NEVES, Aécio
*const.
1987-1988; dep. fed. MG 1987-2002; gov. MG 2003-2010; sen. MG 2011-
Aécio Neves
da Cunha nasceu em Belo Horizonte no dia 10 de
março de 1960, filho de Aécio Ferreira da Cunha e de Inês Maria Tolentino
Neves. Seu pai foi deputado federal por Minas Gerais entre 1963 e 1987. Seu avô
materno, Tancredo de Almeida Neves, foi ministro da Justiça (1951-1954),
primeiro-ministro (1961-1962), senador (1979-1983), governador de Minas Gerais
(1983-1984) e presidente eleito em 1985. Seu avô paterno, Tristão Ferreira da
Cunha, foi deputado federal por Minas (1947-1963). Seu primo Francisco Dornelles
foi ministro da Fazenda (1985), deputado federal pelo Rio de Janeiro
(1987-1996, 1998-1999 e 2002-2007), ministro da Indústria, Comércio e Turismo
(1996-1998) e ministro do Trabalho e Emprego (1999-2002) e, a partir de 2007,
senador.
Ainda
estudante, foi admitido em 1977 como oficial de gabinete no Conselho
Administrativo de Defesa Econômica do Ministério da Justiça, no Rio de Janeiro.
Em 1979 concluiu o curso secundário no Colégio São Vicente, também no Rio de
Janeiro, e no ano seguinte ingressou no curso de economia da Pontifícia
Universidade Católica (PUC) de Belo Horizonte.
Filiado ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro
(PMDB), foi presidente da ala jovem da agremiação em Minas entre 1983 e 1984.
Na mesma época, foi secretário particular do avô Tancredo Neves, então
governador de Minas. Formou-se em economia em 1984, e no ano seguinte, como
presidente da Comissão do Ano Internacional da Juventude do Ministério da
Educação e Cultura (MEC), viajou a Moscou para representar o Brasil no Congresso
Internacional da Juventude.
Após
a eleição de Tancredo para a presidência da República em janeiro de 1985,
acompanhou-o em viagem à Itália, França, Portugal, Estados Unidos, Peru e
Argentina, na condição de secretário particular para assuntos especiais da Presidência.
O presidente eleito não chegou, porém, a tomar posse em 15 de março, impedido
por doença grave, vindo a falecer em 21 de abril. Em seu lugar assumiu o
vice-presidente José Sarney.
Ainda
em 1985, como diretor de loterias da Caixa Econômica Federal (CEF), Aécio Neves
foi o representante do Ministério da Fazenda no Congresso Internacional de
Loterias. Em janeiro de 1986, declarou à imprensa que deixaria a CEF para
disputar, com o apoio de Sarney, uma cadeira na Câmara dos Deputados. Em novembro
daquele ano foi eleito deputado federal constituinte na legenda do PMDB com
236.019 votos, a maior votação de Minas Gerais. Tomou posse em 1º de fevereiro
de 1987, quando tiveram início os trabalhos da Assembleia Nacional
Constituinte. Ainda no mesmo mês, ganhou do presidente Sarney o direito de
explorar uma emissora de frequência modulada em Betim, que se somou às
concessões de estações obtidas em São João del Rey. Também em 1987 propôs o
redimensionamento do espaço de cada estado no plano federal, por considerar que
a representação mineira em Brasília estava muito aquém do peso político do
estado no cenário nacional.
Na Câmara dos Deputados
Na
Constituinte, foi primeiro-vice-presidente da Comissão da Soberania e dos
Direitos e Garantias do Homem e da Mulher (1987), titular da Subcomissão da
Nacionalidade, da Soberania e das Relações Internacionais (1987), da Comissão
da Soberania e dos Direitos e Garantias do Homem e da Mulher, e suplente da
Comissão de Sistematização (1987-1988).
Autor
da emenda que instituiu o direito de voto aos 16 anos, votou a favor do
rompimento de relações diplomáticas com países com política de discriminação
racial, da limitação do direito de propriedade privada, do mandado de segurança
coletivo, da remuneração 50% superior para o trabalho extra, do turno
ininterrupto de seis horas, do aviso prévio proporcional, da unicidade
sindical, da soberania popular, da nacionalização do subsolo, da proibição do
comércio de sangue, do mandato de cinco anos para o presidente Sarney e da anistia
aos micro e pequenos empresários. Votou contra a pena de morte, a jornada
semanal de 40 horas, o presidencialismo, a estatização do sistema financeiro e
o limite de 12% ao ano para os juros reais. Absteve-se de votar a limitação dos
encargos da dívida externa e a legalização do jogo do bicho. Com a promulgação
da Constituição em 5 de agosto de 1988, passou a exercer o mandato ordinário.
Em 1989 trocou o PMDB pelo Partido da Social Democracia
Brasileira (PSDB). Na Câmara dos Deputados foi membro titular da Comissão de
Defesa do Consumidor e do Meio Ambiente (1989-1990) e da Comissão de Relações
Exteriores (1990), e suplente da Comissão de Constituição e Justiça e de
Redação (1989-1990). No Congresso Nacional, foi titular da Comissão Mista de
Orçamento (1990).
Em outubro de 1990 elegeu-se deputado federal na legenda do
PSDB. Empossado em fevereiro de 1991, foi titular da Comissão de Defesa do
Consumidor, Meio Ambiente e Minorias (1991), da Comissão Especial da Legislação
Eleitoral e Partidária (1992) e suplente da Comissão de Relações Exteriores. No
Congresso Nacional, foi titular da Comissão Mista de Planos, Orçamentos
Públicos e Fiscalização (1991-1992).
Na
sessão da Câmara dos Deputados de 29 de setembro de 1992, votou favoravelmente
à abertura do processo de impeachment contra o presidente da República
Fernando Collor de Melo, acusado de crime de responsabilidade por ter-se
envolvido num amplo esquema de corrupção comandado por Paulo César Farias, que
lhe servira como tesoureiro durante a campanha eleitoral. Em 2 de outubro, o
vice Itamar Franco assumiu interinamente a presidência da República, após a
Câmara aprovar o afastamento de Collor. Com o processo ainda em andamento no
Senado Federal, e vislumbrando escassas possibilidades de recuperar o cargo, Collor
renunciaria ao mandato, em 29 de dezembro, esperando livrar-se de uma pena de
oito anos de inelegibilidade, manobra afinal frustrada. Acolhida a renúncia,
Itamar seria efetivado na chefia do Executivo.
Ainda
em outubro de 1992 Aécio candidatou-se à prefeitura de Belo Horizonte na
legenda do PSDB, não obtendo votação suficiente para assegurar-lhe a passagem
ao segundo turno, vencido pelo candidato do Partido dos Trabalhadores (PT),
Patrus Ananias.
Em 1993, Aécio assumiu a vice-liderança do PSDB na Câmara dos
Deputados e, na organização interna do partido, a terceira-secretaria, à frente
das quais permaneceria até 1995. Entre as votações mais importantes submetidas
à apreciação dos parlamentares, pronunciou-se a favor da criação do Imposto
Provisório sobre Movimentação Financeira (IPMF), que incidiu sobre operações
bancárias, e da instituição do Fundo Social de Emergência (FSE), que concedeu
ao Executivo federal uma margem de autonomia na alocação de recursos,
autorizando-o a destinar verbas inicialmente previstas para os Ministérios da
Educação e da Saúde a outras áreas. Votou contra a proposta que previa o fim do
voto obrigatório, que acabou rejeitada pela Câmara.
Nas eleições de outubro de 1994 — cujos resultados foram
amplamente favoráveis ao PSDB, que elegeu o presidente da República, Fernando
Henrique Cardoso, e os governadores de Minas, Eduardo Azeredo, de São Paulo,
Mário Covas, e do Rio de Janeiro, Marcelo Alencar — Aécio disputou novamente
uma cadeira à Câmara dos Deputados na legenda tucana, tendo como principal base
eleitoral a região metropolitana de Belo Horizonte e a cidade de São João del
Rey. Reeleito com 105.385 votos, segunda maior votação da coligação à qual o
PSDB se integrara e a quarta maior do estado, iniciou novo mandato em fevereiro
de 1995.
Titular das comissões de Orçamento e de Relações Exteriores,
Aécio apoiou as emendas constitucionais enviadas pelo Executivo à Câmara ao
longo do ano legislativo de 1995, votando a favor da abertura da navegação de
cabotagem às embarcações estrangeiras, do fim do monopólio estatal das
telecomunicações, do fim do monopólio da Petrobras na exploração de petróleo,
da prorrogação do FSE, cujo nome foi modificado para Fundo de Estabilização
Fiscal (FEF), do fim das distinções jurídicas entre empresas brasileiras e
estrangeiras e do fim do monopólio dos estados na distribuição de gás
canalizado.
Em
maio de 1996, em meio às discussões sobre a emenda — em cuja defesa a bancada
de deputados federais mineiros rapidamente engajou-se — que previa um repasse
de até 900 milhões de reais à empreiteira Mendes Júnior de uma verba de oito
bilhões destinada pela Medida Provisória nº 1.410 à capitalização do Banco do
Brasil (BB), o jornal O Globo noticiou que a empresa doara, em setembro
de 1994, 50 mil reais à campanha eleitoral de Aécio. A contribuição, ressalvou
o diário carioca, fora legal e estava registrada no Tribunal Superior Eleitoral
(TSE).
Inicialmente
disposto a candidatar-se novamente à prefeitura de Belo Horizonte no pleito de
outubro de 1996, Aécio anunciou, em junho, que não disputaria a indicação do
partido. A preferência manifesta do governador mineiro Eduardo Azeredo
(1995-1998) por Amílcar Martins, amparada em pesquisas qualitativas que
revelavam o anseio do eleitorado mineiro por renovação, levou-o a tomar a
decisão, capaz de “manter a unidade do partido” em Minas, disse Aécio ao Jornal
do Brasil.
Um mês depois, Aécio declarou-se favorável à criação da
Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), imposto criado
para dotar o Ministério da Saúde de uma fonte suplementar de receita.
Em janeiro de 1997, manifestou-se favorável à emenda
constitucional que autorizou a reeleição do presidente da República, dos
governadores e dos prefeitos.
Em março, Aécio foi eleito líder do PSDB na Câmara dos
Deputados, num confronto com o parlamentar maranhense Jaime Santana, cuja
vitória parecia assegurada. A reversão do favoritismo contou com a ajuda
decisiva do presidente Fernando Henrique que, temeroso de que Santana pudesse
imprimir um perfil mais independente à agremiação caso fosse conduzido à
liderança, encarregou o ministro das Comunicações Sérgio Mota de contatar os
governadores tucanos — apenas o paulista Mário Covas resistiu-lhe à investida —
e a bancada federal, conquistando o apoio a Aécio.
A
interferência do palácio do Planalto na escolha do líder na Câmara motivou
protestos de deputados tucanos, entre os quais Domingos Leonelli (BA), Zulaiê
Cobra Ribeiro (SP) e Roberto Brant (MG). O deputado mineiro rebateu as críticas
e lembrou o apoio que lhe deram as bancadas mineira e carioca para lançar-se à
disputa e, por fim, acrescentou que não era um “candidato inventado pelo
governo”.
Em abril, logo nas primeiras semanas à frente da nova função,
Aécio envolveu-se num sério atrito com o líder do Partido da Frente Liberal
(PFL) na Câmara, Inocêncio de Oliveira, que ameaçou agredi-lo caso o
encontrasse. O deputado mineiro atribuiu a decisão de eliminar do texto da
reforma administrativa o “extrateto” salarial de 21.600 reais, que seria
concedido a alguns funcionários públicos, à iniciativa dos tucanos. Aécio
sugeriu a Inocêncio, a quem acusou de defender a proposta, não “ter vergonha de
mudar de posição”. O parlamentar pefelista irritou-se com o comentário,
veiculado em uma nota de O Globo, e afirmou que a supressão do
“extrateto” devia-se a acordo firmado entre PFL e PSDB. O episódio deixou
seqüelas e abriria uma fase de péssimo relacionamento entre os dois líderes.
Um dia após revelar ao jornal O Estado de S. Paulo, em
maio, que Fernando Henrique resolvera não mais se envolver diretamente nas
negociações das reformas constitucionais em tramitação no Congresso,
deixando-as para os líderes dos partidos, Aécio foi recebido pelo presidente,
que lhe informou ter convidado o deputado federal Luís Eduardo Magalhães,
filiado ao PFL, para assumir a liderança do governo na Câmara. Ao sair do
encontro, Aécio afirmou que a assunção de um pefelista ao comando da
articulação governista exigiria uma compensação para o PSDB, pleiteando o
Ministério da Coordenação Política, então a cargo do peemedebista Luís Carlos
Santos.
Ante a resistência do PMDB em entregar a pasta — o aceno dos
líderes da agremiação em negar os votos necessários à aprovação das reformas
persuadiu o presidente a mantê-la sob a chefia de Santos — e a insatisfação dos
correligionários, cuja perda de espaço no governo evidenciava-se com a presença
de Luís Eduardo, Fernando Henrique decidiu criar um Conselho Político, no qual
todos os líderes partidários teriam assento. A proposta satisfez aos tucanos
momentaneamente e Aécio, novamente convocado ao palácio da Alvorada por
Fernando Henrique, dispôs-se a aceitar a nomeação do pefelista, desistiu de
pleitear a pasta peemedebista e esclareceu que “o PSDB não quer cargos, quer
apenas que as reformas sejam aprovadas”.
Em novembro, Aécio ajudou a aprovar a emenda constitucional
que pôs fim à estabilidade dos servidores públicos.
Reelegeu-se deputado federal em outubro de 1998 na legenda do
PSDB mineiro, mais uma vez com expressiva votação. Tendo recebido 185.051 mil
votos, foi o mais votado do PSDB e o terceiro em todo o estado. Em novembro,
manifestou-se favorável à reforma da Previdência que fixou um teto salarial
para a aposentadoria dos servidores públicos e estabeleceu idade e tempo de
contribuição mínimos para os trabalhadores do setor privado. Iniciou novo
mandato na Câmara dos Deputados em fevereiro de 1999, momento em que assumiu
novamente a liderança do partido. Em 2000, permaneceu na liderança.
Na Presidência
da Câmara dos Deputados
Em 2001, a
base aliada do governo FHC tentou aparar as arestas. Mas, o acirramento das
divergências foi maior do que o esperado. Era ano de escolha dos presidentes
das casas legislativas e PSDB, PFL e PMDB não conseguiam se entender com
relação aos candidatos para o cargo. No Senado, o PMDB pretendia emplacar Jader
Barbalho (PMDB-PA) para a presidência, enquanto Antonio Carlos Magalhães
(PFL-BA) rejeitava decisivamente tal ideia. Essa disputa se espelhou na escolha
para a presidência da Câmara, em que Inocêncio Oliveira (à época, no PFL-PE)
disputava o cargo com Aécio Neves, que passou a ser apoiado pelo PMDB, em
represália ao veto de ACM à candidatura de Jader. Assim, a candidatura de
Aécio, que parecia fadada ao fracasso diante do favoritismo de Inocêncio,
cresceu e se tornou hegemônica. Buscando manter a base aliada, FHC reuniu-se
com líderes dos partidos em busca de um consenso que não esgarçasse ainda mais
a base aliada. A ação de FHC não foi muito bem recebida pelos candidatos e ele
recuou na interferência, ao menos de maneira pública. De qualquer modo, o PFL
passou a atuar contra FHC no Congresso, exigindo maior apoio do presidente ao
partido. FHC, por sua vez, ameaçou o PFL de tomar seus cargos na máquina
estatal. Em meio à disputa, surgiram denúncias de pagamento a deputados do PFL
para a troca de legendas, rumo ao PMDB.
Em 14 de fevereiro, Aécio foi eleito presidente da Câmara no
primeiro turno, com 283 votos, contra 117 de Inocêncio. Foi o primeiro filiado
ao PSDB que se tornou presidente da Casa. A aliança de seu partido com o PFL
saiu muito minada desse episódio em que Aécio aproveitou a cisma entre ACM e
Jader para colocar o PSDB também no terceiro posto da hierarquia presidencial.
A partir de então, o esforço foi de recompor a base aliada,
processo que não foi muito frutífero. Havia também um grande número de projetos
considerados importantes pelo governo para serem votados. Outro aspecto
importante do início dos trabalhos de Aécio como presidente da Câmara disse
respeito ao aumento de verbas para os parlamentares – num jogo de negociações
com o então primeiro-secretário da Casa, deputado Severino Cavalcanti (PPB-PE).
Com a morte de Mário Covas, o PSDB passou a contar com novos
líderes, entre os quais Aécio. Visando as eleições de 2002 e com o
distanciamento do PFL, Aécio e o PSDB retomaram as bandeiras da ética e da
transformação social. Foi principalmente no que diz respeito à corrupção que
Aécio, como presidente da Câmara, teve que lidar com maiores dificuldades.
Primeiro, a disputa entre Jader e ACM redundou na acusação de que o senador
baiano teria participado da violação do sigilo do painel de votação do Senado,
buscando informações sobre o processo de cassação de Luiz Estevão. Essa
acusação incluiu o senador pelo Distrito Federal José Roberto Arruda, então no
PSDB. ACM e Arruda renunciaram aos mandatos para não serem cassados. Além
disso, a oposição buscou instalar uma CPI mista sobre a corrupção, retomando as
acusações que envolviam Eduardo Jorge, ex-secretário geral da Presidência. A
CPI não foi adiante.
Aécio colocou em discussão na Câmara a limitação do número de
Medidas Provisórias (MPs) editadas pelo governo. Entre os dias 26 e 28 de
junho, Aécio se tornou provisoriamente presidente da República, devido à viagem
de FHC e seu vice, Marco Maciel. Nessa presidência interina, teve que enfrentar
um ato de protesto contra a corrupção, que reuniu mais de 30 mil manifestantes
na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. A manifestação terminou em confronto
entre policiais e um grupo de manifestantes. Aécio declarou que a organização
da manifestação agiu de forma correta e pacífica e que o confronto foi
resultado da ação isolada de um grupo.
Com a escalada de denúncias envolvendo Jader Barbalho, com a
disputa entre os partidos da base aliada acirrada e com as discussões
envolvendo a sucessão presidencial em 2002 sem resultados conciliatórios, Aécio
propôs a discussão de um “pacote ético”, em busca de resgatar a credibilidade
do Congresso Nacional frente a opinião pública. Tratou-se de retomar a votação
de uma série de propostas que restringiriam alguns privilégios de deputados e
senadores. A maioria dos líderes dos partidos reagiu negativamente à votação do
“pacote ético”. Aprovaram, porém, um Código de Ética e Decoro Parlamentar.
Votaram também remodelação na imunidade parlamentar.
Ao final de 2001 e início de 2002, o PSDB passou por grande
disputa interna para decidir o candidato à sucessão de FHC na presidência.
Houve debates entre os senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE) e José Serra
(PSDB-SP), que ocupava o Ministério da Saúde e acabou tornando-se o candidato
do partido. Aécio participou ativamente dos debates sobre a sucessão, tendo
inclusive seu nome cogitado por políticos do PSDB para sanar as cisões
ocorridas.
Em 2002, Serra foi derrotado na eleição presidencial por Luiz
Inácio Lula da Silva. Aécio disputou o governo de Minas Gerais, sendo eleito
com 5.282.043 votos já no primeiro turno. NO dia 31 de dezembro de 2002,
renunciou ao mandato de deputado federal por Minas. No dia seguinte foi
empossado governador de Minas Gerais.
No Governo de Minas
Gerais
Durante todo o seu governo em Minas
Gerais, Aécio foi lembrado como candidato à presidência. Manteve boa relação
com o presidente Lula, mesmo se mantendo na oposição. Aécio implantou em Minas
Gerais o que chamou de um “Choque de Gestão”, interessado na reorganização do
aparato institucional do Estado.
Ao longo deste primeiro mandato,
articulou seu nome para a candidatura à presidência da República. Disputava com
José Serra e Geraldo Alckmin (então governador de São Paulo) a preferência do
partido. Depois de muita indecisão, foi preterido por Alckmin, que acabou
derrotado por Lula em 2006.
Não tendo seu nome escolhido para a
candidatura à presidência, candidatou-se novamente ao governo de Minas Gerais. Foi
reeleito com 7.482.809 de votos, o que representaram 77% dos votos válidos, a
segunda maior votação proporcional para governador naquele ano. A eleição
demonstrou que a aprovação a seu governo era grande. Seus projetos nas áreas de
transporte e desenvolvimento social tiveram impacto positivo, bem como o
“Choque de Gestão”.
Em 2008, costurou uma aliança entre
o PSDB e o PT para a candidatura à prefeitura de Belo Horizonte. Ainda que a
direção nacional do PT tenha negado a concretização dessa aliança, ela acabou
ocorrendo na forma da candidatura de Márcio Lacerda (PSB-MG), então secretário
de desenvolvimento de Minas Gerais, na gestão de Aécio, e que teve por vice
Roberto Vieira de Carvalho, à época deputado estadual por Minas Gerais na
legenda do PT. O PSDB não lançou candidato ao governo e apoiou informalmente a
candidatura de Lacerda.
Ainda em 2008, Aécio conseguiu
junto ao Banco Mundial um empréstimo no valor de US$ 976 milhões, a fim de dar
continuidade ao programa “Choque de Gestão”. Segundo o Banco Mundial, o
empréstimo visa ampliar “a oferta e a melhoria da qualidade e da eficiência de
serviços e bens públicos, reforçando os avanços fiscais e macroeconômicos
obtidos e as reformas já implementadas, e ao mesmo tempo, incentivando o
crescimento econômico e a redução da pobreza no estado”.
Em 2009, disputou com José Serra a
nomeação pelo PSDB para a sucessão presidencial, mas no final do ano, em dezembro,
apresentou sua desistência oficial. Em 31 de março de 2010, desincompatibilizou-se
do cargo de governador de Minas Gerais para disputar o mandato de senador.
No Senado
Federal
Primeira eleição sem a participação direta do
ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva desde 1989, este pleito foi vencido no
segundo turno por sua ex-ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à frente
de uma coligação que reuniu 10 partidos liderados pelo Partido dos
Trabalhadores-PT (Partido do Movimento Democrático Brasileiro-PMDB/Partido
Democrático Trabalhista-PDT/Partido Socialista Brasileiro-PSB/Partido Comunista
do Brasil-PCdoB/Partido Republicano Brasileiro-PRB/Partido da
República-PR/Partido Trabalhista Nacional-PTN/Partido Social
Cristão-PSC/Partido Trabalhista Cristão-PTC). A candidata petista recebeu então
um pouco mais de 55 milhões de votos (56,05%), contra os mais de 43,7 milhões
de votos (44%) dados a José Serra, da coligação O Brasil pode mais, que reunia o PSDB, o Democratas (DEM), o
Partido Popular Socialista (PPS), o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) o
Partido da Mobilização Nacional (PMN), e o Partido Trabalhista do Brasil
(PTdoB).
Após
o pleito, a bancada do PSDB no Senado Federal configurou-se como a terceira
maior, com 11 senadores eleitos, logo atrás da do PMDB (20) e a do PT (14). Aécio
Neves foi eleito senador em 3 de outubro do mesmo ano com 7.565.377 votos
(39,47%), tendo obtido então a maior votação em seu estado. O outro senador
eleito pelo estado foi o ex-presidente Itamar Franco. Na mesma ocasião,
conseguiu eleger seu sucessor para o governo de Minas Gerais, Antônio Anastasia.
Aécio
assumiu o mandato a 1º de fevereiro de 2011. No Senado, atuou em várias
comissões, dentre elas a de Assuntos Econômicos (CAE), entre 2011-2014; a de
Assuntos Sociais, 2011-2013; e a de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ),
2015.
Atuando desde o início do mandato na
oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff, Aécio teve seu nome lançado
pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo presidente do PSDB,
deputado Sérgio Guerra, como pré-candidato do partido à presidência da
República, já em dezembro de 2012, durante encontro de prefeitos eleitos pela
legenda com os principais líderes do partido, realizado em Brasília. Com isso,
os
debates anteciparam a disputa à presidência.
No início do ano seguinte, o senador fez um discurso
onde enumerou os fracassos do governo do PT, entre eles, o Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC), a derrocada
da Petrobras e o desmonte das estatais, ausência de planejamento e o risco de apagão, descaso na saúde, frustração
na educação, a falta de investimentos em infraestrutura no país, como
problemas em estradas e aeroportos, terminando com a declaração de que o Brasil
estaria estagnado. Durante a convenção nacional do PSDB em Brasília, ocorrida
em 18 de maio de 2013, Aécio foi eleito presidente do partido.
O
mês de junho seguinte foi marcado, no Brasil, pela realização de inúmeras
manifestações populares que tiveram como estopim o aumento das passagens de
ônibus. Embora tivessem tido por estopim o aumento das passagens de ônibus,
estas manifestações traziam consigo demandas sócio-políticas múltiplas, sem
hierarquia ou pauta de reivindicações previamente definida, e tinham como alvo
o poder público. Na ocasião a presidente, os governadores e os prefeitos das
capitais sofreram, imediatamente, forte prejuízo em seus índices de
popularidade. Contudo, com o passar do tempo, as manifestações foram se escasseando
e a quantidade de pessoas mobilizadas se reduziu, em muito pelo crescimento da
violência verificada durante os atos públicos.
Como
resposta a todo este movimento, a presidente
Dilma apresentou a proposta da realização de um plebiscito consultando a
população sobre a convocação de uma assembleia constituinte específica para
realizar uma reforma política. Contra essa proposta, a oposição, através do
senador Aécio, apresentou diversas alternativas, dentre elas, o aumento da
transparência do governo e a melhoria dos serviços públicos; a redução pela
metade do número de ministérios e dos cargos comissionados; a adoção da Ficha
Limpa para as nomeações no governo; a realização de uma auditoria nos gastos do
governo brasileiro com a realização da Copa do Mundo em 2014; e a conclusão de
todas as obras de mobilidade urbana previstas para o torneio, como linhas de
metrô, corredores de ônibus, avenidas e aeroportos. Aécio Neves criticou ainda
a presidente por não ter chamado a oposição para discutir propostas que atendessem
às manifestações de rua.
No mês seguinte, foi a vez do senador mineiro arguir as
condições da importação de médicos cubanos para o programa federal “Mais
Médicos”, alegando não ser contra a origem dos médicos, mas enfatizando a determinação
de que eles recebessem a mesma remuneração que dos médicos de outras
nacionalidades. Aécio censurou também o que
chamou de ações autoritárias do PT, que chegaram a comemorar antecipadamente a
exclusão da ex-senadora Marina Silva do quadro eleitoral, já que o TSE havia
rejeitado o registro do partido fundado pela senadora, a Rede Solidariedade.
Marina, entretanto, acabou se filiando ao PSB.
Criticou também o modelo de partilha do
leilão feito pela Petrobras do campo de Libra, declarando que seria preciso
reestatizar a empresa, e defendeu o sistema de concessões. Em sua opinião o
regime de partilha permitia que as empresas repartissem com o governo o
resultado da exploração e que a adoção desse regime, em substituição ao de
concessões, fez com que o Estado ficasse com uma parcela da produção física em
cada campo de petróleo. O senador afirmou que,
com o leilão de Libra, o governo do PT fizera a maior privatização de toda a
história do país. O governo, segundo o senador, estaria fazendo uma
"aventura ideológica" ao adotar o modelo de partilha e a Petrobras
pagava o preço ao perder valor de mercado e competitividade.
No final do ano, o ex-governador de São Paulo José Serra
anunciou a desistência em disputar a indicação de candidato do PSDB à
presidência da República, pondo fim à disputa interna no partido entre Serra e
Aécio, que acabou sendo escolhido candidato pelo partido. Enquanto isso, já no
início de 2014, Pimenta da Veiga era anunciado como pré-candidato
do PSDB ao governo de Minas, devido à renúncia do deputado Eduardo Azeredo,
acusado de participar do mensalão tucano.
Em maio, em ato público, o presidente do PMDB do Rio de
Janeiro, Jorge Picciani, declarou apoio informal no estado ao pré-candidato do PSDB
à presidência, Aécio Neves, lançando o movimento "Aezão", em favor do
voto no tucano e no governador Luiz Fernando Pezão, candidato à reeleição pelo
PMDB, apesar desse partido ter dado o apoio à reeleição de Dilma Rousseff, e do
PT ter apresentado candidato próprio.
Na convenção nacional do PSDB, realizada no mês
seguinte, o partido oficializou o nome do
senador Aécio Neves para concorrer à presidência da República nas eleições de
outubro. Para compor a chapa, como candidato à vice-presidência, foi escolhido
o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), sendo sua sustentação definida com a
formação da “Coligação Muda Brasil”, formada pelos
partidos PSDB, DEM, PTB, Solidariedade (SD), PMN, PTC, PTdoB, Partido Ecológico
Nacional (PEN) e Partido Trabalhista Nacional (PTN). Tal formação permitiu ao
senador contar com seis minutos de propaganda eleitoral gratuita na televisão,
muito embora a coligação que apoiou a presidente Dilma, formada por nove partidos, tivesse
ao todo aproximadamente 12 minutos, sem dúvida o maior tempo de propaganda das
eleições de 2014.
Ao longo de sua campanha eleitoral Aécio
Neves recebeu muitas críticas, sendo que a mais contundente delas foi a
respeito do uso do aeroporto de Cláudio, no interior de Minas Gerais. A obra teria sido
foi feita numa área desapropriada de um parente seu, perto de uma fazenda de
propriedade de sua família. Além disso, Aécio Neves reconheceu ter usado outra
pista, em Montezuma, construída na década de 1980 e reformada durante seu
governo localizada em uma região onde ficava uma fazenda que herdou do pai.
Essas duas pistas funcionavam sem a homologação da Agência Nacional de Avião
Civil (ANAC). Em resposta a agência divulgou
nota informando que o processo de homologação do aeroporto de Cláudio teria
começado em julho de 2011 e ainda não havia sido concluído, devido à falta de
documentação necessária. Quanto ao aeroporto de Montezuma, a Agência informou
que não havia nenhum processo regostrado no órgão.
Questionado sobre as prisões de petistas
condenados no mensalão, entre eles, o ex-presidente do PT José Genoíno e o
ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, Aécio Neves defendeu que este julgamento
deveria servir de exemplo para todos os outros no Brasil.
No dia 13 de agosto ocorreu o acidente
aéreo em Santos (SP), em que morreu o candidato à presidência da República pelo
PSB, o ex-governador do Pernambuco, Eduardo Campos o que vitimou o
ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, candidato à presidência pelo PSB. Foi
assim dado um breve intervalo às campanhas, quando os candidatos, entre eles
Aécio Neves, se deslocaram a Recife, para prestar solidariedade à família de
Campos, e participar das cerimônias fúnebres.
Este acidente acabou por provocar
algumas mudanças significativas no panorama das candidaturas. Mesmo com a
entrada de Marina Silva na disputa eleitoral, como candidata do PSB no lugar de
Eduardo Campos, Aécio declarou, durante ato de campanha, que seu adversário no
pleito continuava sendo o PT. O ingresso de Marina provocou uma reviravolta na
disputa, tendo seu nome chegado a aparecer em primeiro lugar nas pesquisas
eleitorais. Entretanto, no primeiro turno das eleições que ocorreu no dia 5 de outubro de 2014, apesar de Aécio
ter aparecido sempre em terceiro lugar nas pesquisas, foi para o segundo turno
após obter 34,8 milhões de votos (33,5%); Dilma Rousseff ficou com 41,59%, e
Marina Silva com 21,32% dos votos válidos.
A campanha do segundo turno
começou com uma série de negociações entre os partidos. Apesar do PSB ter
declarado logo seu apoio a Aécio Neves, Marina Silva demorou um tempo até
aderir efetivamente à campanha do tucano. Também apoiaram Aécio os
ex-candidatos Eduardo Jorge,
do Partido Verde (PV), pastor Everaldo, do Partido Social Cristão (PSC), José
Maria Eymael do Partido Social Democrata Cristão (PSDC), e
Levy Fidelix do Partido Renovador
Trabalhista Brasileiro (PRTB). Aécio recebeu ainda o apoio do Partido Popular
Socialista (PPS), e do Partido Social Liberal (PSL).
As
pesquisas iniciais apontavam um empate técnico entre os dois candidatos.
Todavia, na última semana, houve uma virada, confirmada no dia 26 de outubro
pelo resultado das urnas: Dilma Rousseff venceu as eleições com 51,64%, tendo Aécio
Neves recebido 48,36% dos votos válidos. Essa foi considerada a vitória mais apertada da
história.
Logo
após o final da apuração, Aécio telefonou para a presidente Dilma
cumprimentando-a e desejando sucesso na condução do seu próximo governo. Em
seguida, fez um pronunciamento em Belo Horizonte, reconhecendo a derrota e
agradecendo o voto de mais de 50 milhões de brasileiros.
No
início de novembro, o senador fez seu primeiro discurso na tribuna do
Senado depois da eleição presidencial. Declarou que seria preciso a
apresentação de propostas por parte do governo para que a oposição se
posicionasse. Essa seria uma resposta ao pronunciamento feito anteriormente
pela presidente Dilma, no qual solicitava a necessidade de diálogo, não só com
a base de apoio, mas também com a oposição. Aécio afirmou ainda que qualquer
diálogo estaria condicionado ao envio de propostas que atendessem aos
interesses dos brasileiros, e, principalmente, ao aprofundamento das
investigações e exemplares punições àqueles que teriam protagonizado o maior
escândalo de corrupção da história deste País, já conhecido como “Petrolão”.
Diante do encerramento da CPI Mista criada para
investigar o escândalo da Petrobrás, ocorrido em dezembro, Aécio defendeu a
criação de uma nova CPI para que os
parlamentares pudessem continuar os trabalhos de apuração das investigações.
Foi casado com Andréa Falcão da Costa Leite Cunha, com quem
teve uma filha. Casou em segundas núpcias com
Letícia Weber, com quem teve dois filhos.
Sobre o biografado foi publicado Aécio
Neves, de facto et de jure (2005).
Nara Santana/Rogério Alves de
Barros/Manoel Dourado Bastos/Regina Hippolito
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biográfico; ASSEMB. NAC. CONST. Repertório
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