CABRERA, Antônio
*min. Agric. 1990-1992.
Antônio Cabrera Mano Filho nasceu em São José do Rio Preto (SP) no dia 28 de setembro de 1960, filho de Antônio Cabrera Mano e de
Dora Cabrera.
Filho mais velho de uma tradicional
família de produtores rurais do interior de São Paulo, aos 13 anos de idade já
trabalhava nas fazendas herdadas de seu avô, um espanhol que viera para o
Brasil no final do século passado e que, após ter sido colono em fazendas de
café no Espírito Santo, escolheu a região de São José do Rio Preto para montar
os seus negócios.
Ao lado de seu pai e de seus quatro
irmãos, assumiu a direção das Fazendas Reunidas Cabrera, um complexo
agropecuário de 24 propriedades espalhadas por cinco estados da União. Além da
produção de café e do comércio de gado, o grupo tornou-se um dos principais
criadores de búfalos do país, atividade que levou Cabrera à presidência da
Associação Brasileira de Criadores de Búfalos.
Formado em medicina veterinária pela
Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jabuticabal (SP), e com pós-graduação
em produção animal na Índia, Cabrera foi também consultor da Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), órgão voltado para a
produção de alimentos. Como consultor da ONU, em 1988 visitou o Vietnã, a
convite do governo local. Tendo liberdade para circular livremente pelo
território vietnamita, produziu um documentário sobre o país que foi exibido
pela TV Manchete.
Sua primeira experiência política foi
nas eleições presidenciais de 1989, quando liderou a campanha do candidato do
Partido da Reconstrução Nacional (PRN), Fernando Collor de Melo, nos municípios
próximos a São José do Rio Preto. Na ocasião, conseguiu conquistar quase 80%
dos votos da região. Confirmada a vitória de Collor no segundo turno do pleito
— realizado em dezembro de 1989, ocasião em que derrotou o candidato do Partido
dos Trabalhadores (PT), Luís Inácio Lula da Silva —, foram divulgados os nomes
dos novos ministros, cabendo a Joaquim Roriz a pasta da Agricultura. No
entanto, Roriz permaneceu no cargo somente 15 dias, pois resolveu dedicar-se à
campanha ao governo do Distrito Federal no pleito a ser realizado em outubro de
1990. Com isso, no dia 3 de abril de 1990, Cabrera assumiu a pasta,
tornando-se, aos 29 anos de idade, o mais novo ministro de toda a história
política brasileira.
Uma das primeiras medidas do governo
eleito, antes mesmo da posse de Cabrera, foi o anúncio de uma ampla reforma
administrativa, destinada a conter os gastos públicos e a reduzir o tamanho do
Estado. No Ministério da Agricultura, a reforma extinguiu a Empresa Brasileira
de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater) e transferiu para o
Ministério da Economia órgãos como a Companhia Brasileira de Alimentos (Cobal)
e a Companhia Brasileira de Armazéns (Cibrazen), medidas que diminuíram
consideravelmente a capacidade de atuação do ministério na formulação da
política agrícola.
Decidido a garantir maior autonomia
para sua pasta, em maio de 1990 conseguiu junto a Collor a recriação do antigo
Conselho Nacional de Agricultura, que havia sido extinto durante o governo de
João Figueiredo (1979-1985). Além de Cabrera, que ocupou a presidência do
órgão, o Conselho foi formado por representantes da iniciativa privada e dos
ministérios das áreas econômica e social do governo.
Também no início de sua gestão à
frente da Agricultura, mandou efetuar uma revisão em todos os processos de
desapropriações de terras executados durante o governo Sarney (1985-1990),
denunciando, em julho de 1990, a participação do antigo Ministério da Reforma e
do Desenvolvimento Agrário em operações fraudulentas na compra de terras para
assentamento rural no Maranhão. Crítico da administração anterior, em diversas
ocasiões acusou o ex-presidente José Sarney pela “herança desastrosa” que havia
deixado para a agricultura. Favorável a um “tratamento técnico” e à
“despolitização” do tema da reforma agrária, Cabrera sempre resistiu a fazer
desapropriações em áreas invadidas. Com isso, recebeu forte oposição das
entidades de trabalhadores rurais e das organizações de esquerda, desconfiadas
de que um grande fazendeiro fosse capaz de promover a distribuição de terras.
Em resposta às críticas que sofria,
ainda em julho de 1990 divulgou uma lista de “falsos sem-terra”, acusando o PT
e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) de comandarem uma “indústria de
invasões” de propriedades rurais no país. Reagindo às denúncias de Cabrera, o
PT divulgou uma relação contendo o nome de 33 trabalhadores mortos no campo
durante o primeiro semestre de 1990, 23 deles no governo Collor. Interpelado
judicialmente pelo deputado federal Virgílio Guimarães, candidato do PT ao
governo de Minas Gerais e um dos dirigentes citados na lista que apresentou,
Cabrera reafirmou todas as acusações que fizera sem, contudo, comprová-las.
Durante a campanha eleitoral de 1990,
defendeu publicamente que os produtores rurais votassem somente em nomes
comprometidos com a agricultura, com vistas a eleger uma bancada capaz de lhe
dar sustentação política e de aprovar os projetos de interesse do setor. Sua
iniciativa foi interpretada nos meios políticos como uma tentativa de
fortalecer sua posição dentro da administração federal, já que vinha mantendo
algumas divergências com a equipe econômica do governo, principalmente com a
ministra da Economia, Zélia Cardoso de Melo.
Em janeiro de 1991, o Congresso
Nacional aprovou com modificações a primeira lei agrícola do governo Collor.
Redigida sob inspiração de Cabrera, a lei criou o sistema “financiamento
equivalência-produto”, no qual as dívidas dos produtores de produtos agrícolas
que compunham a cesta básica passaram a ser corrigidas pelo preço mínimo das
sacas contratadas no ato do empréstimo. Segundo afirmou, esta foi a “maior
vitória” de sua gestão, pois realizou antigo desejo dos agricultores.
Em junho de 1992, o Congresso
Nacional instalou uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para apurar
denúncias de irregularidades contra o ex-tesoureiro da campanha de Collor à
presidência, Paulo César Farias. Durante os trabalhos da Comissão,
evidenciou-se a responsabilidade de Collor nos escândalos, fazendo com que crescesse
na opinião pública e na maioria dos congressistas o apoio ao afastamento do
presidente. Diante da situação claramente desfavorável para o governo, Cabrera
negou-se a interceder junto à bancada ruralista para tentar impedir a aprovação
do pedido de impeachment, sustentando que não liberaria recursos para
fins políticos e que sua solidariedade a Collor estava presente no trabalho que
realizava à frente do ministério.
Em 29 de setembro de 1992, aprovada
pela Câmara a abertura do processo que o afastaria da presidência, Collor
acabou renunciando ao mandato dois meses depois, antes mesmo da conclusão do
julgamento pelo Senado. Em seu lugar assumiu o vice Itamar Franco, que exercia
interinamente o cargo desde 2 de outubro.
Contrário à intervenção do Estado na
economia, ao longo de sua gestão Cabrera procurou estabelecer uma política de
abertura da agricultura, incentivando as importações através da redução das
alíquotas de produtos, insumos e equipamentos. Além disso, foi um crítico do
excesso de tributação do produtor rural e defensor do fim de todos os subsídios
estatais, apoiando, sempre que possível, a liberação dos preços como forma de
garantir a concorrência e a produtividade agrícola. Com a saída de Collor,
deixou o governo em outubro de 1992, sendo substituído por Lázaro Barbosa,
voltando à administração das propriedades da família.
Afastado do ministério, opôs-se ao
programa de combate à miséria divulgado pelo governo Itamar Franco. Liderado
pelo sociólogo Herbert de Sousa, o “Betinho”, o plano propunha a integração de
diversos setores da sociedade numa ampla campanha contra a fome. Estranhando a
ausência dos agricultores, Cabrera qualificou como um “descaso injustificável”
o fato do Conselho de Segurança Alimentar (Consea), órgão encarregado de coordenar
as ações do projeto, não ser representado por nenhuma entidade ligada à
agricultura.
Filiado ao Partido da Frente Liberal
(PFL) e presidente da seção paulista da agremiação, durante a campanha para as
eleições de 1994 articulou uma aliança com o Partido Progressista Reformador
(PPR) de Paulo Salim Maluf. No entanto, confirmada a coligação do PFL com o
Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) em nível nacional — união que
elegeria Fernando Henrique Cardoso como novo presidente da República no pleito realizado
em outubro daquele ano —, decidiu apoiar, junto com seu partido, o candidato
Mário Covas, nome lançado pelo PSDB paulista ao governo de São Paulo.
Com a vitória de Covas, foi nomeado
secretário de Agricultura e Abastecimento da administração estadual. Empossado
em janeiro de 1995, permaneceu no cargo até maio do ano seguinte, quando o
governador exonerou todos os secretários do PFL por esta agremiação ter
negociado apoio a Celso Pitta, candidato do Partido Progressista Brasileiro
(PPB) — surgido da fusão do PPR com o Partido Progressista (PP) — para a
prefeitura de São Paulo, nas eleições municipais de outubro de 1996.
Em outubro de 1998, disputou uma vaga
no Senado por São Paulo, na legenda do PFL, mas não foi bem-sucedido. Filiou-se
ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e no pleito de outubro de 2002,
candidatou-se ao governo do estado de São Paulo, mas não obteve sucesso. No
segundo turno das eleições apoiou o candidato José Genoíno do Partido dos
Trabalhadores (PT).
Em 2004, tornou-se membro da Academia
Brasileira de Agricultura, o qual pessou a ocupar a cadeira de número 25.
Deixou as atividades políticas e se
dedicou aos negócios da família. Em 2006, depois de 80 anos de atividades
relacionadas ao setor leiteiro, trocou o gado pela cultura de cana-de-açúcar.
Foi ainda o primeiro tesoureiro da
Igreja Presbiteriana de São José do Rio Preto.
Luís Otávio de Sousa
FONTES: Almanaque Abril; Dia (3/4/90); Estado
de S. Paulo (4 e 21/4, 30/6, 22/7/90, 28/5/96); Folha de S. Paulo (2
e 3/4, 30/6, 3, 4 e 10/7/90, 13/5/96, 15/7/98); Globo (2/4, 4 e 6/5, 4 e
28/7, 1/8/90); Jornal do Brasil (4 e 22/4, 4 e 14/5, 18, 21 e 27/7/90); Isto
é Dinheiro (26/10/2009).