DUTRA, Vasulmiro
*rev. 1923; rev.
1930.
Vasulmiro Pereira Dutra
nasceu em São Borja (RS) no dia 25 de agosto de 1888, filho de Florentino
Pereira Dutra e de Perpétua da Rocha Dutra. Sua mãe descendia do capitão Manuel
Vieira da Rocha, participante da Campanha da Cisplatina (1816-1821), que
resultou na independência do Uruguai, e da Revolução Farroupilha (1835-1845). A
família tinha raízes republicanas.
Completou apenas o curso primário e tornou-se fazendeiro,
dedicando-se à pecuária em Palmeira das Missões (RS). Durante a Primeira Guerra
Mundial obteve grandes lucros em decorrência do crescimento da demanda e da
maior oferta de créditos.
Já
se fizera um dos maiores fazendeiros da região serrana gaúcha quando, em
janeiro de 1923, teve início a revolução que opôs aos republicanos, liderados
por Antônio Augusto Borges de Medeiros, os federalistas, encabeçados por
Joaquim Francisco de Assis Brasil. Sob a alegação de fraude, os federalistas
rebelaram-se contra a reeleição do líder republicano para o quinto mandato como
presidente do estado. Inicialmente neutro, temeroso de prejudicar seus
interesses de fazendeiro, Vasulmiro aderiu pouco depois aos republicanos.
Encarregado de organizar e comandar a Brigada Provisória do Norte, 3º Corpo
Auxiliar da Brigada Militar, fixou-se em uma de suas fazendas, a de Ramada, e
dali coordenou a formação do corpo, constituído por elementos de Palmeira das
Missões. Ao assumir o comando, como tenente-coronel, encontrou grande parte do
município tomada pelos revoltosos que, liderados por Leonel Rocha, se
preparavam para destituir as autoridades locais. Embora em inferioridade
numérica e técnica, as forças de Vasulmiro impediram tal ação. A luta, que se
estendeu até novembro daquele ano, foi encerrada pelo Pacto de Pedras Altas,
que estipulava a permanência de Borges no governo mas vedava nova reeleição.
Alguns corpos provisórios foram mantidos em atividade após o término da
revolução, dentre eles o comandado por Vasulmiro, que, por sua eficiência
militar, ficou à disposição do governo federal.
Sua ação seguinte ocorreu na época da formação da Coluna
Miguel Costa-Prestes, resultante da junção, realizada em abril de 1925 no oeste
do Paraná, das tropas que se rebelaram em São Paulo em julho de 1924 e no Rio Grande do Sul em outubro desse mesmo ano. Incorporado à coluna legalista do coronel
Vasco Varela, Vasulmiro Dutra foi incumbido de ocupar o município paranaense de
Clevelândia, como parte de um plano que pretendia isolar a região do Iguaçu.
Não conseguiu porém alcançar seu objetivo e foi obrigado a recuar para Palmeira
das Missões.
Com a invasão do Mato Grosso pela Coluna Prestes, Vasulmiro
Dutra foi designado para Ribeirão Claro, a partir de então a base de operações
de sua tropa, sob o comando do general Malan D’Angrogne. Perseguiu os rebeldes
na direção da região do Triângulo Mineiro, sob o comando do general Pantaleão
Teles Ferreira, deslocando-se pelo interior de Goiás até aproximar-se da
fronteira com a Bahia. Desentendendo-se com seu comandante, Vasulmiro pediu sua
transferência para outro destacamento, o que lhe foi negado. Num telegrama a
Borges de Medeiros, expôs sua situação e impôs condições para sua permanência.
Recebeu no entanto ordem de recolher-se com sua tropa ao Rio Grande do Sul,
onde deveria apresentar-se preso ao comandante da região militar. Provando ter
sido perseguido pelo comandante Teles, teve sua prisão relaxada, após o que
abandonou a farda e voltou à fazenda.
Em
novembro de 1926 foi novamente chamado para organizar e comandar o corpo
provisório que combateria Leonel Rocha. Este promovera o levante de um pequeno
grupo, no município de Palmeira das Missões, em apoio ao movimento dos irmãos
Etchegoyen, chamado Coluna Relâmpago. Tratava-se de uma revolta militar
ocorrida numa unidade do Exército sediada em Santa Maria (RS), visando impedir a posse do presidente eleito Washington Luís. Sem adesões,
o movimento foi debelado no mesmo dia e não chegou a haver choque em Palmeira
das Missões, visto que Leonel Rocha se retirou.
Vasulmiro Dutra elegeu-se prefeito de Palmeira das Missões em
1927, derrotando o candidato apoiado por Borges de Medeiros. Em 1930 participou
da Aliança Liberal e da revolução deflagrada no dia 3 de outubro sob a chefia
de Getúlio Vargas. Comandando seis corpos provisórios que organizara em
setembro, estendeu sua ação pela região de Iguaçu até alcançar Palmas, no
Paraná, quando ordenou a invasão do oeste catarinense pelo corpo comandado por
Vicente Dutra. No dia 7 de outubro recebeu do tenente-coronel Pedro Aurélio de
Góis Monteiro, chefe militar da revolução, ordem para ocupar a região de
Xanxerê. Os governos estaduais foram derrubados pelos revolucionários sem
grande dificuldade, mas esperava-se uma grande batalha na região de Itararé,
fronteira do Paraná com São Paulo. O conflito armado foi entretanto evitado com
a deposição de Washington Luís no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, no
dia 24 de outubro, a que se seguiu pouco depois a posse de Getúlio Vargas na
chefia do Governo Provisório.
Em
1932, na qualidade de subchefe de polícia do Rio Grande do Sul, na gestão do
interventor José Antônio Flores da Cunha, Vasulmiro Dutra contribuiu para
dominar o movimento constitucionalista deflagrado em 9 de julho em São Paulo. Sua participação consistiu mais uma vez em organizar corpos provisórios. Instalou
seu quartel-general em Passo Fundo (RS) e, no comando dos três corpos que
organizou, dominou pequenas insurreições de apoio aos revoltosos em Nonoaí
(RS), Lagoa Vermelha (RS) e Joaçaba (SC). Fez ainda seguir para São Paulo três
corpos comandados pelos tenentes-coronéis Leopoldo Vianca, Serafim Assis e
Vircidino Camargo. Embora a mobilização paulista tivesse sido ponderável em
matéria de recursos materiais e humanos e contasse com o auxílio de um forte contingente
vindo de Mato Grosso, o governo federal dominou a rebelião em outubro do mesmo
ano, com o apoio de milícias estaduais.
Com o rompimento entre Flores da Cunha — eleito governador do
Rio Grande do Sul em 1935 — e Vargas — eleito presidente constitucional da
República em 1934 — devido às pretensões continuístas deste último, em 1937
Vasulmiro foi perseguido pelas autoridades estaduais, embora ainda não
estivesse comprometido com o golpe em preparação no governo federal. Como era
ligado à família Vargas, organizou um grupo armado que, sob a direção de um
homem de sua confiança, e após breve preparo, tomou a prefeitura de Palmeira
das Missões, numa ação em que seu prestígio político pesou mais que a força
militar. Desfechado sem encontrar grandes resistências, o golpe do Estado Novo
levou, no dia 10 de novembro de 1937, à dissolução do Congresso Nacional e à
outorga da nova Constituição. Vasulmiro foi então nomeado diretor do Instituto
do Mate, em Porto Alegre, cargo em que permaneceu por pouco tempo, retirando-se
em seguida da vida pública.
Era casado com Graciosa Zavagna Dutra, com quem teve dois
filhos. Seu sobrinho Paulo de Tarso de Morais Dutra foi deputado federal pelo
Rio Grande do Sul de 1951 a 1967 e de 1969 a 1971, ministro da Educação de 1967 a 1969 e senador de 1971 a 1983.
FONTES: Álbum;
ARQ. GETÚLIO VARGAS; FERREIRA FILHO, A. História; FERREIRA FILHO, A.
Revoluções; SILVA, H. 1930.