TRIBUNA DA IMPRENSA
Jornal
carioca diário e vespertino, fundado em 27 de dezembro de 1949 por Carlos
Frederico Werneck de Lacerda. Em 1962, foi adquirido por Hélio Fernandes, seu
atual diretor. Deixou de circular em papel em 2 de
dezembro de 2008, mantendo,
porém, uma
edição online.
O
primeiro ano
Antes
da fundação do jornal, Carlos Lacerda era articulista do Correio
da Manhã, onde
assinava a coluna “Tribuna da imprensa”. Por tê-la usado para atacar a família
Soares Sampaio, ligada por laços de amizade a Paulo Bittencourt, proprietário
do Correio, foi
afastado desse matutino, conservando, entretanto, o direito de usar o título de
sua coluna da maneira que melhor lhe conviesse. Assim, em fins de 1949, no
final do governo do marechal Eurico Gaspar Dutra, Carlos Lacerda usou o antigo
título para batizar um novo jornal que, representando as principais proposições
da União Democrática Nacional (UDN), viria a fazer oposição às forças
remanescentes do getulismo.
O
governo Dutra, embora não se identificasse inteiramente com os pressupostos
políticos da UDN, havia-se igualmente afastado da linha desenvolvida por
Vargas, o que explica o caráter reservado das críticas que recebeu do jornal.
Refletindo fielmente o pensamento de seu proprietário, a Tribuna
da Imprensa, nascida
“para servir à cristianização da sociedade”, considerava-se um jornal
democrático.
Em seus primeiros tempos, o jornal circulou com dez ou 12
páginas. Às terças-feiras, trazia matérias sobre economia e finanças, e ainda
uma coluna dedicada à vida sindical, assinada por Lindolfo Collor Filho.
Quatro
dias após o lançamento do jornal, Carlos Lacerda, através do artigo “50 anos de
século XX”, explicitou com maior rigor as diretrizes de seu pensamento
político: enquanto a Revolução de 1930 havia configurado a destruição da rotina
constitucional no Brasil, a Revolução de 1932 fora o último grande ato da velha
democracia brasileira contra a nova ordem instituída. O Governo Provisório e o
período de 1934 a 1937 haviam representado um acordo entre as antigas e as
novas forças políticas e sociais que dominavam o Estado. O Estado Novo, por sua
vez, não fora senão a instauração da própria ditadura de Vargas, “um misto de
caudilhismo sul-americano e de fascismo europeu”.
Em seus primeiros números, a Tribuna da Imprensa desencadeou uma campanha contra o marechal Mendes de Morais,
então prefeito do Distrito Federal, e contra a transformação da Fábrica
Nacional de Motores, de início autarquia vinculada ao Ministério da Viação, em
sociedade anônima, liderada pelo grupo Soares Sampaio.
Ao longo do ano de 1950, o jornal denunciou a importação de
automóveis de luxo através de uma possível interferência do Banco do Brasil, e
divulgou um plano de criação de colônias agrícolas na Zona Rural do Distrito
Federal, acreditando ser esta uma forma de melhorar as condições de vida das
populações marginalizadas das favelas. Além disso, publicou matérias sobre os
métodos de controle do comércio exterior levados a efeito pela Carteira de
Exportação e Importação do Banco do Brasil (Cexim), taxando-os de
“caracteristicamente irresponsáveis”, na medida em que o órgão agia em nome do
presidente da República e não prestava contas de seus atos aos demais órgãos
fiscalizadores do Executivo. Em linhas gerais, a Tribuna da Imprensa considerava a Cexim nefasta aos interesses da economia
nacional, embora fosse eficiente em seus serviços do ponto de vista técnico.
O jornal não se limitou a criticar a política econômica do
governo. Criticou também as greves estudantis deflagradas durante o ano, sempre
que estas esboçavam alguma reivindicação de caráter nacionalista. A oposição às
tendências nacionalistas que se desenvolviam na época atingiu igualmente a
questão das areias monazíticas, considerada pela Tribuna como uma bandeira de “comunistas e nacionalistas
desvairados”.
A identificação promovida pelo jornal entre os pressupostos
nacionalistas e os princípios comunistas manifestou-se ainda por ocasião das
eleições para a diretoria do Clube Militar, realizadas no mês de maio. O jornal
discorreu então sobre a “infiltração comunista” na direção do clube,
atribuindo-a à “falta de firmeza” de seu presidente, o general Estillac Leal, e
chegando a pedir a dissolução da entidade como a única forma de resolver o
problema eminentemente político que, a seu ver, afetava a segurança nacional.
Em relação à política externa, o jornal sustentou durante
todo o ano de 1950 a necessidade de uma aproximação entre o Brasil e a
Argentina, com a ressalva de que o povo brasileiro deveria ser esclarecido
“sobre a natureza e os métodos do regime totalitário imposto pelo general
Perón”.
Ainda
em meados de 1950, a Tribuna
da Imprensa
organizou uma mesa-redonda
para discutir o projeto de Nélson Carneiro, que pretendia implantar o divórcio
no Brasil. A posição do jornal foi contrária ao projeto, cuja aprovação
atingiria “gravemente a instituição da família”.
O
jornal participou também dos trabalhos da VI Conferência Interamericana de
Imprensa, realizada em Nova Iorque. Carlos Lacerda foi eleito membro do
conselho diretor da Associação Interamericana de Imprensa e designado
secretário da organização no Brasil. Durante a conferência, a Tribuna
da Imprensa
apresentou uma moção que acabaria por constituir a Declaração de Princípios da
Imprensa no Continente Americano, e secundou a proposta mexicana de criação de
um tribunal interamericano de imprensa para investigar e julgar os crimes
contra a liberdade de imprensa no continente. Por fim, o jornal apresentou uma
moção pleiteando dos governos americanos a retirada do papel de jornal da lista
de mercadorias sujeitas a licença prévia. O próprio presidente Dutra encampou
essa iniciativa, enviando ao Congresso Nacional um projeto destinado a
assegurar “a existência de jornais de todos os matizes e opiniões, em qualquer
emergência, a fim de que não desapareçam por restrições ao fornecimento de
papel”.
Com a aproximação das eleições de 3 de outubro de 1950, em
que seria escolhido o sucessor de Dutra, Carlos Lacerda acirrou sua oposição à
candidatura de Getúlio Vargas. De início, o jornal fez inúmeras referências à
violência policial vigente durante o Estado Novo, aludindo aos crimes cometidos
por Filinto Müller. Nesse momento, a Tribuna da Imprensa defendia a necessidade de se propor um único candidato
“democrático” para combater a aliança de Vargas e seu Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB) com uma ala do Partido Social Democrático (PSD) e com o
Partido Social Progressista (PSP), chefiado por Ademar de Barros, e
representado por João Café Filho, candidato à vice-presidência. Na opinião do
jornal, seria “imprudente” dividir “as forças democráticas diante da coligação
totalitária”.
No
entanto, logo ficou claro que a oposição se apresentaria
dividida às eleições. Entre as candidaturas que considerava democráticas — a do
brigadeiro Eduardo Gomes e a de Cristiano Machado —, a
Tribuna da Imprensa escolheu
então a primeira, lamentando unicamente o apoio que esta recebia de elementos
pertencentes ao antigo partido integralista. De toda forma, o jornal publicou
os discursos dos dois candidatos. Não desejando ser nocivo “aos interesses
fundamentais do povo brasileiro”, o jornal recusou também sistematicamente a
propaganda de grupos que considerava “totalitários”.
O
governo Vargas
Após
a vitória de Getúlio Vargas, a Tribuna da
Imprensa lamentou
sua “incapacidade” de “convencer a opinião democrática de seus próprios
interesses”. Conseguir desviar a opinião pública do apoio a Vargas seria
entretanto uma tarefa quase impossível, que excedia naquele momento as
possibilidades do jornal. A alternativa foi desencadear uma campanha pela
“maioria absoluta”. O argumento era que só deveria ser empossado “o presidente
eleito, e este só existe quando obtém a maior parte do eleitorado, isto é, a
maioria, ou seja, a metade mais um dos votos dados aos candidatos à
presidência. Isto atinge no caso atual o sr. Getúlio Vargas, o que só faz
acentuar a razão de ser dessa tese, pois nesse caso estamos diante de um
inimigo comprovado da democracia”.
A
Tribuna da Imprensa se
opunha também a um suposto avanço de idéias comunistas no país. Nesse sentido,
o jornal conclamava o que considerava as forças democráticas a se unirem contra
a “expansão da União Soviética”, em prol da paz universal. Omitir-se diante do
“imperialismo da ditadura russa” seria o mesmo que compactuar com um estado de
guerra.
A despeito das posições que assumia, a Tribuna da Imprensa ressalvava não sofrer qualquer influência partidária,
respeitando “a todos os que tinham pelo menos intenções democráticas”. Nesse
sentido, os inimigos do jornal eram qualificados como inimigos do bem público.
Em editorial publicado em dezembro de 1951, o jornal afirmava recusar-se “a
substituir o culto devido a Deus pelo tributo que tantos prestam ao dinheiro,
ao nudismo ou à demagogia e a outros ídolos”. Por fim, o jornal procurava
resguardar-se de uma possível repressão por parte do governo, acrescentando que
sua permanência significava a existência de liberdade no Brasil.
Os ataques de Carlos Lacerda à situação baseavam-se no
argumento de que uma grande parcela da população havia sido vítima de um “imenso
logro”. O jornal ressaltava ainda a dificuldade de se canalizar a “insatisfação
geral” para uma organização política, apresentando-se como um dos porta-vozes
viáveis para os setores descontentes.
Ainda
no decorrer de 1951, a Tribuna
da Imprensa
se engajou na campanha
então desencadeada contra a Última
Hora, acusando
o Estado de possuir interesses nesse jornal, em concorrência comercial com o
que seria “uma imprensa independente”. O fundador e então proprietário da Última
Hora, Samuel
Wainer, seria, na opinião da Tribuna
da Imprensa,
um “aventureiro” financiado para “arruinar economicamente, pela desproporção
dos recursos de que dispõe, a imprensa normalmente financiada pelos condutos
legítimos (publicidade, assinatura e venda avulsa, e não os financiamentos
espúrios nem as recomendações palacianas)”.
Em dezembro de 1952, um artigo sobre a situação política do
país assinado por Otávio Mangabeira mais uma vez refletiu a posição do jornal
diante do governo Vargas. O articulista detectava uma dupla crise em torno do
presidente: uma crise de governo e uma crise de regime. A primeira seria
configurada pela “falta de uma base inerente ao governo”, pois Getúlio, embora
eleito, não conseguira eleger seu próprio vice-presidente (o vice-presidente
Café Filho se elegera basicamente através de votos do PSP e do PSD), o que
acarretara um “notório antagonismo presidente x vice-presidente, presidente x
Congresso”. A segunda crise, de regime, prendia-se ao fato de a nova democracia
ter sido estabelecida com base nos decretos do Estado Novo. Segundo Otávio
Mangabeira, as assembléias legislativas da União e dos estados seriam
verdadeiras colchas de retalhos onde, de modo geral, nenhuma das correntes de
que se constituíam, oriundas de vários partidos, conseguia formar sozinha uma
maioria. Ao contrário, as maiorias podiam ser obtidas através de diversas
composições entre as facções. Com isso, as casas do Legislativo perdiam sua
autoridade e deixavam de representar os interesses da coletividade. Além de se
encontrarem totalmente fora da realidade, os partidos seriam aparelhos de
tortura para seus membros. Mangabeira finalizava apontando a ocorrência de
corrupção nos pleitos eleitorais.
Na verdade, ao longo do governo Vargas, a Tribuna da Imprensa capitaneou a oposição. Segundo Foster Dulles, os mais
violentos ataques ao governo eram sempre encabeçados por esse jornal. Por
ocasião do suicídio de Vargas, em 24 de agosto de 1954, a tensão desencadeada pelos editoriais da Tribuna fez com que populares tentassem empastelar sua redação.
De
1955 a 1961
No mês de janeiro de 1955, durante o governo João Café Filho,
Carlos Lacerda começou a publicar uma série de editoriais em que reconhecia
publicamente as divergências existentes nas forças armadas, e defendia a
intromissão de militares da ativa na vida política do país. Preconizando a
entrega do governo a “mãos fortes”, Lacerda conclamava à “união das forças
democráticas”, ameaçadas pelas candidaturas de Juscelino Kubitschek e de João
Goulart à presidência e vice-presidência da República, lançadas respectivamente
em fevereiro e abril. Ao longo de todo o ano de 1955, a Tribuna da Imprensa combateria violentamente esses dois candidatos.
No mês de agosto, o jornal publicou o artigo intitulado
“Justiça, liberdade, autoridade e reconstrução: programa para o contragolpe”,
assinado por Carlos Lacerda. O artigo preconizava a instituição do
parlamentarismo, a extinção dos partidos políticos com menos de um milhão de
votos, o adiamento das eleições até 1956, a dissolução do Congresso com a imediata convocação de eleições para uma assembléia constituinte que prepararia
nova Constituição, a entrega da chefia do primeiro gabinete parlamentarista a
um militar, a promulgação de uma nova lei eleitoral instituindo eleições
indiretas, e, por fim, a revisão da política do petróleo.
Realizadas as eleições a 3 de outubro, entretanto, a vitória
de Juscelino e Goulart mostrou-se desde o início praticamente certa. No enterro
do general Canrobert Pereira da Costa, morto em 30 de outubro, o coronel
Jurandir Bizarria Mamede proferiu um discurso atacando violentamente os dois
candidatos. A Tribuna da Imprensa encampou esse ataque, publicando, em 4 de novembro, um
editorial que afirmava ter chegado “a hora das forças armadas”. Segundo Thomas
Skidmore, este seria o sinal de partida para o golpe que impediria a posse dos
candidatos eleitos. Cinco dias mais tarde, por ocasião do encontro do general
Henrique Lott, ministro da Guerra, com Carlos Luz, que substituía Café Filho na
presidência, a Tribuna da Imprensa anunciava a morte política de Kubitschek e Goulart: “Esses
homens não podem tomar posse, não devem tomar posse, não tomarão posse.”
No dia 11 de novembro contudo, Carlos Luz foi deposto por
Lott e o perigo de um possível golpe se desfez. Nesse mesmo dia a Tribuna da Imprensa teve suas oficinas ocupadas por militares, os quais, segundo
opinião do jornal, procuravam a todo custo um pretexto para impedir sua
circulação.
Em agosto de 1956, durante o governo de Juscelino Kubitschek,
seguindo sua tradição oposicionista, a Tribuna da Imprensa acusou o presidente de estar “afinado com os comunistas e
dominado por traidores”. Devido a essa acusação, o jornal sofreu uma apreensão,
cuja ordem, segundo o então chefe de polícia, general Augusto Magessi, teria
partido de “escalões superiores”.
Em
outubro de 1960, ao mesmo tempo em que Jânio Quadros era eleito presidente da República pela UDN, Carlos Lacerda elegia-se governador do recém-criado estado da
Guanabara pelo mesmo partido. Assumindo o cargo em 5 de dezembro, Lacerda
passou a direção da
Tribuna da Imprensa a
seu filho Sérgio Lacerda.
Embora tivesse apoiado a candidatura de Jânio Quadros, logo
após a posse do novo presidente a Tribuna da Imprensa entrou em conflito com o governo federal, combatendo sua
política externa e, sobretudo, a condecoração do ministro cubano Ernesto “Che”
Guevara pelo governo brasileiro. Por outro lado, o jornal atravessava nessa
época grandes dificuldades financeiras. A despeito da oposição que movia a
Jânio Quadros — incluindo muitas vezes insultos pessoais — Carlos Lacerda
pediu-lhe então a concessão de recursos para o jornal. Lacerda lembrou a Jânio
que, se não fora responsável por sua eleição, havia sido responsável pelo
lançamento de sua candidatura, já que a UDN pretendia inicialmente indicar
Juraci Magalhães para concorrer com Lott. Jânio negou os recursos solicitados.
Com
a renúncia de Jânio, em agosto de 1961, a Tribuna
da Imprensa foi
um dos primeiros órgãos a encampar de imediato a tentativa de intervenção
militar na ordem constitucional para impedir a posse do vice-presidente João
Goulart. Essa atitude valeu ao jornal uma tentativa de empastelamento. Como
governador de estado, Lacerda conseguiu censurar vários jornais contrários ao
golpe que se tramava contra a posse de Goulart, impedindo-os de circular.
As dificuldades financeiras, entretanto, fizeram com que dois
meses após a renúncia de Jânio, Lacerda vendesse a Tribuna a Manuel Francisco do Nascimento Brito. Sérgio Lacerda
permaneceu no jornal.
Mantendo
sua linha de oposição aos herdeiros políticos de Vargas, o jornal tentou nessa
fase congregar jornalistas conceituados. Nascimento Brito entregou a direção do
jornal a Mário Faustino e a Paulo Francis. A equipe incluía entre outros Millôr
Fernandes, Carlos Castelo Branco e Armando Nogueira. Segundo Hélio Fernandes,
Nascimento Brito desejaria ter montado um “jornal de estrelas”. Contudo, o
projeto fracassou, os prejuízos aumentaram e, finalmente, em 12 de março de
1962, o jornal foi vendido a Hélio Fernandes.
O
período pós-1962
Nos primeiros anos de nova direção, a Tribuna da Imprensa manteve uma oposição sistemática ao governo de João Goulart.
Segundo o próprio Hélio Fernandes, não havia qualquer ponto de aproximação
entre a linha política do jornal e a situação.
Nessa fase, a Tribuna da Imprensa bateu-se essencialmente contra a tentativa de reforma do
artigo 191 da Constituição, que permitiria a desapropriação de latifúndios
mediante pagamento em títulos da dívida pública, em lugar de pagamento em dinheiro. Carlos Lacerda, que, embora não fosse mais proprietário da Tribuna, mantinha relações de amizade com Hélio Fernandes e
continuava a influir na linha política do jornal, passou então a argumentar que
a reforma constitucional visava na verdade a permitir que Goulart se
perpetuasse no poder. Por essa razão, alguns autores entrevêem no pedido de
decretação do estado de sítio apresentado por Goulart ao Congresso a intenção
do governo federal de intervir na Guanabara, afastar Lacerda do poder e fechar
a Tribuna
da Imprensa.
Em 31 de março de 1964, o jornal apoiou o movimento militar
que depôs o presidente Goulart. Entretanto, a partir da promulgação do Ato
Institucional nº 1, em 9 de abril, a Tribuna da Imprensa começou mais uma vez a fazer oposição ao governo.
Mesmo contra a opinião de Carlos Lacerda, o jornal publicou
um artigo intitulado “O presidente Humberto do Amaral Peixoto”, em que
procurava satirizar a imagem pública do presidente Humberto de Alencar Castelo
Branco. Além disso, embora apoiasse as cassações dos principais políticos que
haviam participado do governo João Goulart, o jornal considerava que o governo
não deveria prolongar as punições.
A oposição da Tribuna da Imprensa ao governo foi gradualmente se intensificando, a ponto de
levar o jornal a apoiar a Frente Ampla, movimento desencadeado por Carlos
Lacerda — já então alijado do poder pelos militares —, com o objetivo de unir
contra o governo Castelo Branco políticos como Juscelino Kubitschek e o próprio
João Goulart.
Por fim, quatro dias antes das eleições legislativas de 1966,
Hélio Fernandes teve sua candidatura a deputado federal pelo Movimento
Democrático Brasileiro (MDB) do Rio de Janeiro impugnada, e foi proibido de
assinar qualquer matéria em seu jornal. Até 14 de março de 1967, o jornalista
escreveu sob o pseudônimo de João da Silva.
Dois dias antes de Castelo Branco deixar o governo, em março
de 1967, a Tribuna
da Imprensa publicou um artigo alusivo aos três discursos que o
presidente faria antes de passar o cargo. Para Hélio Fernandes, nem “três mil
discursos bastariam ao marechal-presidente para explicar por que entregou as
riquezas do subsolo aos monopólios internacionais, acabou com a liberdade
sindical, impôs salários miseráveis aos trabalhadores, cortou as fontes de
crédito para a indústria nacional e perseguiu a iniciativa privada brasileira.
E ainda por que permitiu o escândalo da Amforp e do dólar, e por que deixou o
sr. Juraci Magalhães conduzir uma política internacional que cobriu o Brasil de
vergonha e ridículo”. “Não há oratória que consiga melhorar a imagem pública do
marechal-presidente, pois os males e problemas que tais ações acarretaram para
o povo não se expressariam em palavras, mas em sofrimentos reais e materiais:
falências, concordatas, desemprego, desespero, prisões, cassações,
desmoralização do Congresso, desmantelamento do regime democrático, perda de
valiosas conquistas políticas e trabalhistas.”
Um dia antes de o marechal Castelo Branco deixar a
presidência, novo artigo era publicado pela Tribuna da Imprensa, considerando a mudança de dirigentes como “o dia do alívio
nacional”. O jornal acrescentava que “Castelo deixa o poder e grandes
manifestações se preparam no Brasil inteiro. Na avenida Rio Branco, teremos a
tradicional chuva de papel picado, só reservada aos dias de grande emoção
nacional. E nada mais significativo dessa emoção do que a saída do pior
presidente de toda a história brasileira. Costa e Silva, novo presidente a
partir de amanhã, tomará posse precedido pela maior carga de esperança que este
país já conheceu desde a eleição do sr. Jânio Quadros. Mas forçoso é reconhecer
que essa carga de esperança precede o governo Costa e Silva menos pelo que ele
possa realizar do que pela sua verdadeira significação: a libertação da
ditadura Castelo Branco. As três grandes aspirações nacionais (desenvolvimento,
nacionalismo e democracia) não existiram no governo Castelo Branco. E não
existiram por uma razão muito simples: é que os incapazes congênitos como
Castelo Branco têm que apelar para a ditadura para sufocar os anseios populares
e os protestos da população esclarecida por não terem podido alcançar o
desenvolvimento que o país exigia. E esse desenvolvimento não foi atingido pelo
maior e mais feroz grupo entreguista que já se apossou de um governo. Durante
três anos as riquezas brasileiras, o seu patrimônio e o seu potencial para o
futuro foram miseravelmente roubados por grupos estrangeiros associados a
personagens de proa no governo Castelo Branco”.
No mês de julho de 1967, por ocasião da morte de Castelo
Branco, a Tribuna publicou um violento editorial sobre o ex-presidente, que
provocou indignação nas forças armadas. Alguns militares, sobretudo os mais
jovens, estavam dispostos a empastelar o jornal. Hélio Fernandes foi chamado de
“miasma”, e a tentativa de empastelamento foi contida pela ação de militares
mais moderados. No dia 22 de julho, contudo, Hélio Fernandes foi preso e
enviado a Fernando de Noronha, onde permaneceu 30 dias.
No
mês de setembro de 1969, nova crise se instalou na Tribuna
da Imprensa. Um
artigo publicado pelo colunista Oliveira Bastos fora considerado insultuoso ao
ministro da Fazenda Antônio Delfim Neto, pois o acusava de ter permitido o
preenchimento sem concurso de cerca de seiscentos cargos públicos com
vencimentos superiores a dois mil cruzeiros mensais. O colunista havia-se encontrado
posteriormente com um dos assessores do ministro, que o agredira fisicamente. A
partir daí, a Tribuna da
Imprensa passara
a atacar Delfim Neto, fazendo “insinuações gravíssimas, de ordem moral”. Por
fim, em 24 de setembro, o jornal foi fechado pela Polícia Federal, assim
permanecendo durante três dias. No momento em que a
Tribuna voltou
a circular, Hélio Fernandes reagiu, considerando a suspensão uma
“arbitrariedade inútil, uma violência desnecessária”. O jornalista demonstrava
que, segundo Maquiavel, “toda ação punitiva, toda violência deveria ser
praticada numa dose maciça e cavalar, de forma fulminante, para que então,
aliviado, o povo tivesse apenas a visão dos benefícios a distribuir. No Brasil,
o que se faz é exatamente o contrário: um regime punitivo que se estende
indefinidamente, que mantém o povo aterrorizado e inquieto, enquanto a
distribuição de benefícios que só o desenvolvimento proporciona não começa
jamais”.
No
dia 29 de setembro, a Tribuna
da Imprensa publicou
uma carta do comandante Mário dos Reis Pereira ao almirante Augusto Rademaker, em que o primeiro imputava ao grupo de Castelo Branco pretensões
“continuístas”.
A publicação dessa carta valeu a Hélio Fernandes o desterro em Campo Grande, em Mato Grosso, para onde partiu em 1º de outubro, segundo portaria baixada
pelo ministro da Justiça Luís Antônio da Gama e Silva.
Nos último dias de 1969, por ocasião do 20º aniversário do
jornal, Hélio Fernandes, de volta ao Rio, publicou o artigo “Vinte anos pela
liberdade da Tribuna da Imprensa”, em que declarava: “O jornal não arredou pé de sua
trajetória de nacionalismo, mesmo que as esquerdas a qualifiquem de reacionária
e as direitas de demagógica e comunista. A sua luta é a do povo, pela
integração do Brasil, e não sua estagnação. É a luta pelos ideais patrióticos e
democráticos da massa popular brasileira, vilipendiada e desrespeitada pelas
demagogias de 12 governos em 20 anos, o que patenteia o estado de
irresponsabilidade e de descalabro que tem vivido o país.”
Desde então, o jornal tem-se mantido fiel a uma posição
nacionalista.
O
engajamento oposicionista que Hélio Fernandes imprimiu ao jornal seguiu adiante
ao longo de todos os governos militares, e mesmo após o fim da ditadura a Tribuna da
Imprensa
continuou mantendo uma postura independente em relação à situação,
permitindo-se criticá-la quando julgasse necessário. A partir de 1968, o jornal
passou a sofrer a censura prévia, recebendo regularmente visitas noturnas de
oficiais do I Exército, que decidiam o que poderia ser publicado nas edições
das manhãs seguintes. De acordo com Hélio Fernandes, o jornal desperdiçava
rotineiramente 20% de seu material redacional. A censura continuou mesmo
durante a retomada do processo de restauração dos direitos políticos
democráticos, que foi conduzido pelo próprio regime militar e que ficou
conhecido como “abertura”. Assim, a Tribuna
da Imprensa
teve diversas de suas edições apreendidas, sendo que em 1977 as apreensões
chegaram a cinco, e em uma delas seus diretores Hélio Fernandes e Wilson Correia foram convidados a prestar esclarecimentos à polícia. Em março de 1978, uma nova
apreensão penalizava a publicação do editorial “Empulhação em vez de
democracia”, de autoria de Hélio Fernandes, no qual se criticava a determinação
governamental de eleição indireta para governadores estaduais e a criação dos
ditos senadores “biônicos”, eleitos indiretamente à razão de um por estado.
Essas alterações das normas do jogo político integraram o chamado pacote de
abril, editado em abril de 1977, e que constituía um conjunto de medidas em
reação à não obtenção no Congresso Nacional dos 2/3 necessários para a
aprovação do anteprojeto governista de reforma do Poder Judiciário. Com o
pacote não só se implantava essa reforma como também se garantia a maioria
governista no Legislativo. O jornal, comprometido com sua prática
oposicionista, publicou editoriais nos quais antevia a breve chegada do MDB, o
único partido de oposição, ao poder em conseqüência do processo de abertura.
Quando
da aprovação da lei que concedia a medida da anistia em agosto de 1979, por
meio do qual se beneficiavam 4.650 opositores do regime militar e se permitia o
retorno dos exilados, a libertação de grande parte dos presos políticos ainda
detidos e a livre circulação daqueles que se mantinham na clandestinidade, a Tribuna
da Imprensa
publicou o editorial “Anistia sem união nacional” em que fazia ressalvas ao
caráter restritivo da anistia aprovada e pugnava por uma anistia ampla, geral e
irrestrita; de acordo com Hélio Fernandes, signatário do editorial, “não pode
haver conciliação nacional, pacificação, cessação final das hostilidades, sem
uma anistia ampla e irrestrita”. A crítica visava sobretudo ao que o Congresso,
ao aprovar a lei, considerava uma concessão.
Como
corolário do processo de abertura, liquidou-se a censura em junho de 1978, mas
essa medida, anunciada informalmente, por telefone, aos principais órgãos da
imprensa visados, não chegou a encerrar as questões da Tribuna
da Imprensa
com o regime militar; em setembro de 1979, o jornal entrou com ação de
indenização contra os ex-presidentes Emílio Médici e Ernesto Geisel, por “abuso
de poder”, o qual se teria manifestado em função da censura feita ao jornal
durante dez anos. Em fevereiro de 1980, cogitou-se de enquadrar a Tribuna
da Imprensa
na Lei de Segurança Nacional em função da publicação de um artigo assinado pelo
jornalista correspondente Alaim Araújo, em que se denunciava saques perpetrados
por contingentes das forças armadas quando da repressão à greve dos
metalúrgicos, ocorrida em São Paulo em 1979; este artigo foi considerado
“calunioso e infamante às forças armadas”.
Em
abril de 1981, a Tribuna
da Imprensa
sofreu um atentado terrorista que acabou por destruir sua gráfica. Esse
atentado foi considerado naquele momento como uma retomada da ação terrorista
que se abatera sobre o Rio de Janeiro sete meses antes, quando houve ataques à
Ordem dos Advogados do Brasil e à Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, e era
creditada à iniciativa de segmentos militares descontentes com a abertura do regime
e visando a interrompê-la. Em maio, um novo atentado ocorria no Rio de Janeiro,
dessa vez no Riocentro, uma construção em área de urbanização mais recente
destinada a sediar eventos de grande porte. O atentado foi frustrado, pois a
bomba explodiu na mão de um dos terroristas, um sargento e um capitão do
Exército, antes de chegar ao local a que se destinava. Hélio Fernandes publicou
então o editorial “Atentados terroristas: variações sobre um tema antigo”.
Diante da recusa do Exército em assumir a responsabilidade pelo episódio, a Tribuna
da Imprensa,
atacada recentemente, empenhou-se em deixar claro a evidência da culpabilidade
dos militares nesse atentado. De acordo com o jornalista, “tenho visto e
escrito muito sobre terrorismo (...). Mas nenhum tão óbvio, tão claro, tão
elucidativo, tão evidente como esse do Riocentro. Vamos mostrar fatos, análises
e comparações, tudo rigorosamente verdadeiro. Para melhor facilitar a leitura,
dividimos os fatos em capítulos, estudando cada um deles em particular, e tirando
20 conclusões que estão no final, e que são irrefutáveis, indiscutíveis,
verdadeiríssimas”. O artigo conclui chegando ao que considerava “observações
técnicas”: “A bomba que explodiu no carro estava sendo manipulada pelo sargento
(...). Os acidentados são homens do serviço de inteligência, logo pressupõe-se
que têm experiência com explosivos. No caso do sargento e do capitão, esta
certeza se confirma, pois conhecem a operação de comando (...). As declarações
do comandante do I Exército foram um tanto imprudentes, quando afirma que ‘os
militares agiam no estrito cumprimento das missões normais de rotina’. Que
missões? Que rotina? Que cumprimento do dever? (...).” E quanto às declarações
feitas pelo Exército, o editorial considerou que “todos os pronunciamentos
citados têm uma tônica: ‘os atentados não alterarão o projeto de abertura’. As
afirmações identificam os conceitos que essas autoridades fazem sobre os
motivos dos atentados. Todos consideram, obviamente, que as bombas, todas elas,
pretendem interromper o processo democrático”. No editorial da edição seguinte,
o diretor do jornal propunha uma síntese na qual seria o presidente João Figueiredo o grande alvo dos atentados terroristas que se vinham sucedendo, pois havia
assumido o poder com o compromisso de transformar o Brasil numa democracia. O
caráter intimidatório dos atentados era percebido não só pela sociedade civil,
mas também por “uma parte muito grande da oficialidade, que não concorda com
esses atos revoltantes, que acha que chegou a hora de ‘acabar com o
derramamento de sangue’, de apoiar o general João Figueiredo para que o país volte à calma, à tranqüilidade e à paz tão sonhada...”.
A Tribuna
da Imprensa
seguiu apoiando o processo de retomada dos direitos políticos democráticos, e
assim, quando se desencadeou a campanha em prol da implantação de eleições
diretas para a presidência da República no final de 1983, tendo como pano de
fundo a divisão nas forças governistas no que dizia respeito à sucessão do
presidente João Figueiredo, o jornal manteve-se favorável às chamadas “Diretas
Já”. Desse modo, no início de abril de 1984, criticou o pronunciamento em que o
chefe de estado considerava a eleição direta “inoportuna no momento”. Segundo
Hélio Fernandes, a omissão em estabelecer um momento explicava-se por
Figueiredo “não ter recebido instruções a tempo”. O diretor do jornal
considerava o presidente como passível de submeter-se a instâncias que não
especifica quais seriam, “como é do seu gosto, feitio e indolência”.
Em 10 de abril de 1984, houve no Rio de Janeiro um grande
comício que reuniu um milhão de pessoas em torno da igreja da Candelária,
clamando por eleições diretas, e ao qual acorreram diversas lideranças
oposicionistas. O editorial da Tribuna da Imprensa nesse dia instava o povo do Rio ao comparecimento maciço,
afirmando ser impossível esperar mais um mandato para eleger-se diretamente o
presidente da República. Para o jornal, os “milhões de párias, de miseráveis,
de pobretões” que compunham a nação estariam “sujeitos às ordens que partem do
exterior onde está instalado o verdadeiro controle remoto que domina toda a
economia brasileira”, uma vez que não gozavam de liberdades democráticas. Com a
rejeição da chamada emenda Dante de Oliveira pela Câmara de Deputados, em 21 de
abril de 1984, que formalizava a proposta da implantação das eleições diretas,
a Tribuna
da Imprensa passou a chamar a atenção para os integrantes do Partido
Democrático Social (PDS), o partido governista, que abandonaram o plenário na
hora da votação da emenda. O jornal propunha que se desse publicidade à “lista
dos traidores” e conclamava o povo a votar em 1986 em quem melhor representasse
os seus interesses.
Sob
o governo de José Sarney implantou-se em 28 de fevereiro de 1986 uma reforma
econômica, o chamado Plano Cruzado, visando combater a inflação que chegara a
ultrapassar 250% ao ano e que consistia na criação de um novo padrão monetário,
o cruzado, de valor mil vezes maior que o cruzeiro — então abolido —, na
extinção da correção monetária, na estabilização cambial e no congelamento de
preços e salários. O grande sucesso obtido pelo programa nos primeiros meses
foi noticiado pela Tribuna
da Imprensa;
de acordo com o editorial de Hélio Fernandes de março de 1986, “a revolução sem
sangue (...) vai sendo ganha pelo povo e pelo governo”. O ponto mais importante
do programa, segundo o jornal, era o congelamento dos preços, sem o qual o
“plano todo viria abaixo”. O Plano Cruzado, porém, apresentou numerosos
problemas de ajuste, o que impediu um controle de mais longo prazo da inflação.
Assim, foi necessário a implantação do Plano Cruzado II, recebido pela Tribuna
da Imprensa
como “traição ao povo”. Esse novo plano, para Hélio Fernandes, beneficiaria
apenas as multinacionais.
Em 1992, quando do processo político desencadeado pelo Poder
Legislativo federal que resultou no afastamento de Fernando Collor de Melo da
presidência da República — sob a acusação de envolvimento em esquema de
corrupção e tráfico de influência organizado pelo tesoureiro de sua campanha
eleitoral, Paulo César Farias —, a Tribuna da Imprensa se posicionou contra o processo de impeachment do então presidente, alegando que se em 1964 tivemos uma
“quartelada militar”, em 1992 tivemos uma “quartelada parlamentar”. Claramente
contra a ação do Congresso, o jornal afirmou que “Collor foi derrubado
ilegalmente, cassado imoralmente, teve o mandato interrompido
inconstitucionalmente. E tudo isso sem julgamento...”.
Após o impeachment de Fernando Collor, assumiu a presidência da República o
vice Itamar Franco.
Na primeira edição do jornal em 1993, a coluna de Hélio Fernandes destacava a falta de objetividade do governo Itamar para combater a
“indústria da fome” com seus “milhões de famintos e desempregados”.
Ainda
em 1993, com o plebiscito que em 21 de abril manteve a forma republicana de
governo e o regime presidencial no país, o jornal associou o parlamentarismo às
crises políticas e econômicas dos países que o adotam, além de afirmar que as
posições defendidas na campanha seriam de interesses pessoais. Segundo o
jornal, os políticos não ligavam para o fato de o Brasil “não ter nenhuma
condição de ser governado pelo parlamentarismo”, além de existir “um total
desvinculamento entre o povo e o regime de gabinete...”.
O processo de privatização mantido por Itamar Franco e
Fernando Henrique Cardoso foi duramente criticado pelo jornal.
A implantação do Plano Real nos primeiros meses de 1994, pelo
ministro da Fazenda e depois candidato à presidência da República, Fernando
Henrique Cardoso, foi caracterizada pela Tribuna da Imprensa como “a maior imoralidade da nossa história”. O plano era
acusado de ser eleitoreiro, “desonesto”, “complicado”, chegando mesmo a
confundir os próprios economistas do governo. Destacava que existiam outras
prioridades na agenda nacional como a reforma agrária.
Nas
eleições de outubro desse ano para a Presidência da República, Fernando
Henrique foi eleito, tendo sido beneficiado pelo êxito do plano adotado.
Segundo editorial da Tribuna
da Imprensa,
o candidato vencedor do pleito chegava ao poder “sem títulos, sem mérito, sem
credenciais”, mas com forte apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Essa postura de crítica ao governo de Fernando Henrique
Cardoso manteve-se nos anos que se seguiram.
Em entrevista concedida ao Centro de Pesquisa e Documentação
de História Contemporânea do Brasil (Cpdoc), Hélio Fernandes afirmou que em
1998 o jornal tirava em média 25 mil exemplares por dia, tendo como
público-alvo a classe A.
Difícil
começo de século
Em 2 de dezembro de 2008, deixou de
circular a Tribuna da Imprensa.
Desde sua aquisição em 1962, Hélio Fernandes teve de lidar com pesado passivo e
sempre encontrou dificuldade para equilibrar as contas da publicação. Segundo o
Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro, o jornal não depositava
o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) nem as contribuições ao
Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) de mais de sessenta funcionários
desde 1995.
O fim da circulação da Tribuna
da Imprensa teve
grande repercussão nos meios políticos brasileiros e
levou alguns senadores a lamentarem o fato. No dia 11 de dezembro de 2008, houve
ainda uma última edição impressa excepcional,
com a manchete "Senado quer discutir situação da Tribuna".
Em fevereiro
de 2009, por decisão
do ministro Celso de Mello, o Superior Tribunal Federal (STF) reconheceu à Tribuna
da Imprensa o
direito a uma
indenização em função
das perseguições, censuras e prejuízos materiais sofridos pelo veículo
entre os anos de 1969 e 1979, durante o regime militar. Dois
meses depois, porém, funcionários
do jornal
divulgaram comunicado em protesto ao não-cumprimento de acordos estabelecidos
entre a direção da Tribuna e
o Sindicato local,
além de denunciar irregularidades e condições "insalubres" de
trabalho. Também,
os funcionários do site, que
seguia
no ar,
decidiram interromper suas atividades
nesse dia.
Carlos Eduardo Leal
FONTES: ENTREV.
HÉLIO FERNANDES; SKIDMORE, T. Brasil; Tribuna da
Imprensa; VÍTOR, M. Cinco; Portal Imprensa (http://portalimprensa.uol.com.br; acessado em
21/12/2009).