RODRIGUES,
Paulo Mário da Cunha
*militar; comte. IV
DN 1954-1955; comte. I DN 1955-1957; min. Mar. 1964.
Paulo Mário da Cunha Rodrigues nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, no dia 20
de outubro de 1895, filho de João Soares da Cunha Rodrigues e de Ana da Cunha
Soares Rodrigues.
Fez o curso preparatório no Colégio Abílio, em Niterói. Ingressou na Escola Naval em abril de 1913, sendo declarado guarda-marinha em 1916,
quando embarcou no navio-escola Benjamim Constant para fazer o último
ano do curso. Em janeiro de 1917 foi promovido a segundo-tenente, embarcando em
seguida nos couraçados São Paulo e Minas Gerais e no paquete
alemão Capitão Roca.
Em outubro do ano seguinte, pouco antes de ser promovido a
primeiro-tenente, apresentou-se como voluntário à Divisão Naval de Operações de
Guerra e embarcou para a Europa para lutar na Primeira Guerra Mundial
(1914-1918), servindo na Divisão Frontin. Retornando ao Brasil, serviu nos
cruzadores Rio Grande do Sul e Bahia, como encarregado de
navegação.
Em
fevereiro de 1922 foi transferido para o contratorpedeiro Paraná, onde
servia quando irrompeu a Revolta de 5 de Julho, no Rio de Janeiro e em Mato Grosso, em protesto contra a eleição de Artur Bernardes para a presidência da República e
as punições impostas pelo governo Epitácio Pessoa (1919-1922) aos militares,
com o fechamento do Clube Militar e prisão do marechal Hermes da Fonseca. O
Paraná recebeu ordens de abrir fogo contra o forte de Copacabana, um dos focos
da rebelião no Rio de Janeiro. O movimento, que iniciou o ciclo de revoltas
tenentistas da década de 1920, foi debelado no mesmo dia, tendo envolvido, no
Rio, além do forte de Copacabana, a Escola Militar do Realengo e os efetivos da
Vila Militar. Poucos dias depois, Cunha Rodrigues foi transferido para o Minas
Gerais.
Em
março de 1923 foi designado ajudante-de-ordens do comandante do I Distrito
Naval (DN), sediado no Rio de Janeiro, permanecendo nessa função até janeiro do
ano seguinte. Foi então designado para o contratorpedeiro Amazonas que,
em novembro, recebeu ordens de partir para o Sul do país, onde se encontraria
com o Minas Gerais. Juntos os dois navios deveriam dar combate ao São
Paulo, cuja tripulação, liderada pelo tenente Herculino Cascardo, se havia
revoltado no início do mês, em apoio aos revolucionários de 1922 e 1924.
Contando com a adesão do contratorpedeiro Goiás, o São Paulo
deslocou-se para Montevidéu, onde seus tripulantes se juntaram aos revoltosos
que haviam sublevado guarnições militares no Rio Grande do Sul em outubro de
1924. O Amazonas teve problemas com as máquinas, sendo obrigado a
retornar a Porto Alegre. Em dezembro seguinte, ao desembarcar de volta no Rio
de Janeiro, Cunha Rodrigues teve sua prisão decretada pelo ministro da Marinha,
almirante Alexandrino Faria de Alencar (1922-1926), sendo recolhido ao Batalhão
Naval. Já no final do mês foi transferido para o navio hidrográfico Almirante
Jaceguai. Em junho de 1925, o Supremo Tribunal Federal (STF)
concedeu-lhe habeas-corpus e o direito de permanecer em liberdade na
ilha das Flores, para onde fora desterrado pelo governo. Em outubro do ano
seguinte, já em liberdade, apresentou-se à Diretoria de Pessoal da Marinha e
foi reintegrado às suas fileiras.
Promovido a capitão-tenente em maio de 1927, foi designado em
junho seguinte para o Minas Gerais, onde permaneceu até janeiro de 1928, quando
matriculou-se no curso extraordinário de armamento. Depois de servir nos
cruzadores José Bonifácio e Rio Grande do Sul, foi aprovado no
curso em agosto do mesmo ano, regressando então ao Minas Gerais. Em
abril de 1929 foi transferido para o cruzador Bahia, onde permaneceu até
dezembro seguinte, quando foi nomeado comandante do navio faroleiro Cunha
Gomes. Em agosto de 1930 embarcou no São Paulo.
Encontrava-se
servindo no Rio Grande do Norte quando eclodiu a Revolução de Outubro de 1930.
Vitorioso o movimento, foi nomeado secretário de Segurança do estado. Em
fevereiro de 1931 foi designado instrutor de artilharia especializada da Escola
de Aviação Naval e em junho seguinte tornou-se oficial-de-gabinete do ministro
da Marinha, vice-almirante Protógenes Pereira Guimarães (1931-1935). Nomeado comandante da Escola de Aprendizes Marinheiros do Rio
Grande do Norte em abril de 1933, assumiu interinamente a Capitania dos Portos
do estado em junho do mesmo ano.
Retornou
ao Rio de Janeiro em outubro de 1933, tornando-se, no mês seguinte, membro da
comissão fiscal da construção do navio-escola Almirante Saldanha, ocasião em
que viajou a Londres. Em maio de 1934 foi designado encarregado-geral do
armamento do navio-escola. Regressando ao Rio em fins de outubro, foi exonerado
daquelas funções no mês seguinte. Serviu na Diretoria de Armamento da Marinha
de fevereiro a julho de 1935, quando se tornou encarregado de artilharia do
encouraçado São Paulo. Em novembro seguinte foi promovido a
capitão-de-corveta, tornando-se, cumulativamente, oficial-de-tiro do
comando-em-chefe da Esquadra. Dispensado de suas funções em maio de 1936,
retornou no mês seguinte para a Diretoria de Armamento da Marinha. Em dezembro
desse ano matriculou-se no curso de comando da Escola de Guerra Naval,
concluindo-o em fevereiro de 1938, quando passou a servir como imediato do
cruzador Bahia.
Foi
nomeado comandante do contratorpedeiro Rio Grande do Sul em janeiro de
1939 e em novembro do mesmo ano passou a servir no Estado-Maior da Armada
(EMA). Em janeiro de 1942 assumiu a chefia da 1ª Divisão, deixando-a em julho
do mesmo ano, quando passou a comandar o contratorpedeiro Rio Grande do
Norte, que fez o patrulhamento das costas brasileiras durante a Segunda
Guerra Mundial (1939-1945). Deixou esse comando em dezembro de 1942. Promovido
a capitão-de-fragata em janeiro de 1943, no mês seguinte foi designado capitão
dos portos do Espírito Santo, cargo que exerceu até outubro do mesmo ano,
quando assumiu o comando do Vital de Oliveira, que deixaria em novembro do ano
seguinte.
Em
novembro de 1944 ficou detido por 48 horas por ter dirigido ao vice-almirante
Durval de Oliveira Teixeira, chefe do Comando Naval do Nordeste, uma carta em
termos considerados desrespeitosos. Foi, porém, absolvido em segunda instância
pelo então Supremo (hoje Superior) Tribunal Militar (STM) em janeiro de 1945.
Foi designado em abril desse ano para servir no Comando Naval Leste, com sede
em Salvador, onde exerceu a chefia do Departamento Militar e da Divisão de
Material da base naval. Em dezembro seguinte foi nomeado comandante da base
naval de Salvador, função que exerceu apenas até fevereiro de 1946.
Foi promovido a capitão-de-mar-e-guerra em junho de 1946. De
volta ao Rio de Janeiro no mês seguinte, passou a servir como auxiliar de
ensino da Escola de Guerra Naval, função que exerceu até março de 1948.
Diplomou-se no curso superior da Escola de Guerra Naval em setembro de 1948,
permanecendo em serviço na escola até novembro seguinte. Nesse mesmo mês foi
designado capitão dos portos de Pernambuco, exercendo essa função até junho de
1950.
Retornando
novamente ao Rio de Janeiro, foi designado, em 1950, para servir no EMA, onde
ocupou a segunda subchefia, função que acumulou com a de chefe da 4ª Seção.
Exerceu o comando da 2ª Flotilha de Contratorpedeiros de abril a dezembro de
1951. De março a dezembro de 1952 realizou o curso da Escola Superior de
Guerra, retornando em seguida ao EMA, onde exerceu a primeira subchefia e,
interinamente, a subchefia para logística. Foi promovido a contra-almirante em
março de 1953.
Passou
a integrar o Conselho de Promoções da Marinha em outubro de 1953, tornando-se
membro da Comissão Militar Mista Brasil-Estados Unidos. Exerceu a chefia do IV
DN, com sede em Belém, de março de 1954 a abril do ano seguinte. Tendo retornado ao EMA, ali permaneceu até novembro de 1955, quando passou a chefiar o I
DN. Foi promovido a vice-almirante em julho de 1956 e, no ano seguinte, passou
a servir no gabinete do ministro da Marinha, almirante-de-esquadra Antônio
Alves Câmara Júnior (1956-1958). Em novembro de 1957 tornou-se inspetor-geral
da Marinha.
Exonerado da Comissão Militar Mista Brasil-Estados Unidos e
da Inspetoria Geral da Marinha em maio de 1958, foi designado diretor-geral da
Diretoria de Armamentos da Marinha e presidente da Comissão Organizadora da
Fábrica de Armamentos da Marinha (Cofam). Permaneceu nesses cargos até janeiro
de 1959, quando foi nomeado juiz presidente do Tribunal Marítimo, devido a seus
conhecimentos em direito marítimo. Em março de 1959 passou para a reserva
remunerada, sendo promovido a almirante-de-esquadra.
No
dia 25 de março de 1964, durante as comemorações do aniversário da Associação
dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil (AMFNB) no Sindicato dos
Metalúrgicos do Rio de Janeiro, irrompeu uma rebelião de marinheiros que,
liderados pelo “cabo” (na verdade marinheiro) José Anselmo dos Santos,
protestavam contra a punição imposta a 12 dirigentes da entidade que se haviam
posicionado publicamente a favor das reformas de base propostas pelo presidente
João Goulart e criticado a intransigência do almirante em atender às principais
reivindicações da categoria. Transformada a comemoração em assembléia geral
permanente, os marinheiros e fuzileiros navais decidiram que não acatariam a
ordem de prisão dada aos 12 colegas e permaneceriam amotinados no prédio do
sindicato até que suas reivindicações fossem atendidas.
Diante
da recusa do comandante do Corpo de Fuzileiros Navais, almirante Cândido
Aragão, em sufocar violentamente o motim, o almirante Sílvio Mota, ministro da
Marinha (1963-1964), foi obrigado a utilizar forças da Polícia do Exército, que
finalmente conseguiram prender os rebeldes, e a demitir Cândido Aragão. No
entanto, a determinação do presidente João Goulart em atender às reivindicações
dos marinheiros deu origem a uma crise na Marinha que culminou com a exoneração
do ministro Sílvio Mota, substituído no dia 27 de março pelo almirante Paulo
Mário da Cunha Rodrigues, nome proposto pelos marinheiros. No mesmo dia foi
determinada a permanência de Cândido Aragão no comando do Corpo de Fuzileiros
Navais e a libertação dos amotinados. No dia 28 estes realizaram uma passeata
pelo centro do Rio e, no dia seguinte, oficiais da Marinha emitiram um
manifesto condenatório às autoridades, aumentando ainda mais a crise entre o
governo e as forças armadas.
No
dia 1º de abril de 1964 o governo João Goulart foi deposto pelo movimento
político-militar e no dia 4 seguinte Cunha Rodrigues era exonerado do
ministério da Marinha. Em maio foi demitido do Tribunal Marítimo, com base no
Ato Institucional nº 1 (9/4/1964), e, em junho seguinte, foi desligado
definitivamente do tribunal e do serviço ativo da Marinha. A pasta ministerial,
após a sua saída, ficou a cargo do almirante Augusto Hamann Rademaker.
Serviu, durante a carreira, em quase todos os navios da
Esquadra.
Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 12 de fevereiro de 1985.
Era casado com Lindaura Maria Rodrigues, com quem teve seis
filhos.
FONTES: ANDREA, J. Marinha;
BANDEIRA, L. Governo; CONSULT. MAGALHÃES, B.; Encic. Mirador; Histórico;
Jornal do Brasil (7/12/76); MIN. MAR. Almanaque (1959); SERV.
DOC. GER. MARINHA; VÍTOR, M. Cinco.