CLASSE
OPERÁRIA, A
Jornal
carioca, inicialmente semanal, fundado em 1925 pelo Partido Comunista
Brasileiro, então Partido Comunista do Brasil (PCB). Circulou com interrupções
como seu órgão oficial até 1952, quando foi fechado pelo próprio PCB. A partir
de 1962, quando da fundação do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), voltou a
circular como órgão oficial do novo partido, atuando de forma clandestina até
os dias de hoje.
Criação
Em maio de 1925, o PCB realizou no Rio de Janeiro seu II
Congresso, durante o qual foi decidida a criação de um jornal destinado a
divulgar as principais causas comunistas no seio das classes trabalhadoras. No
entanto as condições impostas pelo estado de sítio, em vigor durante
praticamente todo o governo de Artur Bernardes (1922-1926), constituíram um
obstáculo ao projeto.
As dificuldades foram contornadas através da obtenção do
registro legal do novo jornal. Afonso Pena Júnior, ministro da Justiça, indicou
Alberto Lira e Carlos Sussekind de Mendonça, dois jornalistas de destaque, para
exercerem a censura do periódico, o que na prática jamais se concretizaria.
No mesmo mês de maio de 1925, surgiu assim A Classe
Operária, órgão oficial do PCB. O novo jornal não assumia formalmente essa
condição, preferindo qualificar-se como um “jornal de trabalhadores, feito por
trabalhadores, para trabalhadores”. Seus principais fundadores foram Astrogildo
Pereira e Otávio Brandão Rego, auxiliados por José Lago Molares e Laura Brandão.
Atuação
Por não possuir oficinas próprias, A Classe Operária
editou seu primeiro número com grande dificuldade. A partir do segundo
número, a direção do PCB entrou em acordo com O País, conseguindo que
seu jornal fosse composto e impresso nas oficinas daquele periódico. Com isso,
a aparência gráfica do semanário melhorou consideravelmente.
A
preocupação essencial do novo jornal eram as condições de vida e de trabalho do
operariado. Aberta à discussão dos problemas do dia-a-dia dos trabalhadores, A
Classe Operária propunha-se a divulgar suas reivindicações imediatas, dando
grande destaque à seção de cartas. Todas as cartas recebidas eram publicadas e
respondidas, mesmo as de conteúdo considerado reformista. O noticiário
evidenciava também o caráter popular do jornal, apresentando as informações de
forma didática, e relegando a segundo plano as análises e discussões teóricas.
Além dessa preocupação básica, o jornal promovia uma campanha
de defesa do governo comunista da URSS, apontando esse exemplo como o caminho a
ser seguido. Criticava ainda a conciliação das classes e chamava a atenção dos
trabalhadores para as contradições entre o trabalho e o capital.
Receptiva
às reivindicações das massas, A Classe Operária progrediu rapidamente,
aumentando sem cessar sua tiragem. No entanto, ao atingir o terceiro mês de
vida, o jornal foi suspenso pelo governo em virtude da má repercussão de uma
campanha movida contra Alberto Tomás, representante da Organização
Internacional do Trabalho (OIT). Segundo o semanário, Alberto Tomás assumia uma
posição reformista, procurando neutralizar a luta entre o capital e o trabalho
e advogando a conciliação das classes. Os ataques ao representante da OIT
incluíram a divulgação de sua comprometida biografia.
Novas
condições permitiram porém o ressurgimento de A Classe Operária em maio
de 1928. Em dezembro de 1927, o PCB organizou o Bloco Operário Camponês, frente
destinada a politizar as massas trabalhadoras e a obter seu apoio para os
candidatos comunistas às eleições para a intendência (ou prefeitura) do
Distrito Federal, a serem realizadas em outubro de 1928. Tornou-se, portanto,
importante dispor de um órgão de divulgação para atingir o operariado. O
relançamento de A Classe Operária veio preencher essa
necessidade.
Em sua segunda fase, o jornal manteve suas características
iniciais, de semanário popular interessado nas condições de vida e na
mobilização política dos trabalhadores.
Em
meados de 1929, em virtude da repressão desencadeada pelo governo de Washington
Luís, A Classe Operária foi novamente fechada, saindo de circulação
durante alguns meses.
A partir de 1930, o jornal voltou a circular, agora, porém,
de maneira ilegal e irregular. Sua redação funcionava num pequeno quarto em
Vila Isabel, onde os originais eram entregues ao tipógrafo Antônio Pereira da
Silva, que os compunha e imprimia clandestinamente. Depois de prontos, os
jornais eram conduzidos em caixotes, às vezes cobertos com laranjas, até os
pontos de distribuição.
A impressão clandestina, a descoberta das oficinas, a prisão
de seus responsáveis, a suspensão do jornal e seu reaparecimento pouco depois
tornaram-se etapas rotineiras na vida de A Classe Operária. Nos momentos
de maior repressão, o jornal chegou a ser impresso em São Paulo e na Bahia. A
despeito das perseguições, porém, A Classe Operária foi editada até o
fim do Estado Novo, desempenhando um papel significativo no combate
contra o fascismo e na campanha pela anistia.
Com a abertura política e a legalização do PCB em maio de
1945, A Classe Operária voltou a circular legalmente e com
regularidade, como órgão oficial do partido.
Nessa nova fase, o jornal foi dirigido por Maurício Grabois.
Embora apresentasse modificações que refletiam as próprias transformações por
que havia passado o PCB, o semanário conservava sua preocupação inicial de se
manter aberto às massas. O noticiário continuava voltado para as questões
diárias dos trabalhadores e suas reivindicações imediatas. Era dado destaque
especial à seção esportiva e às reportagens factuais e descritivas, que atraíam
eleitores. As matérias de conteúdo teórico mantinham-se em segundo plano.
O
cancelamento do registro do PCB em maio de 1947 veio alterar novamente a
existência de A Classe Operária, que passou a enfrentar repetidas violências
por parte do governo Dutra, até ser fechada em maio de 1949. Nesse momento, o
PCB lançou o jornal Voz Operária.
Em 1951, A Classe Operária reapareceu como mensário,
ainda sob a direção de Maurício Grabois. Seu conteúdo político, entretanto,
transformou-se inteiramente. Sua principal preocupação passou a ser trabalhar
pelo fortalecimento orgânico e ideológico do PCB. Num artigo comemorativo do
26º aniversário do jornal, publicado em 1º de maio de 1951, seu papel nessa
nova fase foi definido como o de um “instrumento de educação do partido”.
Nessas circunstâncias, o noticiário amplo, de interesse
geral, que havia caracterizado o jornal anteriormente, foi abandonado. O mais
importante eram as matérias teóricas e analíticas sobre o marxismo-leninismo e
o movimento comunista mundial, visando ao aprimoramento ideológico e à
disciplina dos quadros do partido. A divulgação das notícias propriamente ditas
passou ao encargo de outros periódicos comunistas, como Voz Operária e a
Imprensa Popular.
Essa nova proposta de A Classe Operária não teve
contudo uma longa existência. Em 1952, o PCB fechou definitivamente o jornal.
Dez anos mais tarde, quando ocorreu a cisão do PCB que
resultou no desligamento de Pedro Pomar, João Amazonas, Diógenes Arruda Câmara
e Maurício Grabois, entre outros, e na conseqüente fundação do PCdoB, A
Classe Operária foi relançada como órgão oficial desse partido, voltando a
circular legalmente como semanário e sendo vendido nas bancas. Com a
deflagração do movimento político-militar de março de 1964, contudo, mais uma
vez passou a circular na clandestinidade, mimeografada e com uma edição mensal.
Com o processo de abertura política implantado no país, o
PCdoB lançou em 1980 o jornal das massas A Tribuna da Luta Operária, vendido
legalmente nas bancas. Contudo, A Classe Operária continuou circulando
como órgão oficial do comitê central do partido, na semilegalidade. Embora não
tendo seu título registrado, o jornal tem sido distribuído abertamente em
algumas ocasiões especiais, como os congressos da Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência (SBPC).
Marieta
de Morais Ferreira
FONTES: Classe
Operária (1948-9 e 1951-2); Em Tempo (18-24/10/79); ENTREV. BRANDÃO,
O.; PEREIRA, A. Formação; Voz Operária (1949-59).