CLUBE
24 DE FEVEREIRO
Associação
fundada em 16 de fevereiro de 1932 no Rio de Janeiro, na sede do Clube de
Engenharia, com a finalidade de “incrementar a campanha cívica em prol da volta
do país ao regime constitucional”. Sua denominação foi uma homenagem ao dia da
promulgação da primeira Constituição republicana, em 1891.
O Clube 24 de Fevereiro foi criado num período de grande
agitação política, quando setores de oposição a Getúlio Vargas intensificaram
suas pressões no sentido da reconstitucionalização do país. Em São Paulo, em
fevereiro de 1932, foi fundada a Frente Única Paulista (FUP), coligação
política formada pelo Partido Democrático, pela “ala moça” do Partido
Republicano Paulista e pela Liga de Defesa Paulista. No Rio Grande do Sul, a
Frente Única Gaúcha (FUG), fundada em 1928, também participou do movimento em
favor da reconstitucionalização.
A
primeira diretoria do Clube 24 de Fevereiro, escolhida no dia de sua fundação,
era constituída pelo general Lauro Sodré, ex-constituinte em 1891, que ocupou a
presidência; Paulo Lacerda e Nestor Massena, indicados respectivamente para a
vice-presidência e para a secretaria geral, e os tenentes Adacto Pereira de
Melo e Luís Albernaz (este último da Marinha), eleito primeiro e
segundo-secretários, respectivamente. Luís Ferreira Guimarães e A. B. Machado
Florence foram designados para as diretorias de serviços internos e de serviços
externos. Entre os membros do clube figuravam o tenente Agildo Barata e José
Eduardo de Macedo Soares, proprietário do Diário Carioca.
Durante a reunião de fundação, foram redigidos telegramas
para todos os líderes políticos que se haviam pronunciado a favor da convocação
de uma assembléia constituinte. Foi também programado um grande comício nas
escadarias do Teatro Municipal para o dia 24 de fevereiro, a exemplo da
manifestação pública que se realizaria na praça da Sé, em São Paulo, na mesma
data, promovida pela Liga Paulista Pró-Constituinte.
Temendo que ocorressem violências, o ministro da Marinha,
almirante Protógenes Guimarães, procurou Lauro Sodré, pedindo-lhe que
cancelasse o comício, pois fora informado de que membros do Clube 3 de Outubro,
organização tenentista contrária à volta ao regime constitucional, estavam pensando
em intervir na manifestação. A diretoria do clube atendeu à solicitação, e em
lugar do grande comício foram realizados comícios-relâmpago sob o comando de
Luís Guimarães, Machado Florence e outros. A maior parte desses comícios foi
dissolvida por agentes de polícia da 4ª Delegacia Auxiliar.
As medidas punitivas contra o clube se acentuaram no final de
fevereiro, quando o capitão Floriano Keller e o tenente Adacto Pereira de Melo
foram impedidos de se matricular na Escola de Estado-Maior. Esses dois oficiais
e o tenente Flodoaldo Maia, que também era integrante do clube, foram
transferidos do Rio, sendo deslocados para guarnições distantes.
De passagem por Santos, o capitão Keller — com destino a
Castro, no Paraná — e o tenente Maia — com destino a Cruz Alta, noRio Grande do
Sul — foram recepcionados por uma comissão da Liga Paulista Pró-Constituinte,
um dos grupos articulares da Revolução Constitucionalista de 1932. O tenente
Melo, transferido para Cuiabá, permaneceu alguns dias em São Paulo, entrando em
contato com membros do movimento constitucionalista. A seguir, foi incumbido de
fazer proselitismo nas guarnições de Mato Grosso e de imprimir maior eficiência
às ligações entre estas guarnições e São Paulo.
A repressão ao Clube 24 de Fevereiro foi uma das causas do
pedido de demissão, datado de 3 de março de 1932, do ministro do Trabalho
Lindolfo Collor. Em carta a Vargas, Collor criticou, entre outros pontos, o
ministro da Guerra, general José Fernandes Leite de Castro, por este ter
autorizado a transferência dos oficiais ligados ao clube.
O clube foi dissolvido pela polícia de Vargas no decorrer de
1932.
Vera
Calicchio
FONTES: BARATA, A. Vida;
Diário de Notícias, Rio (26/6 e 10/7/35); Manhã, Rio (12/7 e
15/9/35); NOGUEIRA FILHO, P. Ideais.