RABANETES E PICOLES
RABANETES E PICOLES
Designação atribuída em 1932 a dois grupos de
primeiros-tenentes do Exército que se encontravam em conflito.
Após a vitória da Revolução de 1930, os antigos cadetes que
haviam participado da revolta da Escola Militar do Realengo em 5 de julho de
1922 e em conseqüência haviam sido expulsos do Exército foram anistiados. O
ministro da Guerra, general José Fernandes Leite de Castro, mandou então
reintegrá-los no posto de primeiro-tenente, que lhes caberia por antigüidade
caso houvessem seguido normalmente seu curso na Escola Militar. Contra essa
decisão se colocaram os primeiros-tenentes de turmas posteriores a 1922, que
haviam participado da Revolução de 1930 e se consideraram prejudicados na
medida em que os cadetes de 1922 iriam disputar suas vagas nas futuras
promoções.
A designação de “picolés” foi atribuída aos revolucionários
de 1922 porque estes, em sua maioria, se tinham mostrado “frios” em face dos
movimentos posteriores que culminaram na Revolução de 1930.
Os “rabanetes”, ou seja, os tenentes que haviam participado
da revolução vitoriosa de 1930, foram assim designados porque eram considerados
pelos “picolés” como “vermelhos” por fora e “brancos” por dentro.
Os
“rabanetes”, descontentes com a decisão do ministro da Guerra, endereçaram-lhe
um telegrama de protesto. Considerando essa atitude como um ato de
indisciplina, em maio de 1932 o ministro aplicou-lhes uma punição disciplinar.
Nesse momento, em todas as guarnições do país, os tenentes — inclusive os
“picolés” — se solidarizaram com os punidos. Devido a esses fatos, o comandante
da 1ª Região Militar (Rio de Janeiro), general João Gomes, até então amigo do
general Leite de Castro, indispôs-se com o ministro. O general Pedro Aurélio de
Góis Monteiro, comandante da 2ª Região Militar (São Paulo), renunciou ao cargo
devido à evolução dos acontecimentos no Rio, já que o conflito que se
estabelecera anulava seus esforços de pacificação junto aos paulistas. Em
seguida, Góis Monteiro assumiu o comando da 1ª Região Militar, onde passou a
desenvolver esforços no sentido de garantir a ordem e desfazer a crise.
O conflito foi finalmente solucionado com a criação de
quadros paralelos para os “picolés” cujas promoções por antigüidade se fariam
sem preencher vagas e, portanto, sem prejudicar seus camaradas “rabanetes”.
Alzira Alves de Abreu
FONTES: CARONE, E.
República nova; COUTINHO, L. General; TÁVORA, J. Memórias.