decidido enviar tropas para participar ativamente do conflito em
território europeu, foi nomeado comandante do Destacamento Misto de Fernando de
Noronha. Posteriormente foi diretor de Pessoal do Exército e nessa qualidade
participou da organização da Força Expedicionária Brasileira (FEB), criada em
novembro de 1943. Quando o 1º Escalão embarcou para a Itália em julho de 1944,
permaneceu no Brasil e desempenhou também, nesse período, a função de diretor
de Armas.
General-de-divisão em agosto de 1946, em junho do ano
seguinte foi nomeado prefeito do Distrito Federal pelo general Eurico Gaspar
Dutra — empossado em 31 de janeiro de 1946 na presidência da República —,
sucedendo a Hildebrando de Araújo Góis. Em sua gestão transferiu a sede da administração
municipal para o palácio Guanabara e criou o Departamento de Estradas de
Rodagem da Prefeitura do Distrito Federal. Realizou inúmeras obras, entre as
quais a construção do estádio do Maracanã, iniciou os trabalhos de abertura dos
túneis Catumbi-Laranjeiras e do Pasmado, da construção da ponte da ilha do
Governador e da estrada Grajaú-Jacarepaguá, e promoveu a remodelação de várias
estradas e vias de comunicação. Sua administração sofreu forte oposição
política, liderada pelo vereador Carlos Lacerda, da União Democrática Nacional
(UDN).
No início de 1949 esteve entre os principais articuladores na
área militar — ao lado dos generais Euclides Zenóbio da Costa e Aristóteles de
Sousa Dantas — da candidatura do general Canrobert Pereira da Costa, ministro
da Guerra, à sucessão de Dutra. Por falta de apoio político, essa candidatura
acabou não se confirmando.
Deixou a prefeitura em março de 1951, já no governo de
Getúlio Vargas, empossado em 31 de janeiro daquele ano, e foi substituído por
João Carlos Vital. Reintegrando-se às funções militares, foi promovido a
general-de-exército em agosto de 1952. No mês seguinte assumiu a chefia do
Departamento Geral de Administração do Exército, em substituição ao general
Odílio Denis. Exerceu esse cargo até abril de 1953, quando foi substituído pelo
general Olímpio Falconière da Cunha.
As críticas ao governo e as acusações de corrupção
administrativa, movidas pela oposição desde o início da gestão de Vargas,
intensificaram-se no decorrer de 1954, ano em que seriam realizadas eleições
para o Congresso e para o governo de 11 estados. No dia 5 de agosto, Carlos
Lacerda, candidato à Câmara dos Deputados pelo Distrito Federal e principal
nome da ofensiva oposicionista, foi ferido num atentado ocorrido na rua
Toneleros — o chamado atentado da Toneleros — que resultou na morte do
major-aviador Rubens Vaz, seu acompanhante na ocasião. Mendes de Morais foi
citado posteriormente por Gregório Fortunato — chefe da guarda pessoal de
Getúlio e acusado de mentor do atentado —, em depoimento prestado na base aérea
do Galeão, como o principal mandante do crime. Sendo ele hierarquicamente
superior ao coronel João Adil de Oliveira, responsável pelo inquérito
policial-militar instaurado pela Aeronáutica, o inquérito foi remetido ao
titular daquela pasta, brigadeiro Eduardo Gomes. Julgado mais tarde pelo
Superior Tribunal Militar, o processo acabou por ser arquivado.
Também
em agosto de 1954, Mendes de Morais participou das articulações militares que
visavam a obter uma solução para a crise política. Nos diversos encontros que
se sucederam, ficou decidido que Vargas deveria ser afastado do poder, quer
através de um pedido de licença, quer através de renúncia em favor do
vice-presidente João Café Filho. No dia 22, os brigadeiros lotados no Rio exigiram
a renúncia de Getúlio, decisão apoiada pela alta oficialidade da Marinha,
reunida no dia seguinte. Ainda no dia 23 começou a circular sigilosamente um
manifesto assinado por 30 generais — entre os quais Mendes de Morais, Canrobert
Pereira da Costa e Juarez Távora — endossando a decisão dos brigadeiros.
Naquele mesmo dia 23, Café Filho, em discurso no Senado, anunciou seu virtual
rompimento com Getúlio. Isolado politicamente e sem apoio entre os militares,
Getúlio se suicidou na manhã do dia 24. No mesmo dia, Café Filho foi empossado
na presidência da República.
Em
setembro de 1954, Mendes de Morais foi designado para a chefia do Departamento
Técnico de Produção do Exército, sucedendo ao general Canrobert Pereira da
Costa. Em 11 de novembro de 1955, participou do movimento militar liderado pelo
general Henrique Teixeira Lott, ministro da Guerra demissionário, que visava,
segundo seus promotores, a barrar uma conspiração em preparo no governo e
assegurar a posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek. Esse movimento
provocou o impedimento dos presidentes em exercício, Carlos Luz, e de Café
Filho, presidente licenciado, tendo a chefia da nação passado ao
vice-presidente do Senado, Nereu Ramos, até a posse de Kubitschek. Em setembro
de 1956 o Departamento Técnico de Produção do Exército, chefiado por Mendes de
Morais, passou a denominar-se Departamento de Produção e Obras.
Na Câmara Federal
Nas eleições de outubro de 1958, Mendes de Morais foi eleito
deputado federal pelo Distrito Federal, na legenda da coligação formada pelo
Partido Social Progressista (PSP) e o Partido Trabalhista Nacional (PTN). Em
dezembro seguinte deixou a chefia do Departamento de Produção e Obras,
substituído pelo general João Carlos Barreto, para assumir, em fevereiro de
1959, sua cadeira na Câmara dos Deputados. Nessa legislatura foi membro das
comissões de Orçamento, de Relações Exteriores e de Economia e presidente das
comissões de Segurança Nacional e de Serviço Público da Câmara Federal.
Com a transferência da capital federal para Brasília em abril
de 1960 e a criação do estado da Guanabara, passou a representar esse estado na
Câmara. Em outubro de 1960 candidatou-se a governador da Guanabara na legenda
do PSP, mas foi derrotado pelo candidato da UDN, Carlos Lacerda. Desligou-se da
bancada do PSP em março do ano seguinte, renunciando nessa ocasião a seu lugar
nas comissões parlamentares que ocupava por designação desse partido. Em
outubro de 1962 candidatou-se a deputado federal pela Guanabara na legenda da
coligação formada pelo Partido Social Democrático (PSD) e o Partido Social
Trabalhista (PST), mas obteve a primeira suplência, deixando a Câmara ao final
de seu mandato, em janeiro do ano seguinte. Ocupou uma cadeira nessa casa como
suplente de novembro de 1963 até o início de março do ano seguinte.
Apoiou o movimento político-militar de 31 de março de 1964,
que depôs o presidente João Goulart, e, no mês seguinte, assumiu a vaga aberta
pela cassação do mandato do deputado Marco Antônio Coelho. Até 1965 foi vice-líder
do PSD na Câmara Federal. Com a extinção dos partidos políticos pelo Ato
Institucional nº 2 (27/10/1965) e a posterior instauração do bipartidarismo,
filiou-se à Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido do governo, assumindo
a vice-liderança de sua bancada na Câmara Federal a partir de março de 1966.
Nessa legenda candidatou-se a deputado federal pelo estado da Guanabara nas
eleições de novembro de 1966, obtendo novamente a primeira suplência. Deixou a
Câmara em janeiro de 1967 e em março seguinte, um mês após o início da nova
legislatura, assumiu efetivamente o mandato.
Em
novembro de 1970 candidatou-se a senador pela Guanabara na legenda da Arena,
tendo sido o menos votado entre seis concorrentes. Nesse pleito lograram
eleger-se os três candidatos do partido oposicionista, o Movimento Democrático
Brasileiro (MDB): Nélson Carneiro, Benjamim Farah e Danton Jobim. Findo seu
mandato parlamentar em janeiro de 1971, deixou definitivamente a Câmara. Com a
extinção do bipartidarismo em 29 de novembro de 1979 e a conseqüente
reformulação partidária, filiou-se, em maio de 1981, ao Partido do Movimento
Democrático Brasileiro (PMDB).
Em sua carreira militar foi também adjunto e diretor da
Fábrica de Pólvora da Estrela, comandante da 4ª Região Militar, sediada em Juiz
de Fora (MG), chefe da 2ª seção do estado-maior das Forças de Terra, além de
comandante das seguintes unidades: 4ª Divisão de Infantaria, 1º Regimento de
Artilharia Montada (1º RAM), sediado na Vila Militar, no Rio, e 2º Grupamento
de Artilharia do 5º RAM, sediado em Santa Maria (RS). Adido militar do Brasil no Peru, na França e na Itália, passou para a reserva no posto de marechal.
Foi
ainda delegado à Conferência de Paz de Paris, membro fundador do Parlamento
Latino-Americano, membro da Comissão Parlamentar de Genebra, na Suíça, e
desempenhou várias missões nos EUA, Chile e Alemanha.
Faleceu no Rio de Janeiro, em 17 de janeiro de 1990.
Era casado com Débora Mendes de Morais, com quem teve um
filho, o diplomata Gil Guilherme Mendes de Morais.
Publicou O prefeito Mendes de Morais aos seus
amigos e correligionários (1950).
FONTES: ABRANCHES,
J. Governos (1956); CAFÉ FILHO, J. Sindicato; CÂM. DEP. Anais
(1961-1); CÂM. DEP. Deputados; CÂM. DEP. Relação nominal dos senhores;
CARNEIRO, G. História; CORRESP. GOV. EST. GB; CORTÉS, C.
Homens; COSTA, M. Cronologia; Encic. Mirador; Globo (18/1/90);
Grande encic. Delta; Jornal do Brasil (4/10/66, 28/7/76 e
18/1/90); MACEDO, R. Efemérides; MACHADO, F. Últimos; MACIEL,
P. Quem; MIN. GUERRA. Almanaque (1956); NÉRI, S. 16;
REIS, J. Prefeitos; SILVA, H. 1938; WANDERLEY, N. História.