RÁDIO
TUPI
Emissora de rádio carioca, fundada em 22 de
setembro de 1934 e inaugurada em 25 de setembro de 1935. Foi a primeira
emissora de rádio dos Diários Associados, a cadeia de jornais de propriedade de Assis Chateaubriand. Em
seguida, Chateaubriand adquiriu a Rádio Tupi de São Paulo – que ao ser
inaugurada com seus transmissores de 26 Kw, tornou-se a mais potente da América
Latina – e a Rádio Educadora do Rio de Janeiro (que passou a se denominar Rádio
Tamoio), dando início à constituição de uma rede nacional de radioemissoras que
chegou a ter 25 estações.
Fatos
como a crise econômica de 1929, a Revolução de 1930 e a Revolução
Constitucionalista de 1932 retardaram a meta de Chateaubriand, que desejava
expandir sua organização jornalística para o meio radiofônico. Na década de
1930, começam a aparecer emissoras vinculadas a grandes jornais, como é o caso
da Rádio Tupi, da Rádio Jornal do Brasil e da Rádio Nacional, esta ligada à
empresa A Noite.
Nos
primeiros anos de funcionamento, a Rádio Tupi como outras emissoras, teve
dificuldades para obter patrocínio. Um artifício usado por seu proprietário era
de utilizar empresas de sua propriedade para patrocinar os programas de suas
emissoras. As apresentações de Carmem Miranda na Rádio Tupi, por exemplo, foram
patrocinadas pelo Laboratório
Licor de Cacau Xavier,
empresa de sua propriedade. Ao longo da década de 30, Chateaubriand comprou
diversas empresas que eram grandes anunciantes das rádios e jornais visando que
os produtos fossem mais anunciados nas redes de jornais e revistas. O jornal
mais famoso da emissora foi o Grande
Jornal Falado Tupi,
transmitido nas Rádios Tupi de São Paulo e do Rio de Janeiro, que introduziu
novas formas de tratamento à notícia, com a utilização de frases curtas e
cuidados na entonação da fala dos locutores. A emissora também possuía os Comandos
da Tupi que se dedicava as
reportagens externas.
A
primeira Rádio Tupi, projetada para ser implantada em São Paulo, acabou sendo instalada no Rio de Janeiro como a segunda estação mais poderosa do
continente, só perdendo, em potência, para a Rádio Farroupilha, inaugurada
semanas antes em Porto Alegre pelos filhos do “general” Flores da Cunha, então
interventor do Rio Grande do Sul.
A primeira diretoria da Rádio Tupi foi formada
por Dario de Almeida Magalhães (diretor-superintendente), Antônio de Alcântara
Machado (diretor-gerente) e Belarmino Austregésilo de Ataíde
(diretor-secretário). Sua instalação inicial foi em um barracão do bairro de
Santo Cristo. Mais tarde foi transferida para um auditório na rua Venezuela, nº
43, instalado em um antigo depósito de café. Em 1979, a Tupi foi para o prédio da rua do Livramento, a sede dos Diários Associados projetada por
Oscar Niemeyer no início da década de 1950.
A
primeira irradiação da Tupi, “O cacique do ar”, denominação dada por seu
fundador, aconteceu na noite de 15 de setembro de 1935, com um transmissor de
dez quilowatts construído na Inglaterra pela firma de Guglielmo Marconi, o
pioneiro das transmissões de rádio. Não foi esta a inauguração oficial da Tupi,
o que só aconteceria no dia 26 com a presença do próprio Marconi, convidado
especial de Assis Chateaubriand.
A
transmissão do dia 15 foi iniciada com a execução do Hino Nacional, sob a
regência de Heitor Vila-Lobos. Também participaram desse programa as cantoras
Olga Praguer Coelho, Elsie Houston, Carmen Denahir e Cristina Maristani, a
orquestra Dajos Bella, a orquestra Tupi, o conjunto Benedito Lacerda e a dupla
Preto e Branco (Herivelto Martins e Francisco Sena).
No dia 26, participaram do programa inaugural
oficial as cantoras Olga Praguer Coelho, Cristina Maristani e a pianista
Carolina Cardoso de Meneses, o músico Rogério Guimarães e a orquestra Fon-Fon, entre outros. O escritor Mário de Andrade, então
funcionário do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, liderou uma
delegação artística composta pela pianista Antonieta Rudge, pelo violinista
Zlatopolski e pelo tenor Cândido Botelho. Este último interpretou pela primeira
vez a Aquarela
do Brasil, de Ari Barroso. A gravação do prefixo da Rádio Tupi (PRG-3)
contou com a participação dos índios parecis, sob a direção de Lucília
Vila-Lobos.
A
comitiva que acompanhou Marconi à inauguração foi integrada por sua esposa,
pelo secretário-geral do Partido Fascista Italiano, Arturo Marpicati, pelo
ministro das Relações Exteriores, José Carlos de Macedo Soares, e altos
funcionários do Itamarati, além de Assis Chateaubriand. Também estiveram
presentes diplomatas estrangeiros, autoridades militares brasileiras e
personalidades da alta sociedade e da cultura brasileira, como a poetisa Ana
Amélia Carneiro de Mendonça.
Alguns
dos primeiros programas foram Hora
do guri (infantil) e Hora
elegante
(feminino). No dia 20 de setembro, os microfones da Tupi foram abertos a
políticos como o ministro Gustavo Capanema, da Educação e Saúde, Borges de
Medeiros, Antônio Carlos, João Neves da Fontoura e Pedro Aleixo, em comemoração
ao aniversário da Revolução Farroupilha.
Em 1937, graças à experiência do grupo dos Diários Associados
nos jornais impressos, a Rádio Tupi já possuía uma equipe de redatores
especializados, repórteres e uma agência de notícias. A emissora foi a primeira
a criar uma edição dos jornais falados, com manchetes, seções, separações
musicais e sonoplastias.
Quando Chateaubriand aderiu ao Estado Novo, deu
ordens para que as duas rádios Tupi (RJ e SP) abrissem um programa semanal de
doutrinação da população segundo os princípios do regime ditatorial, cujo
conteúdo ficaria a cargo de palestrantes indicados pelo governo. Durante a Segunda
Guerra Mundial, Carlos Frias apresentou o programa Caleidoscópio, que ia ao ar à noite, constituído de comentários, tendo
como objetivo ganhar para a causa aliada as simpatias do povo brasileiro,
contrabalançando a propaganda nazista que até 1942 era discretamente consentida
no Brasil. Também durante o conflito mundial, o programa Boletim da guerra da Tupi fez concorrência ao Repórter Esso, da Rádio Nacional, no noticiário sobre a guerra.
Em
fevereiro de 1945, quando o Estado Novo dava sinais de esgotamento, a Rádio
Tupi foi proibida de transmitir uma entrevista gravada com o ex-chanceler
Osvaldo Aranha, em que este propunha a redemocratização do país. Apesar da
censura, a entrevista foi reproduzida em São Paulo pelo Diário
da Noite e
pela Rádio Tupi local. Na década de 1950, a Tupi e outras emissoras começaram a disputar a liderança da Rádio Nacional na programação informativa. Já no
final da década de 1940, a Rádio Tupi investia no aumento de sua potência —
inaugurando novo transmissor de 50kw — e no incremento de sua programação, com
o intuito de ganhar a preferência dos ouvintes.
Em
1949, os estúdios da Rádio Tupi foram atingidos por um grande incêndio, que
levou a emissora a realizar suas transmissões de um estúdio emprestado pela
Rádio Guanabara. No incêndio, muitos arquivos musicais da emissora e muitos
programas de auditório foram perdidos, como o Rádio
Seqüência G-3,
comandado por Paulo Gracindo. Após intensa reforma, a Rádio Tupi voltou ao seu
prédio original. No último andar da Rádio, durante a Copa do Mundo de 1950, a PRG-3 inaugurou o maior estúdio da América Latina que ficou conhecido como o “Maracanã dos
auditórios” de onde 1.500 pessoas podiam assistir a programas como: Incrível,
Fantástico, Extraordinário, Caleidoscópio, Pessoal da Velha Guarda,
Viva o Samba, Calouros em Desfile,
com Ary Barroso, Rádio
Seqüência G-3, Pausa para Meditação e
outros de grande sucesso.
Fizeram parte do elenco da Tupi, artistas como
Carmen Miranda, Ari Barroso, Almirante, Sílvio Caldas, Linda e Dircinha Batista,
Dóris Monteiro, Luís Gonzaga, Dorival Caymi, Dolores Duran e Dalva de Oliveira.
Atuaram como locutores e animadores nomes como Oduvaldo Cozzi, Júlio Lousada,
Abelardo Barbosa (Chacrinha) e Raul Brunini. A primeira radionovela, intitulada
Pecado de
amor, foi
estrelada por Paulo Gracindo. Os programas de radionovela, radioteatro e
humorísticos contaram, ainda, com a participação de Rodolfo Mayer, Heloísa
Helena, Zezé Macedo, Silvino Neto, Colé, Ida Gomes, Ioná Magalhães, entre
tantos outros. A Rádio Tupi foi, também, a última emissora a irradiar o
programa de Ademar Casé. De grande sucesso desde o seu aparecimento em 1932 na
Rádio Philips, o Programa Casé esteve na Tupi de dezembro de 1948 até 1951.
A pesquisa do IBOPE do ano de 1950 colocava a
Rádio Tupi em segundo lugar (20%) na audiência do Rio de Janeiro, portanto
abaixo da Nacional (34%). Essa mesma pesquisa de 1950, ano da Copa do Mundo,
indicava que Ari Barroso era o segundo locutor esportivo mais escutado,
perdendo apenas para Antônio Cordeiro, da Nacional. Nessa época, um incêndio
consumiu o auditório da Tupi, ainda na avenida Venezuela, forçando uma
remodelação que aumentou sua capacidade para um mil e seiscentas pessoas, sendo
então apelidado de “o Maracanã dos auditórios”. Além desse auditório, a Rádio
Tupi, então sob a direção de Carlos Rizzini e José Mauro, contava com três
estúdios, três orquestras, dois conjuntos regionais, e um enorme quadro de
artistas e locutores. Em 1951, o faturamento da Rádio Tupi com publicidade
somava 24 milhões de cruzeiros, só ficando atrás da cifra alcançada pela Rádio
Nacional, de cerca de 50 milhões de cruzeiros.
Em
1953, o Ministério das Viações e Obras Públicas permitiu que a Rádio Tupi
permutasse sua freqüência com a da Rádio Farroupilha. A partir daí, a Tupi passou
a operar em ondas médias (prefixo PRG-3) e curtas (ZYC-9), ampliando sua
penetração no interior. Alguns dos programas mais famosos das décadas de 1940 e
1950 foram o Chez
Badoux (humorístico), o Toque
maestro e a Rua
da alegria,
programas de auditório apresentados por Antônio Maria; Onde
está o poeta? e
Incrível, fantástico,
extraordinário,
criados por Almirante; Calouros
em desfile,
apresentado por Ari Barroso sob o patrocínio de Toddy; e Cine-Grátis,
programa humorístico de Leon Eliachar. Durante essas duas décadas, as novelas
chegaram a ocupar cerca de 40% do horário noturno e 70% do diurno na
programação das rádios Tupi, Nacional e Mayrink Veiga.
A pesquisa do IBOPE de 1959 indicava uma queda na
audiência da Tupi no Rio de Janeiro, que então aparecia em terceiro lugar,
empatada com a Mayrink Veiga, com 3,1% do total. A Rádio Nacional mantinha-se
na liderança, com 14%, e a Rádio Tamoio aparecia em segundo, com 4,5%. Alguns
programas, no entanto, garantiam a permanência da Tupi entre os primeiros lugares
do ranking de audiência. Na década de 1960, o Grande matutino Tupi alcançou um sucesso significativo, reproduzindo as notícias
de O Jornal, também dos Diários Associados, publicação de grande
circulação naquele tempo.
Quando
Assis Chateaubriand faleceu em 1968, a Rádio Tupi, assim como os demais órgãos
da cadeia, já estava sob a gerência do condomínio acionário das Emissoras e
Diários Associados. Em 1959, preocupado em dar continuidade após sua morte ao
império jornalístico que havia construído, Assis Chateaubriand instituiu o
condomínio acionário, distribuindo 49% das ações e quotas que possuía dentro de
toda a cadeia a 22 de seus auxiliares, incluindo seus dois filhos. Em 1962,
dois anos após sofrer uma dupla trombose que lhe provocou uma paralisia quase
total, o jornalista doou os 51% restantes das ações e quotas aos mesmos
auxiliares, dessa vez excluindo os filhos.
Nas décadas de 1970 e 1980, os melhores
índices da rádio ficaram a cargo dos programas liderados por comunicadores como
Paulo Barbosa, Paulo Lopes e Cidinha Campos. Já em 1968, a cadeia jornalística organizada por Chateaubriand totalizava 35 jornais, 25 rádios, 18
revistas, 18 emissoras de televisão e duas agências. Em 1996, somavam 15
jornais, 15 emissoras de rádio e cinco de televisão. Os índices do IBOPE do mês
de março de 1996 colocavam a Rádio Tupi em segundo lugar no ranking de audiência das 22 rádios AM do Rio de Janeiro. De acordo
com a pesquisa, a Rádio Tupi e a Rádio Globo, que aparecia em primeiro lugar,
detinham 78% da incidência dos aparelhos ligados, nesta mesma faixa.
Em 1996, o programa de maior sucesso na Rádio
Tupi era o Patrulha
da cidade, noticiário policial apresentado ao meio-dia, no ar desde a
década de 1960. No início do Século XXI, a
Rádio TUPI atuava na cidade do Rio de Janeiro e no Grande Rio, estando presente
em 17 municípios.
Em 2005, como parte das
comemorações dos 70 anos, além de uma programação especial a Rádio Tupi comprou
o primeiro transmissor digital do Brasil e criou seu Centro de Documentação com
o objetivo de resgatar e preservar a memória da Rádio, e que passou a se
encarregar de digitalizar o arquivo da emissora.
Carla
Siqueira/colaboração
especial Lilian Lustosa (atualização)
FONTES:
AZEVEDO, L.C. No
tempo do rádio;
BRANCO, R. C. História; CAMARGO,
V.R.T. : JARDIM, N.A.S. A
memória comunicacional dos jingles;
CASÉ, R. Programa; Cruzeiro
(6/49, 29/9/56, 18/9/74); FEDERICO, M. E. História;
INF. Carlos Marcondes;
Jornal (set. 1935 e nov. 1944);
MORAIS, F. Chatô; MOREIRA,
S. V. O rádio;
MURCE, R. Nos bastidores; Nosso
Século; ORTRIWANO, G. S. A
informação;
Portal da Super Rádio Tupi. Disponível em : <http://www.tupirio.com.br>.
Acesso em : 17 out. 2009;
Revista Alô — Tudo de Rádio
(jan./fev. 1949).