JOBIM, Nelson
*const. 1987-1988; dep. fed. RS
1987-1995; min. Just. 1995-1997; min. STF 1997-2006; min. Defesa 2007-2011
Nelson Azevedo Jobim nasceu em Santa Maria
(RS) no dia 12 de abril de 1946, filho de Hélvio Jobim e de Nami Azevedo Jobim.
Seu avô paterno, o advogado Válter Jobim, militou na política do Rio Grande do
Sul desde a década de 1920, elegendo-se, com o apoio de Getúlio Vargas,
governador do estado pelo Partido Social Democrático (PSD) em 1947. Seu pai foi
também advogado e deputado estadual.
Em 1964, já radicado
em Porto Alegre, ingressou no curso de direito da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS). Formando-se em 1968, voltou a Santa Maria para
dedicar-se ao magistério e exercer a advocacia no escritório de sua família.
Foi professor de direito processual civil e de introdução à ciência e filosofia
do direito na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), na Escola Superior de
Magistratura da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris), na Escola
Superior do Ministério Público e na Escola Superior de Advocacia da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), em Porto Alegre. Presidente da subseção da OAB em
Santa Maria no ano de 1977, foi ainda membro do Instituto dos Advogados do Rio
Grande do Sul e do Instituto dos Advogados Brasileiros. Entre 1982 e 1984
cursou mestrado em filosofia analítica e lógica matemática na UFSM e, de 1985 a
1986, exerceu a vice-presidência da OAB no Rio Grande do Sul. Mais tarde, ao se
transferir para o Distrito Federal, iria tornar-se professor adjunto de direito
constitucional no curso de mestrado em direito, e de teoria geral do processo
no curso de graduação em direito da Universidade de Brasília (UnB).
Até 1985, sua intensa atividade
classista, debatendo temas institucionais como a volta do habeas-corpus ou o direito de defesa dos presos
políticos, colocou-o na oposição ao regime militar instaurado no país em abril
de 1964. Em 1986, teve seu nome lançado à Assembléia Nacional Constituinte,
convocada em junho daquele ano pelo presidente da República, José Sarney. Na
ocasião, ao contrário do modelo de constituinte congressual que acabou sendo
adotado, defendeu a tese de uma constituinte exclusiva, que seria dissolvida
logo após a promulgação da nova carta.
No pleito realizado em
novembro de 1986, elegeu-se deputado federal constituinte pelo Rio Grande do
Sul na legenda do Partido do Movimento democrático Brasileiro (PMDB). Antes
mesmo de assumir sua cadeira, percebendo que a Constituinte corria o risco de
não passar de uma comissão de redação do Congresso Nacional, sem outros poderes
imediatos senão o de editar uma nova constituição, apresentou ao PMDB proposta
destinada a proteger os trabalhos constitucionais de constrangimentos impostos
por dispositivos da Constituição de 1967, ainda em vigor, como os que tratavam
das medidas de emergência e do estado de sítio, ou da edição de decretos-lei
por parte do Executivo. No seu entendimento, a Constituinte teria, como “poder
originário”, competência para estabelecer normas reguladoras do processo de
transição democrática e remover o chamado “entulho autoritário” da Carta de
1967. Sua proposta visava a restringir ao máximo o exercício da função
legislativa pelo presidente da República e impedir o voto dos senadores eleitos
em 1982. Discutida e aceita pelos setores “progressistas” do PMDB, a proposta
motivou um dos primeiros confrontos do partido com o governo Sarney. A pressão
do Executivo e dos setores conservadores de dentro e de fora do PMDB fez, no
entanto, com que o partido voltasse atrás na aceitação da proposta, que, para
Jobim, tiraria a Constituinte “dos trilhos da conciliação com as elites”.
Empossado em fevereiro
de 1987, tornou-se membro titular das comissões de Sistematização e Redação,
além de suplente da Subcomissão do Poder Legislativo, da Comissão da
Organização dos Poderes e Sistema de Governo. Sua inserção no grupo conhecido
como “histórico” ou “autêntico” do PMDB, composto pelas lideranças
remanescentes do MDB, fora tão bem-sucedida que foi logo convidado pelo líder
do partido na Constituinte, deputado Mário Covas, a assumir uma das
vice-lideranças da agremiação. Em junho de 1988, com a fundação do Partido da
Social Democracia Brasileira (PSDB) por uma dissidência peemedebista liderada,
entre outros, por Fernando Henrique Cardoso e pelo próprio Mário Covas, foi
eleito líder do PMDB na Constituinte, vencendo a disputa com seu conterrâneo e
líder do partido na Câmara, deputado Ibsen Pinheiro. Além do abalo provocado
pela saída de dezenas de constituintes para o PSDB, teve que administrar a
divisão de sua bancada e a oposição de Sarney ao projeto de constituição do
PMDB, que, segundo o presidente, esvaziava as funções do Executivo com o
deslocamento de parte de seus poderes para o Congresso e o Judiciário.
Nacionalista, mas crítico
das propostas estatizantes, Jobim defendeu na Constituinte um melhor
ordenamento da participação do Estado na economia. Nas principais sessões
deliberativas do período, votou contra o presidencialismo, o mandato de cinco
anos para Sarney, a limitação dos juros reais em 12% ao ano, a jornada semanal
de 40 horas, a criação de um fundo de apoio à reforma agrária, a limitação do
direito de propriedade produtiva, a estabilidade no emprego, a estatização do
sistema financeiro, a adoção da pena de morte e a legalização do jogo do bicho;
foi favorável à soberania popular, ao rompimento de relações diplomáticas com
países de orientação racista, à legalização do aborto, ao mandado de segurança
coletivo, ao turno ininterrupto de seis horas de trabalho, ao aviso prévio
proporcional, à manutenção da unicidade sindical, à instituição do voto
facultativo aos 16 anos, à nacionalização do subsolo, à proibição do comércio
de sangue, à limitação dos encargos da dívida externa, à anistia aos micro e
pequenos empresários e à desapropriação da propriedade produtiva.
Promulgada a nova
Constituição em 5 de outubro de 1988, no ano seguinte presidiu a Comissão de
Constituição e Justiça e de Redação da Câmara, que voltaria a integrar em 1990
e 1991. Logo após a posse de Fernando Collor de Melo em março de 1990 — como
primeiro presidente eleito diretamente depois de 29 anos — criticou a oposição
por tentar obstruir as propostas do novo governo. Argumentava que Collor havia
sido eleito pela maioria do povo e que tinha sob sua responsabilidade a
formulação de uma política monetária capaz de solucionar os graves problemas
econômicos do país. Em seguida, passou a trabalhar no Congresso no sentido de
criar condições de controle sobre o gerenciamento do plano de estabilização
monetária do Executivo — o chamado Plano Collor — que bloqueou por 18 meses os
ativos de contas correntes e cadernetas de poupança.
Nas eleições de outubro de 1990,
conquistou na legenda do PMDB seu segundo mandato federal, tomando posse em
fevereiro do ano seguinte. No primeiro ano da legislatura 1991-1995, foi
relator da Comissão Especial de Rearticulação da Câmara dos Deputados, que
realizava estudos e propunha sugestões objetivando o aperfeiçoamento dos
trabalhos administrativos e legislativos da casa.
Numa entrevista em agosto de 1992, após a
instalação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar
denúncias de corrupção no governo federal, avaliou que apenas um “grande clamor
nacional” poderia fazer com que a Câmara dos Deputados aprovasse o impeachment do presidente da República. Pouco
depois, assumiu a função de relator da comissão especial encarregada de
apreciar a denúncia contra o presidente Fernando Collor de Melo por prática de
crime de responsabilidade. Como relator, considerou que a denúncia era
juridicamente insustentável e registrou em seu parecer observações como
“bendito o golpe em que seu espectro se exaure na fiel observância de comandos
constitucionais” e “maldita a democracia em que o voto popular possa
constituir-se em cidadela da impunidade”. Apesar de questionar os termos da
denúncia, atendeu ao clamor das ruas e, na sessão da Câmara realizada no dia 29
de setembro de 1992, votou a favor da abertura de um processo de impeachment contra o presidente da República.
Afastado do governo após
a votação da Câmara, Collor acabou renunciando ao mandato em dezembro seguinte,
momentos antes de ser cassado pelo Senado Federal e de ter seus direitos
políticos suspensos por oito anos. Foi substituído na chefia do Executivo pelo
vice Itamar Franco, que vinha ocupando o cargo interinamente desde o dia 2 de
outubro.
Em outubro de 1993, cinco anos após a
promulgação da Carta de 1988, teve início na Câmara a revisão constitucional.
Indicado para relatar o processo, Jobim propôs alterações nas formas de encaminhamento
e votação das propostas para facilitar a aprovação das emendas. Pela sua
proposta, com a aprovação de metade mais um dos parlamentares em sessão
unicameral, o Congresso poderia convocar a qualquer momento uma nova revisão
integral da Constituição, sendo que as modificações passariam por apenas duas
votações, também unicamerais. Uma vez aprovadas pelo Congresso, as emendas
seriam submetidas a plebiscito popular.
O fracasso dos trabalhos de revisão
constitucional o desestimulou a concorrer a novo mandato nas eleições a serem
realizadas em outubro de 1994, levando-o a declarar que se sentia desgostoso
com os rumos da política partidária. A defesa, na qual se empenhou através de
seu escritório de advocacia em Brasília, dos deputados Ibsen Pinheiro, Ricardo
Fiúza, Pedro Irujo e Genebaldo Correia, envolvidos no escândalo do Orçamento,
teria sido outro fator que contribuiu para sua decisão de abandonar a política
parlamentar. O episódio terminou na instituição de uma CPI no Congresso e na
cassação de Ibsen Pinheiro em maio de 1994.
No Ministério da Justiça
Com a eleição de Fernando Henrique
Cardoso para a presidência da República, Nelson Jobim assumiu o Ministério da
Justiça do novo governo, tomando posse em 1º de janeiro de 1995 e sendo
substituído na Câmara pelo suplente Gilberto Mosmann, também do PMDB. Como
ministro da Justiça, foi indicado para dar continuidade ao processo de revisão
constitucional em sintonia com a equipe econômica. Nessa função, teve a
oposição dos partidos de esquerda e encontrou resistências no próprio PMDB.
Além disso, teve que enfrentar questões bastante polêmicas, como a demarcação
das terras indígenas, a indenização dos familiares de desaparecidos políticos e
os conflitos entre os sem-terra e proprietários rurais.
No final de janeiro de 1995 enfrentou a
crise originada pela aplicação do Decreto-Lei nº 22, assinado pelo presidente
Fernando Collor no dia 4 de fevereiro de 1991, demarcando 35 milhões de
hectares de terras indígenas e dando à Fundação Nacional do Índio (Funai)
plenos poderes para criar e estabelecer os limites das reservas. Ainda no mesmo
mês, surgiram os primeiros conflitos em torno das demarcações. Os índios
macuxis, que haviam recebido uma área de mais de um milhão e meio de hectares
no norte de Roraima, não concordavam com a construção da usina hidrelétrica de
Cotinga em área que consideravam parte de sua reserva. E os krikatis, que
habitavam uma área de 142 mil hectares no interior do Maranhão, já demarcada e
oficializada pelo Ministério da Justiça em 1992, denunciavam a intenção de
fazendeiros, posseiros e do próprio governo do estado de reduzir sua reserva.
Uma das primeiras
atitudes de Jobim foi transformar a Funai em órgão executivo e não mais
formulador de políticas para a área indígena, o que seria atribuição exclusiva
de seu ministério. Além disso, em agosto de 1995, anunciou a suspensão da
demarcação de áreas indígenas e mudanças no Decreto-Lei nº 22, acatando
alegações já apresentadas ao Supremo Tribunal Federal (STF), através de
mandados de segurança e ações judiciais, de que as desapropriações realizadas no
governo Collor feriam o princípio constitucional do contraditório, ou seja, o
direito de ampla defesa do proprietário das terras desapropriadas.
A suspensão do decreto gerou protestos de
vários setores da sociedade civil. A XI Assembleia Geral do Conselho
Indigenista Missionário (Cimi) da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), realizada em julho de 1995, já havia aprovado documento acusando o
governo de ceder à pressão dos grandes grupos econômicos, como mineradoras e
latifundiários, para revogar o decreto.
Também em 1995, Jobim recebeu do
presidente Fernando Henrique a incumbência de, juntamente com seu chefe de
gabinete, José Gregori, buscar solução para o problema dos desaparecidos
políticos, vítimas do regime militar, que se estendia desde o governo Sarney. O
objetivo, segundo reportagem da revista Veja,
era criar um instrumento jurídico pelo qual o Estado reconhecesse a morte de
mais de cem pessoas dadas oficialmente como desaparecidas, mas cujos corpos
nunca haviam sido encontrados, impossibilitando o recebimento, pelos parentes,
do atestado de óbito exigido para o reconhecimento da morte. O instrumento
também deveria prever formas de indenização às famílias das vítimas. A questão
vinha sendo evitada até então, em virtude do desconforto que gerava entre os
militares.
Segundo outra
reportagem publicada pela Veja,
os militares concordavam com a entrega do atestado de óbito, que permitiria às
viúvas e herdeiros regularizar sua situação jurídica frente aos parentes
desaparecidos, e aceitavam o pagamento de indenizações, mas discordavam da
formação de comissão destinada a procurar os restos mortais das vítimas. Numa
tentativa de colocar um ponto final na questão, em setembro do mesmo ano o
Senado aprovou projeto que reconheceu a morte de 136 desaparecidos políticos no
período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979, prevendo indenização
para suas famílias.
Paralelamente ao
enfrentamento da questão dos desaparecidos políticos, o governo federal
trabalhava na preparação do Plano Nacional de Direitos Humanos, que deveria ter
anúncio solene em dezembro de 1995, coincidindo com a presença no país, pela
primeira vez, de representantes da Comissão de Direitos Humanos da Organização
dos Estados Americanos (OEA). O plano instituía medidas jurídicas que
aperfeiçoavam a legislação e aceleravam a punição pela violação dos direitos
humanos, além de incluir medidas para evitar a violência no campo.
Em dezembro de 1995, na tentativa de
deter a onda de suicídios entre os índios guaranis caiovás, que contabilizavam
mais de 50 atentados contra a própria vida só naquele ano, Jobim assinou
portaria ampliando de 60 para 1.240 hectares a reserva indígena de
Panambizinho, localizada no município de Dourados, no Mato Grosso do Sul.
Ainda no final de 1995, Jobim teve de
desvendar uma rede de intrigas no governo, relacionada à escuta telefônica de
conversas do embaixador e chefe do cerimonial da presidência da República,
Júlio César Gomes dos Santos. Sem o conhecimento do Ministério da Justiça e do
próprio diretor-geral da Polícia Federal (PF), Vicente Chelotti, um diretor
desse órgão obteve autorização judicial para grampear o telefone do diplomata,
a pretexto de denúncia anônima envolvendo-o com o tráfico de drogas. Segundo
reportagem de O Globo, o
diplomata já vinha sendo investigado pela PF também por tráfico de influência
nas negociações para a aprovação do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam),
cujo contrato com a empresa norte-americana Raytheon estava sendo contestado
por falhas no processo de licitação. A questão respingou na ante-sala do
palácio do Planalto, pois, ainda segundo O
Globo, as informações foram fornecidas, em parte, por um grupo de
assessores que trabalharam na campanha presidencial de 1994, liderados por
Francisco Grazziano. Presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra), ex-chefe de gabinete e um dos auxiliares mais próximos de
Fernando Henrique, Grazziano tinha como assessor um irmão do diretor-geral da
PF, Paulo Chelotti, sobre quem recaiu a suspeita de ter determinado o
grampeamento do telefone do diplomata. A demissão de Grazziano, após a
exoneração do chefe do cerimonial da presidência da República e da entrega do
cargo pelo próprio ministro da Aeronáutica, Mauro Gandra, envolvido no
escândalo do Sivam, colocou um ponto final no episódio, que, no entanto,
arranhou a imagem do governo e de seu ministro da Justiça.
Em janeiro de 1996, o presidente Fernando
Henrique Cardoso assinou o Decreto-Lei nº 1.775/96, alterando o processo de
demarcação de terras indígenas introduzido pelo governo Collor, sob protestos
de entidades indígenas, como o Conselho de Articulação dos Povos e Organizações
Indígenas, da sociedade civil, como a Associação Brasileira de Antropólogos,
dos partidos de oposição e da Igreja Católica. Várias organizações
não-governamentais internacionais, como a Anistia Internacional, a Survival
International e a Oxfam também se manifestaram contra o novo decreto, enviando
cartas de protesto ao presidente Fernando Henrique, ao Parlamento brasileiro e
a governos europeus, e até pressionando o Banco Mundial a rever seus
financiamentos para o Brasil.
Para a Anistia
Internacional, ao pôr em dúvida a demarcação de mais de 344 áreas indígenas, o
governo abriu as portas para mais invasões de terras que, no passado, haviam
resultado em massacres. Apesar dos protestos gerais, pelo menos uma tribo, a
dos cocamas, habitantes da aldeia de Sapotal, no Amazonas, defendeu o novo
decreto que lhes permitia contestar as terras anteriormente demarcadas para os
índios tikunas. No entanto, somente até o mês de julho, a Funai receberia 419
contestações de posse de terra nas oito áreas indígenas passíveis de revisão.
Ao lado da questão
indígena, os assentamentos e as invasões organizadas pelo Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) haviam também entrado na pauta de assuntos
prioritários a serem tratados pelo governo federal, principalmente após o
massacre, em agosto de 1995, de lavradores que haviam ocupado a fazenda Santa
Eulina, localizada no município de Corumbiara (RO). Com uma ordem de despejo
dada pelo juiz Glodner Luís Pauletto, um pelotão de quase duzentos soldados da
Polícia Militar de Rondônia, sob as ordens de seu comandante, o coronel
Wellington Luís Barros, abrira fogo contra os invasores, deixando um saldo de
centenas de vítimas entre mortos, feridos, presos e desaparecidos. A chacina de
Corumbiara completara a conta de dez denúncias contra o Brasil encaminhadas
pelo Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos da Organização das
Nações Unidas (ONU) a fóruns internacionais por violações de direitos humanos
no país, juntando-se às do Carandiru, da Candelária e outras.
Em abril de 1996, o governo federal foi
surpreendido por um novo massacre de lavradores, dessa vez ocorrido em Eldorado
dos Carajás, no Pará, estado governado por Almir Gabriel, do mesmo partido do
presidente Fernando Henrique Cardoso, o PSDB. A chacina de Eldorado dos Carajás
provocou no presidente da República reações de indignação. Segundo reportagem
de O Globo, o presidente
classificou de inaceitável, injustificável e constrangedor para o país o
massacre de sem-terras no sul do Pará, resultado de um confronto entre
policiais militares do estado e manifestantes do MST, pedindo aos líderes do
movimento maior reflexão sobre suas ações, de forma a evitar o recrudescimento
da violência. A tentativa de tirar do governador Almir Gabriel a
responsabilidade direta pelo massacre foi uma das tarefas mais complicadas que
Jobim teve de enfrentar na tentativa de solucionar a crise.
Em setembro de 1996, Jobim selou a paz
com os índios ao permanecer por dois dias numa aldeia no Parque Nacional do
Xingu, participando de sua festa mais tradicional, o Kuarup, fumando o temihu,
cigarro feito pelos indígenas, e tomando banho na lagoa da aldeia. Em outubro,
depois de haver garantido aos ianomâmis a preservação de sua reserva de dez
milhões de hectares, determinou uma ação militar envolvendo tropas do Exército
e da Aeronáutica, em conjunto com as forças armadas venezuelanas, para expulsar
cerca de três mil garimpeiros brasileiros e venezuelanos que haviam invadido a
área. A Operação Ianomâmi combinou-se com a Operação Serra Pelada, que expulsou
garimpeiros que ocupavam a área de mineração da Companhia Vale do Rio Doce em
Serra Leste, município de Curionópolis (PA), e haviam se organizado em torno do
Movimento pela Libertação de Serra Pelada, reivindicando o direito de continuar
explorando manualmente o ouro na região.
Em janeiro de 1997,
Jobim indispôs-se com o PMDB, que, em convenção nacional, adiara a discussão do
projeto de emenda constitucional prevendo a possibilidade de reeleição para os
ocupantes de cargos executivos. Sustentada pelo setor governista do partido, a
proposta beneficiava em particular o presidente Fernando Henrique Cardoso,
principal interessado na sua aprovação pelo Congresso.
Em matéria publicada
no jornal Folha de S. Paulo, Jobim afirmou que o PMDB
era, então, um partido sem bandeiras, que vivia de lembranças do regime
militar. Para ele, “era a ditadura que dava coesão e união ao partido”, o que
foi perdido com a redemocratização do país. Em declarações à Rádio Gaúcha,
denunciou fraudes e a manipulação da convenção por Orestes Quércia e outras
lideranças do partido, declarando que a agremiação política à qual ainda estava
filiado não tinha perspectivas nem projetos para o futuro. Para ele, o PMDB
tornara-se “uma grande confederação em vias de extinção”, carente de expressão
nacional. Em seu entender, a reeleição deveria ser aprovada inclusive com a
permanência dos governantes no cargo até a data da eleição, ou seja, sem a
necessidade de desincompatibilização. Além disso, era também totalmente
contrário à idéia de um plebiscito para referendar a emenda, proposta
defendida, entre outros, pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
Marco Aurélio de Melo.
Em fevereiro de 1997,
em declarações publicadas na imprensa, Jobim acusou o MST de ter-se tornado um
aparelho político destinado a fazer provocações, utilizado por grupos sem
compromisso com a reforma agrária e até por delinquentes procurados pela Justiça,
que estariam se infiltrando no movimento para fugir de condenações.
Outra investigação que
marcou sua passagem pela pasta da Justiça foi a da morte de Paulo César Farias,
ocorrida em circunstâncias suspeitas em julho de 1996. O inquérito sobre a morte
de PC Farias, como ficou conhecido o tesoureiro da campanha do ex-presidente
Fernando Collor de Melo, resultou numa série de desacertos entre a equipe da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e legistas alagoanos, que
divergiram do laudo oficial, o qual sustentava a tese de homicídio seguido de
suicídio, cometidos pela namorada da vítima, Suzana Marcolino. Jobim procurou
manter-se à distância das inúmeras controvérsias que cercaram o inquérito, mas,
segundo seus críticos, perdeu a oportunidade de determinar investigações mais
profundas sobre o chamado “esquema PC”, que já vinha merecendo a atenção até da
política italiana por suas estreitas ligações, comprovadas mais tarde, com a
máfia daquele país.
No STF
A saída de Jobim do Ministério da
Justiça, prevista desde o final do ano de 1996, efetivou-se com a ida do
ministro do STF, Francisco Rezek, para a Corte de Haia, tribunal da ONU
destinado a resolver conflitos internacionais. Aceitando o convite de Fernando
Henrique Cardoso para ocupar a vaga aberta por Rezek, Jobim deixou o governo e
foi empossado no Supremo em 15 de abril de 1997. Sua ida para o STF, além de
significar o coroamento de uma carreira de jurista, deu ao Executivo federal a
garantia de apoio a suas demandas junto ao mais alto tribunal do país. Um dia
após sua posse, Jobim já estreava no Supremo defendendo o governo das críticas
do ministro Celso de Melo — que assumiria a presidência da corte no mês
seguinte — ao abuso de edições e reedições de medidas provisórias por parte de
Fernando Henrique.
Em 1º de julho de 1997, Jobim foi também
eleito ministro substituto do TSE. Em 9 de fevereiro de 1999 tomou posse como
efetivo, em 6 de março de 2001 tornou-se vice-presidente e em 11 de junho de
2001, presidente dessa corte. Deixaria o TSE em 6 de fevereiro de 2003.
Em 3 de junho de 2004,
assumiu a presidência do STF. Um dos articuladores da reforma do Poder
Judiciário proposta pelo governo de Luís Inácio Lula da Silva (2003-2007), foi
também um dos interlocutores do governo que permitiram a aprovação, em
dezembro, da Emenda Constitucional nº 45. A reforma do Judiciário criou o
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), instituição de controle administrativo e
financeiro sobre membros e órgãos do Judiciário da qual Jobim foi um dos
principais entusiastas.
Em 2005, na condição
de presidente do STF, tomou posse na presidência do CNJ. Ainda nesse ano,
concedeu liminares que impediram a abertura de processo contra seis membros do
Partido dos Trabalhadores (PT) no Conselho de Ética da Câmara e quebras de
sigilo bancário pedidas por comissões parlamentares de inquérito. Aposentou-se
voluntariamente do cargo de juiz do STF em 30 de março de 2006. No discurso de
despedida, defendeu-se das acusações de que o STF estava legislando em lugar do
Poder Legislativo, dizendo que, “se o paradigma da solução do conflito político
é o entendimento, a conveniência, o paradigma da solução dos conflitos
judiciários é a legalidade. Se a solução da legalidade não convém a certas
situações políticas, não se cobre isso do Supremo, porque o nosso compromisso é
com a Constituição e com a legalidade”.
Voltou a filiar-se ao
PMDB e, no início de 2007, concorreu à presidência do partido, porém desistiu
da candidatura após considerar inevitável a vitória de Michel Temer, então
ocupante do cargo e preferido pelo governo.
No Ministério da Defesa
O primeiro semestre de
2007 foi marcado pela crise aérea iniciada em setembro do ano anterior com a
queda de um avião comercial em Mato Grosso, a que se seguiram manifestações dos
controladores de tráfego aéreo por melhores condições de trabalho, atrasos e
cancelamentos de vôos em aeroportos de todo o país. A duração da crise e a
queda de um segundo avião comercial em julho de 2007 em São Paulo desgastaram
gravemente a autoridade do ministro da defesa Waldir Pires, e assim, em 25 de
julho, Nelson Jobim foi chamado a substituí-lo.
Ao ser convidado para a pasta, recebeu do
governo liberdade para fazer as mudanças que julgasse necessárias na Agência
Nacional de Aviação Civil (Anac) e na Infraero, bem como para reformular a
estrutura do Ministério da Defesa. Durante o processo de renovação da diretoria
da Anac, para cuja presidência desejava indicar a economista Solange Vieira,
teve atritos com o então diretor-presidente do órgão, Milton Zuanazzi, que
acabou renunciando. Para conter os efeitos da crise, anunciou medidas como a
expansão das malhas aéreas, reformas em aeroportos e a criação da Secretaria de
Aviação Civil para controlar os órgãos responsáveis pelo setor.
Em 29 de agosto de
2007, quando do lançamento do livro oficial sobre as mortes e desaparecimentos
ocorridos durante o regime militar, intitulado Direito à memória e à verdade,
declarou em discurso que “não haverá indivíduo que possa reagir (ao livro) e,
se houver, haverá resposta”. Feita em meio a afirmações de tom moderado e
conciliatório do presidente Lula e do ministro dos Direitos Humanos Paulo
Vannuchi, responsável pela publicação, a declaração foi considerada agressiva
por setores militares. No dia 31, ciente de que o Alto Comando do Exército se
reuniria para elaborar uma nota em reação à publicação do livro e às suas
declarações, enviou um emissário civil ao quartel-general do Exército com o
aviso de que insubordinações não seriam toleradas e de que a nota deveria ser
submetida à sua apreciação antes da divulgação. Diante da possibilidade de
destituição do comandante e dos membros da cúpula do Exército que insistissem
em lançar uma nota em tom mais duro, o documento levado a público foi objeto de
um acerto entre o comando da força, o ministro e o presidente. O texto final da
nota reiterou o papel da Lei de Anistia como um instrumento de concórdia, cuja
eventual revisão poderia gerar retrocessos na “paz” e na “harmonia” do país.
Marinha e Aeronáutica não tomaram parte na reação do Exército. Nelson Jobim
manifestou sua oposição à revisão da Anistia, hipótese levantada pelo episódio
do livro, pois para ele a lei trouxera a “conciliação e a pacificação”. No
entanto, mostrou-se favorável a que ela fosse debatida juridicamente.
No dia 6 de setembro
de 2007, foi nomeado presidente do grupo de trabalho responsável pela elaboração
de uma Estratégia Nacional de Defesa (END), também conhecida como Plano
Nacional de Defesa para o país, com a coordenação de Roberto Mangabeira Unger,
ministro da Secretaria de Planejamento de Longo Prazo e com a participação dos
comandantes militares. A END consistiria num planejamento estratégico cujas
proposições abrangeriam todos os aspectos da organização, operação e
aparelhamento das forças armadas. As mudanças principais visavam à organização
e capacitação operacional das forças armadas, ao ordenamento e reorganização da
indústria nacional de defesa e ao aprofundamento do serviço militar. Segundo
Jobim, o documento seria um marco para a definição de novos investimentos no
setor de defesa; de fato, a partir do anúncio da elaboração da END, a previsão
para o ano seguinte de recursos orçamentários para investimentos militares do
Ministério da Defesa subiu de 6,9 para 9,1 bilhões de reais. Também concorreram
para a ênfase na readequação da estrutura de defesa nacional a descoberta da
camada petrolífera do pré-sal em águas territoriais brasileiras e os temores
causados em certos setores políticos pela campanha armamentista que o
presidente da Venezuela, Hugo Chávez, promovia na época. A END seria finalmente
lançada no dia 18 de dezembro de 2008, pelo Decreto n° 6.703.
Ainda no quadro de
elaboração da END, Jobim acenou com a possibilidade de um reajuste salarial
para os militares em 2008. No entanto, a suspensão da Contribuição Provisória
sobre Movimentação Financeira (CPMF) pelo Congresso Nacional em dezembro de
2007 levou o governo a cortar 20 bilhões de reais do orçamento, ameaçando o
cumprimento de sua promessa. Entrou então em negociações com o ministro do
Planejamento, Paulo Bernardo, para garantir o aumento salarial dos militares,
que só seria aprovado pelo Congresso em agosto de 2008.
Em janeiro de 2008,
Jobim liderou uma comitiva que viajou para a França e a Rússia em busca de
tecnologia para a construção de um submarino nuclear; na ocasião, anunciou o
estabelecimento de um acordo militar com a França para cooperação técnica na
instalação de um parque tecnológico estratégico no Brasil. No mês de abril, em
meio aos entendimentos feitos para a assinatura do tratado de criação da União
Sul-Americana (Unasul), conselho que reuniria os 12 países da América Latina
para fins de coordenação política, econômica e social da região, realizou uma
série de viagens para a Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai, Equador, Colômbia,
Guiana, Suriname, Venezuela e Bolívia, com o fim de propor a criação de um
Conselho Sul-Americano de Defesa. Esse conselho seria um organismo para a
discussão e articulação de políticas no setor de defesa e integração das
indústrias militares dos países da região, sem constituir uma organização
militar no estilo da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). O
tratado de criação da Unasul foi assinado em 23 de maio, porém o Conselho
Sul-Americano de Defesa só foi aprovado em reunião daquele órgão no dia 15 de
dezembro de 2008.
Ainda no ano de 2008,
Nelson Jobim lidou com algumas polêmicas de âmbito interno. Por ordem do
presidente Lula, teve que cobrar explicações do general Augusto Heleno Ribeiro
Pereira, então comandante militar da Amazônia que, em palestra, criticara a
política indigenista do governo e a possibilidade de demarcação contínua de
territórios indígenas da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, que naquele
momento era alvo de disputa entre os índios e os proprietários rurais,
produtores de arroz e comerciantes instalados na região. Segundo o general, a
formação de um território indígena contínuo em área fronteiriça seria um risco
para a soberania nacional. Na reunião convocada para tratar do assunto Jobim
foi contrário à atitude crítica do general, proibindo-o de manifestar-se em
público sobre o tema, mas o defendeu de uma possível punição. Dias depois,
admitiu que em 1996, quando ministro da Justiça no governo Fernando Henrique,
fora favorável à demarcação dos territórios na forma de ilhas e não de forma
contínua, como então estava sendo proposto pelo governo Lula.
Em junho de 2008, um
incidente no Rio de Janeiro trouxe à tona a discussão sobre o emprego das
forças armadas na segurança pública. Na época, tropas do Exército ocupavam o
morro da Providência para proteger a realização de uma série de obras públicas
naquela comunidade. No dia 14, após serem abordados por homens do Exército,
três jovens foram detidos e entregues a traficantes de outro morro, dominado
por uma facção criminosa rival; os três acabaram assassinados. Ao todo, 11
militares foram acusados pelo crime. Diante de tal situação e das críticas ao
emprego do Exército naquele tipo de ação, Jobim defendeu a regulamentação do
uso das forças armadas em ações em áreas urbanas conflituosas, uma demanda que
surgira desde antes do episódio graças ao exemplo da força de paz brasileira em
operação no Haiti desde 2004. Segundo o ministro, ao contrário do que acontecia
no Haiti, faltava no Brasil um estatuto que definisse as atribuições e
responsabilidades das tropas em emprego interno, de modo a evitar eventuais
problemas jurídicos decorrentes da falta de normas sobre o assunto. Mostrou-se
favorável ao emprego interno das forças armadas, de acordo com a norma
constitucional, desde que em papel secundário e vinculado ao das polícias
locais.
Em agosto, voltou a se
declarar contrário à revisão da Lei de Anistia, ideia ressurgida quando o
ministro da Justiça Tarso Genro defendeu em audiência pública a punição dos
militares e demais agentes do Estado envolvidos com a tortura no regime
militar. Segundo Jobim, por envolver a interpretação da lei, essa questão
deveria ser tratada pelo Judiciário e não pelo Executivo. Declarou que “mudar
essa legislação seria a mesma coisa de revogar aquilo que já foi decidido
anteriormente, que foi uma pacificação nacional” e também que “estamos discutindo
o futuro, não estamos mais discutindo o passado”.
Em setembro, foi
apontado como responsável pelo afastamento do então chefe da Agência Brasileira
de Inteligência (Abin), Paulo Lacerda, em virtude da compra de maletas que, de
acordo com o ministro, seriam capazes de realizar escutas telefônicas e que
teriam sido usadas no grampeamento feito sobre o presidente do STF, Gilmar
Mendes, durante a operação Satiagraha da Polícia Federal, conforme
denunciado pela revista Veja.
No entanto, tal capacidade das maletas foi contestada pelo general Jorge Félix,
ministro do Gabinete de Segurança Institucional, por alguns laudos oficiais e
explicações não-oficiais, que acabaram por lançar dúvidas sobre as certezas de
Jobim. Posteriormente, em depoimento à CPI instalada para investigar o caso,
disse que sugeriu o afastamento da diretoria da Abin não pela posse dos
supostos equipamentos, mas por que julgou que não competia àquela agência
participar da investigação da Polícia Federal.
Nos últimos dias de
abril de 2009, de acordo com determinação do Superior Tribunal de Justiça
(STJ), Jobim criou um grupo de trabalho coordenado pelo Exército para realizar
novas buscas aos corpos de desaparecidos na guerrilha do Araguaia, ocorrida na
década de 1970. O fato causou estranhamento aos próprios familiares dos
desaparecidos e à Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos,
criada em 1995, que considerou sua área de competência invadida sem prévio
aviso pelo ministério da Defesa e criticou a entrega da coordenação dos trabalhos
ao Exército, o que teria dado um caráter militar à operação. Em junho, em
entrevista à imprensa, Jobim disse que a importância da busca estava em
contemplar o direito à memória e não em alimentar o “revanchismo” contra os
militares. Em julho, um decreto presidencial garantiu a participação dos
familiares dos desaparecidos nas buscas, o que até então não era permitido por
Nelson Jobim sob a alegação de que, como parte do processo, os familiares não
deveriam participar da execução da sentença.
Em agosto, recebeu da
Aeronáutica um relatório sobre os modelos de aviões de caça a serem adquiridos
como parte do programa de reequipamento militar brasileiro; foram escolhidas
para concorrência a empresa francesa Dassault, a norte-americana Boeing e a
sueca Saab. Mostrou-se favorável aos caças franceses em nome da opção política
que foi feita pelo governo ao firmar parceria estratégica com a França no ano
anterior. Nos dias 6 e 7 de setembro, o presidente francês Nicolas Sarkozy veio
ao Brasil para assinar um acordo de cerca de 23 bilhões de reais que permitiria
a continuidade do projeto de construção de cinco submarinos convencionais e um
nuclear, com a transferência de tecnologia militar não-nuclear francesa. Também
foi assinado um acordo para a construção de 50 helicópteros de médio porte e
aeronaves EC-725, por meio de uma parceria entre a empresa brasileira Helibras
e a francesa Eurocopter. Em resposta às acusações de “pretensão expansionista”
levantadas por essas aquisições militares, Jobim reafirmou a necessidade de se
proteger a camada petrolífera do pré-sal.
Em Janeiro seguinte,
foi ao Haiti e encaminhou reforços para a Missão de Paz no país para então
auxiliar nos resgates decorrentes do terremoto que assolou o país no início
daquele ano. No mês de Novembro de 2010, designou um contingente de 800
militares das Forças Armadas, além de veículos blindados e helicópteros para
auxiliar forças de segurança do Rio de Janeiro a combater a violência no
estado, atendendo à solicitação do governador Sérgio Cabral (2007-). Também
naquele mês, um conjunto de telegramas confidenciais da Embaixada dos EUA em
Brasília foram revelados pela organização não-governamental Wikileaks e causaram constrangimentos
por descrever Jobim como um líder mais receptivo aos interesses norte-americanos
do que o Ministério das Relações Exteriores.
No mês seguinte, sob
ameaça de greve de aeroviários, atuou como interlocutor com empresários do
setor e determinou à Infraero e à ANAC que reforçassem as medidas de
contingência para evitar uma crise no fim de ano. À época, defendeu que temas
referentes à aviação civil fossem tratados por órgão autônomo e não como
relativos à Defesa.
Foi mantido na pasta
ministerial pela presidente Dilma Rousseff (2011-). Em Fevereiro de 2011,
firmou acordo bilateral de defesa estratégica e desenvolvimento de indústrias
navais com a Argentina. No mês seguinte, foi instituída, por meio de medida
provisória, a criação da Secretaria Nacional de Aviação Civil, com status de
ministério, mas separada da pasta comandada por Jobim.
Em Junho, entrou em
dissenso com a Lei de Acesso à Informação, que, segundo ele, estaria em
desacordo quanto à validade do sigilo de documentos ultrassecretos, cuja
manutenção era defendida por oficiais das Forças Armadas. No mês seguinte, em entrevista
concedida à “Revista Piauí”, fez
críticas às ministras Ideli Salvatti e Gleisi Hoffman, causando
constrangimentos declarados, em virtude dos quais, na primeira semana de
Agosto, entregou sua carta de demissão à presidente. Foi sucedido no Ministério
da Defesa pelo ex-chanceler, Celso Amorim.
Afastado de cargos políticos, tornou-se colunista do jornal Zero Hora de Porto Alegre e passou a fazer palestras e conferências em eventos e universidades pelo Brasil. Em 2013, assumiu o cargo de diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em substituição a Ronaldo Lemos, que foi fundador e diretor desse órgão desde 2003.
Em março de 2016, Nelson Jobim participou de audiência pública da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a investigar a atuação da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) na demarcação de terras indígenas e quilombolas, solicitada pelo deputado Adelmo Carneiro Leão (PT-MG) e subscrita pelos deputados Nilto Tatto (PT-SP), Valmir Assunção (PT-BA), Beto Faro (PT-PA), Erika Kokay (PT-DF) e Margarida Salomão (PT-MG). Na oportunidade, o ex-ministro da Justiça defendeu a necessidade de o Legislativo elaborar um projeto de lei para esclarecer o processo demarcatório de terras indígenas. O tema é regido por normas do Ministério da Justiça e orientado por 19 condicionantes estabelecidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2009, no julgamento da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima. “É preciso botar as regras claras porque hoje há regulações do Executivo que se conflitam”, declarou Jobim. Segundo ele, com a aprovação de uma lei, após debate no Congresso, ficará mais clara a definição sobre o que deve ser preenchido nos laudos antropológicos, para que assim as coisas comecem a entrar nos trilhos. O ex-ministro acrescentou que qualquer legislação a ser criada deve estar de acordo com as condicionantes de Raposa Serra do Sol para não ser considerada inconstitucional.
Durante sua gestão no Ministério da Justiça, foi editado o Decreto 1.775/96, que estabelece o procedimento administrativo de demarcação das reservas indígenas.
No final de abril seguinte, logo após a Câmara dos Deputados aprovar a autorização para prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, Nelson Jobim era o nome preferido do vice-presidente Michel Temer para assumir o Ministério da Justiça no seu governo, mas ele declinou do convite.
Em julho desse mesmo ano, o BTG Pactual anunciou Nelson Jobim como sócio do banco e membro do seu Conselho de Administração. A instituição informou que Jobim será responsável pelo setor de Relações Institucionais e Políticas de Compliance (termo em inglês que se refere ao respeito às leis e regras). Segundo a revista Veja Online publicou em agosto seguinte, o acordo salarial para trabalhar na instituição giraria em torno de 60 milhões de reais, divididos em 60 prestações de um milhão.
No final de 2016, diante da delação premiada dos diretores da Odebrecht e da possibilidade de impugnação da chapa Dilma-Temer, o nome de Nélson Jobim foi citado como alternativa para substituir Michel Temer através de eleição indireta no ano seguinte.
Ao longo de sua vida profissional e política, participou de várias missões no exterior, recebeu inúmeras condecorações e foi agraciado, entre outros títulos, com o diploma de professor extraordinário e membro do Instituto de Direito Comparado e da Integração da Universidade Notarial da Argentina.
Foi casado com Edmea Kruel Jobim, com quem teve três filhos. Posteriormente, casou-se com Adrienne Nelson de Senna.
Cristina Guido/Luís
Otávio de Sousa
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http://www.jornaldopais.com.br/efeito-domino-com-queda-de-temer-nelson-jobim-ja-e-o-nome-mais-cotado-para-assumir-a-presidencia-em-2017/ (Acessado em 19/01/2017).