CAMELI, Orleir
*gov. AC 1995-1998.
Orleir Messias Cameli nasceu em Cruzeiro do Sul (AC) no dia 16 de março de
1949, filho de Marmud Ferreira Cameli e de Marieta Messias Cameli.
Descendente de libaneses que se fixaram
na região amazônica no início do século, dedicou-se, desde muito cedo, aos
negócios de seu pai, empresário dos ramos de corte de madeira e de construção
civil.
Ingressou na política filiando-se ao
Partido Progressista Reformador (PPR), em cuja legenda se elegeu prefeito de
Cruzeiro do Sul nas eleições municipais de outubro de 1992. Tomou posse em
janeiro do ano seguinte e em março de 1994 desincompatibilizou-se do cargo para
disputar as eleições ao governo do Acre pelo PPR. No pleito de outubro desse
ano classificou-se para o segundo turno, quando derrotou o ex-governador e
então senador Flaviano Melo, candidato do Partido do Movimento Democrático
Brasileiro (PMDB).
Iniciou seu mandato em janeiro de 1995,
em substituição ao governador Romildo Magalhães, e em agosto desse ano foram
levantadas as primeiras suspeitas de irregularidades envolvendo o seu nome.
Nessa ocasião foi acusado do desvio de verbas públicas para as empresas de seu
pai, a Marmud Cameli & Cia., durante sua gestão na prefeitura de Cruzeiro
do Sul. Ainda nesse mês, com a fusão do PPR com o Partido Progressista (PP),
surgindo daí o Partido Progressista Brasileiro (PPB), filiou-se a essa
agremiação. Em outubro seguinte, a investigação do desvio de verbas para a
Marmud Cameli & Cia. desencadeou uma série de novas denúncias de
irregularidades relativas à administração estadual, trazidas à luz por seu
primo e deputado estadual Wagner Sales (PMDB). As acusações deram origem à
abertura de inquéritos pelo Ministério Público e Receita Federal.
Entre as denúncias que tiveram maior
repercussão, uma foi a que o ligou ao narcotráfico, principalmente depois que,
ainda em outubro de 1995, um avião de sua propriedade, recém-adquirido nos EUA,
foi retido no aeroporto de Cumbica, em São Paulo, carregando contrabando de
diversas mercadorias e sob o comando de um piloto que respondia a processo por
tráfico de entorpecentes. A suspeita de sua ligação com o tráfico de cocaína
ganhou consistência quando a empresa petrolífera colombiana Mobil Ami,
envolvida na lavagem de dinheiro proveniente dos negócios com a droga, ofereceu
ao governo acreano 165 milhões de dólares a título de empréstimo e, em troca,
como garantia, se apropriaria da terça parte do território estadual. No final
de outubro, a Receita Federal descobriu em seu nome quatro números de registro
no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), dos quais dois eram falsos.
Enquanto empresários que o apoiaram
enriqueciam, o aprofundamento das investigações levou a novas pistas indicando
seu envolvimento com a corrupção e o enriquecimento ilícito. Suas empresas eram
acusadas de promover devastação de terras indígenas, contrabando de madeira e
trabalho escravo. Pesaram sobre ele, ainda, acusações de peculato, crime contra
o patrimônio público e falsidade ideológica, perfazendo um total de 16
inquéritos. Em novembro de 1995, novas acusações indicaram o envolvimento de
membros do seu governo nas irregularidades e existência de caixa dois para o
pagamento de propina aos deputados estaduais que o apoiavam. No mês seguinte,
nomeou para o Tribunal de Contas do Estado (TCE) o deputado federal Francisco
Diógenes, do Partido da Frente Liberal (PFL), empresário com quem tinha
estreitas ligações políticas.
Em fevereiro de 1996, Cameli foi
intimado a depor em Brasília para esclarecer a denúncia de que sua empresa em
Cruzeiro do Sul havia recebido, durante seu mandato, uma soma elevada da
prefeitura, e ele não conseguiu se explicar. Enquanto isso, a oposição na
Assembléia Legislativa acreana tentava, sem êxito, afastá-lo do governo. Em
abril desse mesmo ano, a Assembléia recusou um pedido de impeachment, quando
17 dos 24 deputados estaduais foram contrários ao afastamento. Nem mesmo a
descoberta de um quinto número no CPF e uma avalanche de irregularidades
denunciadas na Assembléia - peculato, desvio de verba pública, dispensa ilegal
de licitação, falsidade ideológica, contrabando, ligação com o narcotráfico,
empréstimo ilegal, retenção indevida de contribuição sindical, devastação
ambiental, mentiras reiteradas, violação da patente de direitos, desobediência
à ordem judicial e tentativa de venda de porção do território nacional a
narcotraficantes estrangeiros - convenceram os deputados a afastarem Cameli do
governo. Às vésperas das eleições municipais de outubro de 1996, viu-se
envolvido em mais uma denúncia. Desta feita, foi acusado de ter empregado 1,2
milhão de reais na campanha do deputado federal Mauri Sérgio, candidato do PMDB
à prefeitura de Rio Branco e que acabou sendo eleito. A intenção de Cameli era
evitar que a capital estadual continuasse nas mãos do Partido dos Trabalhadores
(PT), cujo candidato, Marcos Afonso Pontes, apoiado pelo prefeito Jorge Viana,
foi derrotado por reduzida margem de votos.
Embora tenha sido aprovada a emenda da
reeleição, em que os ocupantes do Poder Executivo não estavam obrigados à
desincompatibilização, diante de um quadro que lhe era totalmente desfavorável
a uma possível tentativa de permanecer no cargo, Cameli deixou de concorrer a
novo mandato no governo do estado no pleito de outubro de 1998. Para
substituí-lo, o PPB se coligou ao PFL e apoiou o candidato dessa agremiação,
Alércio Dias, que foi derrotado pelo petista Jorge Viana. Permaneceu à frente
do Executivo acreano até 1o. de janeiro de 1999, quando transferiu o
cargo ao seu sucessor.
Casou-se com Beatriz Barroso Cameli, com
quem teve seis filhos.
Eduardo
Junqueira/Alan Carneiro
FONTES: Estado de São Paulo (25, 27, 30 e 31/10,
12, 13, 14, 16 e 17/11 e 2/12/95; 22/2 e 2/4/96; 11/10/98); Folha de São
Paulo (22/8, 28/10 e 14/11/95, 1/2, 17/2, 05/04 e 15/7/96); Globo
(21, 22, 23 e 26/10, 14 e 15/11/95, 16/02 e 02/10/96); Jornal do Brasil
(23/10 e 1/11/95, 22/1, 1 e 15/02, 28/3 e 4/4/96).