OSÓRIO,
Carlos Amoreti
*militar; rev. 1930; rev. 1935.
Carlos Amoreti Osório nasceu
no Paraná no dia 26 de julho de 1897.
Sentou praça em abril de 1917 na Escola Militar do Realengo,
no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, saindo em dezembro de 1919
aspirante-a-oficial da arma de artilharia. Foi promovido a segundo-tenente em
abril de 1920, a primeiro-tenente em maio do ano seguinte e a capitão em
dezembro de 1927.
Servia no 9º Regimento de Artilharia Montada (9º RAM), em
Curitiba, quando, em 3 de outubro de 1930, foi deflagrado o movimento
revolucionário que conduziria Getúlio Vargas ao poder. Sendo o Paraná uma
região estratégica para as forças rebeldes oriundas do Rio Grande do Sul, que
incluíam o estado-maior revolucionário, Carlos Amoreti, aderindo aos rebeldes,
participou do levante de sua unidade, ocasião em que feriu a bala o major
Correia Lima, que veio a morrer. Na madrugada do dia 5 seguinte, a resistência
das tropas legalistas já estava totalmente neutralizada e o caminho aberto às
forças gaúchas.
Simpatizante do movimento tenentista liderado por Luís Carlos
Prestes e Miguel Costa, que comandaram de 1925 a 1927 uma coluna que percorreu
o interior do país combatendo as forças do governo, filiou-se, após a Revolução
de 1930, ao Clube 3 Outubro. Essa organização, criada em maio de 1931, passou a
congregar as correntes tenentistas partidárias da manutenção e do
aprofundamento das reformas trazidas pelo movimento revolucionário vitorioso.
Em
1932, a partir da Revolução Constitucionalista de São Paulo, quando as
divergências entre as forças que participaram da Revolução de 1930 tornaram-se
irreconciliáveis, passou a liderar a ala esquerda dissidente do clube. Ainda em
1932 participou do I Congresso Revolucionário, promovido pela Legião Cívica
5 de Julho — organização liderada por “tenentes” —, realizado no Rio de
Janeiro de 15 a 17 de novembro. O evento reuniu diversas correntes tenentistas,
e dele resultou a fundação do Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Em
1933 Carlos Amoreti foi preso no sul do país pelo interventor gaúcho José
Antônio Flores da Cunha, sob a acusação de envolvimento em conspiração contra o
chefe do Governo Provisório, Getúlio Vargas. Em outubro do ano seguinte, foi
constituído no Rio de Janeiro um grupo que começou a estudar a formação de uma
frente para defender um programa nacionalista e antifascista, que mais tarde
viria a se transformar na Aliança Nacional Libertadora (ANL). Compunham
inicialmente esse grupo Roberto Sisson, Aparício Torelli, que ficou conhecido
depois como barão de Itararé, Francisco Mangabeira, Carlos Lacerda, Manuel
Venâncio Campos da Paz, Francisco Chicovate e Benjamim Soares Cabello. Amoreti,
que na época servia no comando da 2ª Bateria do 3º Grupo de Artilharia Pesada
(3º GAP), juntou-se mais tarde ao grupo com o comandante Herculino Cascardo,
Francisco Moésia Rolim, Trifino Correia e outros. As reuniões eram realizadas
em seu apartamento, na redação do jornal A Manhã, de Aparício Torelli, ou no
escritório de Moésia Rolim.
Em março de 1935 Amoreti foi um dos signatários do manifesto
de fundação da ANL, junto com os demais membros do grupo que iniciara os
estudos e ao lado de novos adeptos, como Henrique Oest, Abguar Bastos, Ivan
Pedro Martins e Henrique Silveira, quando se formou a comissão provisória da
organização. Tornou-se depois vice-presidente do primeiro diretório nacional da
ANL, cujo presidente era Herculino Cascardo e cujo secretário era Francisco
Mangabeira. Participavam também dessa organização membros do Partido Comunista
Brasileiro, então Partido Comunista do Brasil (PCB), do PSB e dos diversos
partidos sociais diplomáticos estaduais, além de dirigentes de sindicatos de
trabalhadores.
Carlos Amoreti ocupou a vice-presidência da ANL até os
primeiros dias de julho de 1935, quando foi detido no 1º Regimento de Cavalaria
Divisionária, no Rio de Janeiro, por ter participado de comícios, aliancistas.
Sua prisão foi determinada por um expediente do ministro da Guerra, general
Pedro Aurélio de Góis Monteiro, ao chefe do Departamento Geral de Pessoal do
Exército, pedindo informações sobre seu comparecimento ao comício da ANL, em 5
de julho. Amoreti respondeu que havia comparecido a todas as reuniões públicas
da ANL em trajes civis, com exceção da de 5 de julho, em virtude de não ter
conseguido entrar na sede da organização por causa da multidão ali presente.
Ainda em julho de 1935, a ANL foi fechada por força de
decreto do presidente da República Getúlio Vargas. Após, haver cumprido pena de
detenção, Amoreti foi enviado para o Norte, ficando, portanto, afastado de
funções militares em áreas politicamente perigosas para a segurança do governo.
Em novembro desse ano, parte da ANL, sob a direção do PCB, deflagrou um levante
armado em Natal, Recife e no Rio de Janeiro, que foi rapidamente sufocado pelas
forças governistas. A partir de então desencadeou-se forte repressão aos
aliancistas, bem como aos setores oposicionistas de variadas tendências.
Preso mais uma vez, Amoreti foi reformado compulsoriamente do
Exército, sendo acusado de ter participado dos preparativos do movimento
insurrecional de 1935 e de ter fundado a ANL seguindo ordens do PCB. Em seu
depoimento prestado na polícia afirmou que a ANL fora uma idéia sua, sustentada
no Congresso Revolucionário de 1932, visando a determinar os pontos básicos da
luta pelas liberdades democráticas e pela emancipação econômica do país.
Declarou, na mesma oportunidade, que sua atuação na ANL não tivera qualquer
vínculo com o PCB e que desconhecia o fato de sua fundação ter sido determinada
pela III Internacional Comunista. Julgado pelo Tribunal de Segurança Nacional
em maio de 1937, juntamente com outros líderes da ANL, foi condenado a dez
meses e meio de prisão. Em setembro do mesmo ano a sentença foi confirmada pelo
Superior — então Supremo — Tribunal Militar (STM).
Em 1945, após a queda do Estado Novo e com a anistia aos
presos políticos, recusou-se a retornar às fileiras do Exército. Mais tarde
converteu-se ao espiritismo e passou a dedicar-se ao comércio.
Ao longo de sua vida, foi ainda professor da Faculdade de
Engenharia do Paraná.
Faleceu em 1973.
FONTES: ARQ. MIN.
EXÉRC.; CARNEIRO, G. História; LEVINI, R. Vargas; MIN. GUERRA. Almanaque
(1934); PORTO, E. Insurreição; TAVARES, J. Radicalização; SILVA, H. 1930;
SILVA, H. 1933; SILVA, H. 1935; SILVA, H. 1937.