KRAUSE,
Gustavo
*gov. PE 1986-1987; dep.
fed. PE 1991-1992; min. Faz. 1992; dep. fed. PE 1993-1995; min. Meio
Ambiente, Recursos Hídricos e da Amazônia Legal 1995-1998.
Gustavo Krause Gonçalves
Sobrinho nasceu em Vitória do Santo Antão (PE) no dia 19 de
junho de 1946, filho de Severino Joaquim Krause Gonçalves e Emoci Krause
Gonçalves. Seu tio José Francisco de Moura Cavalcanti foi político destacado em
Pernambuco, tendo governado o estado entre 1975 e 1979.
Iniciou-se na política estadual em
1964, tornando-se oficial-de-gabinete do seu tio Moura Cavalcanti, então
secretário de Administração de Pernambuco durante o governo de Paulo Guerra
(1964-1967). Em 1968, formou-se em direito pela Universidade Federal de
Pernambuco (Ufpe).
Em 1970, tornou-se auditor do Tesouro
do Estado de Pernambuco. No ano do 1973, foi convidado por Moura Cavalcanti,
então ministro da Agricultura no governo do presidente Emílio Garrastazu Médici
(1969-1974), para ocupar a subchefia do seu gabinete, permanecendo neste posto
até o ano seguinte. Em 1975, quando Moura Cavalcanti foi nomeado governador de
Pernambuco, Gustavo Krause assumiu a Secretaria da Fazenda, ocupando o cargo
até 1979.
Filiado à legenda da Aliança Renovadora
Nacional (Arena), partido de sustentação ao regime militar instalado no país em
abril de 1964, com a assunção de Marco Maciel ao governo pernambucano em 1979,
foi nomeado prefeito do Recife. Com a extinção do bipartidarismo, em 29 de
novembro de 1979, e a conseqüente reformulação partidária, filiou-se ao Partido
Democrático Social (PDS), legenda que sucedeu a Arena em seu apoio ao regime
militar. Em maio de 1982, afastou-se da prefeitura para participar das eleições
estaduais como candidato à vice-governador na chapa encabeçada por Roberto
Magalhães, sendo substituído por Jorge Cavalcante.
No pleito de novembro de 1982, com a
vitória de Roberto Magalhães, que derrotou o candidato do Partido do Movimento
Democrático Brasileiro (PMDB), Marcos Freire, elegeu-se vice-governador de
Pernambuco. Em 1985, transferiu-se para o Partido da Frente Liberal (PFL),
legenda originada de uma dissidência do PDS, a Frente Liberal, que apoiou o
nome do candidato oposicionista Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, reunido em
15 de janeiro de 1985.
Em maio de 1986, assumiu o governo de
Pernambuco, no lugar de Roberto Magalhães, que se lançara na disputa a uma vaga
no Senado nas eleições de novembro de 1986. O PFL foi derrotado nas urnas pelo
PMDB, que elegeu Miguel Arrais governador e, juntamente com um partido aliado,
garantiu as duas vagas para o Senado. Krause deixou o governo de Pernambuco ao
final do mandato, em março de 1987, dedicando-se à reconstrução do PFL no seu
estado. Nas eleições municipais de novembro do ano seguinte, elegeu-se como
vereador mais votado do Recife. Assumiu a sua cadeira na Câmara Municipal em
janeiro de 1989. Integrou-se à Comissão de Orçamento e Finanças e foi o relator
do projeto da lei orgânica municipal. Teve aprovados projetos que tratavam de
questões financeiras referentes ao regime tributário das micro e pequenas
empresas e o que estabelecia limites financeiros para as despesas de
publicidade da Prefeitura.
No pleito de outubro de 1990, elegeu-se
deputado federal por Pernambuco, novamente na legenda do PFL. Em fevereiro do
ano seguinte, assumiu sua cadeira na Câmara. Integrou-se à Comissão de Viação e
Transportes, Desenvolvimento Urbano e Interior, foi relator da Lei do
Inquilinato e não acompanhou a liderança do PFL na votação da maioria das
medidas provisórias do governo do presidente da República Fernando Collor de
Melo. Em dezembro de 1991, licenciou-se do mandato para assumir o cargo de
secretário de Fazenda de Pernambuco, no governo do seu correligionário Joaquim
Francisco (1991-1995), sendo substituído por João Colaço. À testa da
secretaria, ampliou a cobrança de impostos aos sonegadores e implementou uma
política de saneamento do Banco do Estado de Pernambuco (Bandepe). Neste mesmo
ano, desempenhou as atividades de professor de direto tributário e de política
fiscal da Universidade Católica de Pernambuco.
Seguindo os passos do governador
Joaquim Francisco, Gustavo Krause foi uma das lideranças que mais se destacaram
a favor do rompimento do PFL pernambucano com o presidente Fernando Collor de
Melo (1990-1992), no momento em que uma CPI organizada na Câmara dos Deputados
apresentava as primeiras provas da ligação do presidente da República com um
esquema de corrupção e tráfico de influência liderado pelo ex-tesoureiro de sua
campanha presidencial, Paulo César Farias. Próximo da votação da abertura do
processo de impeachment na Câmara dos Deputados, Krause deixou o cargo
de secretário e reassumiu o mandato de deputado federal, a tempo de estar entre
os 441 parlamentares que votaram pela abertura do processo de impeachment
de Collor, em 29 de setembro de 1992. Afastado da presidência logo após a
votação da Câmara, Fernando Collor renunciou ao mandato em 29 dezembro de 1992,
pouco antes da conclusão do processo pelo Senado Federal, sendo efetivado na
presidência da República o vice Itamar Franco, que já vinha exercendo o cargo
interinamente desde 2 de outubro.
Em outubro de 1992, após uma série de
indecisões entre os partidos que apoiavam Itamar Franco sobre quem iria assumir
o comando da área econômica, Gustavo Krause aceitou o convite do presidente
para assumir o Ministério da Economia, Fazenda e Administração, substituindo
Marcílio Marques Moreira. A escolha de Krause causou surpresa no meio político,
empresarial e financeiro, tendo repercutido na oscilação do índice Bovespa, que
na data de sua posse fechou o pregão em queda de 7,9%. A responsabilidade pela
condução da política econômica no primeiro ministério do governo Itamar Franco,
no entanto, dividiu-se entre Krause e o ministro do Planejamento, Paulo Haddad.
À frente da pasta, Krause defendeu a
prática de um “ensaio parlamentarista” para as resoluções governamentais. Entre
suas primeiras ações, propôs um acordo político contra a recessão e a
negociação de um projeto de emergência para política fiscal com presidentes e
líderes dos partidos. A sua proposta baseou-se na criação do imposto sobre
transações financeiras, na redução do limite de isenção do imposto de renda
para pessoas físicas e no reforço da fiscalização fazendária. Preocupado em
combater a desobediência fiscal, Krause reuniu-se com o presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF) para discutir o andamento de ações que tramitavam no
Judiciário contra o pagamento de impostos. Enfatizou a cobrança e o possível
bloqueio das contas bancárias de empresas estatais, estados e municípios que devessem
ao Tesouro Nacional e não renegociassem as sua dívidas. Aprovou um programa de
saneamento econômico, financeiro e estrutural da Caixa Econômica Federal e
apresentou propostas de linhas de crédito no Banco do Brasil com juros
inferiores aos do mercado para estimular a produção e a retomada do
crescimento.
Todavia, apesar de inicialmente
apresentar um discurso contra a recessão, acabou por manter a política de juros
altos praticada por seu antecessor e descartou a redução de impostos. Afirmou
como prioridade da sua gestão a aprovação de uma reforma fiscal, desejando
antecipar a reforma constitucional para maio de 1993. Em dezembro, defendeu a
implantação de programas sociais compensatórios para amenizar os efeitos da
recessão.
Divergências com o presidente Itamar
Franco, em especial devido ao congelamento das tarifas públicas e ao adiamento
das privatizações, levaram Krause a pedir demissão dois meses após a sua
nomeação, sendo substituído interinamente por Paulo Haddad, que acumulou a
pasta da Economia com a do Planejamento. Em seguida, o Ministério da Fazenda
passou para as mãos de Eliseu Resende.
De volta ao exercício do mandato de
deputado federal, Krause discordou da criação do Fundo Social de Emergência
(FSE) — que permitia que o governo gastasse 20% da arrecadação de impostos sem
que estas verbas ficassem vinculadas aos setores da saúde e da educação —,
proposto pelo então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, embora
aprovasse outras medidas tomadas identificando-as com as sugeridas por ele
próprio quando ministro.
No pleito de outubro de 1994,
candidatou-se ao cargo de governador de Pernambuco, pela legenda do PFL. Foi
derrotado por Miguel Arrais, do Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Durante a montagem do primeiro
ministério do governo Fernando Henrique Cardoso, iniciado em janeiro de 1995,
Gustavo Krause recusou o convite do presidente da República para ocupar a
Secretaria de Desenvolvimento Regional. Aceitou, no entanto, ocupar o cargo de
ministro do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal. Em julho
de 1995, enfrentou divergências sobre o preenchimento de cargos do segundo
escalão do seu ministério, principalmente quando Antônio Carlos Magalhães,
senador da Bahia e um dos principais líderes do PFL, questionou a nomeação do
superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama).
Em sua gestão no Ministério do Meio
Ambiente, Krause criticou o desperdício de recursos em obras hídricas do
Nordeste, defendendo a coordenação de iniciativas entre o governo federal e os
dos estados e municípios na definição de obras referentes à sua pasta, e o
combate ao clientelismo político. Em várias oportunidades, demonstrou seu
compromisso com Pernambuco e com o Nordeste, tendo concentrado na região mais
da metade dos investimentos feitos pelo seu ministério. Em conjunto com o
governador pernambucano Miguel Arrais defendeu a instalação, em Recife, de uma
refinaria que a Petrobras se comprometera de criar no Nordeste.
Em outubro de 1995, defendeu a
modificação da proposta de reforma administrativa apresentada pelo governo
federal, considerando que se deveria conceder autonomia aos estados e
municípios para que estes resolvessem os seus problemas administrativos de
acordo com as suas necessidades e peculiaridades. Dedicou-se também à
articulação para a aprovação da emenda constitucional que permitia a reeleição
do presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, defendendo que também os
prefeitos e governadores pudessem se candidatar a um segundo mandato
consecutivo sem que fosse necessária a desincompatibilização. Em janeiro de
1996, declarou-se favorável à participação de ministros nas campanhas de seus
aliados para as eleições municipais de outubro daquele ano.
Em novembro de 1996, o jornal O
Globo publicou uma reportagem dizendo que Krause encaminhara ao presidente
Fernando Henrique Cardoso uma denúncia de que o deputado Pedrinho Abrão, do
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) de Goiás, estava cobrando uma comissão de
4% sobre uma verba de 42 milhões de reais para a construção de uma barragem no
Ceará. Abrão entrou com uma queixa-crime por calúnia contra Krause, pedindo uma
indenização por danos morais. Porém, em maio de 1999, o parlamentar perderia a
ação e seria condenado a arcar com as custas judiciais.
Preocupado em reduzir o desmatamento na
Amazônia, Krause sugeriu à iniciativa privada o uso de dirigíveis para o
transporte de toras de madeira e minérios. Estreitou laços entre o seu
ministério e o das Relações Exteriores, ocupado pelo embaixador Luís Felipe
Lampréia, buscando assegurar a captação de recursos externos para projetos de
interesse ambiental, tais como o Programa de Proteção da Mata Atlântica e das
Florestas Tropicais no Brasil.
Em decorrência da reforma ministerial
promovida por ocasião do término do primeiro mandato presidencial de Fernando
Henrique Cardoso, foi substituído no Ministério do Meio Ambiente pelo deputado
federal José Sarney Filho (PFL-MA), em 1º de janeiro de 1999.
Foi primeiro
suplente do senador Marco Maciel (PFL) na legislatura que se iniciou no ano de
2003 e conselheiro do partido.
Concluiu curso de especialização em
técnica tributária no Centro de Estudos Interamericanos de Estudos Tributários,
em Buenos Aires. Ocupou a presidência do Sport Clube Recife.
Casou-se com Cléa Borges, com quem teve
três filhos. Divorciado, casou-se com Débora Cohen Foinquinos, com quem teve
dois filhos.
Publicou as obras Compr(o)missos com
a favela, Poder humor (1987, em co-autoria com Fernando Meneses),
Perdidos e achados (1990), O caminho das pedras — de Sarney a Itamar
(1993, em co-autoria com Luís Otávio Cavalcanti).
Gustavo Lopes/Sérgio Montalvão
FONTES:
CÂM. DEP. Deputados brasileiros. Repertório (1991-1995); Época
(2/11/98); Estado de S. Paulo (4/5/82, 15/5/86, 3, 8 e 13/10, 18/11,
17 e 18/12/92, 13/12/93, 11 e 29/10/95, 9 e 20/5/96); Folha de S. Paulo (15
e 11/5/86, 3 e 12/1/87, 3, 4, 24 e 26/10, 15 e 18/11, 5/12/92, 28/8 e 11/12/93,
22/4/94, 12/5, 20 e 27/7, 1/11/95, 27/1, 7/4 e 4/7/96); Globo (15/5/86,
24/9/87, 3 e 11,12/10, 18/12/92, 4/11/95, 7/1 e 13/6/96); Jornal do Brasil (9/5,
17/7, 17/10, 21/11 e 20/12/86, 27/7/89, 3, 7, 14 e 16/10, 8, 15 e 19/11, 15 e
17/12/92, 20/5/96); Portal do TSE. Disponível em : <http://www.tse.gov.br>. Acesso em : 19
out. 2009; Veja (7/10/92).