REDE
MANCHETE
Rede de emissoras de televisão fundada pelo empresário e
editor Adolfo Bloch. Iniciou suas transmissões em 5 de junho de 1983 com cinco
emissoras, nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília,
Porto Alegre, e mais de 30 afiliadas que cobriam todo o território nacional. Em
setembro do mesmo ano somaram-se mais três emissoras às iniciais: Londrina,
Cornélio Procópio e Maringá.
Para
o programa de inauguração, a Manchete produziu o musical O mundo mágico,
dirigido por Nélson Pereira dos Santos, misturando números de música clássica e
popular com artistas como Mílton Nascimento, Paulinho da Viola, Artur Moreira
Lima, o grupo Blitz e outros, intercalados com pequenos depoimentos e
reportagens sobre o Grupo Bloch. A TV Manchete alcançou nesta noite um índice
médio de 22,8%, o segundo lugar de audiência no Rio de Janeiro de acordo com a
pesquisa IBOPE-RJ.
Com uma programação variada, o jornalismo logo se destacou,
reservando uma hora e meia de duração para o Jornal da Manchete e ainda
apresentando uma série de entrevistas produzidas junto à produtora independente
Intervídeo, tais como os especiais biográficos sobre personalidades brasileiras
de destaque na política (Tancredo Neves), nos esportes (Pelé, João Havelange) e
na literatura (Carlos Drummond de Andrade), entre outros.
Da parceria com a Intervídeo resultaram ainda programas como Conexão
internacional, primeiro programa na televisão brasileira a entrevistar
personalidades mundiais de todas as áreas, Os brasileiros, comandado
pelo sociólogo e antropólogo Roberto da Mata, Persona, programa de
entrevistas, Kuarup, programa
sobre o cotidiano das tribos do Xingu, e Xingu, série sobre os índios
brasileiros.
No final de 1983 foi criado Debate em Manchete,
programa de entrevistas comandado por Arnaldo Niskier, que enfocava
principalmente a política nacional, entrevistando presidentes, governadores,
senadores e deputados, tais como: João Figueiredo (em uma de suas raras
entrevistas concedidas como presidente da República), Tancredo Neves, Ulisses
Guimarães, José Sarney, Leonel Brizola, Orestes Quércia, Paulo Maluf, Antônio
Carlos Magalhães, Fernando Collor de Melo (primeira entrevista como candidato à
presidência da República), entre outros. O programa saiu do ar em abril de
1992.
Após
a criação do departamento de teledramaturgia em 1984, a Manchete produziu as minisséries A marquesa de Santos e Dona Beja, entre
outras. A primeira novela exibida foi Antônio Maria em 1985 e,
posteriormente, Corpo Santo, Kananga do Japão, Ana Raio e Zé
Trovão, Tocaia grande e Xica da Silva. Também de 1984 foi o
lançamento do programa infantil Clube da criança que marcaria o início
da carreira da apresentadora Xuxa Meneguel.
Em 1985, a Rede Manchete conseguiu um furo de jornalismo com
a entrevista exclusiva do então presidente João Figueiredo ao jornalista
Alexandre Garcia. A entrevista realizada na Granja do Torto, às vésperas de
Figueiredo deixar a presidência da República, surpreendeu a todos por suas
declarações. Ao ser indagado sobre o que esperava do povo brasileiro, o general
respondeu que desejava que o esquecessem. Quando lhe foi pedido para que
fizesse o gesto que faria quando largasse o cargo, Figueiredo fez o sinal
popularmente conhecido como “banana”.
Em 1990, Pantanal, de Benedito Rui Barbosa, inovou a
linguagem das telenovelas, com um ritmo lento e uso freqüente das paisagens
naturais do pantanal mato-grossense. A novela obteve sucesso de crítica e de
público do horário nobre, às 20 horas.
A
TV Manchete produziu também a minissérie O marajá, uma sátira ao governo
de Fernando Collor de Melo. A minissérie não pôde estrear na data prevista, em
julho de 1993, por causa de uma liminar impetrada pelos advogados do
ex-presidente. Atores e atrizes que trabalhavam na minissérie fizeram protestos
contra a decisão da Justiça, que não foi revogada.
No início da década de 1990, agravou-se o processo de
endividamento do Grupo Bloch. As dívidas contraídas junto ao Banco do Brasil,
ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) e à Embratel, originadas na
década anterior para a construção da rede, fizeram com que em 1991 Adolfo Bloch
iniciasse as negociações para uma possível venda da TV Manchete. Antônio
Ermírio de Morais (Votorantim) e Otávio Lacombe (Grupo Paranapanema) foram
alguns dos empresários que chegaram a negociar a compra.
O
empresário e deputado Paulo Otávio A. Pereira, amigo do presidente em exercício Fernando Collor, foi outro interessado que desistiu da compra após ter sido
questionado na Câmara pelo deputado José Luís Clerot (PMDB-PB). O
pronunciamento do deputado do PMDB foi transmitido pelo Jornal nacional
da Rede Globo, chamando atenção para o fato de que Paulo Otávio estaria se
beneficiando da amizade e prestígio do presidente através de um tratamento
preferencial do Banco do Brasil, para facilitar a compra da Manchete.
Em
1992, a Indústria Brasileira de Formulários (IBF), comandada pelo empresário
Hamílton Lucas de Oliveira, comprou 49% das ações da Rede Manchete, comprometendo-se
a assumir as dívidas da empresa. Nesta época a Manchete era a terceira maior
rede brasileira de televisão, com 36 emissoras afiliadas, dez retransmissoras e
cerca de 2.500 funcionários.
Neste
mesmo ano teve início uma investigação sobre irregularidades na compra, pela
mesma IBF, de outra TV — a Jovem Pan. Devedoras à Embratel pelos serviços de
satélite, a Jovem Pan e a TV Manchete sofriam ameaças de corte do canal no
Brasilsat. A IBF renegociou a dívida com a Embratel, evitando que a Manchete fosse
tirada do ar. A Jovem Pan, ao contrário, perdeu o direito de uso do canal.
No entanto, a crise na TV Manchete prosseguiu, agravando-se
com a gestão da IBF e com as acusações de envolvimento desta empresa no esquema
de corrupção armado pelo ex-tesoureiro da campanha do presidente Fernando
Collor de Melo, Paulo César Farias.
Os
funcionários da emissora deixaram de ter seus salários pagos em dezembro de
1992, entrando em greve logo em seguida. Em março de 1993 paralisaram por
algumas horas a transmissão da rede. Neste mesmo mês foi realizado um show beneficente
com renda revertida para os profissionais da Manchete. O show aconteceu
no Circo Voador, no Rio de Janeiro, e contou com a participação de 18 artistas,
entre os quais, João Bosco, Paulinho da Viola, Nana Caymmi e Moreira da Silva.
Em abril de 1993, a Justiça do Rio de Janeiro concedeu
liminar permitindo ao empresário Adolfo Bloch reassumir o comando da Rede
Manchete de Rádio e Televisão, alegando que a Indústria Brasileira de
Formulários do empresário Hamílton Lucas de Oliveira descumprira cláusulas
contratuais.
Devido à situação geral de irregularidade, o governo resolveu
acompanhar de perto o caso da Manchete. Em despacho conjunto, o presidente
Itamar Franco, o ministro das Comunicações Hugo Napoleão e do Trabalho Válter
Barelli decidiram cancelar a operação de venda da TV. Decidiram ainda que a
rede retornaria ao Grupo Bloch ou seria oferecida a outro grupo.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) interessou-se nesta
época pela compra da TV Manchete. O líder sindical Jair Meneguelli chegou,
inclusive, a propor acordo ao presidente das Organizações Globo, o jornalista
Roberto Marinho, na tentativa de criar uma fundação de direito privado para
administrar a Rede Manchete. O interesse da CUT em adquirir a rede foi motivo
de controvérsia, sendo visto como uma forma de reforçar a candidatura de Luís
Inácio Lula da Silva para a presidência da República no ano seguinte.
Em
julho de 1993, os funcionários da TV Manchete de São Paulo, em greve por não
receberem sete meses de salários, ocuparam o prédio da emissora durante 15
horas e produziram programas com entrevistas e debates sobre a situação geral
da rede. O movimento contou com apoio de sindicalistas, líderes da comunidade e
parlamentares, tais como o senador Mário Covas, os deputados Jamil Murad, José
Dirceu, Aluísio Mercadante e Irma Passoni.
A folha de pagamentos dos funcionários foi normalizada, mas
as dificuldades continuaram decorrentes da dívida da empresa junto aos bancos,
em especial junto ao Banco do Brasil, INSS e Embratel, afetando diretamente a
programação da rede. Por contenção de despesas vários projetos foram adiados e
alguns programas antigos passaram a ser reprisados.
Em maio de 1995, a emissora teve os equipamentos de estúdio
arrestados pelo Banco do Brasil como garantia de pagamento.
Em 19 de novembro de 1995, Adolfo Bloch morreu de embolia
pulmonar, ao submeter-se a uma cirurgia cardíaca para corrigir problemas na
válvula mitral no Hospital da Beneficência Portuguesa em São Paulo. Jacques Kapeller, sobrinho de Adolfo, assumiu o controle das empresas Bloch, onde
anteriormente ocupava a vice-presidência.
Entre o final de 1995 e meados de 1996, às vésperas das
eleições municipais, o Programa de domingo, até então dedicado somente a
variedades, passou a exibir com regularidade propaganda de obras executadas
pela prefeitura da cidade de São Paulo, referente à gestão de Paulo Maluf.
Em
julho de 1993 o jornalista Fernando Barbosa Lima passou a dirigir a Rede de
Televisão Manchete, que já havia sido dirigida por Rubens Furtado e Expedito
Grossi. Entre outros que trabalharam na rede, destacam-se Moisés Weltman como
diretor de programação, e Zevi Ghivelder, como diretor de jornalismo.
Vários programas da TV Manchete receberam premiações
nacionais e estrangeiras. Dentre os mais de cem prêmios recebidos, destaca-se o
International Broadcasting Society Award, de melhor documentário do
mundo, pela série Xingu.
Márcia
Paiva
FONTES: Estado
de S. Paulo (6, 11, 13 e 18/6/92, 26/3, 8, 13, 15, 16, 17, 21 e 24/4, 6/5,
11 e 17/7/93, 3/12/95); Folha de S. Paulo (11, 13, 17 e 19/6, 15/12/92,
15/1, 5 e 11/2, 18, 20 e 25/3, 7, 20 e 21/4, 5 e 6/5, 26/6, 21, 22, 25, 27, 29
e 30/7/93, 16/3/94, 19/2, 18/4, 6 e 20/8/95); Globo (23/6/91, 12, 13, 16
e 17/6, 17/11, 10 e 15/12/92, 17/3, 11, 16 e 21/4, 6/5, 25/7, 2/11/93,
11/5/94); IstoÉ (3/4/95); Jornal do Brasil (7/6/83, 11 e 13/6, 29/9,
15/12/92, 11, 19 e 24/2, 6, 7, 16, 17, 21, 25 e 29/4, 28 e 30/7, 12/8/93, 8/1,
20/5, 14/10/95, 5/4/96); Veja (4/5/95).