NEUTRALIDADE DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
NEUTRALIDADE
DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Durou pouco mais de dois anos a neutralidade brasileira na
Segunda Guerra Mundial. O governo brasileiro já pensava na possibilidade de
eclosão da guerra européia no decorrer de 1939, de modo que em junho deste ano
o Conselho de Segurança Nacional já se manifestara unanimemente pela
neutralidade, caso ela ocorresse. Quando se declarou a guerra entre Alemanha, França
e Inglaterra a partir da invasão da Polônia em setembro de 1939, o governo
brasileiro decretou a neutralidade do país em relação ao conflito, decisão que
foi corroborada em plano continental pelos representantes das nações americanas
presentes à Conferência do Panamá no mesmo mês de setembro. Nessa conferência,
os representantes brasileiros insistiram na necessidade de estabelecer o
princípio da neutralidade do mar territorial, a fim de afastar a possibilidade
de atos de guerra próximos ao litoral, princípio aceito pela conferência.
Não era fácil manter a neutralidade tanto pela luta
ideológica interna que opunha liberais a simpatizantes do fascismo, como pela
rivalidade latente entre Alemanha e Estados Unidos no plano continental, tanto
em termos comerciais, como políticos e ideológicos. Os Estados Unidos apoiavam
discretamente a causa anglo-francesa, apesar de serem oficialmente neutros. E o
Brasil mantinha um comércio crescente com a Alemanha, sob vigilância e pressão
contrária dos Estados Unidos. A política do governo Getúlio Vargas consistia em
manter os laços comerciais com a Alemanha e os Estados Unidos e manter-se
eqüidistante no plano político.
Mas a eclosão da guerra européia produziu um imediato
bloqueio marítimo britânico contra a navegação alemã, cujo efeito principal foi
o de tirar a América Latina do alcance das linhas comerciais alemãs. No caso do
comércio exterior brasileiro, o bloqueio britânico acabou por beneficiar os
Estados Unidos, que substituíram os alemães como fornecedores de produtos
manufaturados. Apesar disso, a influência política alemã no Brasil continuava
forte, graças às vitórias que seus exércitos iam alcançando sobre a aliança
anglo-francesa. Além disso, em 1940 os britânicos apreenderam ou ameaçaram
apreender navios brasileiros carregados de armas compradas à Alemanha antes do
início da guerra, o que criou um forte sentimento antibritânico no Brasil.
A liberação dos carregamentos se deu pela intermediação do
governo dos Estados Unidos, que procurou a partir de 1939 solidificar uma
aliança política com as demais nações do continente para agir também como
grande potência no plano internacional. Assim, o governo Roosevelt, ao mesmo
tempo que se mantinha neutro, ampliava a ajuda à Grã-Bretanha e dava ênfase à
unidade pan-americana, o que, em última análise, significava um esforço para
eliminar a influência do Eixo na América Latina, em especial no Brasil,
considerado uma área vital pelos estrategistas norte-americanos.
A rivalidade latente entre Estados Unidos e Alemanha tornava
difícil a manutenção da neutralidade no continente. De 1939 a 1942 os Estados
Unidos puseram em ação uma fortíssima ação ideológica (consubstanciada no
pan-americanismo), militar (no caso brasileiro, expressa no estudo conjunto de
formas de cooperação e na tentativa norte-americana de obter bases no Nordeste
brasileiro e licença para o estacionamento de suas tropas naquelas bases) e
política (patente nos esforços das conferências pan-americanas para criar
mecanismos de consulta e de aliança formal).
Ao mesmo tempo que resistia às solicitações norte-americanas,
o governo brasileiro estava decidido a instalar uma usina siderúrgica sob
controle estatal e a reaparelhar econômica e militarmente o país. Agitando a
bandeira da colaboração com a Alemanha em 1940, ele obteve a assistência
econômica norte-americana para instalar a siderurgia. Durante os últimos meses
de 1941 e os primeiros de 1942, procedeu a delicadas negociações com o governo
Roosevelt para obter o reequipamento militar e econômico desejado. Em fins de
1941 já se tornara evidente que os Estados Unidos interviriam no confronto, mas
o ataque japonês à base de Pearl Harbor deu-lhe a vantagem de aparecer como o
país atacado. Quando os chanceleres dos países americanos se reuniram em sua II
Reunião de Consultas no Rio de Janeiro, no início de 1942, as negociações entre
o presidente Vargas e o presidente Roosevelt chegaram a bom termo: o governo
brasileiro romperia relações com o Eixo, apesar das pressões contrárias tanto
interna como externamente, e, por seu lado, o governo dos Estados Unidos
trataria de reequipar econômica e militarmente o Brasil. Rompia-se nesse
momento a neutralidade brasileira frente ao conflito mundial.
Gérson Mouracolaboração especial
FONTES: