JUNTAS
MILITARES
Juntas governativas que, entre 1930 e os dias de hoje,
governaram o Brasil em quatro oportunidades: em outubro de 1930, quando a alta
hierarquia das forças armadas depôs o presidente Washington Luís, permanecendo
no poder até a chegada de Getúlio Vargas, líder da Revolução de 1930; ao Rio de
Janeiro em agosto de 1961, após a renúncia do presidente Jânio Quadros, quando
os ministros militares passaram a controlar de fato o poder, constituindo o
principal elemento de oposição à posse do vice-presidente João Goulart,
substituto constitucional de Quadros; em abril de 1964, quando, com a derrubada
do presidente Goulart, mais uma vez os ministros militares tomaram o poder, conservando-o
até a posse do general Humberto de Alencar Castelo Branco na presidência
da República, e, finalmente, em agosto de 1969, quando, por motivo de doença, o
general Artur da Costa e Silva foi afastado da presidência, sendo substituído
por seus ministros militares, que permaneceram na chefia do Executivo até a
posse do general Emílio Garrastazu Médici.
A Revolução de 1930 e a deposição de Washington Luís
Em
1º de março de 1930, foram realizadas as eleições presidenciais que indicariam
o sucessor de Washington Luís na chefia da nação. Mais uma vez, cumprindo a
tradição iniciada com a implantação da República em 1889, os candidatos
apoiados pelo governo — Júlio Prestes, para presidente, e Vital Soares, para
vice-presidente — saíram vitoriosos. No entanto, a Aliança Liberal — coligação
oposicionista dominada pelos líderes políticos de Minas Gerais, do Rio Grande
do Sul e da Paraíba — rejeitou frontalmente os resultados oficiais, denunciando
a ocorrência de fraude no pleito.
Inicialmente, parecia que a oposição limitaria seus reclamos
a denúncias verbais. Em 30 de maio de 1930, Getúlio Vargas, candidato derrotado
à presidência da República, lançou um manifesto no qual acusava a legislação
eleitoral vigente de propiciar e estimular toda série de “fraudes e corrupções”,
mas afirmava que os hábitos e costumes políticos do país poderiam ser
modificados “dentro da ordem e do regime”.
Entretanto,
dentro da Aliança Liberal havia um grupo que se mostrava disposto a organizar
uma conspiração destinada a tomar o poder pelas armas. Pouco depois de
encerrada a apuração, alguns políticos gaúchos, entre os quais Osvaldo Aranha e
Lindolfo Collor, entraram em contato com aliancistas descontentes em Minas
Gerais e na Paraíba. Além disso, desde o início da campanha eleitoral o setor
mais extremado da oposição vinha mantendo contato com oficiais que haviam
participado dos diversos levantes tenentistas contra o governo central
ocorridos na década de 1920.
O
assassinato de João Pessoa, presidente da Paraíba e candidato derrotado da
Aliança Liberal à vice-presidência, precipitou os acontecimentos. Em 26 de
julho, Pessoa foi ferido mortalmente pelo filho de um inimigo político ligado
ao governo de Washington Luís, o que trouxe para o campo da revolução numerosos
oposicionistas como o veterano líder gaúcho Antônio Augusto Borges de Medeiros
e o presidente de Minas Gerais, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada — que até
então mostravam-se vacilantes em relação à idéia da luta armada.
Os preparativos para a revolução se intensificaram, sendo fixado
o dia 3 de outubro para a eclosão do movimento. Os revolucionários, contudo,
estavam preocupados com a possibilidade de uma reação hostil da parte do
Exército. Assim, no final de setembro, Vargas enviou ao Rio dois emissários —
Collor e Sérgio de Oliveira — com o objetivo de procurar os generais Augusto
Tasso Fragoso, Alfredo Malan d’Angrogne e Francisco Andrade Neves, simpáticos à
Aliança Liberal, e de arrancar-lhes a promessa de que, caso a revolução
triunfasse e Washington Luís deixasse o poder antes da chegada de Vargas à
capital, eles impediriam que o governo caísse nas mãos de outros que não os
revolucionários.
Os
generais aceitaram a proposta de Vargas e às 17:30h do dia 3 de outubro de 1930
a revolução eclodiu no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais. Na madrugada do dia
seguinte, iniciou-se a luta na Paraíba. A situação militar evoluía rapidamente
em favor dos revolucionários. No Rio, apesar de o ministro da Guerra, Sezefredo
dos Passos, assegurar o apoio das forças armadas a Washington Luís, numerosos
oficiais de alta patente, alarmados com a perspectiva de uma guerra civil,
começaram a articular um movimento visando a pôr termo ao conflito. Sob a
liderança do general-de-divisão João de Deus Mena Barreto, inspetor do 1º Grupo
de Regiões Militares, e do coronel Bertoldo Klinger, esse grupo de militares
acreditava que a única forma de evitar um maior derramamento de sangue era
derrubar o presidente, que insistia em continuar a luta apesar da superioridade
dos rebeldes.
Preocupados
em preservar a hierarquia, os conspiradores decidiram que a chefia do movimento
deveria caber ao oficial mais graduado do Exército, general Tasso Fragoso, que
no entanto não aceitou o convite. Em seguida, abordaram o general Alexandre
Henrique Vieira Leal, o segundo na hierarquia, que também se recusou a chefiar
a conspiração. Diante da negativa de Leal, Mena Barreto por ser o oficial de
patente mais alta entre os que apoiavam o movimento — assumiu a chefia das
operações. No dia 21 de outubro, a Marinha se comprometeu a não defender o
presidente, fortalecendo assim a posição dos conspiradores.
Na
manhã do dia 23, Tasso Fragoso foi novamente procurado por Mena Barreto e desta
vez aceitou a solicitação de seu colega para depor Washington Luís. Tasso foi
encarregado de manter entendimentos com os outros generais lotados no Distrito
Federal e de dar a redação final a um documento que seria entregue ao
presidente da República, intimando-o a renunciar.
Acertados os preparativos finais do movimento, na manhã de 24
de outubro Mena Barreto, Tasso Fragoso e outros oficiais dirigiram-se ao
palácio Guanabara, residência oficial do presidente, com a finalidade de
conseguir sua renúncia. Diante da recusa de Washington Luís, foi constituída
uma junta militar também conhecida por Junta Governativa Provisória ou Junta
Pacificadora —, presidida por Tasso Fragoso e integrada ainda por Mena Barreto
e pelo contra-almirante José Isaías de Noronha, que ordenou o cerco do palácio.
Em seguida, emissários da junta entraram em contato com o cardeal dom Sebastião
Leme da Silveira Cintra, arcebispo-auxiliar do Rio de Janeiro, que, atuando
como mediador, acabou convencendo Washington Luís a deixar o palácio. O
presidente deposto foi então conduzido para o forte de Copacabana.
Ainda no dia 24, a junta militar organizou um governo
provisório cujo ministério era formado por Afrânio de Melo Franco (Relações
Exteriores), Gabriel Bernardes (Interior e Justiça), Agenor de Roure (Fazenda),
Paulo de Morais Barros (Agricultura, Indústria e Comércio), o general José Fernandes
Leite de Castro (Guerra) e Isaías de Noronha (Marinha, acumulando assim essa
pasta com a condição de membro da junta). No dia 26, devido ao afastamento de
Bernardes, Melo Franco passou a deter também a pasta do Interior e Justiça.
Para a chefia da polícia do Distrito Federal foi designado o coronel Bertoldo
Klinger. A presidência do Banco do Brasil coube a José Joaquim Monteiro de
Andrade e a direção dos Correios e Telégrafos a Conrado Müller de Campos. Para
a prefeitura do Distrito Federal, foi designado Adolfo Bergamini.
Além
dessas nomeações, a junta designou diversos civis e militares para cargos de
chefia de nível intermediário e exonerou os generais fiéis a Washington Luís
das funções que ocupavam.
Com
a situação na capital sob controle, a junta enviou imediatamente o primeiro de
uma série de telegramas a Getúlio Vargas, chefe supremo dos revolucionários,
informando-o da deposição de Washington Luís e propondo a suspensão total das
hostilidades. Desconfiando das reais intenções dos generais, o comando
revolucionário ordenou que suas tropas continuassem avançando em direção ao
Rio. Outros telegramas foram sucessivamente enviados pela junta, deixando clara
a intenção de entregar o poder a Vargas mas insistindo para que os
revolucionários depusessem as armas.
O impasse só foi efetivamente superado no dia 28 de outubro,
quando Tasso Fragoso recebeu Osvaldo Aranha e Lindolfo Collor, emissários de
Vargas, estabelecendo com eles as condições nas quais o poder seria transferido
para os revolucionários. No dia 31 de outubro, Vargas chegou ao Rio em meio a
uma apoteótica recepção popular e em 3 de novembro Tasso Fragoso, em nome da
junta militar, passou-lhe a chefia do governo.
Durante
os dez dias em que governou a capital federal, a junta tomou uma série de
medidas de ordem administrativa, como a abertura de uma linha de crédito para o
combate à febre amarela e a autorização do reinício das operações bancárias.
Por outro lado, tornou sem efeito a militarização da Rede Ferroviária Sul
Mineira, ordenada por Washington Luís, e dispensou os reservistas convocados
nos últimos dias de governo do presidente deposto.
Em
seis estados da Federação, o poder também foi assumido por juntas governativas,
que exerceram o governo por um curto espaço de tempo.
No Amazonas, a junta foi formada pelos civis José Alves de
Sousa Brasil e Francisco Pereira da Silva e pelo tenente-coronel Pedro
Henriques Cordeiro Júnior, e governou o estado de 24 de outubro a 1º de
novembro, quando transferiu o poder ao governador militar, o tenente Floriano
da Silva Machado.
No
Pará, foi constituída uma junta provisória de governo, integrada pelo tenente
Ismaelino de Castro e os irmãos Abel e Mário Chermont, líderes civis do
movimento rebelde no estado. Essa junta, que exerceu o poder somente de 24 a 26
de outubro, foi substituída pelo tenente Landri Sales, que também ficou no
governo apenas dois dias. No dia 28 seguinte foi criada uma nova junta
governativa, sendo mantidos na mesma Ismaelino de Castro e Mário Chermont, ao
lado do tenente Antônio Rogério Coimbra. Em 12 de novembro seguinte, a junta
foi dissolvida e o general Joaquim de Magalhães Barata foi empossado como
interventor militar.
No Maranhão, os tenentes José Ribamar Campos e Celso Reis de
Freitas e o civil José Maria Reis Perdigão integraram a junta governativa que
governou o estado de 8 de outubro a 14 de novembro de 1930, quando transferiu o
poder ao interventor federal, major José Luso Torres.
No
Rio Grande do Norte, a junta governativa foi formada pelo major Luís Tavares
Guerreiro, pelo capitão Abelardo Torres da Silva Castro e pelo tenente Júlio
Perousse Pontes, exercendo o poder de 6 a 12 de outubro de 1930. Em seguida,
Irineu Joffily passou a responder pelo governo estadual como interventor
federal.
No Espírito Santo, os civis Afonso Correia Lírio, João Manuel
de Carvalho e o capitão João Punaro Bley governaram o estado de 19 de outubro a
12 de novembro de 1930, quando o capitão Punaro Bley foi nomeado interventor
federal no Espírito Santo.
Em Santa Catarina, a junta governativa foi composta pelos
generais Acastro Campos e Otávio Valga Neves e pelo capitão-de-mar-e-guerra
Henrique Melquíades Cavalcanti. Governou o estado de 24 de outubro a 24 de
novembro de 1930, quando transferiu o governo catarinense ao interventor federal,
general Ptolomeu de Assis Brasil.
A renúncia de Jânio Quadros
Após a renúncia de Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961, a
presidência da República foi formalmente ocupada pelo presidente da Câmara dos
Deputados, Pascoal Ranieri Mazzilli, do Partido Social Democrático (PSD) de São
Paulo, o segundo na linha sucessória. O primeiro, o vice-presidente João
Goulart, encontrava-se em viagem oficial ao Extremo Oriente. Apesar de Mazzilli
ter-se tornado o presidente em exercício, na prática o poder ficou nas mãos de
uma junta formada pelos três ministros militares: Odílio Denis, da Guerra,
Sílvio Heck, da Marinha, e Gabriel Grün Moss, da Aeronáutica.
A posse de Goulart na presidência, conforme o previsto na
Constituição de 1946, não era vista com bons olhos por muitos setores
influentes do sistema de poder, a começar por parcela ponderável das forças
armadas representada exatamente pelos ministros militares. Herdeiro político de
Getúlio Vargas e presidente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Goulart
fora ministro do Trabalho no segundo governo Vargas (1951-1954), quando
desagradou militares e empresários por sua política de aproximação com os
sindicatos.
Como
solução conciliatória, o Congresso aprovou em 2 de setembro a reforma
constitucional que instituiu o parlamentarismo no Brasil. Desse modo, no dia 7
de setembro João Goulart foi empossado na presidência da República com seus
poderes limitados pelo sistema parlamentarista, que transferia grande parte das
atribuições do Poder Executivo para as mãos do conselho de ministros, chefiado
pelo primeiro-ministro. O parlamentarismo vigorou no Brasil até janeiro de
1963, quando, através de um plebiscito, o eleitorado brasileiro votou a favor
do retorno ao presidencialismo.
O movimento militar de 1964
A derrubada do presidente João Goulart em 31 de março de 1964
trouxe de volta à presidência o deputado Ranieri Mazzilli, que ainda presidia a
Câmara dos Deputados. E, mais uma vez, os militares passaram a exercer o poder
de fato, constituindo uma junta formada pelos ministros militares, general
Artur da Costa e Silva, da Guerra, almirante Augusto Rademaker Grünewald, da
Marinha, e o brigadeiro Francisco de Assis Correia de Melo, da Aeronáutica. No
dia 9 de abril, na condição de detentora do “comando supremo da Revolução”, a
junta militar baixou o Ato Institucional nº 1 (AI-1). Composto de 11 artigos, o
AI-1 cassou os mandatos de 41 deputados federais e suspendeu os direitos
políticos dos ex-presidentes João Goulart e Jânio Quadros, do secretário-geral
do proscrito Partido Comunista Brasileiro, Luís Carlos Prestes, do governador
de Pernambuco, Miguel Arrais, do ex-chefe da Casa Civil da Presidência da
República, Darci Ribeiro, e do economista Celso Furtado, além de magistrados,
oficiais das forças armadas e numerosos líderes sindicais.
No dia 11 de abril, conforme prescrevia o AI-1, o Congresso
Nacional elegeu o general Humberto de Alencar Castelo Branco presidente da
República. Um dos principais articuladores do movimento militar vitorioso,
Castelo Branco foi empossado no dia 15, institucionalizando o primeiro de uma
série de governos militares no país.
O impedimento de Costa e Silva
Em 26 de agosto de 1969, o presidente da República, marechal
Artur da Costa e Silva, apresentou os primeiros sintomas de trombose cerebral.
No dia 30, seu quadro já se mostrava extremamente agravado, impossibilitando-o
de continuar no exercício da presidência.
Na noite de 30 de agosto, o alto comando das forças armadas
reuniu-se no Rio de Janeiro para discutir o problema criado pela doença de
Costa e Silva. Participaram do encontro os três ministros militares — o general
Aurélio Lira Tavares, do Exército, o almirante Augusto Rademaker Grünewald, da
Marinha, e o brigadeiro Márcio de Sousa e Melo, da Aeronáutica —, o chefe do
Estado-Maior do Exército, general Antônio Carlos Murici, o chefe do
Estado-Maior da Armada, almirante Adalberto de Barros Nunes, o chefe do
Estado-Maior da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Alberto de Oliveira Sampaio, o
chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Orlando Geisel, e o chefe do
Gabinete Militar da Presidência da República, general Jaime Portela. Durante a
reunião foi decidida a formação de uma junta militar de caráter temporário
composta pelos três ministros militares, em substituição ao presidente enfermo.
Na
noite do dia 31 de agosto, através de uma cadeia nacional de rádio e televisão,
o país tomou conhecimento das modificações ocorridas na cúpula do poder. Pelo
Ato Institucional nº 12, as funções da presidência foram assumidas
interinamente pelos ministros militares, encarregados de dar continuidade à
administração pública. Após a leitura do AI-12, foi divulgada uma proclamação
que além de explicar as causas do afastamento de Costa e Silva declarava que,
em virtude da grave situação interna do país, a presidência da República não
poderia ser ocupada pelo vice-presidente Pedro Aleixo, conforme determinava a
Constituição de 1967.
Com efeito, a situação política que o Brasil atravessava em
1969 era de grande tensão. Dentro das forças armadas, corriam boatos de que os
setores que pregavam um endurecimento mais decisivo do regime estavam tramando
substituir Costa e Silva por um general mais jovem e mais enérgico. Por outro
lado, as relações entre o governo e a classe política eram bastante delicadas
desde o fechamento do Congresso em dezembro de 1968.
O seqüestro do embaixador dos Estados Unidos, Charles Burke
Elbrick, ocorrido em 4 de setembro de 1969 no Rio de Janeiro, convulsionou
ainda mais o quadro institucional. Os seqüestradores condicionaram a libertação
de Elbrick à libertação de 15 presos políticos e à divulgação de um comunicado
pela imprensa contendo pesadas críticas ao governo. Pressionado pelos Estados
Unidos, o governo acabou cedendo, o que provocou viva reação dos oficiais
“duros”, que acusaram a junta de capitular diante das organizações de esquerda.
Procurando controlar as ações armadas dos grupos esquerdistas
e, ao mesmo tempo, atender às exigências da ala mais à direita das forças
armadas, a junta militar tomou uma série de medidas repressivas. No dia 8 de
setembro, baixou o Ato Institucional nº 13, que instituía o banimento das
“pessoas perigosas para a segurança do Estado”, e o Ato Complementar nº 64, que
impunha essa sanção aos 15 presos políticos libertados e então exilados no
México. No dia 9, foi publicado o Ato Institucional nº 14, que permitia a
aplicação da pena de morte ou da prisão perpétua em caso de “guerra de oposição
psicológica, de guerra revolucionária e de luta subversiva”. No dia 27, foi
publicada uma nova Lei de Segurança Nacional (Decreto-Lei nº 898), que
incorporava todas as medidas de exceção tomadas pela junta, decretando que todo
condenado à morte seria fuzilado se, em 30 dias, o Executivo não comutasse a
pena em prisão perpétua. Por essa mesma lei, o governo aumentava seu controle
sobre a imprensa, punindo com penas de seis meses a dois anos os jornalistas
que difundissem notícias “falsas e tendenciosas” ou fatos verídicos “truncados
ou desfigurados”.
Acompanhando esse conjunto de atos de força, o policiamento
foi intensificado e foi desencadeada uma nova onda de detenções arbitrárias e
de cassações, inclusive de nove deputados federais e de um senador. A maior
parte das eleições estabelecidas por Costa e Silva foi adiada por período
indeterminado, bem como as datas das convenções nacionais dos dois partidos
políticos consentidos, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), de oposição, e
a Aliança Renovadora Nacional (Arena), pró-governo.
Como o estado de saúde de Costa e Silva não apresentava sinais
visíveis de melhora, no dia 16 de setembro a junta emitiu uma nota oficial
comunicando que a substituição definitiva do presidente enfermo era inevitável
e que já havia sido constituída uma comissão de três generais para encaminhar a
questão sucessória. Preocupada em obter o mais amplo respaldo dentro das forças
armadas, a comissão efetuou uma consulta entre todos os oficiais superiores das
três armas, que deveriam manifestar-se em relação à substituição de Costa e
Silva. Finalmente, em 7 de outubro de 1969, a secretaria de imprensa da
Presidência da República anunciou que o general Emílio Garrastazu Médici,
comandante do III Exército, havia sido o escolhido por seus pares. Para
vice-presidente foi designado um dos membros da junta, o almirante Augusto Rademaker.
Dando
seguimento ao processo sucessório, no dia 14 de outubro foi baixado o Ato
Institucional nº 16, que declarou vagos os cargos de presidente e
vice-presidente e fixou para o dia 25 daquele mesmo mês a data da eleição pelo
Congresso. Ainda no dia 14, outro Ato Institucional — o de nº 17 — revelava a
oposição que o nome de Médici levantara em certos setores militares. Segundo o
ato, ajunta era autorizada a transferir para a reserva os militares que
tivessem “atentado contra a coesão das forças armadas ou que [viessem] a
fazê-lo”.
No dia 15, dois atos complementares promoveram a reabertura
do Congresso — exatamente para possibilitar a ratificação do nome de Médici —
convocando os parlamentares a se apresentarem em Brasília a partir do dia 22.
No dia 25, Médici e Rademaker foram eleitos presidente e vice-presidente da
República por 293 votos a favor e 76 abstenções (correspondentes à bancada do
MDB), tomando posse no dia 30 de outubro.
Sérgio Lamarão
FONTES: ABREU, A.
Rio; FIECHTER, G. Regime; FRANCO, V. Outubro; SKIDMORE, T. Brasil.