AZEVEDO,
Agliberto Vieira de
*militar; rev. 1935.
Agliberto Vieira de Azevedo
nasceu na fazenda das Oitocentas de propriedade da família, situada nas
proximidades da cidade de Rosário do Catete (SE), no dia 19 de outubro de 1906,
filho de José de Azevedo Sá, dono de um pequeno engenho de cana-de-açúcar, e
Cecília Vieira de Melo.
Em 1920 concluiu os estudos básicos na cidade vizinha de
Maruim, rumando, no ano seguinte, para o Rio de Janeiro, então Distrito
Federal, onde residiam seus irmãos mais velhos, Péricles e Temístocles. Nesse
mesmo ano, ingressou no Colégio Militar, onde estudava Temístocles. Concluindo
o curso em 1926. Sentou praça em abril de 1927, ao ingressar na Escola Militar
do Realengo (RJ). Neste período já havia aderido aos ideais socialistas,
influenciado pelo amigo sergipano e ex-militar Odilon Machado.
Em
1929, optou pela arma de aviação, sendo transferido para a Escola de Aviação
Militar (EAM) do Campo dos Afonsos, no Rio. Logo em seguida, passou a colaborar
financeiramente com o jornal comunista A Classe Operária e filiou-se ao Socorro
Vermelho, associação organizada pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), então
Partido Comunista do Brasil, que tinha como objetivo prestar auxílio a
militantes e seus familiares que se encontravam em necessidade,
Em
janeiro de 1930 foi declarado aspirante-a-oficial da arma de aviação. Promovido
a segundo-tenente em julho, em outubro aderiu ao movimento armado promovido
pela Aliança Liberal que depôs o presidente Washington Luís, assumindo
posteriormente uma postura crítica em relação à Revolução de 30.
Promovido a primeiro-tenente em junho de 1932, passou a
trabalhar ao lado do segundo-tenente Ivan Ramos Ribeiro na organização do
jornal comunista Asas Vermelhas. No ano seguinte, ingressou nas fileiras do
PCB. Chefe de pista na Escola de Aviação Militar em 1934, em junho do ano seguinte
foi promovido a capitão. Ainda em 1935, filiou-se à Aliança Nacional
Libertadora (ANL), movimento de caráter antiimperialista, antilatifundiário e
popular, fundado no início desse ano, e que reunia representantes de vários
segmentos da sociedade brasileira identificados na oposição ao presidente
Getúlio Vargas.
Colocada
na ilegalidade pelo governo no mês de julho, a ANL prosseguiu sua ação política
clandestinamente. Sob a hegemonia do PCB, articulou-se no seu interior um plano
insurrecional a ser deflagrado no Nordeste e no Rio de Janeiro. O levante foi
deflagrado em Natal no dia 23 e em Recife dois dias depois, sendo dominado
pelas forças governistas. No Rio de Janeiro, os planos visavam à tomada do 3º
Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha, e da EAM, no Campo dos Afonsos. O
capitão Agliberto de Azevedo integrava o comando revolucionário na escola,
juntamente com o capitão Sócrates Gonçalves da Silva e os tenentes Ivã Ramos
Ribeiro e Dinarco Reis
Na madrugada do dia 27 de novembro iniciou-se o levante nas
duas unidades militares cariocas. Agliberto participou do grupo de assalto à
EAM, onde penetrou de automóvel. Após um pequeno combate, o grupo rebelde
assumiu o comando da escola, passando, então, a atacar as instalações do 1º
Regimento de Aviação, comandado pelo coronel Eduardo Gomes. Repelidos, os
aliancistas retornaram à EAM, onde foram dominados pelas tropas legalistas
vindas da Escola Militar do Realengo. No 3º Regimento de Infantaria, o levante
também foi prontamente dominado por forças comandadas pelo comandante da 1ª
Região Militar, general Eurico Dutra.
Preso, Agliberto Azevedo perdeu a patente e o posto pelo
Decreto-Lei nº 558 homologado em 31 de dezembro de 1935. Julgado em 7 de maio
de 1937 pelo Tribunal de Segurança Nacional (TSN), recebeu a maior condenação
dentre os réus da EAM — 27 anos e seis meses de prisão —, acusado da morte do
tenente legalista Benedito Lopes Bragança que ficara sob sua guarda durante a
insurreição.
Em abril de 1945 deixou a prisão, beneficiado pela anistia
concedida pelo presidente Getúlio Vargas aos presos políticos. Neste período,
integrando a Comissão Nacional de Organização Provisória (CNOP), Agliberto
passou a trabalhar ativamente na organização do PCB, então na legalidade,
defendendo a liderança do secretário geral Luís Carlos Prestes no partido e a
política de união nacional. Logo em seguida, Prestes nomeou Agliberto e Agildo
Barata para o Comitê Central. Na condição de membro do órgão de direção do PCB,
Agliberto organizou várias células do partido e participou da Comissão de
Organização e Finanças, ao lado de Agildo Barata. Sua atuação foi intensificada
pela proximidade das eleições marcadas para dezembro de 1945, às quais o PCB
concorreria.
Em
1947, com a decretação da ilegalidade do PCB, Agliberto entrou na
clandestinidade no Rio de Janeiro, transferindo-se posteriormente para Recife,
onde trabalhou na organização do comitê regional. Em 1950, foi preso e
condenado pelo Conselho de Justiça da Aeronáutica a uma pena de quatro anos e
quatro meses de prisão, acusado de exercer atividades partidárias nas forças
armadas. Mesmo após ter cumprido toda a pena, continuou preso, sendo
transferido para o DOPS no Rio de Janeiro. Só foi libertado mediante a
impetração de um habeas-corpus. Seu processo só seria arquivado em 1958. Já em
liberdade, foi enviado pelo PCB para o Paraná, onde passou a colaborar com o
semanário Tribuna do Povo. Posteriormente, tornou-se o responsável pelos
periódicos Novos Rumos e Terra Livre.
Em
outubro de 1962, Agliberto saiu candidato a deputado estadual no Paraná, mas
não conseguiu se eleger. Após o movimento político-militar de 31 de março de
1964 que depôs o presidente João Goulart, teve seus direitos políticos cassados
pelo Ato Institucional nº 1 decretado em 9 de abril seguinte. Detido para
interrogatório, permaneceu preso até 1966. Depois de libertado, entrou
clandestinamente na Argentina, onde entrou em contato com o Partido Comunista
Argentino (PCA), passando a morar com militantes de uma célula do partido,
ligados ao Sindicato da Construção Civil. Nesse período, trabalhou como
operário da construção em Buenos Aires.
Em 1969, viajou para a França. Após estabelecer contato com o
Partido Comunista Francês (PCF), em nome do comitê central do PCB, trabalhou na
organização dos exilados políticos e em jornais comunistas, colaborando com
artigos. Neste período, Agliberto participou de várias reuniões e congressos de
PCs da Europa, viajando por todos os países socialistas. Em 1973, foi enviado
para Praga, onde trabalhou na Revista Internacional. Neste mesmo ano, participa
em Moscou das reuniões do comitê central do PCB, visando à sua reorganização,
sendo confirmada sua posição naquele órgão partidário.
Com a decretação da anistia em agosto de 1979, os membros do
CC retornaram no mesmo ano para o Brasil. Agliberto só regressou em 1980,
aderindo ao grupo de Luís Carlos Prestes, que rompera com à direção do PCB. Em
1989, foi anistiado e promovido ao posto de coronel-aviador da reserva. Após o
falecimento de Prestes em março de 1990, afastou-se das atividades
político-partidárias.
Faleceu na cidade do Rio de Janeiro, no dia 14 de dezembro de
1995.
Era casado com Maria da Glória de Oliveira Moura Castro, com
quem teve um filho.
Publicou
Minha vida de revolucionário (1967), obra escrita na prisão em 1965, na
qual relata sua trajetória de militante comunista.
FONTES: ARAÚJO, M. Cronologia.
1943; ARQ. DEP. PESQ. JORNAL DO BRASIL; AZEVEDO, A. Minha vida;
BARATA, A. Vida; CAMPOS, R. Tribunal; CARNEIRO, G. História;
CARONE, E. República nova; CARVALHO, A. Vale a pena; DULLES, J. Anarquistas;
Encic. Mirador; LEVINE, R. Vargas; MIN. GUERRA. Almanaque
(1934); PACHECO, E. Partido; PESSANHA, E. Partido; PINHEIRO, P. Estratégias;
PORTO, E. Insurreição; SEGATTO, J. Breve; SEGATTO, J. PCB;
SILVA, H. 1935; SILVA, H. 1937; SILVA, H. 1945; SODRÉ, N. Intentona;
VIANA, F. Prestes; VIANNA, M. Revolucionários; WANDERLEY, N. História.