ASSEMBLÉIA
NACIONAL CONSTITUINTE DE 1987-88
No dia 1º de fevereiro de 1987, os membros da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal reuniram-se, unicameralmente, em Assembléia Nacional Constituinte (ANC). Composta por 559 constituintes, a ANC foi convocada
em meio ao processo de transição democrática do país, sendo parte de um
compromisso assumido pelas forças políticas que chegaram ao poder em 1985. Em 5
de outubro de 1988, após intensos debates, conflitos, impasses e negociações,
foi promulgada, em sessão solene, a sétima Constituição do Brasil.
Antecedentes
Em
julho de 1971, na cidade de Recife, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB)
realizou o II Seminário de Estudos e Debates da Realidade Brasileira. Nesse
encontro, organizado pela bancada pernambucana, aconteceu a primeira
manifestação pública em favor de uma Constituinte. A repressão às antigas
elites políticas propiciara, já na eleição para o Congresso de 1970, o
surgimento de novas lideranças partidárias, e a acomodação, na direção
emedebista, de líderes moderados. O grupo de jovens parlamentares entre os
quais se destacavam Jarbas Vasconcelos (PE), Francisco Pinto (BA), Fernando
Lira (PE) e Alencar Furtado (PR) pressionava a direção do partido por uma ação
mais contundente de oposição ao regime. Em perspectiva oposta, os moderados,
liderados pelo deputado Tancredo Neves (MG), temendo que uma atitude agressiva
fechasse ainda mais os canais de comunicação com o governo do general Emílio
Garrastazu Médici, defendiam ações cautelosas.
Na
abertura do encontro de Recife, o grupo organizador, que mais tarde formaria a
corrente dos “autênticos”, propôs às lideranças partidárias um documento com
forte conteúdo nacionalista no qual pedia, entre outras medidas, a convocação
para 1974 de uma Assembléia Nacional Constituinte. Liderados por Tancredo
Neves, com o apoio dos ex-pessedistas Amaral Peixoto (RJ) e Nélson Carneiro
(GB), os moderados pressionaram os deputados Ulisses Guimarães (SP) e Pedroso
Horta (SP), recém-alçados, respectivamente, à presidência e à liderança do
partido na Câmara dos Deputados, a não aceitar os termos do documento. Após
intensa disputa, os líderes emedebistas redigiram um texto conciliador, de teor
nacionalista, mas que moderava os termos da questão constituinte. A “Carta de
Recife” pedia a elaboração de uma nova Constituição assim que cessassem os
instrumentos de força vigentes.
A
situação do país mudara, quando a questão da Constituinte voltou ao debate
político, anos depois. Em 1974, o general Ernesto Geisel assumiu o governo,
iniciando um processo de distensão política. Em novembro do mesmo ano, o MDB
obteve expressiva votação nas eleições legislativas, ameaçando, já no
nascedouro, o que se concebia como “transição lenta, gradual e segura”. A
reação governista começou pela mudança das regras do pleito municipal de 1976,
através da Lei nº 6.639 (Lei Falcão), a qual restringia a propaganda eleitoral
gratuita em rádio e TV. Em abril de 1977, a intervenção institucional foi estendida ao âmbito constitucional. Utilizando-se dos poderes conferidos pelo AI-5,
o presidente Geisel fechou o Congresso Nacional e baixou o “Pacote de Abril”.
Entre as medidas impostas destacavam-se a extensão da Lei Falcão para as
eleições de 1978; a criação dos “senadores biônicos” — a terça parte do Senado
seria eleita indiretamente; a alteração da composição do Colégio Eleitoral que
elegeria o sucessor de Geisel; a definição do mandato presidencial em seis
anos, e a redução, para maioria absoluta, do quórum para aprovação de emendas constitucionais.
A
reação ao “Pacote de Abril” rompeu as fronteiras às quais se limitara a questão
da Constituinte, mobilizando setores organizados da sociedade civil. A Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB), já em abril, defendeu publicamente a convocação
de uma Constituinte como única saída para restaurar as instituições
democráticas. No mês de julho, por ocasião da XXIX Reunião Anual da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a discussão sobre a Constituinte
mobilizaria as atenções.
No dia 8 de agosto, em São Paulo, foi lida pelo jurista Gofredo da Silva Teles Júnior, na Faculdade de Direito do largo de São Francisco, a
Carta aos brasileiros, documento elaborado por juristas do país, no qual se
pedia o retorno ao estado de direito e a convocação de uma Assembléia Nacional
Constituinte. Em seguida, o MDB, reunido em convenção extraordinária, adotaria
a idéia da convocação de uma Constituinte como uma de suas principais bandeiras
de luta. Em 1978, ao lançar sua candidatura à sucessão de Geisel, o general
Euler Bentes assumiu o compromisso de convocar uma Assembléia Nacional
Constituinte até dois anos após sua posse.
Envolto
em disputas intestinas e pressionado por ações descontroladas dos setores mais
duros do regime, o governo buscava manter sob controle a transição, alternando
medidas de força com atos de distensão. Entre os últimos, destaque-se a “Missão
Portela”, empreendida pelo senador Petrônio Portela (Arena-PI), da qual
resultaram medidas liberalizantes — fim do AI-5, restabelecimento do
habeas-corpus, término das cassações sumárias e do poder do Executivo de
decretar o recesso do Congresso. Em contrapartida, passavam a vigorar na
Constituição novos tipos de poderes excepcionais — medidas e estado de emergência.
Em
março de 1979, o general João Batista Figueiredo assumiu a presidência,
proclamando a intenção de “fazer deste país uma democracia”. Prosseguiram as
alterações institucionais. Em 28 de agosto, foi sancionada a Lei nº 6.683,
anistiando parte dos punidos por atos de exceção ao longo do regime militar.
Regulamentada em novembro, a Lei da Anistia não satisfez setores organizados da
sociedade civil que adotaram nova bandeira de luta: “anistia ampla, geral e
irrestrita”. No final do ano, o Congresso Nacional aprovou a Lei nº 6.767, que
extinguia a Aliança Renovadora Nacional (Arena) e o MDB, estabelecendo um prazo
para a reorganização de novas agremiações partidárias.
O fim do bipartidarismo colocou o debate sobre a Constituinte
em novos termos. Firmara-se o entendimento de que as sucessivas alterações
normativas haviam transformado a Constituição em vigor, e o próprio aparato
político-institucional, em uma colcha de retalhos. Nas maiores agremiações que
surgiam, três posições se consolidaram em torno da Constituinte. Do lado
governista, as lideranças do Partido Democrático Social (PDS), na tentativa de
esvaziar o movimento da oposição e de manter o controle sobre a transição,
acenavam com propostas de reforma constitucional. Em dezembro de 1979, Petrônio
Portela, então ministro da Justiça, aventou a possibilidade de ser elaborada
uma nova Carta, desde que sem uma Assembléia Nacional Constituinte. No início
do ano seguinte, o senador José Sarney (MA) sugeria a criação de uma comissão
interpartidária e de juristas para adaptar o texto constitucional às realidades
criadas pela abertura política.
Pela oposição moderada, nos limites de uma transição
negociada, Tancredo Neves, presidente do recém-constituído Partido Popular
(PP), entendia que a solução mais apropriada seria a atribuição de poderes
constituintes ao futuro Congresso Nacional a ser eleito em 1982. Em
contraposição, Ulisses Guimarães, presidente do Partido do Movimento
Democrático Brasileiro (PMDB), defendia enfaticamente a convocação de uma
Assembléia Nacional Constituinte, como expressão de uma ruptura com o regime
anterior. O PMDB incorporaria ao seu programa a proposta de convocação de uma
Constituinte exclusiva, encarregada de elaborar, livre e soberanamente, a
futura Carta constitucional.
Os
dois líderes voltariam a estar juntos no PMDB em 1982, quando este incorporou o
PP, em reação a mais um casuísmo do regime. Nesse ano, as primeiras eleições
diretas para os governos estaduais desde os anos 1960 ocorreriam
simultaneamente à escolha de prefeitos e vereadores, deputados estaduais e
federais e da terça parte dos senadores. Como o partido governista tinha a
melhor estrutura no âmbito municipal, os estrategistas do regime conceberam o
mecanismo da vinculação do voto, obrigando o eleitor a optar por candidatos de
um mesmo partido. Embora essa ingerência do governo autoritário reforçasse os
argumentos em defesa da ANC, a questão foi deixada em segundo plano, em favor
do imperativo de se conquistar os governos estaduais e municipais nas eleições
de novembro. A idéia da Constituinte voltaria com vigor à agenda política em
1984, após a derrota da “Emenda das Diretas” na Câmara dos Deputados.
Inicialmente,
pretendia-se, com a bandeira da Constituinte, manter a mobilização popular
decorrente da “Campanha das Diretas”. Com a cisão provocada no partido
governista pela candidatura de Paulo Maluf (SP), o tema foi incorporado ao
acordo entre o PMDB e os dissidentes do PDS, ou seja, a Frente Liberal. No dia
7 de agosto de 1984 foi lançado o manifesto Compromisso com a nação, base da
Aliança Democrática que sustentaria as candidaturas de Tancredo Neves e José
Sarney. Em um dos seus dispositivos, os signatários comprometiam-se a convocar
uma Assembléia Nacional Constituinte livre e soberana.
Agenda institucional da transição
Em 15 de janeiro de 1985, após a vitória no Colégio
Eleitoral, Tancredo Neves fez um discurso na Câmara dos Deputados convocando
todo o país ao debate constitucional, a fim de que se chegasse a um consenso em
relação à futura Carta. Ganhava forma a agenda institucional da transição, a
qual contemplaria três etapas.
À primeira etapa, que envolvia imediatas correções
institucionais, atribuiu-se a caracterização de “remoção do entulho
autoritário”. No dia 13 de março, uma comissão interpartidária instalou-se no
Congresso Nacional, com a tarefa de elaborar um pacote de reformas da
legislação eleitoral e partidária, tendo em vista a eleição para a
Constituinte. O trabalho da comissão resultou na Emenda Constitucional nº 25,
votada em 8 de maio e promulgada no dia 15, a qual, entre outras medidas, estendia o voto aos analfabetos, permitia a legalização dos partidos comunistas e
previa eleições para prefeitos de capitais e municípios considerados área de
segurança nacional.
O segundo passo previa a ampliação do debate constitucional
por toda a sociedade, de modo que fossem discutidos, nas palavras de Tancredo,
“os grandes problemas nacionais e os legítimos interesses de cada grupo
social”. Nos setores organizados da sociedade civil, a luta por uma
constituinte livre e soberana herdou a mobilização deflagrada pelo movimento
das “Diretas”. No final de janeiro, em Duque de Caxias (RJ), um conjunto de
entidades populares lançou o Movimento Nacional pela Constituinte. Na mesma época,
em São Paulo, estruturava-se um Plenário Popular. As experiências
disseminaram-se pelo país, culminando na organização, em setembro de 1985, do
Plenário Pró-Participação Popular na Constituinte, que participaria ativamente
dos trabalhos da Assembléia.
Pelo lado do governo, o presidente Tancredo Neves, acolhendo
sugestão do jurista Afonso Arinos de Melo Franco, havia decidido convocar uma
comissão de estudos constitucionais para, em nome do Executivo, elaborar um
anteprojeto que subsidiasse os trabalhos dos futuros constituintes. Com o
falecimento de Tancredo, o cumprimento da agenda da transição coube ao
presidente José Sarney. No dia 18 de julho de 1985, Sarney assinou o Decreto nº
91.450, instituindo a Comissão Provisória de Estudos Constitucionais (CPEC). A
CPEC, instaurada sob os cuidados do Ministério da Justiça, ficaria conhecida
como Comissão Arinos, em homenagem ao seu idealizador, que também presidiria os
trabalhos. Instalada formalmente no dia 3 de setembro de 1985, a CPEC concluiria seu anteprojeto um ano depois, em 7 de setembro, ocorrendo a entrega solene
de seu trabalho no dia 24 de setembro de 1986. Na sessão de instalação, o
presidente Sarney realçara que a função da CPEC seria ouvir os diversos setores
da sociedade, estimulando o debate, e não elaborar um anteprojeto em nome do
governo. No entanto, como aspectos do anteprojeto desagradaram o palácio do
Planalto, notadamente o sistema de governo parlamentarista e a definição do mandato
presidencial em quatro anos, o texto final sequer foi enviado, como sugestão,
ao Congresso Nacional.
A
etapa final da agenda, desfecho institucional da transição, começaria pela
convocação da ANC. No dia 28 de junho de 1985, o presidente José Sarney enviou
uma mensagem ao Congresso Nacional propondo, por meio de emenda à Constituição,
a concessão de poderes constituintes ao Congresso Nacional a ser eleito em
novembro de 1986. A mensagem foi lida no dia 7 de agosto, sendo então
constituída uma comissão mista do Congresso para elaborar um parecer. O cargo
de relator foi entregue ao deputado Flávio Bierrenbach (PMDB-SP). Em meados de
outubro, Bierrenbach apresentaria um substitutivo com profundas alterações na
proposta original do governo, destacando-se a previsão de um plebiscito para
que os eleitores decidissem se a Constituinte deveria ser exclusiva ou
congressual. Tendo desagradado às lideranças da Aliança Democrática, a proposta
de Bierrenbach foi preterida, dentro da comissão, pelo substitutivo apresentado
pelo deputado Valmor Giavarina (PMDB-PR), que encampava a sugestão inicial do
governo, de uma constituinte congressual. Votada no dia 22 de novembro, em
segundo turno na Câmara e no Senado, a Emenda Constitucional nº 26 foi
promulgada no dia 27.
Eleições de 1986: composição da Constituinte
As
eleições para a Constituinte foram realizadas em 15 de novembro de 1986,
concomitantemente à escolha dos governadores de estado e dos deputados
estaduais. Embora os trabalhos da comissão interpartidária tivessem
prosseguido, o tempo escasso impediu uma reformulação completa da legislação
partidária e eleitoral. Regularam o pleito de novembro normas herdadas do
autoritarismo, como a Lei Orgânica dos Partidos (Lei nº 5.682, 21/7/1971); leis
aprovadas nos meses anteriores, como as leis nº 7.493, de 17 junho, nº 7.508,
de 4 de julho, e nº 7.514, de 9 de julho; e resoluções do Tribunal Superior
Eleitoral.
A despeito da importância da eleição para a Constituinte,
dois fatores, um institucional — inerente ao sistema partidário e eleitoral — e
outro político — referente à conjuntura do país — influenciariam decisivamente
o resultado do pleito. Em termos institucionais, tratava-se de uma eleição
vinculada à competição pelos governos estaduais, envolvendo partidos políticos
recentes e, com raras exceções, pouco estruturados. Dois fenômenos surgiram: a
lógica das coalizões partidárias, permitidas pela legislação, foi governada
pela diversidade dos interesses das elites de cada unidade da Federação; e a
atenção dos eleitores, e da mídia em geral, foi direcionada para a escolha dos
governadores estaduais, então o cargo mais importante disputado eleitoralmente.
O fator conjuntural, cuja abrangência era nacional, decorreu das medidas para a
estabilização da economia adotadas pelo governo federal em fevereiro. O Plano Cruzado, idealizado por economistas ligados ao PMDB e que propiciou ao
presidente Sarney altos índices de popularidade, concentrou os interesses do eleitor,
reduzindo a agenda das discussões políticas ao problema da estabilização da
economia. As eleições proporcionaram uma estrondosa vitória ao PMDB, que
conquistou 22 dos 23 governos estaduais.
Instalação da Assembléia Nacional Constituinte
No
dia 1º de fevereiro de 1987, sob a presidência do ministro José Carlos Moreira
Alves, presidente do Supremo Tribunal Federal, instalou-se, em sessão solene, a
Assembléia Nacional Constituinte. A distribuição dos 559 constituintes pelos 13
partidos era a seguinte: PMDB — 303; Partido da Frente Liberal (PFL) — 135; PDS
— 38; Partido Democrático Trabalhista (PDT) — 26; Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB) — 18; Partido dos Trabalhadores (PT) — 16; Partido Liberal
(PL) — sete; Partido Democrata Cristão (PDC) — seis; Partido Comunista
Brasileiro (PCB) — três; Partido Comunista do Brasil (PCdoB) — três; Partido
Socialista Brasileiro (PSB) — dois; Partido Social Cristão (PSC) — um e Partido
Municipalista Brasileiro (PMB) — um. Ao longo do processo constituinte, essa composição
foi se alterando, alguns parlamentares se afastaram para assumir cargos nos
executivos estaduais e federal, e parte considerável mudou de legenda, com
destaque especial para a criação, em julho de 1988, do Partido da Social
Democracia Brasileira (PSDB), uma dissidência peemedebista.
A
primeira sessão ordinária, aberta no dia 2 e também presidida pelo ministro
Moreira Alves, foi palco da primeira disputa, tendo por objeto a participação
ou não dos senadores eleitos em 1982. Pelo voto, 394 a favor, 124 contra e 17 abstenções, os parlamentares decidiram que os senadores de 1982 fariam
parte do corpo de constituintes. Em seguida, procedeu-se à escolha do
presidente da Assembléia, sagrando-se vitoriosa a candidatura de Ulisses Guimarães
(PMDB-SP), com 425 votos, contra 69 atribuídos a Lisânias Maciel (PDT-RJ) e 28
votos em branco. Enquanto não foi votado o Regimento Interno, a Constituinte
foi regida por norma provisória — Resolução nº 1, de 5 de fevereiro — acertada
por um acordo entre os líderes.
Processo constituinte e Regimento Interno
A definição do processo de elaboração constitucional,
manifesta pelo Regimento Interno da Constituinte, envolveu duas grandes
questões. Em primeiro lugar, era necessário estabelecer como seriam organizados
os trabalhos constituintes — etapas, mecanismos e institutos para a tramitação
das propostas; distribuição de cargos e funções entre os parlamentares e
partidos; modalidades para a participação popular e de organizações civis;
instrumentos e procedimentos para votação. A segunda questão implicava definir
a soberania da Constituinte, vale dizer, saber se haveria limites para alterar
a legislação vigente, como seria o relacionamento com o Poder Executivo, como
compatibilizar seu funcionamento com o do Congresso Nacional.
No final de 1986, o deputado Ulisses Guimarães designou um
grupo de parlamentares para elaborar uma minuta de regimento, a ser negociada
com os demais líderes. Coube a Prisco Viana (PMDB-BA) a tarefa de redigir a
primeira proposta. O parlamentar baiano, tendo por base o regimento de 1946,
propôs a organização de uma grande comissão que, a partir de informações
oriundas de subcomissões temáticas, elaboraria um anteprojeto a ser submetido
ao plenário. A Constituinte teria que compatibilizar seus trabalhos com o
funcionamento do Congresso, ficando implícitos os limites impostos à sua
soberania, posto que a Constituição vigente não seria alterada.
Os
partidos de oposição e parte dos peemedebistas eleitos, notadamente aqueles em
primeiro mandato, reagiram contra a proposta, julgando-a centralizadora e
discriminatória. Acusado de pretender concentrar poderes, Ulisses Guimarães,
que então disputava a presidência da Câmara com o deputado Fernando Lira (PMDB-PE),
negociou o regimento com os demais partidos, preocupando-se especialmente em
atender à numerosa bancada de novos parlamentares. Instalada a Constituinte, a
tarefa de redigir uma nova minuta, que tivesse por base as conversas entre as
lideranças partidárias, foi entregue aos constituintes Fernando Henrique
Cardoso (PMDB-SP) — designado relator do projeto de resolução —, Nélson Jobim
(PMDB-RS) e Bonifácio de Andrada (PDS-MG).
Após conflitos e intensa negociação, foi promulgada, no dia
24 de março, a Resolução nº 2, que firmava o Regimento Interno da Constituinte.
Os trabalhos constituintes seriam organizados a partir de um inovador sistema
de comissões e subcomissões, as quais asseguravam a participação de todos os
parlamentares. A ANC teria prioridade sobre o Congresso Nacional, que foi
obrigado a restringir seu funcionamento e a adequar seus regimentos. A
participação popular direta seria assegurada através de dois dispositivos: a
concessão de audiência pública, e a iniciativa popular, que permitia a
apresentação de emendas ao projeto de Constituição, desde que houvesse o apoio
de 30 mil eleitores e o respaldo de três entidades. Ademais, ampliava-se a base
de informações dos constituintes: organizações civis, câmaras de vereadores,
assembléias legislativas e tribunais poderiam enviar-lhes sugestões.
Um polêmico instituto — projeto de decisão — motivou a maior
disputa em torno da soberania da Constituinte. Concebido inicialmente como um
instrumento de afirmação da soberania, uma vez que possibilitaria alterar
aspectos autoritários da Constituição vigente — Lei de Segurança Nacional,
medidas de emergência etc. —, o projeto de decisão proporcionou um impasse na
sessão de votação do então projeto de Resolução nº 2. O Executivo, temendo que
o dispositivo permitisse interferências sobre ações de governo, aliou-se, pela
primeira vez, com o centro e a direita da Assembléia para barrar sua aprovação.
No final de fevereiro, em uma conturbada sessão de votação, obstruída pela ação
de governistas, surgiu o primeiro grande impasse da Constituinte. Ante a
demonstração de força do governo e por temer uma crise institucional, a
liderança do PMDB teve de negociar, inserindo a ressalva de que a aplicação dos
projetos de decisão apenas ocorreria caso os trabalhos da Constituinte
estivessem sob ameaça.
O sistema de comissões funcionou do seguinte modo. O corpo
constituinte, excluídos os membros da mesa, foi dividido em oito comissões
temáticas e uma Comissão de Sistematização, respeitando-se no interior de cada
comitê a proporcionalidade partidária. À exceção da Sistematização, onde a
indicação dos integrantes foi feita pelos líderes, cada constituinte tinha
direito a uma vaga de titular e a outra de suplente. Uma vez instaladas, cada
comissão dividiu-se em três subcomissões, iniciando-se nesse nível
descentralizado o debate da matéria constitucional. Cada subcomissão, após
elaborar seu anteprojeto, juntou-se às outras duas convizinhas na comissão
temática ascendente, para a feitura de novo anteprojeto. Os textos das oito comissões
foram enviados à Comissão de Sistematização, a fim de que fossem
compatibilizados em um único projeto constitucional. Esse projeto seria então
enviado ao plenário da Constituinte, para votação em dois turnos.
As comissões temáticas, e respectivas subcomissões, foram as
seguintes: I) Comissão da Soberania e dos Direitos e Garantias do Homem e da
Mulher; I-A) Subcomissão da Nacionalidade, da Soberania e das Relações
Internacionais; I-B) Subcomissão dos Direitos Políticos, dos Direitos Coletivos
e Garantias; I-C) Subcomissão dos Direitos e Garantias Individuais; II)
Comissão da Organização do Estado; II-A) Subcomissão da União, Distrito Federal
e Territórios; II-B) Subcomissão dos Estados, II-C) Subcomissão dos Municípios
e Regiões; III) Comissão da Organização dos Poderes e Sistema de Governo;
III-A) Subcomissão do Poder Legislativo; III-B) Subcomissão do Poder Executivo;
III-C) Subcomissão do Poder Judiciário e do Ministério Público; IV) Comissão da
Organização Eleitoral, Partidária e Garantia das Instituições; IV-A)
Subcomissão do Sistema Eleitoral e Partidos Políticos; IV-B) Subcomissão de
Defesa do Estado, da Sociedade e de sua Segurança; IV-C) Subcomissão de
Garantia da Constituição, Reformas e Emendas; V) Comissão do Sistema
Tributário, Orçamento e Finanças; V-A) Subcomissão de Tributos, Participação e
Distribuição das Receitas; V-B) Subcomissão de Orçamento e Fiscalização
Financeira; V-C) Subcomissão do Sistema Financeiro; VI) Comissão da Ordem
Econômica; VI-A) Subcomissão de Princípios Gerais, Intervenção do Estado,
Regime da Propriedade do Subsolo e da Atividade Econômica; VI-B) Subcomissão da
Questão Urbana e Transporte; VI-C) Subcomissão da Política Agrícola e Fundiária
e da Reforma Agrária; VII) Comissão da Or-dem Social; VII-A) Subcomissão dos Direi-tos
dos Trabalhadores e Servidores Públicos; VII-B) Subcomissão de Saúde,
Seguridade e do Meio Ambiente; VII-C) Subcomissão dos Negros, Populações
Indígenas, Pessoas Deficientes e Minorias; VIII) Comissão da Família, da
Educação, Cultura e Esportes; VIII-A) Subcomissão da Educação, Cultura e
Esportes; VIII-B) Subcomissão da Ciência e Tecnologia e da Comunicação; VIII-C)
Subcomissão da Família, do Menor e do Idoso.
Lideranças partidárias e direção dos trabalhos
Terminada
a votação do Regimento e ao longo do mês de março, os nomes dos líderes
partidários foram sendo enviados à presidência da ANC. A escolha mais disputada
ocorreu no PMDB, onde o senador Mário Covas (SP) derrotou o líder na Câmara,
Luís Henrique (SC). Além do PMDB, apenas o PDC e o PMB indicaram, para o
comando da bancada, um senador. Na etapa inicial da Constituinte, os líderes
partidários eram Mário Covas (PMDB-SP), José Lourenço (PFL-BA), Amaral Neto
(PDS-RJ), Brandão Monteiro (PDT-RJ), Gastone Righi (PTB-SP), Luís Inácio Lula
da Silva (PT-SP), Mauro Borges (PDC-GO), Adolfo Oliveira (PL-RJ), Haroldo Lima
(PCdoB-BA), Roberto Freire (PCB-PE), Jamil Haddad (PSB-RJ), Antônio Farias
(PMB) e Messias Soares (PTR). O presidente Sarney, tencionando influir sobre a
bancada moderada peemedebista, escolheu o deputado Carlos Santana (PMDB-BA)
como líder do governo na Constituinte, uma figura não prevista pelo Regimento.
A
escolha da mesa da Constituinte motivou um conflito entre os dois maiores
partidos, PMDB e PFL. Vitorioso na disputa para a liderança do PMDB, Mário
Covas, pressionado por sua bancada, recusou-se a referendar um acordo feito
anteriormente entre ambos os partidos, que daria ao PFL a
primeira-vice-presidência e a segunda-secretaria. Ante a nova proposta
peemedebista — segunda-vice-presidência e segunda-secretaria —, o líder José
Lourenço abandonou as negociações, ficando o PFL excluído da mesa. A composição
desta ficou sendo: presidente, Ulisses Guimarães (PMDB-SP);
primeiro-vice-presidente, Mauro Benevides (PMDB-CE); segundo-vice-presidente,
Jorge Arbage (PDS-PA); primeiro-secretário, Marcelo Cordeiro (PMDB-BA);
segundo-secretário, Mário Maia (PDT-AC); terceiro-secretário, Arnaldo Farias de
Sá (PTB-SP); primeiro suplente de secretário, Benedita da Silva (PT-RJ); segundo
suplente de secretário, Luís Soyer (PMDB-GO); terceiro suplente de secretário,
Sotero Cunha (PDC-RJ).
O preenchimento das vagas e cargos das comissões e
subcomissões motivou outra disputa, dessa vez estendida ao interior dos
partidos. As comissões de Ordem Social e Ordem Econômica eram as preferidas
pelos parlamentares, que ainda almejavam os cargos dirigentes — presidente,
primeiro e segundo-vice-presidentes e relator. Como critério geral, utilizou-se
a proporcionalidade partidária para distribuir os constituintes pelas vagas e
pelos 96 cargos das subcomissões e 36 das comissões, incluída a Sistematização.
O PMDB, dado o tamanho da bancada, também teve que compatibilizar a
representatividade regional. Excluído da Mesa, o PFL procurou negociar com o PMDB
a distribuição desses cargos. Um acordo entre os líderes Mário Covas (PMDB) e
José Lourenço (PFL) foi firmado para a composição dos principais postos das
comissões. O PMDB ficaria com os oito relatores e o PFL com sete presidentes,
cabendo ao PDS o restante. Regimentalmente, o poder do relator era grande:
cabia a ele definir o anteprojeto a ser votado e elaborar substitutivos, a
partir das contribuições dos constituintes. Nas subcomissões, respeitou-se a
proporcionalidade partidária, com o PMDB indicando o maior número de relatores.
Cabia aos líderes, além de escolher os nomes que comporiam a chapa única de
cada subcomissão e comissão, assegurar que suas bancadas cumpririam os acordos.
Subcomissões e comissões
As
24 subcomissões funcionaram de 7 de abril a 25 de maio de 1987. Em conformidade
com as preferências dos parlamentares, a composição de cada uma variou entre o
mínimo de 14 integrantes — Questão Urbana e Transporte — e o máximo de 26 —
Direitos dos Trabalhadores e Servidores Públicos —, o que descompensou, em
parte, a proporcionalidade partidária. A definição dos nomes que comporiam cada
mesa diretora, desgastou o relacionamento entre o líder Mário Covas e
peemedebistas que se sentiram desprestigiados pelas indicações. Nessa etapa, a
participação dos constituintes e da população foi intensa, tendo sido
concedidas 182 audiências públicas, encaminhadas 11.989 propostas e
apresentadas 6.417 emendas aos anteprojetos. A sobrecarga de informações e de
temas, a inexperiência de parte dos parlamentares e normas regimentais novas e
imprecisas produziram algumas votações confusas. Por sua vez, o procedimento
descentralizado e o menor número de parlamentares em cada comitê favoreceram a
obtenção e a troca de informações, recompensaram os constituintes mais atuantes
e propiciaram a elaboração de anteprojetos extensos e detalhistas. As primeiras
grandes polêmicas e os contornos básicos da futura Constituição manifestaram-se
nessa fase.
As comissões temáticas, instaladas formalmente no dia 1º de
abril, com a eleição dos integrantes da mesa diretora, só começaram a trabalhar
efetivamente com matéria constitucional após o encerramento dos trabalhos das
subcomissões. A partir do dia 26 de maio, as oito comissões receberam os
anteprojetos. Com a união das subcomissões, o quórum deliberativo foi ampliado,
variando entre 59 componentes — Organização do Estado — e 65 — Ordem Econômica
e Ordem Social. Essa etapa representou o primeiro esforço para depuração dos
assuntos e compatibilização dos textos. Isso permitiu a especialização temática
de parlamentares e a formação de grupos informais unidos pela afinidade de
idéias. Na fase do plenário, a experiência adquirida nas comissões
mostrar-se-ia fundamental, tanto para esclarecer o teor das posições em
conflito, quanto para fornecer bases preliminares para os acordos.
Na etapa das comissões, também começou a ser selado o fim da
Aliança Democrática, ocorrendo a aproximação do governo com os setores de
centro e direita. Uma das principais motivações foi a escolha feita pelo líder
Mário Covas dos relatores peemedebistas, em sua maioria de centro-esquerda,
fato que desagradou o palácio do Planalto e os setores à direita da
Constituinte.
A
diferente composição de cada comissão, a concentração de constituintes
interessados em questões específicas, reforçada pela ação de grupos de pressão
e interesses organizados, fizeram com que os anteprojetos resultantes, quando
reunidos, compusessem um projeto descoordenado. Além de superposições e
desencontros da matéria constitucional — por exemplo, definição de despesas e
vinculações orçamentárias sem a contrapartida das receitas —, houve perfis
antagônicos — Comissão de Ordem Social, à esquerda, e Comissão de Ordem
Econômica, à direita. Como conseqüência, e dada a crescente fragmentação do
PMDB, começaram a ser articulados blocos suprapartidários. Alguns unidos por
afinidade ideológica ou temática, tendo em vista influir na organização do
texto; outros interessados em ocupar o espaço que surgia do afastamento entre a
elite peemedebista e o Poder Executivo.
Comissão de Sistematização
No dia 9 de abril, instalou-se a Comissão de Sistematização,
tendo por tarefa elaborar o projeto de Constituição que, enviado ao plenário,
serviria como base para discussão e votação em primeiro turno. Regimentalmente,
a Sistematização seria composta por 49 membros titulares, aos quais se somariam
os 24 relatores das subcomissões, oito relatores e oito presidentes das
comissões, totalizando 89 parlamentares. Para adequar a proporcionalidade da
representação partidária ao imperativo de se conceder pelo menos uma vaga a
todos os partidos, o quórum do comitê foi ampliado para 93 integrantes.
A disputa pela função de relatar o projeto adiou o início dos
trabalhos. Em eleição interna à bancada do PMDB, o deputado amazonense Bernardo
Cabral conquistou o cargo, ao derrotar o senador Fernando Henrique Cardoso e o
deputado mineiro Pimenta da Veiga. A presidência, que pelo acordo partidário
cabia ao PFL, foi atribuída ao senador Afonso Arinos (PFL-RJ). Inicialmente,
completavam a Mesa os constituintes Aluísio Campos (PMDB-PB) e Brandão Monteiro
(PDT-RJ), respectivamente, primeiro e segundo vice-presidentes. Posteriormente,
dado o ritmo intenso de trabalho, os senadores Jarbas Passarinho (PDS-PA) e
Fernando Henrique Cardoso foram indicados como terceiro e quarto
vice-presidentes.
A
Comissão de Sistematização tinha, essencialmente, três funções. A primeira era
coordenar os anteprojetos oriundos das comissões temáticas, compatibilizando-os
em um texto preliminar para discussão. A segunda, que começava pelo recebimento
e organização das propostas enviadas, implicava a elaboração de um anteprojeto
substitutivo. Essa fase incluía o recebimento das emendas populares e a
concessão de audiência pública para que os representantes das propostas as
defendessem perante a Constituinte. Finalmente, atribuía-se aos componentes da
Sistematização, por delegação dos demais, a competência para debater as
propostas, definindo, pelo voto, o projeto de Constituição a ser enviado ao
plenário.
Em 17 de junho, foram enviados à Sistematização sete
anteprojetos elaborados pelas comissões temáticas — uma delas, a Comissão VIII,
não concluíra a sessão de votação. Coube ao relator, além da tarefa de reunir
os textos, elaborar, a partir de conversas com os relatores das etapas
anteriores, a matéria referente a essa comissão. O primeiro projeto da
Sistematização, apresentado no dia 26, continha 501 artigos, e apenas reunia
formalmente os anteprojetos. Incompatibilidades entre os textos e
inconsistências técnicas de algumas normas eram visíveis, fato que, acrescido
do caráter polêmico de alguns dos dispositivos, motivou críticas ácidas dentro
e fora da ANC. As lideranças partidárias decidiram que, das 5.624 emendas
feitas ao texto, o relator Bernardo Cabral levaria em conta apenas as 977
emendas consideradas como de adequação, ficando as demais — emendas de mérito —
para serem avaliadas em etapa subseqüente. No dia 14 de julho, o relator
apresentou o “Projeto Zero”, composto por 496 artigos, e marco inicial para a
apresentação e discussão de novas propostas.
O
volume de informações a serem sistematizadas e a urgência dos prazos
regimentais sobrecarregavam o relator, o que obrigou a organização de um comitê
auxiliar, que em seguida evoluiria para a criação do cargo de relatores
adjuntos. Os constituintes Adolfo de Oliveira (PL-RJ), Antônio Carlos Konder
Reis (PDS-SC), Fernando Henrique Cardoso, Nélson Jobim (PMDB-RS) e Wilson
Marins (PMDB-MS) compuseram um corpo de coordenação e redação. Paralelamente,
grupos suprapartidários foram sendo articulados com o objetivo de influir no
trabalho dos relatores. Dentre esses grupos, três começaram a se destacar: o
Grupo dos 32, liderado pelo senador José Richa (PMDB-PR) e que chegou a
elaborar anteprojetos informais; o Grupo do Consenso, que reunia parlamentares
de centro e centro-esquerda; e um grupo conservador que, agregando a parcela
conservadora da ANC, ganhava força estimulado pelo governo Sarney. Igualmente
importante para o esforço de coordenação foi o papel assumido pelos líderes partidários
na negociação das matérias e na organização da agenda de trabalho. Ressalte-se
que, nesse processo, as decisões mais importantes foram sendo centralizadas nas
mãos de uma elite parlamentar.
Ao
“Projeto Zero” foram apresentadas 20.791 emendas, das quais 5.237 oriundas de
etapas anteriores e 122 emendas populares. Destas, 83, tendo preenchido as
exigências regimentais, seriam defendidas na Sistematização, entre os dias 26
de agosto e 4 de setembro, por representantes das entidades que as patrocinaram.
As atenções, porém, estavam voltadas para o “Substitutivo I”, o novo texto
elaborado pelo relator Bernardo Cabral. Decorrente de negociações entre a
equipe do relator, grupos de constituintes e lideranças partidárias, o
substitutivo suscitou polêmicas dentro e fora da ANC.
Sobrecarregada
de trabalho — outras 14.320 emendas seriam apresentadas ao Substitutivo I,
perfazendo um total de 35.111 —, a ANC enfrentava pressões diversas à medida
que crescia a expectativa com relação à votação. A concentração das decisões na
Sistematização, entre líderes e relatores, era criticada pelos constituintes
excluídos do processo, descontentes com a falta de informação sobre a seleção
dos dispositivos. Externamente, o governo Sarney, pressionado por conflitos
políticos internos e acuado pela crise econômica e social, culpava a lentidão
dos trabalhos e as propostas apresentadas pelo acirramento do clima de
insegurança. Para complicar, foi incluído na última hora um dispositivo que
condicionava a intervenção das forças armadas à defesa da “ordem
constitucional”, e por iniciativa de um dos poderes. Contrariados com a
exclusão da referência à defesa “da lei e da ordem”, presente nas etapas
anteriores, setores militares protestaram publicamente.
Em ambiente tenso, em meio às articulações das forças
políticas, Bernardo Cabral concluiu seu parecer sobre as emendas apresentadas
optando pela elaboração de um novo anteprojeto, “Substitutivo II”. Fruto de uma
nova rodada de negociações, na qual a reforma agrária e o sistema de governo eram
as questões mais disputadas, o Substitutivo II foi objeto de novas críticas,
principalmente por incluir o sistema parlamentar de governo com um mandato de
seis anos para o presidente Sarney. Após a distribuição do texto, foi aberto
prazo para apresentação de requerimentos de destaque para votação, sendo
admitidos tanto aqueles que se referissem às emendas apresentadas ao “Projeto
Zero” e ao “Substitutivo I”, quanto os relativos aos novos dispositivos do
“Substitutivo II”.
Em
24 de setembro, começou a votação do projeto da Comissão de Sistematização, de
modo confuso e em ritmo lento, dados o grande número de destaques para
votação — 8.377 —, o pouco tempo para debater o “Substitutivo II” e o sistema
de votação nominal. Para complicar, dúvidas procedimentais suscitavam
sucessivas questões de ordem que obstruíram o andamento da votação,
confundindo-se com a discussão da matéria constitucional. O painel eletrônico
só foi utilizado a partir da 164ª votação, dia 17 de outubro, quando ainda se
deliberava sobre o título II do substitutivo. Como os prazos regimentais
estavam vencendo e restavam mais de cinco mil destaques para ser votados, os
líderes partidários, entre outras medidas procedimentais, concordaram em
limitar os destaques a 10% do total — 504. Esse número foi dividido
proporcionalmente ao peso de cada partido, compensando-se as menores
agremiações com o mínimo de sete destaques por constituinte. O prazo para a
conclusão dos trabalhos foi prorrogado pela mesa da ANC do dia 29 de outubro
para o dia 30 de novembro.
Enquanto avançavam as votações da Sistematização,
externamente articulava-se um movimento para a alteração das normas
regimentais. Latente desde o início da ANC, ganhava forma uma coalizão de
centro e direita, unindo a parcela conservadora do PMDB — Centro Democrático —
PFL, PDS, PTB, PL e PDC. Incentivaram a organização do bloco suprapartidário
elites empresariais, insatisfeitas com a aprovação de direitos sociais e de
dispositivos nacionalistas e estatizantes, e o governo federal, com o objetivo
de derrubar algumas definições como o sistema parlamentar de governo e o
mandato presidencial de quatro anos. Setores militares também articulavam,
preocupados com o que consideravam ser uma tendência esquerdista da
Sistematização. No dia 4 de novembro, o grupo que se intitulou Centrão
conseguiu arregimentar o número mínimo de assinaturas necessárias — 280 — para
apresentar projeto de resolução que alterava o Regimento Interno da ANC.
Ante
a ampliação do apoio ao Centrão e sob a pressão dos prazos, a Sistematização
acelerou o ritmo de trabalho. No dia 18 de novembro, após a apreciação de 2.612
destaques, aconteceu a última votação (535ª), sendo definido o texto final. O
Projeto de Constituição A, com cerca de 1.800 dispositivos, possuía 335
artigos, dos quais 271 nas disposições permanentes, e 63 em disposições
transitórias.
Centrão e alteração regimental
Pela Resolução nº 2, uma vez colocado na ordem do dia, o
projeto da Sistematização seria discutido pelo plenário da ANC, havendo um
prazo para a apresentação de emendas. Tais emendas, que poderiam ser
supressivas, substitutivas, aditivas ou modificativas, seriam analisadas pelo
relator, que emitiria um parecer ou elaboraria um projeto substitutivo. As
emendas não acolhidas poderiam ser objeto de pedidos de destaque para votação,
devendo obter a maioria absoluta dos votos — 280 — para serem incorporadas ao
texto. O Regimento Interno, porém, vedava a apresentação de emendas que
substituíssem integralmente o projeto, a partir do suposto de que um
substitutivo de plenário, mesmo que apoiado pela maioria absoluta, não poderia
se sobrepor ao trabalho já realizado.
Na prática, o sistema de comissões não funcionou como
concebido. O relator e os membros da Sistematização tinham poder — e o
exerceram — para alterar o trabalho feito nas etapas precedentes. Bernardo
Cabral e o grupo que o auxiliava foram alvos de intensas pressões quando
elaboravam os substitutivos. A Sistematização converteu-se, antes, em um
reduzido comitê político de deliberação do que em órgão de adequação e redação.
Para complicar, o perfil da Sistematização — deslocado para a esquerda — não
correspondia à composição ideológica do plenário. Três fatores decidiram a
alteração das normas regimentais.
Em primeiro lugar, uma questão procedimental. A
Sistematização, de órgão para o qual o plenário delegava poder para elaboração
de um projeto de Constituição, foi percebida como comitê que, adquirindo
autonomia decisória, implicava a abdicação de poder da maioria dos
constituintes. O segundo fator era ideológico. Algumas decisões da
Sistematização, notadamente quanto aos direitos sociais e à ordem econômica,
desagradaram o grupo conservador, majoritário entre os 559 constituintes. Em
terceiro lugar, o fator político conjuntural foi decisivo. Disputando poder com
a liderança peemedebista, a qual decidira o perfil da Sistematização, o governo
Sarney optou pelo confronto, ao ver aprovado pelo comitê o sistema parlamentar
de governo e o mandato presidencial de quatro anos.
A
participação do governo federal foi decisiva para a reviravolta regimental, ao
fortalecer as lideranças do emergente Centrão. Os recursos políticos
disponíveis — cargos, verbas, concessões de rádio e TV —, ora como fator de
aliciamento, ora como fonte de pressão, foram fundamentais para a conversão ao
grupo de parte do plenário. Para a ação sobre a bancada do PMDB, alguns
governadores do partido contribuíram decisivamente. Os líderes do Centrão
também souberam, com habilidade, capitalizar a insatisfação de constituintes
com as barreiras regimentais, minando a liderança peemedebista: era o plenário
contra a Sistematização. Publicamente argumentava-se que a maioria tinha que
prevalecer: o relator ou 47 constituintes — maioria absoluta da comissão — não poderiam
se sobrepor a 279 parlamentares — maioria absoluta do plenário, menos um. Nos
bastidores, contudo, disseminavam-se os acertos fisiológicos: votos ao governo;
recursos, cargos e favores para quem o apoiasse.
A
alteração do Regimento Interno ganhou forma após serem anexados três projetos
de resolução. No dia 10 de novembro, o projeto de resolução do Centrão,
apresentado pelo deputado Cardoso Alves (PMDB-SP) e contando com 319
assinaturas, foi entregue à mesa da ANC, iniciando-se a sua tramitação. A mesa
designou o primeiro vice-presidente da Assembléia, Mauro Benevides, para
elaborar um parecer sobre a proposta, o que resultou em um projeto de resolução
substitutivo. As negociações entre a mesa, o Centrão e as lideranças
partidárias foram difíceis, e entremeadas por conturbadas sessões de votação.
No início de 1988, o Centrão alcançou seu objetivo, com a aprovação do
substitutivo da mesa — Projeto de Resolução nº 21-A — que preservava a espinha
dorsal da proposta original do grupo.
A Resolução nº 3, publicada em 5 de janeiro de 1988, trazia
profundas alterações. A mais importante era a permissão para apresentação de
emendas coletivas. Tais emendas, que podiam compor um projeto abrangente, caso
fossem subscritas pela maioria absoluta dos constituintes, adquiriam
preferência automática de votação. Ou seja, por meio de assinaturas de
parlamentares, não necessariamente presentes no plenário, uma emenda coletiva
seria votada antes do “Projeto de Constituição A”. A vantagem procedimental era
inequívoca. Uma vez aprovado um capítulo, qualquer alteração subseqüente,
através da votação dos destaques, só seria possível pela maioria absoluta dos
votos. Com base nesse dispositivo, o Centrão elaborou emendas coletivas
substitutivas a todos os títulos do projeto, implementando, com apoio do
governo federal e de setores empresariais, um custoso esquema para o
recolhimento, em todo o país, das assinaturas necessárias.
Limites
eram impostos contra a ação individual. A Resolução nº 3 possibilitava a
apresentação de até quatro emendas individuais por constituinte, considerando
prejudicadas todas as apresentadas em etapas anteriores, à exceção das emendas
populares. Ademais, cada constituinte só poderia apresentar até seis
requerimentos de destaques, que poderiam incidir sobre emenda individual ou
popular, substitutivo ou dispositivo do projeto de Constituição. Também passou
a ser admitida a fusão de emendas, para votação em plenário, desde que a
proposição resultante não inovasse em relação às emendas originais. Esse importante
dispositivo teria função relevante, ao longo dos dois turnos de votação,
facilitando a negociação e os acertos entre partidos e líderes.
Outra alteração relevante foi a criação da figura do destaque
para votação em separado (DVS), a partir de um requerimento subscrito por, no
mínimo, 187 constituintes. Pelo dispositivo, a matéria destacada do
substitutivo ou do projeto somente seria incluída no texto constitucional se
aprovada pela maioria absoluta dos constituintes. Ao contrário dos destaques
para supressão de dispositivos, que, como os demais, impunha o ônus de obter
280 votos aos seus proponentes, o DVS transferia tal peso para os constituintes
que quisessem manter a parte destacada no texto, anteriormente aprovado. Esse
dispositivo acabou não sendo tão utilizado pelo Centrão, porque o grupo
conseguiu a preferência automática para os seus substitutivos.
Votação em primeiro turno
Entre
os dias 7 e 13 de janeiro, foi aberto prazo para a apresentação de emendas individuais
e coletivas ao projeto de Constituição. Ao final do período, tinham sido
oferecidas 2.045 emendas. O recesso parlamentar foi proveitoso para o Centrão,
que conseguiu não apenas elaborar nove emendas coletivas, como também obter o
número de assinaturas necessárias para que elas tivessem preferência automática
para votação. O relator Bernardo Cabral apresentou, no dia 20, seu parecer às
emendas. Divulgado o relatório, foi aberto prazo para os pedidos de destaques,
tendo sido enviados 2.277. Finalmente, em 27 de janeiro, iniciou-se o primeiro
turno de votação em plenário.
O
processo de votação seria feito, seguindo o ordenamento dos títulos do projeto,
na ordem crescente dos capítulos, seções, subseções e seus respectivos artigos.
Havendo emenda coletiva substitutiva, subscrita, no mínimo, pela maioria
absoluta dos constituintes, ela, por ter preferência automática, seria votada
em primeiro lugar, ressalvados os destaques. Se a emenda coletiva não obtivesse
280 votos, abria-se um prazo de 24 horas para nova votação. Caso esse
substitutivo fosse novamente rejeitado, entrava em votação o capítulo do
projeto da Sistematização. Ocorrendo também a rejeição deste, a sessão seria
suspensa por 48 horas, cabendo ao relator, ou à maioria absoluta dos
constituintes, apresentar um texto alternativo. Esse período, que por
caracterizar um impasse ficou conhecido como “buraco negro”, acabaria por ser
utilizado pelas lideranças partidárias, Centrão, mesa e relator, como forma de
pressão para a busca de alternativas consensuais. Eventuais discordâncias
ficavam para a deliberação dos destaques, cuja inclusão ou não na agenda de
votação acabou por ser gradativamente colocada sob controle dos líderes.
Na
primeira votação do primeiro turno, referente ao preâmbulo da Carta, surgiu o
impasse. A proposta do Centrão não conseguiu obter os 280 votos necessários,
havendo a necessidade de uma nova votação, 24 horas depois. Ciente da
dificuldade para obtenção da maioria absoluta, o Centrão negociou com a mesa um
acordo com outras lideranças partidárias. Através de uma fusão de emendas,
votada como substitutivo, foi aprovado o preâmbulo.
Ante a complexidade e a diversidade das matérias em votação,
e sob a pressão externa para a conclusão dos trabalhos, tornou-se imperativa a
coordenação da agenda constituinte, antes da abertura das sessões plenárias.
Consolidou-se o Colégio dos Líderes, um mecanismo de negociação e decisão que
congregava as principais lideranças partidárias e do Centrão, a mesa, o relator
e sua equipe, além de constituintes particularmente interessados na matéria —
capítulo — em deliberação. Esse colegiado selecionava os assuntos em discussão,
discernindo os pontos polêmicos dos não disputados, e definia o conteúdo e o
grau das discordâncias, buscando alternativas para evitar o impasse. A
experiência acumulada ao longo do processo e os vínculos estabelecidos entre
parlamentares na fase das comissões foram fundamentais. As negociações tanto
levavam a acordos com relação a dispositivos abrangentes, quanto definiam os
pontos a serem resolvidos pela votação de destaques. Entre as questões
conflitivas destacaram-se o sistema de governo, o mandato presidencial e a
reforma agrária, cujo resultado, favorável à União Democrática Ruralista (UDR),
só foi possível pela utilização do destaque para votação em separado (DVS).
O
primeiro turno de votação foi concluído no dia 30 de junho, tendo sido
realizadas 732 votações. Nesse período, aconteceram 119 sessões e inúmeras
reuniões externas para discussão e acertos, envolvendo um total de 2.277
destaques. O relator Bernardo Cabral apresentou, no dia 5 de julho, o Projeto
de Constituição B, contendo 1.812 dispositivos, distribuídos por 322 artigos,
os quais se inseriam em nove títulos e em um ato de disposições transitórias.
Segundo turno de votação
Entre
os dias 7 e 11 de julho, vigorou o prazo para discussão do Projeto de
Constituição B e para apresentação de emendas. Conforme determinação da
Resolução nº 3, só seriam admitidas emendas supressivas, emendas para sanar
omissões, erros ou contradições e emendas de redação, destinadas a corrigir
erros de linguagem. A cada constituinte era facultada a apresentação de quatro
emendas supressivas. Até o final do período, foram enviadas 1.844 emendas,
sendo aberto outro prazo de cinco dias para o relator Bernardo Cabral emitir
seu parecer. Esse parecer serviria como base para a formulação dos pedidos de
destaque para votação.
Regimentalmente, o processo de votação começaria pelo Projeto
B, que para ser aprovado demandaria o apoio da maioria absoluta dos
constituintes. Em seguida, entrariam em discussão, pela ordem dos artigos, os
destaques apresentados, os quais precisariam de 280 votos para alterar o texto
antes aprovado. Os destaques para votação em separado (DVS) não seriam
permitidos, o que tornava difícil a aprovação de mudanças no projeto sem que
houvesse acordo. Ademais, após o ritmo intenso de trabalho no primeiro turno,
as eleições municipais, previstas para novembro de 1988, contribuíam para
esvaziar o quórum.
A
votação em segundo turno começou em ambiente conturbado. Ante a previsível
dificuldade para a alteração do projeto, o governo federal e setores
empresariais pressionaram a ANC, pedindo mudanças nas regras de votação. Para
os empresários, a ampliação dos direitos sociais inviabilizaria a atividade
produtiva e a tendência nacionalista e estatizante da ordem econômica afastaria
investidores externos. O governo Sarney, além de fazer coro com tais críticas,
afirmava que o anteprojeto aumentaria as despesas públicas e desorganizaria o
sistema tributário, dificultando a superação da crise econômica por que passava
o país.
Às
vésperas da sessão de votação, os governistas ameaçaram “zerar” os trabalhos da
ANC, mobilizando 280 votos para rejeitar, globalmente, o Projeto B. Ao optar
pelo confronto, o governo articulava duas alternativas. Como primeira opção,
tencionava alterar as regras do segundo turno, tornando possível a apresentação
de novas emendas e de DVS. Caso essa alternativa falhasse, o governo pretendia
interferir sobre a agenda de votação, concentrando as questões de seu interesse
em dias determinados, o que possibilitaria mobilizar os votos necessários para
a rejeição dos dispositivos.
No dia 26, o presidente Sarney, em rede nacional de rádio e
TV, tornou públicas suas críticas ao Projeto B, alegando que este, se aprovado,
tornaria o país ingovernável. A reação ao governo foi imediata. No dia
seguinte, Ulisses Guimarães, tendo mobilizado as forças políticas da ANC,
conseguiu, por 403 votos contra 13 e 55 abstenções, a aprovação do Projeto B.
Na mesma sessão, Ulisses fez um discurso contundente em defesa da Constituinte,
o qual, à noite, foi exibido em rede nacional de rádio e televisão.
A ameaça de crise institucional contribuiu para a percepção
de que os trabalhos da ANC tinham que ser prontamente finalizados. Em meio à
conjuntura de crise econômica e social, aumentavam as pressões externas à Casa
por uma definição. O país não podia esperar. Ademais, em novembro aconteceriam
eleições municipais, cujas campanhas já envolviam os parlamentares. Ante esse
cenário, consolidou-se o papel centralizador da mesa da ANC e do Colégio dos
Líderes. Antes das sessões, os líderes reuniam-se para negociar a agenda de
votações e reduzir o número de destaques, encaminhando os acordos feitos ao
plenário. Durante as sessões, o presidente da ANC, Ulisses Guimarães, imprimia
um ritmo intenso de trabalho, convocando todos à votação. O segundo turno foi
concluído no dia 2 de setembro, após 38 sessões e 288 votações.
Redação e promulgação da Constituição de 1988
O relator Bernardo Cabral e os relatores adjuntos José Fogaça
(PMDB-RS), Konder Reis (PDS-SC) e Adolfo Oliveira (PL-RJ) receberam a matéria
aprovada em 2 de setembro. No dia 8, foi entregue à mesa da ANC o Projeto de
Constituição C, contendo 244 artigos no corpo permanente e 69 nas disposições
transitórias. O Projeto C, após publicado e distribuído entre os parlamentares,
foi enviado à Comissão de Redação. Encarregada de preparar a redação final,
corrigindo a linguagem e adequando o texto à técnica legislativa, a comissão
era presidida por Ulisses Guimarães, tendo Afonso Arinos e Jarbas Passarinho
como co-presidentes, e Bernardo Cabral como relator. Inicialmente, completavam
o comitê os seguintes representantes partidários: Nélson Jobim, Luís Viana
Filho (BA), Tito Costa (SP), pelo PMDB; Humberto Souto (MG) e Ricardo Fiúza
(PE), PFL; Fernando Henrique Cardoso, PSDB; Antônio Carlos Konder Reis, PDS;
Vivaldo Barbosa (RJ), PDT; Sólon Borges Reis (SP), PTB; Plínio Arruda Sampaio
(SP), PT; Adolfo Oliveira, PL; José Maria Eymael (SP), PDC; Haroldo Lima,
PCdoB; Roberto Freire, PCB; Ademir Andrade, PSB. O jurista José Afonso Silva e
o filólogo Celso Cunha participaram como assessores especiais. Após um protesto
contra a representação da esquerda, a composição da Comissão de Redação foi
ampliada, incorporando três peemedebistas — Albano Franco (SE), Luís Henrique e
Marcos Lima (MG) —, dois pefelistas — José Lins (CE) e Pais Landim (PI) — e um
pedessista — Bonifácio de Andrada.
A Comissão de Redação recebeu 833 emendas de redação, das
quais algumas propunham alterações na matéria aprovada. O trabalho da comissão
não se deteve à adequação e à correção do texto. Em disputadas votações
internas foram aprovados, dentre 733 destaques, alguns referentes a emendas
supressivas, aditivas e modificativas. Embora parte das emendas aprovadas fosse
objeto de acordo de lideranças, houve polêmica. A liderança do PFL, atendendo à
solicitação do governo, reivindicou que alterações feitas ao projeto fossem
votadas separadamente. A proposta foi rejeitada pelo presidente da ANC, Ulisses
Guimarães, que não permitiu a realização do que seria um terceiro turno. No dia
22 de setembro, o plenário da ANC, na 1.021ª votação, aprovou, por 474 votos
contra 15 — todos de constituintes do PT — e seis abstenções, o Projeto de
Constituição “D”.
Em
sessão solene, realizada no dia 5 de outubro de 1988, e com a participação das
maiores autoridades do país e de convidados do exterior, foi promulgada a
Constituição da República Federativa do Brasil. O texto final ficou composto
por 315 artigos, dos quais 245 distribuídos por oito títulos das disposições
permanentes e 70 nas disposições transitórias.
André
Magalhães Nogueira colaboração especial
FONTES: CÂM. DEP. Processo;
Correio Brasiliense (2 a 12/87, 2 a 9/88); Diário Assemb. Nac. Constituinte (1987-88); Estado de S. Paulo (2 a 12/87, 2 a 9/88); Folha de S. Paulo (2 a 12/87, 2 a 9/88); Globo (2 a 12/87, 2 a 9/88); Jornal da Constituinte (coleç. compl.); Jornal do Brasil
(2 a 12/87, 2 a 9/88).