DUTRA,
Olívio
*dep. fed. RS 1987-1988;
const. 1987-1988; gov. RS 1999-2003.
Olívio de Oliveira Dutra nasceu em Bossoroca, zona rural de São Luís Gonzaga (RS), no
dia 10 de junho de 1941, filho de Cassiano Xavier Dutra e de Amélia de Oliveira
Dutra.
Logo após seu nascimento, sua família transferiu-se para a
sede do município, em busca de melhores condições de vida. Aos seis anos de
idade, foi matriculado no Grupo Escolar Senador Pinheiro Machado. Como não
tinha ainda a idade mínima exigida, precisou cursar duas vezes a primeira série
primária. Posteriormente, estudou no Ginásio Santo Antônio de Pádua e na Escola
Técnica de Contabilidade de São Luís Gonzaga, onde concluiu o segundo grau. Nos
tempos de ginásio, ganhou o apelido de “Nego Olívio”, uma alusão à sua
descendência por parte de pai. Trabalhando num internato para custear os
estudos, Olívio foi também entregador do jornal A Notícia, de São Luís Gonzaga. Nesta época, gastava quase todo o seu
rendimento na compra de livros, hábito que aprendeu a cultivar desde cedo.
Iniciou sua militância política no movimento estudantil secundarista, tendo
presidido, em 1959, a União São Luisense de Estudantes.
Dois
anos mais tarde, ingressou por concurso no Banco do Estado do Rio Grande do Sul
(Banrisul), tendo, em 1962, liderado sua primeira greve. Além das funções como
contínuo, dava aulas particulares de inglês à noite, língua que aprendera com
os padres franciscanos do Colégio Nossa Senhora de Pádua. Em 1970, enviou uma
carta ao prefeito de São Luís Gonzaga, João Loureiro, exigindo “menos
autoritarismo na condução da política de ensino do município”. Por causa de sua
atitude, foi transferido para uma agência do Banrisul localizada na periferia
de Porto Alegre.
Chegando à capital gaúcha, no ano seguinte iniciou curso de
letras na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), pela qual viria a
se graduar em 1975.
Dando
prosseguimento à sua militância política, tornou-se em 1974 diretor de
divulgação e cultura do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, tendo sido eleito,
em chapa única, presidente da entidade no ano seguinte. Um dos organizadores do
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (DIEESE),
coordenou a instalação de seu escritório regional no Rio Grande do Sul.
Reeleito presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre em 1978, teve
como companheiros de diretoria três integrantes do Partido Comunista Brasileiro
(PCB) e o advogado Tarso Genro. Ainda nesse mesmo ano, tornou-se membro da
Comissão pró-Partido dos Trabalhadores (PT), encarregada de elaborar as bases
para a fundação da nova legenda.
Em setembro de 1979, após o segundo dia de uma greve nacional
dos bancários iniciada em Porto Alegre, Olívio foi preso, juntamente com o
diretor de Assistência Social e Recreação do sindicato da categoria, sob a
acusação de ter infringido o artigo 39 da Lei de Segurança Nacional (LSN). Com
o fim da paralisação 15 dias depois, foi solto pelas forças do Exército, mas
teve o seu mandato sindical cassado pelo regime militar.
Ainda em 1979, foi eleito presidente do primeiro diretório
regional do PT no Rio Grande do Sul e, dois anos depois, deixou a presidência
do Sindicato dos Bancários, a qual havia reassumido após o fim da intervenção
militar na entidade. No pleito de novembro de 1982, concorreu ao governo
gaúcho, mas acabou derrotado pelo candidato Jair Soares, do Partido Democrático
Social (PDS).
Fundador da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e membro da
executiva nacional da entidade, Olívio também ajudou a criar a Intersindical do
Rio Grande do Sul. Em 1984, tornou-se secretário-geral do Sindicato dos
Bancários de Porto Alegre, ano em que também se elegeu primeiro vice-presidente
do PT nacional. Ocupou este cargo até 1986, quando deixou a presidência do PT
gaúcho e candidatou-se, no pleito realizado em novembro, a uma vaga na
Assembleia Nacional Constituinte pelo Rio Grande do Sul.
Eleito
como o deputado federal mais votado do PT gaúcho, licenciou-se do Banrisul e
deixou a secretaria do Sindicato dos Bancários, assumindo, em fevereiro de 1987,
sua cadeira na Constituinte, tornando-se membro titular da Subcomissão de
Ciência e Tecnologia e Comunicação, da Comissão da Família, Educação, Cultura e
Esporte; e suplente da Subcomissão do Sistema Financeiro, da Comissão do
Sistema Tributário, Orçamento e Finanças.
Em dezembro de 1987 foi eleito por unanimidade presidente
nacional do PT para dirigir o partido por dois anos, substituindo Luís Inácio
Lula da Silva, que acabara de ser lançado candidato à presidência da República
pela coligação Frente Popular, que reuniu, além do próprio PT, os partidos
Socialista Brasileiro (PSB) e Comunista do Brasil (PCdoB).
Em
janeiro de 1988, Olívio integrou uma comissão que visitou o garimpo de Serra
Pelada, no Pará, com o objetivo de dimensionar o número de mortos e feridos no
confronto entre a Polícia Militar daquele estado e garimpeiros que bloquearam a
ponte sobre o rio Tocantins, no dia 29 de dezembro de 1987. Formada por
representantes da Sociedade de Defesa dos Direitos Humanos do Pará, da CUT, do
Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), da Ordem dos Advogados do Brasil do Pará
(OAB-PA) e por deputados estaduais de diversos partidos de esquerda, a comissão
elaborou um dossiê sobre o conflito a ser enviado à Anistia Internacional e
para pressionar o Congresso Nacional a instaurar uma comissão parlamentar de
inquérito (CPI) sobre a questão. Na ocasião, Olívio acusou a polícia federal de
ter incentivado os garimpeiros a ocupar a ponte, responsabilizando o presidente
do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) na Câmara, deputado Ibsen
Pinheiro, de impedir a instalação de uma CPI para apurar as responsabilidades
no massacre.
Em
junho de 1988, convidado pelo governo da Alemanha Oriental, esteve em visita
àquele país para participar de um encontro internacional sobre políticas de
desarmamento nuclear. Também no mesmo período, foi escolhido em convenção do PT
gaúcho para concorrer à prefeitura de Porto Alegre, derrotando as
pré-candidaturas de Flávio Koutzi, Tarso Genro e Darci Campani. Em setembro
seguinte, criticou a decisão do deputado petista mineiro João Paulo de
Vasconcelos de desobedecer à orientação oficial do partido e votar
favoravelmente ao novo texto constitucional.
Nas
principais matérias em pauta na Constituinte, votou a favor do rompimento de
relações diplomáticas com países de orientação racista, da limitação do direito
de propriedade privada, do mandado de segurança coletivo, da legalização do
aborto, da estabilidade no emprego, da remuneração 50% superior para o trabalho
extra, da jornada semanal de 40 horas, do turno ininterrupto de seis horas, do
aviso prévio proporcional, da pluralidade sindical, da soberania popular, do
voto facultativo aos 16 anos, da manutenção do sistema presidencialista, da
nacionalização do subsolo, da estatização do sistema financeiro, do limite de
12% ao ano para os juros reais, da proibição do comércio de sangue, da
limitação dos encargos da dívida externa, da criação de um fundo de apoio à
reforma agrária, da anistia aos micro e pequenos empresários e da desapropriação
da propriedade produtiva. Pronunciou-se contra a adoção da pena de morte, o
mandato de cinco anos para o presidente José Sarney e a legalização do jogo do
bicho.
Promulgada
a nova Constituição em 5 de outubro de 1988, no mês seguinte, com o apoio do
PCB, Olívio elegeu-se prefeito de Porto Alegre, com 257 mil votos. Deixou em
seguida a Câmara dos Deputados e a presidência nacional do PT, dando início, em
janeiro de 1989, à primeira de uma série de administrações petistas na capital
gaúcha. Sucessor de Alceu Colares, do PDT, na chefia do executivo municipal,
foi substituído na Câmara por Antônio Marangon, segundo suplente do PT, uma vez
que o primeiro suplente, Tarso Genro, fora eleito seu vice na chapa petista.
Entre
as primeiras medidas que Olívio tomou após sua posse, destacaram-se a proibição
de contratação de funcionários, a redução dos cargos em comissão, a redução da
frota de veículos oficiais, a proibição da nomeação de parentes para cargos de
confiança e a devolução de 20% dos salários do primeiro escalão. A decisão mais
polêmica, no entanto, foi a do congelamento dos preços das passagens de ônibus,
ainda em janeiro de 1989, até que fossem feitas avaliações da planilha dos
custos e melhorias na qualidade dos serviços oferecidos. Diante da greve programada
para o dia 16 de fevereiro pelos empresários do setor, em represália ao não
aumento das tarifas, Dutra decretou estado de calamidade pública no município,
determinando a intervenção em seis empresas de ônibus da cidade. Apesar da
redução na frota de veículos, a população apoiou a medida e o governo petista
decidiu abrir licitação para a operação de novas linhas, pondo fim a um
privilégio de 38 anos, período em que a prefeitura renovava automaticamente as
concessões.
Cumprindo
promessa de campanha, o governo municipal instituiu, em 1990, o orçamento
participativo, sistema que permitiu aos moradores de Porto Alegre deliberar
sobre a aplicação das verbas públicas. O
sucesso da iniciativa foi um dos principais trunfos do PT no pleito de outubro
de 1992, quando Tarso Genro foi eleito em sucessão a Dutra. Encerrando seu
mandato em 31 de dezembro deste último ano, Olívio retomou sua funções no
Banrisul.
Em
1993, seu nome começou a aparecer na imprensa como o provável candidato do PT à
sucessão do governador Alceu Colares. Confirmado oficialmente pelo partido no
ano seguinte, concorreu pela segunda vez ao governo do Rio Grande do Sul.
Durante a primeira fase da campanha, qualificou de eleitoreiro o plano de
estabilização econômica (Plano Real) lançado em julho daquele ano pelo
ex-ministro da Fazenda e candidato à presidência da República, Fernando
Henrique Cardoso. No mesmo período, também acusou seu principal oponente na
disputa pelo governo gaúcho, o ex-ministro da Previdência Social (1992-1993)
Antônio Brito, do PMDB, de não ter conseguido solucionar o poderoso esquema de
corrupção do setor enquanto esteve à frente da pasta.
Contando com o prestígio conquistado como prefeito de Porto
Alegre, que lhe garantiu 59% dos votos na capital gaúcha, Olívio Dutra chegou
ao segundo turno das eleições estaduais contrariando as pesquisas de opinião
pública, que asseguravam a vitória de Antônio Brito já em 3 de outubro de 1994.
Com 49% dos votos válidos, o candidato do PMDB ficou a apenas 36 mil votos da
vitória. No segundo turno, em novembro de 1994, apesar de ter reduzido
sensivelmente a diferença, Dutra acabou derrotado por Brito por uma pequena
margem de votos.
Em abril de 1996, ano em que foi mais uma vez eleito para a
presidência do PT gaúcho, Olívio publicou um artigo no jornal O Estado de S. Paulo acusando o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso
(1995-1998) de nepotismo e criticando o “privilégio” concedido pelo Executivo
ao sistema financeiro, através da liberação de recursos do Banco Central para
sanear instituições privadas em dificuldades econômicas.
Em julho de 1996, aposentou-se do Banrisul, passando a
dedicar-se somente à carreira política.
Na
prévia partidária de 1998, sustentado pelos grupos tradicionalmente
identificados como a “esquerda” do PT, derrotou a pré-candidatura de Tarso
Genro — lançada pelos “moderados” — e foi novamente indicado para disputar o
governo do Rio Grande do Sul, tendo o deputado Miguel Rosseto como vice.
Assim
como em 1994, a disputa acirrada entre Dutra e o governador Antônio Brito,
candidato à reeleição, levou-os ao segundo turno. No dia 25 de outubro de 1998,
pela coligação Frente Popular, formada por PT, PSB, PCB e PCdoB, e com o apoio
da candidata do PDT derrotada no primeiro turno, a senadora Emília Fernandes,
Olívio conseguiu finalmente eleger-se, tornando-se, com apenas 87 mil votos de
diferença sobre Brito, o primeiro governador petista do Rio Grande do Sul.
Foi
empossado no governo gaúcho em 1º de janeiro de 1999
Cumprindo
uma promessa de campanha, Olívio Dutra suspendeu
os pagamentos acordados entre o ex-governador Antônio Britto e as montadoras de
automóveis, General Motors (GM) e Ford. O acordo implicava
em elevadas isenções fiscais e empréstimos com juros abaixo de mercado, para
financiar a instalação das fábricas de ambas no Rio Grande do Sul. Na época,
somente a GM entrou em acordo com o novo governo.
Entre as iniciativas de destaque de seu governo,
encontravam-se a adoção do sistema de Orçamento Participativo na esfera
esatdual, assim como a criação da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul
(UERGS), sediada em Porto Alegre, mas presente também em outras regiões do
estado.
Em novembro de 2001, uma CPI instalada
na Assembleia Legislativa gaúcha investigou por seis meses o suposto
envolvimento do governo Dutra e do PT com o jogo do bicho. As investigações
tiveram início quando o ex-tesoureiro do PT, Jairo Carneiro, afirmou terem
ocorrido doações de banqueiros do bicho para a campanha de Olívio e para a
compra do prédio que abrigava o Diretório Estadual do PT. As acusações foram
negadas por Olívio Dutra e pelo partido.
No pleito de 2002, Olívio
Dutra teve negada a tentativa de reeleição nas prévias do partido. O candidato
escolhido para aquela disputa foi Tarso Genro,
então prefeito de Porto Alegre,
que acabou sendo derrotado nas urnas por Germano Rigotto
(PMDB-RS).
Dutra deixou o governo do Rio Grande do Sul ao final de seu mandato, em
dezembro de 2002.
Logo após a posse do
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2003, Olívio Dutra assumiu
o recém criado Ministério das Cidades. Entre as iniciativas de sua gestão à
frente da pasta, ainda em
2003 foi eleito pela primeira vez o Conselho das Cidades, numa Conferência
Nacional que contou com a participação de representantes dos três níveis de
governo, de entidades
representativas dos movimentos sociais, profissionais, organizações
não-governamentais (ONGs), quadros universitários, empresários e
pesquisadores.
Em julho de 2005, durante reforma
ministerial, Olívio Dutra deixou o Ministério das Cidades, sendo substituído
pelo então secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio, Marcio Fortes de Almeida.
No ano de 2006, Olívio Dutra foi o
candidato escolhido pelo PT para disputar as eleições estaduais daquele ano no
Rio Grande. A disputa do governo do estado foi para o segundo turno, e Dutra
obteve então cerca de 46% dos votos, mas foi superado pela candidata do Partido
da Social Democracia Brasileira (PSDB), a deputada federal Yeda Crusius.
Em 2009, presidia o diretório do PT no Rio Grande do Sul.
Casou-se com Judite da Rocha Dutra, com quem teve dois
filhos.
Gisela Moura/Luís
Otávio de Sousa
FONTES:
Agência Câmara. Disponível em : <http://www2.camara.gov.br/homeagencia>.
Acesso em : 20 nov. 2009;
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(1987-1988); AU. Arquitetura e
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Acesso em : 20 nov. 2009; COELHO, J. ; OLIVEIRA, A.
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2/4/96); Folha de S. Paulo
(13/3 e 20/7/87, 15/1, 29/5, 17/6, 24/9, 27/11 e 15/12/88, 4 e 16/1, 15/2,
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do Brasil (27/3,
6/6 e 7/12/87, 15/1, 11/7, 9/8, 7, 26 , 28/11 e 2/12, 16/12/88, 3, 8 e 10/1,
22/2, 4/7, 5/7, 20/7 e 26/7, 15/8 e15/10/89, 21/1/90);
Veja (19 e 26/10, 16 e
30/11/94); Zero Hora
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