RÁDIO
MAUÁ
Emissora
de rádio carioca, criada em 7 de setembro de 1944, a partir da encampação da Rádio Ipanema. Foi extinta em 31 de dezembro de 1975, quando foi
incorporada ao sistema da Empresa Brasileira de Radiodifusão, Radiobrás, e
voltou a ser denominada Rádio Ipanema.
A
Ipanema original era de propriedade de alemães e foi confiscada no momento em
que o Brasil aderira ao bloco de países aliados que se encontrava em guerra
contra a Alemanha. A nova emissora passou então a ficar subordinada ao
Ministério do Trabalho. Surgindo no período final do Estado Novo, a rádio veiculou
a imagem popular de Getúlio Vargas elaborada pelo Departamento de Imprensa e
Propaganda (DIP) e se autodenominou “a emissora do trabalho”.
A partir da criação da Rádio Mauá, Alexandre Marcondes Filho,
ministro do Trabalho, Indústria e Comércio, passou a falar diariamente ao
trabalhadores, reforçando a estratégia de comunicação iniciada através da Rádio
Nacional, então encampada pelo governo Vargas. Desde 1942 Marcondes Filho
passou a ocupar, todas as quintas-feiras, dez minutos do programa Hora do
Brasil, produzido pelo DIP. Também em 1942 Marcondes Filho criou o programa
Falando aos trabalhadores brasileiros. A Rádio Mauá transmitia
pequenas chamadas de cerca de três minutos em horários-chave, como no intervalo
de programas musicais de grande audiência popular.
A
emissora começava a irradiar às cinco horas da manhã, tendo chegado a ser a
rádio mais escutada no período matutino. Em 1945, o esquema de radiodifusão
estruturado pelo Estado Novo começou a ser modificado, como conseqüência das
transformações da situação política, com partidos e candidaturas nas ruas
pedindo o fim da ditadura. A Rádio Mauá foi reorganizada por Vargas como
Fundação Rádio Mauá, que passava a desincumbir-se de tudo o que se referisse a
assuntos de “interesse trabalhista”.
Na classificação do IBOPE em 1950, a Rádio Mauá aparecia em nono lugar no ranking da preferência dos ouvintes no Rio de
Janeiro, com 3,5% do total. Nos três primeiros lugares figuravam a Rádio
Nacional, a Rádio Tupi e a Rádio Tamoio, com — respectivamente — 34%, 20% e
10,3% do total.
No
início dos anos 1950, a PRH-8 transmitia em quatro frequências diferentes e
tinha sua diretoria presidida pelo major Guilherme Manes. Funcionando
diariamente das cinco às 24 horas, a Rádio Mauá estava sediada no
palácio do Trabalho e contava com dois estúdios, um auditório, uma orquestra e
um conjunto regional.
Durante a gestão de João Goulart no Ministério do Trabalho,
de junho de 1953 a fevereiro de 1954, Doutel de Andrade, secretário de Goulart,
foi nomeado diretor da Rádio Mauá, que continuava a ser uma fundação sob a
responsabilidade do Ministério. Trabalharam com Doutel de Andrade na rádio os
locutores Orlando Batista, Osvaldo Sargentelli e Haroldo de Andrade.
Em
outubro de 1954, quando o jornalista Hélio Fernandes ocupou o cargo de diretor
da emissora, a convite do presidente da República, João Café Filho, a Rádio
Mauá inaugurou dois novos transmissores de ondas curtas (prefixos ZYZ-24 e ZYZ-25)
e um novo transmissor de ondas médias (PRH-8), com o intuito de alcançar maior
extensão do território nacional. Ainda sediada no edifício do Ministério do
Trabalho, a rádio permanecia 24 horas no ar, segundo o depoimento de Hélio
Fernandes.
A
entrada de Hélio Fernandes deu maior ênfase à cobertura jornalística (ele criou
o Noticioso Mauá, levado ao ar de hora em hora), sem no entanto haver
descuido com a parte artística, que contava com nomes como os de José Lewgoy,
Maria Fernanda e Leon Eliachar, entre outros. Alguns dos principais programas
da Rádio Mauá nesta época foram: Ritmos e melodias, Grande Carnaval
Mauá, Tribuna Livre, O sertão é assim e Rádio-show Mauá.
Nena Martinez apresentava programas femininos, como o Programa Nena Martinez
e o Diário Feminino, e Osvaldo Sargentelli comandava o noticiário Rotativas
Mauá, às sete horas.
Em 1955 Hélio Fernandes assumiu a direção da assessoria de
imprensa da campanha eleitoral de Juscelino Kubitschek, o que provocou sua
demissão da emissora.
Em 1958, o diretor da emissora era Paulo Nunes Vieira. Em 1959, a pesquisa do Ibope sobre a audiência radiofônica no Distrito Federal (RJ) apontava a Rádio
Mauá em quinto lugar, com 2,1% do total, abaixo da Nacional (em primeiro, com
14,1%), da Tamoio (4,5%), das rádios Tupi e Mayrink Veiga (empatadas em
terceiro lugar, com 3,1% cada uma), e da Rádio Jornal do Brasil (2,3%).
Nesta
época, a Mauá apresentava, entre outros programas, Os grandes vultos da
música, com Maurício Caminha de Lacerda, sobre música erudita; A turma
do bate-papo, com a equipe esportiva de Orlando Batista; Essa, não!,
programa de música, curiosidades e humorismo com Samuel Bastos; Musifone de
Haroldo de Andrade; e, diariamente, um programa de música popular comandado
por Osvaldo Sargentelli.
Em 1965 a Rádio Mauá firmou convênio com os institutos
de previdência, dos quais passou a receber subvenções mensais.
Em 1975, com a criação da Radiobrás, através do Decreto-Lei
nº 6.301, a Rádio Mauá foi incorporada a esse sistema. Foi extinta em 25 de
maio de 1976 e sua freqüência voltou a ser utilizada com o nome de Rádio
Ipanema a partir de 16 de junho desse mesmo ano.
Carla
Siqueira
FONTES: ARQ. RÁDIO
NACIONAL; ENTREV. ZOELZER POUBEL; ENTREV. HÉLIO FERNANDES; GOMES, A.
Invenção; GOULART, S. Sob; INF. ORLANDO BATISTA; PN. Anuário de
Imprensa, Rádio e Televisão (1958, 1959, 1960); PN. Anuário
Brasileiro de Rádio (1950, 1953, 1954); Rádio Ilustrado (1954,
1955); Radiolândia (2, 3 e 11/54, 4/57, 4 e 9/59); Revista Alô — Tudo
de Rádio (1 e 2/49); Revista de Comunicação (11/96); Revista do
Rádio e Tv (3/65).