NEVES,
Francisco Ramos de Andrade
*militar; ch. Dir. Mat. Bél. Ex. 1927-1930;
ch. EM Pres. Rep. 1930; ch. EM Gov. Prov. 1930-1931; ch. EME 1932-1934; min.
STM 1934-1941.
Francisco Ramos de Andrade Neves nasceu no dia 31 de maio de 1874 no Rio Grande do Sul. Era
bisneto do barão do Triunfo, José Joaquim de Andrade Neves, herói da Guerra do
Paraguai.
Sentou
praça em março de 1889, sendo promovido a segundo-tenente em 1893, a
primeiro-tenente em 1901, a capitão em 1908 e a major em 1916, na arma de
cavalaria. Nesse último ano assumiu o comando do destacamento do forte de
Copacabana. Em 1919 foi promovido a tenente-coronel, tornan-do-se chefe da 2ª
Seção do Estado-Maior do Exército.
Em 1920 foi indicado representante militar do Brasil na
Comissão Permanente Consultiva para Questões Militares, Navais e Aéreas da
Sociedade das Nações e no ano seguinte foi escolhido presidente da subcomissão
militar da Comissão Permanente Consultiva do mesmo organismo. Em 1922
representou o Brasil nas comissões Econômica e Financeira e de Repartição de
Despesas da Sociedade das Nações e foi promovido a coronel. Em 1923 foi
consultor técnico da delegação brasileira à IV Assembléia da Sociedade das Nações
e designado adido militar da embaixada do Brasil na Bélgica, onde permaneceu
até 1925. De volta ao Brasil, assumiu em seguida o cargo de diretor do Arsenal
de Guerra do Rio de Janeiro e em 1926 foi promovido a general-de-brigada. Em
1927 deixou o arsenal e foi nomeado diretor de Material Bélico do Exército,
cargo em que permaneceu até 1930.
Ainda no governo de Washington Luís, foi nomeado chefe do
Estado-Maior da Presidência da República no dia 10 de setembro de 1930. Ocupava
este posto quando, no final desse mês, foi procurado por Lindolfo Collor, líder
político gaúcho, que, a mando de Getúlio Vargas, encontrou-se no Rio de Janeiro
com vários oficiais de alta patente ainda não comprometidos com a revolução que
se pretendia desencadear para depor Washington Luís. Segundo Hélio Silva, esses
contatos não foram satisfatórios porque Andrade Neves se mostrou na ocasião
muito reticente quanto a uma possível adesão sua ao movimento. No entanto,
segundo João Neves da Fontoura, Collor conseguiu o apoio dos generais Andrade
Neves, Augusto Tasso Fragoso e Alfredo Malan d’Angrogne, aos quais se juntariam
mais tarde outros oficiais importantes do Exército e da Marinha.
No dia 24 de outubro Washington Luís foi deposto, formando-se
uma junta provisória para governar o país, constituída dos generais Tasso
Fragoso e João de Deus Mena Barreto e do almirante José Isaías de Noronha. No
dia 3 de novembro Vargas recebeu dessa junta o poder presidencial, como
delegado da revolução. Com a ascensão de Vargas, Andrade Neves foi mantido na
chefia do Estado-Maior da Presidência da República, agora denominado
Estado-Maior do Governo Provisório (4/11/1930). Promovido a general-de-divisão
em abril de 1931, foi nomeado comandante da 3ª Região Militar, sediada em
Porto Alegre.
Em 1932, no período que antecedeu a eclosão da Revolução
Constitucionalista em São Paulo, a inquietação política, que era grande nesse
estado, se estendeu até Mato Grosso e Rio Grande do Sul. Andrade Neves, ainda
comandante da 3ª RM, mantinha nessa ocasião contatos com a Frente Única Gaúcha
(FUG), coalizão do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) com o Partido
Libertador (PL). Borges de Medeiros, presidente do PRR, prometera apoio a São
Paulo, enquanto o governador do estado, Flores da Cunha, negociava ao mesmo tempo
com o governo federal e com os paulistas.
Preocupados com a possibilidade de Andrade Neves vir a apoiar
os constitucionalistas de São Paulo, os revolucionários de 1930 vinculados ao
Clube 3 de Outubro, organização tenentista, pressionaram o ministro da Guerra,
José Fernandes Leite de Castro, para que interferisse de algum modo na 3ª RM a
fim de sabotar as relações entre o general Andrade Neves e a FUG. Através de
uma série de manobras, como nomeações e transferências de comandantes de corpos
de tropas sem consulta a Andrade Neves, e recusando ao mesmo tempo suas
indicações, o ministro da Guerra conseguiu neutralizar seu campo de influência
e ação. Em conseqüência, o comandante da 3ª RM solicitou sua exoneração do
cargo em telegrama enviado ao ministro da Guerra no dia 30 de maio de 1932,
atitude que já tomara duas vezes sem ser atendido.
Esse
pedido de exoneração provocou uma crise no governo gaúcho. Necessitando do
apoio da FUG, à qual o general Andrade Neves continuava ligado, Flores da Cunha
ameaçou renunciar e telegrafou a Osvaldo Aranha, afirmando que a saída do
comandante da 3ª RM perturbaria a ordem pública. Osvaldo Aranha debateu o
assunto com Vargas, que procurou contemporizar por alguns dias. Finalmente, o
chefe do Governo Provisório decidiu exonerar o ministro da Guerra, reafirmando
sua confiança no comandante da 3ª RM e solicitando que permanecesse no posto.
No
dia 9 de julho, data da eclosão da Revolução de 1932 em São Paulo, Andrade
Neves retornou de uma viagem curta que realizara e reassumiu o comando da 3ª
RM. A partir de então, definiu-se o panorama gaúcho: Flores da Cunha e Andrade
Neves apoiaram Vargas, rompendo com a FUG, que ficou do lado dos paulistas, e
puderam controlar o Exército e a Brigada Militar, dominando a situação no
estado.
No dia 16 de agosto o chefe do Estado-Maior do Exército,
Tasso Fragoso, foi demitido, por suspeita de colaborar com os revolucionários.
Andrade Neves teve seu nome sugerido por Pedro Aurélio de Góis Monteiro,
comandante das forças governistas, e assumiu a chefia do Estado-Maior do
Exército (EME) no dia 22 de agosto seguinte. Em outubro, ao fim de quase três
meses de combate, os revoltosos de São Paulo foram derrotados e o poder de
Vargas ficou amplamente confirmado.
Andrade Neves permaneceu na chefia do EME até agosto de 1934,
quando foi nomeado ministro do Superior — então Supremo — Tribunal Militar
(STM). Eleito presidente do STM em 1938, foi reeleito em 1940, e em 1941
aposentou-se por decreto.
Faleceu no Rio de Janeiro no dia 15 de janeiro de 1951.
Foi casado com Zalda Vilela de Carvalho Andrade, filha do
marechal Fernando Setembrino de Carvalho, ministro da Guerra de 1922 a 1926,
com quem teve três filhas.
Roberto Pechman
FONTES: CONSULT.
MAGALHÃES, B.; CORRESP. SUP. TRIB. MILITAR; FIGUEIREDO, E. Contribuição;
FONTOURA, J. Memórias; Grande encic. Delta; JARDIM, R. Aventura; Jornal do
Comércio, Rio (15 e 16/1/51); MIN. GUERRA. Almanaque; NOGUEIRA, F. Supremo;
SILVA, H. 1935; SILVA, H. 1938.