VIANA
FILHO, Luís
*dep. fed. BA
1935-1937; const. 1946; dep. fed. BA 1946-1964; ch. Gab.
Civ. Pres. Rep. 1964-1966; gov. BA 1967-1971; sen. BA 1975-1990.
Luís
Viana Filho nasceu em Paris no dia 28 de março de
1908, filho de Luís Viana e de Joana Gertrudes Viana. Seu pai foi, depois da
proclamação da República, senador à Constituinte baiana e presidente do Senado
estadual, desembargador e presidente do Tribunal de Apelação da Bahia e
governador desse estado de 1896 a 1900. Já fora do governo, entrou em conflito
com o seu sucessor, Severino Vieira, acabando por viajar para o estrangeiro,
onde viveu alguns anos. Quando seu filho nasceu, retornou com a família ao
Brasil, registrando Luís Viana Filho no distrito da Sé em Salvador. Foi ainda
de 1911 a 1920 senador pela Bahia.
Luís
Viana Filho fez seus estudos primários nos colégios Aldridge, no Rio de
Janeiro, então Distrito Federal, e Anchieta, em Nova Friburgo (RJ). Voltando à
Bahia, realizou os estudos secundários no Colégio Burlamaque Moura, em
Salvador. Em 1925, ingressou na Faculdade de Direito do seu estado, iniciando
na mesma ocasião sua atividade jornalística como redator do jornal A Tarde,
da capital baiana. Bacharelou-se em 1929 em ciências jurídicas e sociais, tendo
sido, durante o curso, presidente do centro acadêmico da Faculdade de Direito
da Bahia.
Ao
se iniciar a Revolução de 1930, ficou ao lado do seu conterrâneo Otávio
Mangabeira, na época ministro das Relações Exteriores de Washington Luís e um dos
principais líderes políticos contrários ao movimento revolucionário. Fiel a
essa posição, filiou-se mais tarde à Liga de Ação Social e Política (LASP), da
Bahia, organização criada em fins de 1932 com a finalidade de inscrever
candidatos para concorrer às eleições à Assembléia Nacional Constituinte
marcadas para maio de 1933. Essa entidade congregava os elementos ligados a
Otávio Mangabeira, exilado na Europa desde a instauração do Governo Provisório
de Getúlio Vargas. Em 1933, tornou-se professor de direito internacional
público da Faculdade de Direito da Bahia.
Realizado o pleito, a LASP, integrada na legenda “A Bahia
ainda é a Bahia”, só conseguiu eleger um dos dois representantes da oposição
baiana na Constituinte. Isso levou toda a oposição a unir-se em torno da
legenda do governador Otávio Mangabeira para concorrer às eleições de outubro
de 1934 para a Câmara Federal e a Assembléia estadual. Luís Viana Filho foi um
dos sete candidatos oposicionistas eleitos para a Câmara dos Deputados,
enquanto o Partido Social Democrático (PSD) da Bahia, liderado pelo interventor
Juraci Magalhães, elegeu 14 representantes. Para a Assembléia estadual, a
oposição fez dez deputados e o partido da situação, 32.
Assumindo
o seu mandato na Câmara em maio de 1935, juntamente com Otávio Mangabeira, que,
de volta ao país, também tinha sido eleito, Luís Viana Filho representou a
Bahia nessa casa até novembro de 1937, quando a instauração do Estado Novo
acarretou o fechamento de todos os órgãos legislativos do país. Com a perda do
seu mandato, passou a se dedicar a partir de 1938 às atividades de professor na
Bahia, iniciando também sua colaboração na revista Seiva, considerada
pelo historiador Edgar Carone como a única publicação nacional antifascista da
época. Essa revista, que contava com a participação de intelectuais de todo o
país, era distribuída em todo o território nacional pelo Partido Comunista
Brasileiro (PCB) — na época chamado Partido Comunista do Brasil — então
proscrito e absolutamente clandestino.
Em
1940, Luís Viana Filho conquistou por concurso as cátedras de direito
internacional privado da Faculdade de Direito da Universidade da Bahia e, três
anos mais tarde, foi também nomeado professor catedrático de história do Brasil
da Faculdade de Filosofia da mesma universidade. Opositor sistemático do
governo de Getúlio Vargas, permaneceu ligado a Otávio Mangabeira, novamente
exilado na Europa depois do golpe de 1937. Em janeiro de 1945, sendo um
intelectual de prestígio, participou como delegado da Bahia do I Congresso Brasileiro
de Escritores, promovido pela Associação Brasileira de Escritores em São Paulo
entre 22 e 27 desse mês. Esse encontro, cujo tema central era a
redemocratização do país, teve ampla cobertura dos mais importantes jornais da
época devido à natureza dos debates realizados e das propostas apresentadas. A
sua realização teve um efeito multiplicador no processo de desagregação do
governo ditatorial vigente, já bastante abalado pelas vitórias das forças
aliadas sobre o nazi-fascismo na Europa durante a Segunda Guerra Mundial.
Ainda
no início de 1945, o governo Vargas, diante das pressões crescentes dos
diversos setores da sociedade, concedeu em abril a anistia aos presos políticos
e permitiu a reorganização dos partidos políticos para concorrerem às eleições
à presidência da República e à Assembléia Nacional Constituinte, marcadas para
dezembro de 1945. Nessa ocasião, Luís Viana Filho vinculou-se às facções
políticas que articularam a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes e, também
no mês de abril, formaram a União Democrática Nacional (UDN). Temendo as
manobras de Vargas para continuar no poder, os militares, liderados pelo
ministro da Guerra, general Pedro Aurélio de Góis Monteiro, destituíram o
presidente em 29 de outubro de 1945. Assumiu então o governo o presidente do
Supremo Tribunal Federal, José Linhares, que na data prevista fez realizar as
eleições, vencidas pelo general Eurico Gaspar Dutra, candidato à presidência da
República lançado pelo Partido Social Democrático (PSD) e apoiado pelo Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB). Nesse mesmo pleito, Luís Viana Filho elegeu-se deputado à
Assembléia Nacional Constituinte pela Bahia, na legenda da UDN. Assumindo sua
cadeira em fevereiro de 1946, participou dos trabalhos constituintes e, depois
da promulgação da Constituição em setembro ainda desse ano, passou a exercer o
mandato ordinário como membro da Comissão Especial de Leis Complementares da
Constituição. Em outubro de 1950 reelegeu-se, ainda na legenda udenista,
deputado federal pela Bahia. Na eleição para a presidência da República
realizada então, saiu vitorioso Getúlio Vargas, lançado pela aliança entre o
PTB e o PSD, derrotando o brigadeiro Eduardo Gomes, novamente candidato pela
UDN. Nessa ocasião, estando ainda vinculado à liderança de Otávio Mangabeira,
que, após a queda de Vargas, voltara novamente do exílio e fora eleito também
constituinte em 1945, Luís Viana Filho tornou-se veemente opositor do segundo
governo de Vargas (1951-1954).
Em
abril de 1954, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras (ABL),
ocupando a cadeira nº 22. Ainda nesse ano, ao lado de Otávio Mangabeira,
integrou a ala autonomista da UDN que se desligou do partido para fundar, em
junho, a seção baiana do Partido Libertador (PL). A corrente majoritária da UDN
baiana, sob a liderança de Juraci Magalhães, ao contrário da ala autonomista,
apoiava Getúlio Vargas. Fortalecendo essa posição, a UDN aliou-se ao PTB e
lançou para as eleições de outubro de 1954 ao governo da Bahia a candidatura de
Antônio Balbino, do PSD, na época ministro da Educação e Cultura do governo de
Vargas. Balbino foi eleito com ampla margem de votos, derrotando Pedro Calmon,
candidato escolhido na convenção do PSD, que, na ocasião, rejeitou a indicação
do nome de Balbino. Luís Viana Filho apoiou o candidato derrotado mas na mesma
ocasião conseguiu reeleger-se deputado federal pela Bahia, já na legenda do PL.
Com a reaproximação política de Juraci Magalhães e Otávio Mangabeira,
candidatos da UDN respectivamente ao governo da Bahia e ao Senado nas eleições
de outubro de 1958, Luís Viana Filho voltou aos quadros da UDN, em cuja legenda
tornou a ser eleito deputado pela Bahia.
Tendo apoiado a candidatura vitoriosa de Jânio Quadros nas
eleições presidenciais de outubro de 1960, depois da renúncia de Jânio em agosto
de 1961, Luís Viana Filho foi favorável à posse do vice-presidente João
Goulart. Goulart era considerado por certos grupos das forças armadas elemento
de confiança do movimento sindical e das correntes de esquerda e teve por isso
sua posse vetada pelos ministros militares, o que provocou no país grave crise
institucional. A solução do impasse foi a adoção, em setembro de 1961, do
parlamentarismo, que tornou possível a posse de Goulart no dia 7 ainda desse
mês. Na ocasião, ao lado de deputados do PL, defensores do regime
parlamentarista, Luís Viana participou da comissão que redigiu a Emenda
Constitucional nº 4, que instituiu o novo regime.
Em
outubro de 1962, Luís Viana Filho tornou a ser eleito deputado pela Bahia, na
legenda udenista. Retornou, no entanto, ao PL em maio de 1963, sendo eleito em
seguida vice-líder do partido na Câmara dos Deputados.
Na chefia do Gabinete Civil
Em março de 1964, apoiou o movimento político-militar que, no
dia 31 daquele mês, depôs João Goulart. Nessa ocasião, a presidência da
República passou a ser exercida formalmente por Pascoal Ranieri Mazzilli,
presidente da Câmara dos Deputados, mas o poder ficou efetivamente nas mãos do
autodenominado Comando Supremo da Revolução, constituído pelos ministros
militares general Artur da Costa e Silva, do Exército, almirante Augusto
Rademaker, da Marinha, e brigadeiro Francisco de Assis Correia de Melo, da
Aeronáutica. Enquanto era discutida a sucessão presidencial, centenas de
prisões foram efetuadas em conseqüência da edição do Ato Institucional nº 1, de
9 de abril, que conferia ao governo, pelo prazo de dois meses, prerrogativas de
cassar mandatos legislativos, suspender por dez anos direitos políticos e
demitir, pôr em disponibilidade ou aposentar funcionários de órgão público. Finalmente
foi escolhido pelos círculos militares o nome do general Humberto de Alencar
Castelo Branco, chefe do Estado-Maior do Exército (EME), por ser o que unia não
só a oficialidade das forças armadas como os grupos políticos a elas ligados.
Indicado ao Congresso Nacional, no dia 11 de abril, Castelo foi eleito
presidente da República com mandato a expirar, de acordo com as normas
constitucionais, em janeiro de 1965.
No
dia 15 de abril, o general Castelo Branco assumiu a chefia do Executivo,
declarando sua intenção de cumprir os dispositivos do AI-1 e de restabelecer a
normalidade democrática até o final do seu governo. No seu ministério e em
outros postos-chaves da administração pública colocou antigos colegas seus da
Escola Superior de Guerra (ESG) e políticos na sua maioria provenientes dos
quadros da UDN. Convidado para exercer o cargo de chefe do Gabinete Civil da
Presidência da República, Luís Viana Filho aceitou, licenciando-se do mandato
de deputado federal. No seu livro O governo Castelo Branco (1975),
contou que o convite o surpreendeu, pois tivera contato com o presidente apenas
no dia da sua eleição, quando foi cumprimentá-lo em nome do PL. Assumiu o novo
cargo, tornando-se peça importante na condução e articulação dos principais
assuntos do novo governo, cuja preocupação era restaurar a ordem democrática,
desestabilizada pelo governo de João Goulart. Entretanto, a dinâmica
estabelecida no bloco revolucionário acabou por modificar os rumos pretendidos
por Castelo Branco. Pressionado pelos militares de ultradireita, conhecidos
como “linha dura”, Castelo promoveu a cassação do ex-presidente Juscelino
Kubitschek em junho de 1964, dando assim início a uma nova diretriz de governo.
A classe política tentou resistir, mas a “linha dura” ia vendo atendidas cada
vez mais as suas exigências. Além da prorrogação do prazo legal para cassações
previsto pelo AI-1, a “linha dura” exigiu também a prorrogação do mandato
presidencial e a suspensão das eleições diretas para governador em 11 estados,
previstas para outubro de 1965. O presidente da República defendeu com firmeza
a manutenção do calendário eleitoral referente à eleição dos governadores, mas
cedeu às pressões e admitiu a prorrogação do seu mandato. Em conseqüência, em
julho de 1964 foi aprovada pelo Congresso a Emenda Constitucional nº 9,
estendendo o mandato de Castelo até março de 1967 e marcando para outubro de
1966 a eleição de seu sucessor.
Ao se aproximarem as eleições de outubro de 1965, a “linha
dura” não admitiu as candidaturas de Hélio de Almeida, do PTB, ao governo do
estado da Guanabara e a de Sebastião Pais de Almeida, do PSD, ao governo de
Minas Gerais. Esse fato levou o presidente Castelo Branco a convocar uma
reunião com os chefes do Gabinete Militar, general Ernesto Geisel, do Serviço
Nacional de Informações (SNI), general Golbery do Couto e Silva, e do Gabinete
Civil, Luís Viana Filho, para estudar como poderiam ser impedidas as
mencionadas candidaturas. Dessa reunião resultou o projeto de “lei das
inelegibilidades”, uma emenda constitucional cujo texto declarava inelegíveis,
até 31 de dezembro de 1965, todos os ministros que houvessem servido ao governo
de João Goulart na fase presidencialista, com exceção dos ministros militares e
parlamentares em atuação. A lei aprovada em junho pelo Congresso após intensos
debates atingiu somente Hélio de Almeida, ex-ministro da Viação de Goulart, mas
a solução para a cassação do registro de Pais de Almeida, que era industrial e
banqueiro, foi encontrada pelo Tribunal Superior Eleitoral, chamado pela UDN a se
manifestar, com a utilização da fórmula de “abuso de poder econômico”.
Ministro interino da Justiça: o AI-2
A
vitória nas eleições de outubro de 1965 de Francisco Negrão de Lima, no estado
da Guanabara, e de Israel Pinheiro, em Minas Gerais, candidatos da coligação
PTB-PSD apresentados em substituição aos que tinham sido vetados pelos
militares, aliada à chegada inesperada e festiva de Juscelino Kubitschek,
procedente da França, onde vivia há 16 meses, reavivou a intransigência dos
militares ultradireitistas. Pressionado por eles, Castelo reuniu-se com sua
assessoria militar e política, da qual Luís Viana Filho fazia parte, para
discutir as medidas exigidas por aqueles militares a serem votadas pelo
Congresso. Essas medidas visavam a estender os poderes do Executivo, reforçar o
poder federal sobre os governadores, aumentar a jurisdição dos militares em
matéria de subversão e segurança nacional, regulamentar rigidamente a liberdade
de expressão e garantir o controle do regime sobre o Supremo Tribunal Federal
(STF) através de um aumento do número de juízes. Além disso, a eleição
presidencial deveria ser realizada pelo Congresso e não mais pelo sufrágio
direto.
Em
face do planejamento dessas medidas de endurecimento, o ministro da Justiça,
Mílton Campos, no dia 7 de outubro exonerou-se do cargo, sendo substituído
interinamente por Luís Viana Filho até o dia 19, quando Juraci Magalhães, então
embaixador em Washington, assumiu a pasta. Incumbido de negociar no interior
dos partidos políticos o pacote de medidas aprovado pelo alto comando militar,
Juraci não obteve êxito. Diante desse impasse que prenunciara a rejeição do
projeto pelo Congresso, o governo decretou o Ato Institucional nº 2, em 27 de
outubro de 1965, extinguindo os partidos políticos e estabelecendo eleições
indiretas para a presidência da República e para os governos estaduais. O mesmo
ato restringiu as imunidades parlamentares e os direitos individuais dos
cidadãos, reabrindo o processo de cassações. Além disso, aumentou o poder do
Executivo sobre o Legislativo, concedendo amplos poderes ao presidente da
República para ordenar o recesso do Congresso e decretar leis. Na esfera do
Poder Judiciário, ampliou a competência da Justiça Militar, que passou a julgar
os civis acusados de crime contra a segurança nacional, além de aumentar de 11
para 16 o número de juízes do STF.
Em
novembro de 1965, através do Ato Complementar nº 4, foram estabelecidas as
bases para a criação de novos partidos, que deveriam, no prazo de 45 dias, ter
um número não inferior a 120 deputados e 20 senadores. Com essas limitações,
surgiram apenas dois partidos: a Aliança Renovadora Nacional (Arena),
situacionista, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), de oposição.
Em
fevereiro de 1966 foi editado o Ato Institucional nº 3, fixando o novo
calendário eleitoral. Por ele, os governos estaduais deveriam ser eleitos
indiretamente no dia 3 de setembro daquele ano, o presidente da República seria
escolhido também indiretamente em 3 de outubro seguinte e os parlamentares
federais e estaduais seriam eleitos pelo voto popular no dia 15 de novembro do
mesmo ano.
O Congresso e as classes políticas tentaram resistir às
cassações e aos decretos que continuavam tendo curso. Em junho de 1966 o
governador de São Paulo, Ademar de Barros, teve os seus direitos políticos
suspensos. Nesse mesmo mês, indignado com a onda de cassações, o ministro da
Justiça, Mem de Sá, que havia substituído Juraci Magalhães a partir de janeiro
de 1966, quando este foi nomeado ministro das Relações Exteriores, pediu
afastamento do cargo. Luís Viana Filho novamente assumiu interinamente a pasta
da Justiça até a posse, em julho do mesmo ano, do novo titular, Carlos Medeiros
Silva, ministro do STF.
Diante do avanço autoritário do governo, alguns deputados
arenistas gaúchos anunciaram a sua adesão ao candidato do MDB nas eleições de
setembro de 1966 ao governo do Rio Grande do Sul, Rui Cirne Lima. Procurando bloquear
o perigo que essa atitude representava, o governo baixou, no dia 18 de julho, o
Ato Complementar nº 16, tornando obrigatória a fidelidade dos parlamentares aos
partidos a que estavam filiados sob pena de anulação de votos.
No governo da Bahia
Candidato
ao governo da Bahia, Luís Viana Filho desincompatibilizou-se em agosto de 1966
do cargo de chefe do Gabinete Civil, sendo substituído por Luís Navarro de
Brito. Eleito pela Assembléia Legislativa baiana em setembro, tomou posse em
janeiro do ano seguinte, sucedendo a Antônio Lomanto Júnior.
O
primeiro ano da sua administração foi dedicado ao estabelecimento de um
diagnóstico do setor educacional, objetivo principal do seu governo. Desse
trabalho resultou o Plano Integrado de Educação, cuja meta mínima era a
construção de 2.500 salas de aula e a admissão de 6.300 professores. Ainda
nesse ano foram elaborados o Estatuto do Magistério e a Lei Orgânica do Ensino
e efetuada a reforma administrativa da Secretaria de Educação. No ensino
superior, criaram-se quatro faculdades de Educação e iniciaram-se os estudos
para a implantação da universidade do sul do estado; além disso, criaram-se as
faculdades de Educação e de Agronomia na cidade de Juazeiro e, com a
colaboração do Ministério de Educação e Cultura (MEC), foi implantado o Centro
de Educação Técnica da Bahia. Em meados de 1969, o governo lançou a
concorrência pública para a instalação da TV Educativa, empreendimento
considerado pioneiro no país. Nesse período foram criados no estado sete
centros integrados de educação, dois em Salvador e os restantes em Feira de
Santana, Vitória da Conquista, Ilhéus, Itabuna e Alagoinhas.
Outra
prioridade do governo de Luís Viana Filho foi a industrialização. Grande soma
de recursos foi aplicada no Centro Industrial de Aratu, que, através de
incentivos fiscais, atraiu na época 104 empresas privadas para a região,
criando 19 mil empregos diretos. Paralelamente ao desenvolvimento do Centro de
Aratu, o governo instituiu o Prointer, um programa de ajuda a pequenas e médias
empresas localizadas no interior do estado. No setor de eletrificação a
Companhia Elétrica da Bahia (Coelba), empresa estatal encarregada da política
energética, só em 1967 estendeu mais de 600km de linhas de transmissão,
programa cumprido em igual proporção no ano seguinte. Em 1969 a Secretaria de
Minas e Energia programou a elevação da potência da usina de Funil de 20 para
30.000km, instalou três usinas termelétricas localizadas nas cidades de
Eunápolis, Medeiros Neto e Itamaraju, para atender o extremo sul do estado, e
promoveu a extensão do Sistema Funil com linhas de transmissão de Funil para
várias cidades do interior.
Na
área de saneamento básico, o governo iniciou, em 1968, através da
Superintendência de Engenharia Sanitária do estado, a execução de grandes
projetos em 25 cidades, entre as quais Feira de Santana, Itabuna, Senhor do
Bonfim e Serrinha, contando com o financiamento de 35% do custo das obras pelo
Banco Nacional da Habitação (BNH). Na agricultura, lançou o Programa de Crédito
Rural Orientado em colaboração com o Banco de Desenvolvimento da Bahia (Bandeb)
e iniciou a construção da Central de Abastecimento de Salvador.
Foi,
porém, no setor político que Luís Viana Filho ganhou maior projeção no seu
período de governo. Numa conjuntura nacional de alta tensão política, lançou em
fevereiro de 1968 a tese da pacificação nacional, pedindo publicamente que as
correntes políticas se entendessem em torno do objetivo de uma retomada
gradativa do prestígio e da influência das instituições. Pediu que o MDB apoiasse
a política administrativa do presidente Costa e Silva, sucessor de Castelo
Branco, empossado em março de 1967, mesmo que discordasse dele em questões
ideológicas. Diante desse apelo, o MDB condicionou as negociações com o governo
a uma profunda revisão da Constituição de 1967, à concessão da anistia e à
revisão das leis autoritárias, da política econômico-financeira e da política
externa do governo. Agravando mais ainda o clima político, em abril de 1968 o
estudante Edson Luís Lima Souto foi morto por policiais por ocasião de uma
manifestação realizada no Rio de Janeiro. Esse acontecimento desencadeou uma
onda de protestos estudantis em todo o país, conseguindo mobilizar grande parte
da opinião pública contra o regime. Com a permissão do governo federal foi
organizada no Rio uma passeata que ficou conhecida como a Passeata dos Cem Mil.
Diante
desses fatos, temendo o endurecimento do regime, Luís Viana Filho progrediu em
suas críticas e propostas. Na convenção da Arena realizada no mês de julho de
1968, afirmou que os políticos não aceitavam que o governo os tratasse com os
preconceitos correntes contra a classe política e reivindicou o lugar que lhes
cabia. Enfrentando um dos maiores tabus do presidente Costa e Silva, declarou
ainda que os políticos não estavam satisfeitos com a estrutura política do país
e que era preciso admitir a reforma da Constituição. Segundo Carlos Castelo
Branco, em sua coluna do Jornal do Brasil, nesse mesmo dia o presidente da
República convidou alguns governadores para uma conversa pessoal. Nessa
ocasião, o governador baiano reiterou sua opinião sobre a reforma
constitucional e falou sobre compressão salarial e a questão educacional do
país.
Em setembro de 1968 a crise político-militar chegou ao seu
auge com um discurso feito na Câmara pelo deputado Márcio Moreira Alves, do
MDB, considerado pelos militares ofensivo às forças armadas. Os militares
queriam a cassação dos direitos políticos do parlamentar, mas a Câmara em 13 de
dezembro não concedeu a licença necessária para que o STF o processasse. Nesse
mesmo dia, foi editado o Ato Institucional nº 5, que suspendeu as imunidades
parlamentares, a estabilidade dos funcionários públicos civis e militares, a
vitaliciedade e inamovibilidade dos juízes e o instituto do habeas-corpus para pessoas
acusadas de delitos contra a segurança nacional.
No Senado
Luís
Viana Filho permaneceu no governo da Bahia até março de 1971, quando foi
substituído, no fim de sua gestão, por Antônio Carlos Magalhães, novo
governador eleito indiretamente em outubro de 1970. Gozando de muito prestígio
no seu estado, nas eleições de novembro de 1974 foi eleito ao Senado como um
dos arenistas mais votados no país, derrotando o candidato do MDB, Clemens
Sampaio. Nessas eleições o MDB conseguiu eleger, em todo o país, 16 senadores
contra seis da Arena.
Iniciando o mandato em fevereiro de 1975, já no governo do
general Ernesto Geisel, empossado na presidência da República em março de 1974,
Luís Viana Filho proferiu em março de 1977 um discurso no Senado em que retomou
a tese da pacificação nacional, dizendo que era necessário substituir o
arbítrio pela dinamização da política através da criação de novos partidos e
admitindo uma candidatura civil à presidência da República.
Em fevereiro de 1979, foi eleito presidente do Senado. Nessa
ocasião, o MDB se recusou a participar da mesa diretora em virtude de 1/3 dos
senadores então empossados e conhecidos a partir daí como “biônicos” ter sido
eleito de forma indireta. A instituição de eleições indiretas para 1/3 do
Senado ocorreu em abril de 1977 num conjunto de medidas — que ficou conhecido
como “pacote de abril” — decretadas pelo presidente Geisel com o propósito de
impedir que o MDB repetisse a vitória eleitoral de 1974.
No
dia 2 de março de 1979, ao abrir a primeira sessão da nona legislatura, Luís
Viana Filho, como presidente do Senado, saudou a revogação pelo presidente
Geisel do AI-5 em dezembro de 1978, fazendo um apelo para que a “política
conservasse os pés no chão para ser tecida com os fatos”. Dentro do novo quadro
político brasileiro, onde o presidente João Batista Figueiredo, empossado no
dia 15 de março de 1979, prometeu “fazer desse país uma democracia”, cresceu a
campanha em prol da anistia aos presos políticos e exilados. Numa atitude
pessoal, Luís Viana Filho visitou, em 19 de agosto, 14 presos políticos do Rio
de Janeiro, que estavam em greve de fome há 30 dias. Nessa oportunidade,
lembrou que há 42 anos estivera no mesmo período visitando o conterrâneo Otávio
Mangabeira, que dividia uma cela com Euclides Figueiredo, pai do presidente da
República em exercício. A questão da anistia foi debatida no Congresso e
através da imprensa com grande intensidade, sendo finalmente aprovado pela
Câmara, em fins de agosto de 1979, o projeto de anistia encaminhado ao
Legislativo pelo governo.
Com
a extinção do bipartidarismo em 29 de novembro de 1979 e a conseqüente
reformulação partidária, Luís Viana Filho participou da criação do novo partido
do governo, o Partido Democrático Social (PDS), agremiação sucessora da Arena.
Sendo contrário à legalização do Partido Comunista Brasileiro (PCB), defendeu
em 5 de janeiro de 1980 “uma revolução de cima para baixo para conter a maré
alta das insatisfações” e uma política de entendimento a ser promovida pelo
governo. Admitiu em pronunciamento escrito, distribuído no dia anterior, que os
dirigentes políticos brasileiros só haviam feito a política dos ricos e
questionou se não havia chegado a hora “de aliviarmos os pobres e fazer a
política do Brasil, doa a quem doer”. Sustentou que entre os pobres já se podia
incluir a classe média, classificando de escandalosas as distorções salariais
ainda existentes. Concordando com a tese da oposição de que a Arena era um
partido do governo e não no governo, disse que o ideal seria que a Arena fosse
o partido do povo junto ao governo.
Em fevereiro de 1981, Luís Viana Filho deixou a presidência
do Senado, substituído por Jarbas Passarinho, passando a ocupar em seguida
naquela casa a presidência da Comissão de Relações Exteriores. Foi ainda
relator da comissão do PDS que estudou a questão das prerrogativas
parlamentares abolidas por decretos-leis dos governos anteriores. Em setembro
de 1981, defendeu a imunidade parlamentar nos casos de crimes previstos na Lei
de Segurança Nacional e propôs a suspensão do dispositivo constitucional que
previa a perda de mandato para o senador ou deputado que praticasse atos de
infidelidade partidária.
Nas
eleições de novembro de 1982 para o governo da Bahia foi inicialmente
desfavorável ao candidato Clériston Andrade, da corrente do então governador
Antônio Carlos Magalhães. Acabou, porém, por apoiá-lo em troca de sua indicação
como candidato único ao Senado pelo PDS baiano, tendo como suplente Luís Viana
Neto, seu filho, deputado federal de 1967 a 1971 e de 1975 a 1979 e
vice-governador da Bahia de 1979 a 1983. Realizadas as eleições, obteve novo
mandato de senador.
Assumindo, em fevereiro de 1983, mais uma vez, uma cadeira do
Senado, naquele mesmo ano tornou-se presidente da Comissão de Relações Exteriores,
cargo que ocuparia até o ano seguinte, e participou da Comissão de Educação e
Cultura, até 1986.
Em
25 de abril de 1984 foi votada a emenda Dante de Oliveira, que, apresentada na
Câmara dos Deputados, propunha o restabelecimento das eleições diretas para
presidente da República em novembro daquele ano. Como a emenda não obteve o
número de votos indispensáveis à sua aprovação — faltaram 22 para que o projeto
pudesse ser encaminhado à apreciação pelo Senado Federal —, no Colégio
Eleitoral, reunido em 15 de janeiro de 1985, Luís Viana Filho votou no
candidato do regime militar Paulo Maluf, que acabou sendo derrotado pelo
oposicionista Tancredo Neves, eleito novo presidente da República pela Aliança
Democrática, uma união do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB)
com a dissidência do PDS abrigada na Frente Liberal. Contudo, Tancredo Neves
não chegou a ser empossado na presidência, vindo a falecer em 21 de abril de
1985. Seu substituto no cargo foi o vice José Sarney, que já vinha exercendo
interinamente o cargo, desde 15 de março desse ano.
Ainda em 1985, Luís Viana Filho foi titular da Comissão de
Municípios e da Comissão de Relações Exteriores, na qual permaneceria até o ano
seguinte. Em agosto de 1985, passou a entrar em atritos com o ministro das
Comunicações, Antônio Carlos Magalhães e, em abril de 1986, decidiu se filiar
ao PMDB e apoiar candidatura vitoriosa ao governo baiano de Valdir Pires. Luís
Viana não quis entrar para o Partido da Frente Liberal (PFL) por considerar que
não poderia conviver em uma mesma agremiação com o seu maior rival na política
baiana, Antônio Carlos Magalhães.
Com
o início dos trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte (ANC) em fevereiro
de 1987, participou, naquele ano, da Subcomissão do Poder Legislativo da Comissão
da Organização dos Poderes e Sistema de Governo e, no ano seguinte, foi titular
da Comissão de Redação. Defensor do parlamentarismo, com um presidente mais
forte do que nos países europeus, e da maior distribuição de recursos para os
estados e municípios, na ANC, votou favoravelmente à proteção do emprego contra
a despedida sem justa causa, ao turno ininterrupto de seis horas, ao voto
facultativo aos 16 anos, ao limite de 12% ao ano para os juros reais e à
anistia aos micro e pequenos empresários. Manifestou-se ainda contrário à pena
de morte, à limitação do direito de propriedade privada, à desapropriação da
propriedade produtiva, ao mandato de cinco anos para o presidente José Sarney,
ao presidencialismo, à estatização do sistema financeiro, à jornada semanal de
40 horas e à nacionalização do subsolo. Não compareceu às votações relativas à
remuneração de 50% superior para o trabalho extra, à limitação dos encargos da
dívida externa, à criação de um fundo de apoio à reforma agrária, à soberania
popular, ao aviso prévio proporcional, à proibição do comércio de sangue, à
anistia aos micro e pequenos empresários e ao mandato de segurança coletivo.
Entre 1987 e 1988, voltou ainda a ocupar a presidência da Comissão de Relações
Exteriores, no Senado. Após a promulgação da nova Carta Constitucional (5 de
outubro de 1988), voltou a participar dos trabalhos legislativos ordinários no
Senado.
Faleceu em São Paulo no dia 5 de junho de 1990, em pleno
exercício do mandado, vítima de um enfarte. Sua vaga no Senado foi ocupada por
seu filho, Luís Viana Neto, que permaneceu nesta casa legislativa até janeiro
do ano seguinte, quando findou a legislatura.
Era casado com Julieta Pontes Viana, com quem teve, além do
filho mencionado, mais cinco filhos.
Além
da obra citada, publicou: O direito dos empregados no comércio (1932, em
colaboração com Aliomar Baleeiro), A língua do Brasil (1936), A
Sabinada (1938), O direito do estrangeiro no Brasil (1938), A
vida de Rui Barbosa (1941), A verdade na biografia (1945), O
negro na Bahia (1946), Rui e Nabuco (1949), A vida de Joaquim
Nabuco (1952), Rui Barbosa — antologia (seleção, prefácio e notas)
(1953), Miguel Osório (1956), A vida do barão do Rio Branco
(1958), À margem de Os Sertões (1960), Afrânio Peixoto (romance,
1963), A vida de Machado de Assis (1964), Sucessão de Adelmar Tavares
(1972), O último ano de Rui na Bahia (1972), Elogio de Antônio da
Silva Melo (1974), Rui Barbosa: seis conferências (1975), Ação da
palavra (1977), Evocação de Rui Barbosa (1978), A vida de José de
Alencar (1979), Contribuição do padre Antônio Vieira para os
direitos do homem (1979), A nova fase da República (1979), Três
estadistas: Rui, Nabuco, Rio Branco (1981), A vida de Eça de Queirós
(1983), Petroquímica e industrialização da Bahia (1984).
Amélia
Coutinho/Juliana Sousa
FONTES: ACAD. BRAS.
LETRAS. Anuário; ARQ. NAC. Relação; ASSEMB. NAC. CONST. Repertório
(1987-1988); Boletim Min. Trab. (5/36); CÂM. DEP. Deputados brasileiros.
Repertório (1946-1967); CÂM. DEP. Relação dos dep.; CISNEIROS, A. Parlamentares;
COELHO, J. & OLIVEIRA, A. Nova; CONG. BRAS. ESCRITORES. I; CORTÉS,
C. Homens; COUTINHO, A. Brasil; Diário do Congresso Nacional;
Encic. Mirador; Estado de S. Paulo (6/4/80, 25/2 e 5/3/81); Folha
de S. Paulo (7/5/76); Globo (16/9/76, 17/9/81, 26/4/84); Grande
encic. Delta; Jornal da Bahia (18/3/77); Jornal do Brasil
(18/3 e 14/5/77, 2/2, 2/3, 2/8 e 25/9/79, 6/1, 26/2, 30/8 e 13/9/80, 3/5/81 e
9/11/82); MENESES, R. Dic.; Popular, GO (14/5/77); Perfil
(1980); SENADO. Dados. BA (1826-1996); SENADO. Senadores
(1975-1979); SILVA, G. Constituinte; VIANA FILHO, L. Governo.