VARGAS,
Benjamim
*dir.-ger. DFSP 1945.
Benjamim Dornelles Vargas
nasceu em São Borja (RS) no dia 22 de outubro de 1897, filho do general Manuel
do Nascimento Vargas e de Cândida Dornelles Vargas. Ficou também conhecido pelo
apelido de Bejo. Seu pai participou da Guerra do Paraguai, tendo organizado uma
brigada em São Borja. Seu irmão, Getúlio Dornelles Vargas, foi presidente da
República de 1930 a 1945 e de 1950 a 1954. Outros dois irmãos participaram da
vida pública do país: Espártaco foi oficial-de-gabinete no governo de Getúlio,
e Protásio foi intendente municipal, membro da Comissão Executiva Castilhista e
deputado estadual no Rio Grande do Sul pelo Partido Republicano Liberal (PRL).
Seu sobrinho, Lutero Vargas, foi deputado federal pelo Distrito Federal de 1951
a 1959, na legenda do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
Participou da Revolução Gaúcha de 1923, que opôs no Rio
Grande do Sul os republicanos liderados por Antônio Augusto Borges de Medeiros
aos federalistas encabeçados por Joaquim Francisco de Assis Brasil. Estes,
denunciando fraude, rebelaram-se contra a reeleição do líder republicano para o
quinto mandato como presidente do estado. A luta se estendeu de janeiro a
novembro de 1923 e foi encerrada pelo Pacto de Pedras Altas, que estipulou a
manutenção de Borges no governo, mas vedou nova reeleição.
Após
a Revolução de 1930, tornou-se auxiliar de Getúlio Vargas, chefe do Governo
Provisório. Participou da repressão à Revolução Constitucionalista, deflagrada
em julho de 1932 em São Paulo, organizando e comandando em São Borja o 14º
Corpo Provisório da Brigada do Rio Grande do Sul. Esse batalhão foi chamado de
14º “Pé-no-chão” e era integrado por Lutero Vargas, seu sobrinho, Gregório
Fortunato, Omar Vargas e Odon Sarmanho Mora, entre outros. O 14º “Pé-no-chão”
atuou em Minas Gerais, na serra da Mantiqueira e na região de Campinas (SP),
sob o comando do então coronel Eurico Gaspar Dutra. Nessa ocasião teve início a
amizade entre Benjamim e Dutra, que valeu a este último a reconciliação com
Vargas, do qual se encontrava afastado desde a Revolução de 1930, devido ao
fato de não ter aderido ao movimento. A Revolução Constitucionalista foi
definitivamente debelada em outubro de 1932.
Em outubro de 1934 Benjamim Vargas foi eleito deputado à
Assembléia Constituinte do Rio Grande do Sul na legenda do Partido Republicano
Rio-Grandense (PRR). Participou dos trabalhos constituintes e, com a
promulgação da nova Carta estadual (29/6/1935), passou a exercer o mandato
ordinário.
Com
a abertura do processo de sucessão presidencial, prevista para 1938, Benjamim
teve atuação de destaque na articulação do projeto continuísta de Vargas, que
tinha no governador gaúcho José Antônio Flores da Cunha a principal ameaça, já
que este colocava seus efetivos estaduais a favor da candidatura oposicionista
de Armando de Sales Oliveira. Em várias ocasiões, Benjamim demonstrou seu apoio
a Vargas, tentando impedir acordos entre Flores da Cunha e a Frente Única
Gaúcha (FUG), liderando em 1936 a dissidência liberal dentro do PRL e iniciando
intensa campanha contra o governador nos jornais. Chegou, inclusive, a propor a
adoção de medidas de força contra o governador. Em outubro de 1937, Flores da
Cunha renunciou, buscando asilo no Uruguai. Para substituí-lo, Vargas nomeou
interventor o general Manuel Cerqueira Daltro Filho. No mês seguinte foi
implantado o regime do Estado Novo, seguido da dissolução dos órgãos
legislativos e dos partidos políticos. Com o fim das atividades legislativas,
Benjamim Vargas teve seu mandato de deputado extinto.
Em
1938 organizou a guarda pessoal de Getúlio Vargas, ao lado de Gregório
Fortunato, com quem havia lutado em 1932 no batalhão de São Borja. Hospedou-se
no quarto vizinho ao de Getúlio no palácio Guanabara, então residência
presidencial. Na noite de 10 de maio de 1938, quando se aproximava de casa,
verificou que os integralistas atacavam o palácio e que a guarda já se havia
rendido. O presidente, sua família e alguns auxiliares atiravam de revólver
contra os atacantes, que invadiram o palácio. Com a chegada de reforços
legalistas, a invasão — liderada pelos integralistas e apoiada por
oposicionistas liberais que visavam à deposição de Vargas — foi debelada em
poucas horas.
Em
1943, Benjamim tornou-se chefe do serviço de segurança dos palácios
presidenciais. Identificado com o “queremismo”, movimento de apoio à tese da
convocação de uma constituinte sob a presidência de Getúlio, em 28 de outubro
de 1945 foi nomeado por Vargas para substituir João Alberto Lins de Barros no
cargo de chefe de polícia do Distrito Federal (diretor do Departamento Federal
de Segurança Pública). As lideranças militares interpretaram a medida como um
passo no sentido de reforçar a posição do presidente e evitar as eleições
previstas para dezembro daquele ano. Imediatamente articularam a deposição de
Vargas, ocorrida no dia seguinte, entregando a chefia do governo a José
Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).
Durante o segundo governo de Getúlio Vargas (1951-1954),
Benjamim envolveu-se no episódio do atentado da rua Toneleros, ocorrido em 5 de
agosto de 1954 no Rio, que visava ao líder oposicionista Carlos Lacerda e
resultou na morte do major-aviador Rubens Vaz. Devido às ligações dos assassinos
com o governo, acirrou-se a campanha contra o presidente Getúlio Vargas, que
acabou se suicidando em 24 de agosto de 1954. No relatório final do inquérito,
Benjamim foi citado e acusado de crime de favorecimento pessoal, tendo obtido
habeas-corpus.
Aposentou-se como inspetor de diversões da Prefeitura do
antigo Distrito Federal.
Faleceu no Rio de Janeiro no dia 26 de março de 1973.
Foi
casado com Ondina Correia Vargas e, em segundas núpcias, com Leonor Carneiro
Leão.
O arquivo de Benjamim Vargas encontra-se depositado no Centro
de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (Cpdoc) da
Fundação Getulio Vargas.
FONTES: Álbum;
ARAÚJO, M. Cronologia 1943; ARQ. GETÚLIO VARGAS; CALMON, P. História; CARONE,
E. República nova; COSTA, M. Cronologia; COUTINHO, L. General; DULLES, J.
Getúlio; ENTREV. PEIXOTO, A.; Jornal do Brasil (27/3/73); MACHADO, F. Últimos;
NABUCO, C. Vida; REIS JÚNIOR, P. Presidentes; SILVA, H. 1935; SILVA, H. 1937;
SILVA, R. Notas; Veja (4/4/73).