VELOSO,
Haroldo
*militar; rev. Jacareacanga; rev. Aragarças; dep. fed.
PA 1967-1969.
Haroldo Coimbra Veloso nasceu
no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, no dia 4 de julho de 1920, filho de
Paulo Veloso e de Diva Coimbra Veloso.
Sentou praça em abril de 1939, ingressando na Escola Militar
do Realengo, no Rio. Em setembro de 1942, foi declarado aspirante-aviador, já
no âmbito da recém-criada Força Aérea Brasileira (FAB), sendo promovido a
primeiro-tenente-aviador em novembro de 1944 e a capitão-aviador em maio de
1946. Fez o curso de engenharia aérea e em abril de 1951 foi promovido a
major-aviador.
A Revolta de Jacareacanga
Após
o suicídio de Getúlio Vargas (24/8/1954), delineou-se o quadro sucessório com a
indicação, pelo Partido Social Democrático (PSD), da candidatura do então
governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek. Logo em seguida,
estabeleceu-se a aliança entre o PSD e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB),
sendo João Goulart indicado candidato à vice-presidência. Essa aliança fez
recrudescer a oposição da União Democrática Nacional (UDN) e levou alguns
chefes militares a se manifestarem contra a candidatura de Goulart, acusado de
esquerdista. Ao mesmo tempo, o setor mais radical da UDN pregava um golpe de
Estado para impedir as eleições, que, todavia, foram realizadas em outubro de
1955, dando a vitória a Juscelino Kubitschek e João Goulart.
Em
9 de novembro seguinte, com o afastamento do presidente João Café Filho por motivo
de saúde, o governo foi assumido pelo presidente da Câmara dos Deputados,
Carlos Luz, que havia sido contrário à candidatura de Juscelino. No dia 11, o
general Henrique Teixeira Lott, ministro da Guerra demissionário, liderou um
movimento militar que provocou o impedimento de Carlos Luz, acusado de aderir a
uma conspiração em preparo no âmbito do governo para impedir a posse dos
eleitos, empossando na chefia da nação o vice-presidente do Senado, Nereu
Ramos. Ficou assim garantida a posse de Juscelino e Goulart, que ocorreu em 31
de janeiro de 1956, apesar dos protestos da UDN e do descontentamento de alguns
segmentos das forças armadas.
Haroldo Veloso representava um setor da Aeronáutica
descontente com o regime desde a primeira derrota do brigadeiro Eduardo Gomes,
em 1945, e sensível às pregações udenistas. Assim, em 1956, liderou a Revolta
de Jacareacanga, lugarejo situado no município de Itaituba (PA), próximo à
fronteira com o Amazonas e a 300km de Manaus. O levante, de oposição à corrente
militar que patrocinou o Movimento do 11 de Novembro de 1955, visava destituir
o presidente e o vice-presidente recém-empossados.
No
dia 11 de fevereiro de 1956, Haroldo Veloso partiu do Parque da Aeronáutica dos
Afonsos, no Rio de Janeiro, apoderando-se, com outros companheiros, de um avião
bimotor Beechcraft repleto de armas, explosivos e bombas descarregadas, com
destino à base de Cachimbo, no Pará. A meta final, no entanto, era
Jacareacanga, às margens do rio Tapajós, onde pretendiam estabelecer seu
quartel-general. Chegando a essa localidade, apossaram-se da estação de rádio
da Aeronáutica e passaram a comandar o pequeno destacamento militar e os
trabalhadores civis, além de ampliarem a resistência armando índios e
seringueiros que residiam nas proximidades. Uma semana depois receberam a
adesão do major Paulo Vítor da Silva e interditaram as cidades paraenses de
Itaituba, Belterra e Santarém por meio de tambores de gasolina vazios,
colocados no rio Tapajós. O domínio de Santarém causou grandes transtornos à vida
da região, pois a cidade era um ponto importante para a navegação fluvial e
também a base onde se reabasteciam os aviões comerciais que faziam a linha
Belém-Manaus.
Ao tomar providências para reprimir a rebelião, contando com
o Exército e um pequeno número de oficiais-aviadores, Juscelino Kubitschek
sentiu enormes dificuldades para organizar suas forças. Tanto o ministro da
Aeronáutica, brigadeiro Vasco Alves Seco, quanto um comandante da Marinha, em
Belém, recusaram-se a cooperar com o governo na repressão à revolta. Nos dias
subseqüentes, muitos membros de bases aéreas de Salvador, Belém e Fortaleza
chegaram a ser presos por se solidarizarem com Haroldo Veloso. A imprensa
udenista divulgou amplamente o fato, que considerou uma evidência da falta de
apoio do novo governo.
No
dia 27 de fevereiro, o confronto entre a tropa legalista da Aeronáutica e
elementos civis ligados a Veloso causou a fuga dos líderes da revolta. Dois
dias depois, encontrado em seu refúgio às margens do rio Tapajós, Haroldo
Veloso foi preso e conduzido a Santarém, onde ficou detido a bordo do navio
Getúlio Vargas. Levado para Belém, respondeu a inquérito policial-militar
enquanto permanecia preso no Parque da Aeronáutica. Seus companheiros José
Lameirão e Paulo Vítor fugiram num avião C-47 com destino a Santa Cruz de la
Sierra, na Bolívia, onde pediram asilo.
No
dia seguinte à prisão de Veloso, 1º de março de 1956, Juscelino Kubitschek
enviou ao Congresso o anteprojeto de lei que concedia anistia geral a todos os
que tivessem conspirado contra o governo desde 10 de novembro de 1955. Com a
anistia, o presidente conseguiu conter os setores militares, aos quais não
interessavam represálias e investigações de sobre quem conspirava ou não contra
o governo. Ao mesmo tempo, ao impedir a radicalização dos conflitos, Juscelino
apresentava-se como o presidente da paz e da concórdia, mantendo os udenistas
na função específica de oposição direitista e radical. Em 20 de janeiro de
1958, já reintegrado em suas atividades na Aeronáutica, Haroldo Veloso foi
promovido a tenente-coronel-aviador.
A Revolta de Aragarças
No final do governo Kubitschek, já articulada a sucessão
presidencial, Jânio Quadros apresentava-se como o único candidato capaz de
derrotar a coligação entre o PSD e o PTB, que se achava no poder. Apesar de
apartidário, Jânio Quadros contava com o apoio da UDN e dos setores militares
descontentes com o rumo político assumido pelo governo Kubitschek, inclusive o
setor da Aeronáutica que participara da Revolta de Jacareacanga.
Em
25 de novembro de 1959, a renúncia de Jânio como candidato às eleições
presidenciais de 1960 e a suspeita de uma conspiração de esquerda que seria
liderada por Leonel Brizola geraram outra crise militar — a Revolta de
Aragarças. Haroldo Veloso participou também desse movimento liderado por João
Paulo Burnier. No dia 2 de dezembro de 1959, apoderou-se de um avião de linha
comercial em pleno vôo e obrigou a tripulação a levar o aparelho à localidade
de Aragarças (GO), de onde os revoltosos iniciariam uma luta para derrubar Kubitschek
e evitar um golpe contra o candidato Jânio Quadros, depois eleito. A revolta
envolveu uns poucos aderentes e foi debelada em três dias. Ainda no governo
Kubitschek, Haroldo Veloso foi novamente anistiado e reincorporado à FAB.
Após 1964
Consumada a vitória do movimento político-militar de 31 de
março de 1964, que destituiu o presidente João Goulart, Haroldo Veloso requereu
sua entrada para a reserva remunerada como brigadeiro. Em novembro do mesmo
ano, fez vôos rasantes sobre o palácio do governo goiano, onde o governador
Mauro Borges resistia ao ato de cassação de seu mandato, decretado pelo governo
do marechal Humberto Castelo Branco.
Com
a edição do Ato Institucional nº 2 (26/10/1965) e a posterior instauração do
bipartidarismo, Veloso filiou-se à Aliança Renovadora Nacional (Arena), de
orientação governista. No pleito de novembro de 1966, elegeu-se deputado
federal pelo Pará na legenda da Arena com 12.156 votos, o que lhe conferiu o
sétimo lugar na bancada paraense. A cidade de Santarém, próxima de Jacareacanga
e de Aragarças, foi seu maior reduto eleitoral. Ocupou uma cadeira na Câmara em
fevereiro de 1967.
Em
1968, em Santarém, à frente de pessoas da cidade, marchou sobre a prefeitura
local para devolvê-la ao prefeito, que fora afastado por decisão da Câmara de
Vereadores e havia ganho recurso em instância superior. Diante dessa
manifestação pública, o delegado de Santarém deu ordem de fogo, causando a
morte de três pessoas e deixando Haroldo Veloso ferido.
Ao
longo de seu mandato, Veloso denunciou a existência, na Amazônia, de aeroportos
clandestinos que serviam a empresas estrangeiras.
Faleceu no Rio de Janeiro em 22 de outubro de 1969.
Foi
casado com Maria de Lurdes Leal Veloso.
FONTES: CÂM. DEP.
Deputados; CÂM. DEP. Deputados brasileiros. Repertório (6); CARNEIRO, G.
História; Grande encic. Delta; KUBITSCHEK, J. Meu; MIN. AER. Almanaque (1963);
WANDERLEY, N. História.