VENTURA, Álvaro
*dep. fed. prof.
1934-1935.
Álvaro Costa Ventura Filho nasceu
em Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis, em outubro de 1893. Em
publicações oficiais seu nome ocorre também como Antônio Soares Ventura.
Iniciou sua vida política em 1914, quando da campanha
pacifista contra a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Estava na época ligado
à corrente anarco-sindicalista, com a qual rompeu após a Revolução Russa, em
1917. Em 1924 filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro, então Partido
Comunista do Brasil (PCB), com o qual mantinha contatos desde sua fundação,
dois anos antes.
Estivador
e sem instrução formal, participou em 1930 da I Conferência do PCB, em Santa Catarina, ao lado de diversos operários e políticos que haviam tomado parte na campanha
da Aliança Liberal (1929-1930) e na Revolução de 1930. Nessa conferência foi
criada a seção estadual do PCB que, a partir de então, atuou decisivamente para
a criação já no ano seguinte, de diversos sindicatos em Santa Catarina. Em julho de 1933, Álvaro Ventura foi eleito segundo suplente de deputado
federal classista à Assembléia Nacional Constituinte, como representante
profissional dos empregados.
Com a promulgação da nova Carta (16/7/1934), os deputados
constituintes tiveram seus mandatos estendidos e, em setembro desse ano, Álvaro
Ventura assumiu uma cadeira na Câmara dos Deputados como único representante do
PCB. No mês seguinte foi procurado por um emissário de Artur Bernardes Filho,
deputado oposicionista que pretendia obter o apoio do PCB ao golpe que se
preparava contra o presidente Getúlio Vargas. O PCB recusou-se a participar do
movimento, que não chegou a se concretizar. Nessa época, Ventura era um dos
mais estreitos colaboradores de Antônio Maciel Bonfim, secretário-geral do partido.
Em abril de 1935, com o término de seu mandato, deixou a Câmara.
Após a Revolta Comunista de novembro de 1935, deflagrada em
Natal, em Recife e no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, sob a liderança
do PCB e em nome da Aliança Nacional Libertadora (ANL) — organização
nacionalista e antifascista posta na ilegalidade em julho de 1935 —, e a grande
repressão aos comunistas que se seguiu, Ventura passou a viver na
clandestinidade.
Em
agosto de 1943, durante o Estado Novo, participou da Conferência da
Mantiqueira, que reuniu clandestinamente os grupos do PCB, dispersos desde
1935, que aceitavam a liderança de Luís Carlos Prestes, então na prisão. A
conferência tratou da reorganização do partido e da escolha de uma direção.
Prestes foi eleito secretário-geral mas o cargo foi assumido interinamente pelo
operário José Medina, que, pouco depois, foi afastado da direção e expulso do
partido. Ventura assumiu então seu lugar.
Na
mesma época militou na Liga de Defesa Nacional, associação civil fundada no Rio
de Janeiro em setembro de 1916 por Olavo Bilac, Pedro Lessa e Álvaro Alberto,
entre outros, visando, segundo os estatutos, “congregar os sentimentos
patrióticos dos brasileiros de todas as classes”, fundindo “a educação cívica,
o amor à justiça e o culto ao patriotismo”. Essa entidade seria considerada de
utilidade pública pelo Decreto nº 67.576, de 16 de novembro de 1970.
Álvaro
Ventura ocupou a secretaria geral do PCB até 1945, quando, iniciada a
desagregação do Estado Novo, Vargas decretou a anistia aos presos políticos e
Prestes foi libertado. Foi um dos oradores no comício realizado no estádio de
São Januário, no Rio de Janeiro, em maio de 1945, no qual Prestes fez seu
primeiro discurso após sua libertação e anunciou as linhas mestras da política
de “união nacional” proposta pelo PCB. Em agosto do mesmo ano, na reunião
plenária do comitê nacional do partido, teve seu nome confirmado como membro
efetivo do comitê nacional e como tesoureiro de sua comissão executiva. Em
julho de 1946, na III Conferência do PCB, deixou a direção do partido e passou
a suplente do comitê nacional.
Trabalhando depois como operário naval, tornou-se líder dessa
categoria e foi delegado do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos
(IAPM), no Rio de Janeiro.
Afastou-se da militância política após uma operação de hérnia
a que foi submetido em abril de 1964, logo em seguida à deposição do presidente
João Goulart pelo movimento político-militar de 31 de março. Seus direitos
políticos foram suspensos por força do Ato Institucional nº 1, de 9 de abril de
1964, primeiro instrumento de exceção editado pela junta militar que assumirá o
governo. Mais tarde tornou-se proprietário de uma oficina mecânica no bairro de
Botafogo, no Rio de Janeiro.
Foi responsável, em Santa Catarina, pelo jornal Voz da Unidade, porta-voz oficioso do PCB.
FONTES: AMADO, J. Homens;
ARQ. DEP. PESQ. JORNAL DO BRASIL; ARQ. GETÚLIO VARGAS; CÂM. DEP. Deputados;
CARONE, E. Estado; DULLES, J. Anarquistas; Jornal do Brasil (7/4/74);
Jornal do Comércio, Rio (24/5/45); SILVA, H. 1935; Voz da Unidade
(23 a 30/10/81, 2 a 8/2 e 1 a 7/7/82).