CANALE,
Mendes
*dep. fed. MT 1960, 1961 e 1962; sen. MT
1975-1979; sen. MS
1979-1983 e 1987-1991; const. 1987-1988.
Antônio Mendes Canale nasceu em Miranda (MS), então no estado
de Mato Grosso, no dia 14 de outubro de 1923, filho de Humberto Canale,
revolucionário de 1930 e prefeito dessa cidade entre 1930 e 1932, e de Ilva Mendes
Canale.
Ingressou
na vida política em 1945, com a redemocratização do país, filiando-se ao
Partido Social Democrático (PSD) e tendo sido um dos fundadores e presidente da
Ala Moça no estado, organização política composta por jovens pessedistas que
propunham a modernização do país. Ainda nesse período fundou a União
Campo-Grandense de Estudantes (UCE).
Diplomou-se
contador em 1947 pela Escola Técnica de Comércio Carlos de Carvalho,
bacharelando-se depois em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de
Direito de Mato Grosso.
Eleito
deputado estadual em Mato Grosso na legenda do Partido Social Democrático (PSD)
no pleito de outubro de 1950, assumiu o mandato em fevereiro do ano seguinte.
Reeleito em outubro de 1954, obtendo a maior votação do estado, nessa
legislatura participou da Comissão de Orçamento da Assembléia mato-grossense e,
no pleito de outubro de 1958, elegeu-se suplente de deputado federal por seu
estado, sempre na legenda do PSD. Deixando o Legislativo de Mato Grosso em
janeiro de 1959, ocupou uma cadeira na Câmara dos Deputados de julho a outubro
do ano seguinte, de julho a outubro de 1961, de março a junho e de julho a
setembro de 1962. De 1963 a 1967 foi prefeito de Campo Grande, atual capital de
Mato Grosso do Sul, aí iniciando a construção do canal de Maracaju, destinado a
controlar as cheias periódicas. Construiu também a sede da prefeitura e ampliou
a rede de esgotos.
Com
a extinção dos partidos políticos pelo Ato Institucional nº 2 (27/10/1965) e a
posterior instauração do bipartidarismo, filiou-se à Aliança Renovadora
Nacional (Arena), partido de sustentação política do regime militar instalado
no país a partir de abril de 1964. Entre os anos de 1967 e 1968 exerceu o cargo
de chefe de gabinete do governador Pedro Pedrossian (1967-1971). Nesse período,
em 1967, esteve em visita aos Estados Unidos a convite do Departamento de
Estado daquele país. Em 1970 voltou a ocupar a prefeitura de Campo Grande, à
frente da qual se manteve até 1973.
No pleito de novembro de 1974 elegeu-se senador por Mato
Grosso na legenda da Arena, derrotando por quase 30 mil votos o candidato
emedebista Vicente Bezerra Neto. Assumindo o mandato em fevereiro de 1975, até
o ano seguinte participou das comissões de Agricultura, de Educação e Cultura e
de Legislação Social, e foi membro suplente da mesa diretora do Senado. Ainda
nesse mesmo mês, Mendes Canale foi acusado pelo então deputado estadual
emedebista, Sérgio Cruz, de ser o mandante do atentado sofrido por ele, não
tendo sido, contudo, comprovada a acusação contra o senador.
Em 1976 foi membro da delegação brasileira no Parlamento
Latino-Americano, na reunião conjunta das comissões de Integração Política,
Econômica e Social em Willemstad, em Curaçau, nas Antilhas Holandesas. No ano
seguinte esteve na Cidade do México, integrando a delegação brasileira à III
Conferência Conjunta do Parlamento Latino-Americano e do Parlamento Europeu.
Em outubro de 1977 foi sancionada a lei que dividiu em dois o
estado de Mato Grosso. Surgiria assim, a partir de janeiro de 1979, o estado de
Mato Grosso do Sul, tendo Campo Grande como capital e um governador nomeado. O
antigo estado de Mato Grosso permaneceria com Cuiabá como sua capital. Com a
divisão do estado, a Arena viu-se dividida também em duas grandes correntes: a
ortodoxa (formada por antigos udenistas e pessedistas), que se denominava “ala
democrática”; e a “independente”, que agrupava os seguidores do ex-governador
Pedro Pedrossian. Maior liderança política do estado, o ex-governador teve o
seu nome vetado depois da denúncia de corrupção no seu governo, feita contra
ele por Mendes Canale e pelo ex-governador José Fragelli (1971-1975), ambos da
“ala democrática” da Arena. A indicação de Harry Amorim da Costa para governar
o novo estado, frustrando a expectativa em torno de um nome local, não foi bem
recebida por esses grupos. Ainda em 1977, Canale tornou-se primeiro-secretário
da mesa no Senado, permanecendo no cargo até 1978.
Como
representante do novo estado, foi autor do projeto que prorrogava por seis
meses os prazos para a realização de convenções municipais, estaduais e
nacionais dos partidos políticos, aprovado pelo Senado em maio de 1979 na
ausência da bancada oposicionista. Ainda nesse mesmo ano presidiu a Comissão de
Assuntos Regionais, e passou a membro titular da Comissão de Relações
Exteriores no Senado.
Aliando-se
aos senadores Pedro Pedrossian e Saldanha Derzi, Mendes Canale acusou o então
governador do estado Harry Amorim, em junho de 1979, num documento entregue ao
presidente João Batista Figueiredo (1979-1985), de instaurar uma política de
concessão de favores e barganhas e, inclusive, de distribuir recursos do estado
a prefeitos e deputados da Arena visando minar as bases políticas das
tradicionais lideranças e criar o seu próprio grupo, com a ajuda de Levi Dias,
deputado federal e ex-prefeito de Campo Grande. Os signatários pediam a
destituição de Harry Amorim e a nomeação do então prefeito de Campo Grande,
Marcelo Miranda, para o cargo.
Com
a extinção do bipartidarismo em 29 de novembro de 1979 e a conseqüente
reformulação partidária, filiou-se ao Partido Popular (PP), tornando-se em maio
do ano seguinte coordenador da comissão formada pelos líderes dos quatro
partidos oposicionistas, que pleiteavam a realização de eleições municipais em
novembro de 1980. Ainda nesse ano participou da comissão especial que criou o
estado de Mato Grosso do Sul, foi relator da comissão que criou a Fundação
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, integrando também as comissões de
Redação, de Finanças, de Assuntos Regionais e de Justiça no Senado.
Com a decretação da nova legislação eleitoral em novembro de
1981 — o chamado “pacote de novembro” — pelo governo do general João Batista
Figueiredo, acompanhou a incorporação do PP ao Partido do Movimento Democrático
Brasileiro (PMDB), sacramentada na convenção realizada no dia 14 de fevereiro
de 1982. Em novembro, integrou como suplente a chapa encabeçada por Marcelo
Miranda ao Senado, pelo estado de Mato Grosso do Sul, na legenda do PMDB, que
foi eleita.
Nomeado secretário de Administração de Mato Grosso do Sul em
1983, no governo de Wilson Barbosa Martins (1983-1986), permaneceu no cargo até
o final de 1984. Em 1985 assumiu a Superintendência do Desenvolvimento da
Região Centro-Oeste (Sudeco), exercendo o cargo até 1987.
Em
29 de junho de 1987 foi efetivado na vaga do senador Marcelo Miranda, que
renunciou ao cargo para assumir o governo do Mato Grosso do Sul. Assumindo a
cadeira no Senado na segunda fase dos trabalhos da Assembléia Nacional
Constituinte, participou nesse mesmo ano da Subcomissão dos Direitos e
Garantias Individuais, da Comissão da Soberania e dos Direitos e Garantias do
Homem e da Mulher.
Nas
principais votações da Constituinte, pronunciou-se contra a pena de morte, a
limitação do direito de propriedade privada, o aborto, a jornada semanal de 40
horas, a pluralidade sindical, o presidencialismo, a estatização do sistema
financeiro e o mandato de cinco anos para o presidente José Sarney, que fora
efetivado no cargo em abril de 1985 com o falecimento do presidente eleito
Tancredo Neves.
Votou a favor do rompimento de relações diplomáticas com
países com política de discriminação racial, do mandado de segurança coletivo,
da proteção ao emprego contra a demissão sem justa causa, do turno ininterrupto
de seis horas, do aviso prévio proporcional, da unicidade sindical, do voto aos
16 anos, da nacionalização do subsolo, do limite de 12% ao ano para os juros
reais, da proibição do comércio de sangue, da limitação dos encargos da dívida
externa e da desapropriação da propriedade produtiva. Ausentou-se das seguintes
votações: soberania popular, criação de um fundo de apoio à reforma agrária,
anistia aos micro e pequenos empresários, e legalização do jogo do bicho.
Em junho de 1988 deixou o PMDB e ingressou no Partido da
Social Democracia Brasileira (PSDB), agremiação que ajudou a fundar. Com a
promulgação da nova Constituição em 5 de outubro seguinte, retornou aos
trabalhos ordinários no Senado.
Em 1989 voltou a exercer o cargo de primeiro-secretário da
mesa diretora do Senado. Nessa função, foi um dos maiores defensores da
organização de quadros funcionais da casa, tendo sido responsável por medidas
moralizadoras, entre as quais a redução de funcionários da representação do
Senado no Rio de Janeiro, o chamado “Senadinho”. Ainda nesse ano foi relator da
comissão parlamentar de inquérito (CPI) que investigou irregularidades na
Secretaria de Planejamento (Seplan).
Deixou o Senado em janeiro de 1991, sem ter concorrido à
reeleição em outubro do ano anterior. Defensor do lançamento de uma candidatura
própria do PSDB ao governo de Mato Grosso do Sul no pleito de outubro de 1990,
não teve seu ponto de vista aceito. Em seguida, afastou-se da vida política do
estado.
Ainda
em 1991, tornou-se consultor-geral do Senado, cargo que ocupou até 1995, quando
aposentou-se. Retornou no ano seguinte a Campo Grande e passou a presidir o
PSDB municipal.
Ao
longo de sua vida parlamentar representou o Senado no ato inaugural da XXXVII
Exposição Agropecuária e Industrial de Campo Grande — por ocasião do encontro
do presidente da República, general Ernesto Geisel (1975-1979), com o
presidente paraguaio Augusto Stroessner —, foi membro do grupo brasileiro do
Parlamento Latino-Americano, tesoureiro do grupo brasileiro da União
Interparlamentar, e integrou a comissão de senadores convidada pelo governo
alemão a visitar as usinas nucleares e fábricas de reatores e componentes
nucleares da República Federal da Alemanha. Foi também representante do grupo brasileiro
junto à reunião da comissão diretora do Parlamento Latino-Americano realizada
em Bogotá, Colômbia, e participante, como observador parlamentar, da delegação
do Brasil à LV Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra, Suíça, e
integrante da delegação do grupo brasileiro da União Interparlamentar em visita
ao Parlamento búlgaro, por ocasião da comemoração dos 1.300 anos da Bulgária.
Faleceu em Campo Grande no dia 1º de junho de 2006.
Era casado com Maísa Maria Xavier Canale, com quem teve
quatro filhos.
Publicou,
entre outros, os artigos O restabelecimento do equilíbrio econômico,
político e social; A madeira como alternativa energética; Federalização
das universidades de Mato Grosso do Sul; As eleições municipais de 1980;
Incorporação PP/PMDB; Infra-estrutura para o desenvolvimento —
divisão de Mato Grosso; Desproclamação da República (em co-autoria
com Itamar Franco); Prodegran — Programa de Desenvolvimento da Grande
Dourados; Relatório do CTA — Centro Técnico Aeroespacial e Relatório de
visita ao Nordeste.
Márcia Quarti
FONTES: ASSEMB. NAC.
CONST. Repertório (1987-1988); COELHO, J. & OLIVEIRA, A. Nova; Estado de
S. Paulo (23/2/88); Folha de S. Paulo (22/2/89); INF. BIOG; Jornal do Brasil
(20/6/89); Veja (20/6/79Portal do Senado Federal disponível em www.senado.gov.br/agencia/ (acesso
em 21/09/2009).