BRAYNER,
Floriano de Lima
*militar; ch. EM FEB 1944-1945; ch. Gab.
Mil. Pres. Rep. 1955-1956; ch. EME 1959-1961; min. STM 1961-1967.
Floriano de Lima Brayner
nasceu na Paraíba no dia 2 de janeiro de 1897, filho de João das Neves Lima
Brayner e de Ana C. Brayner.
Em maio de 1913, sentou praça na Escola Militar do Realengo,
no Rio de Janeiro (então Distrito Federal), sendo declarado aspirante em
fevereiro de 1918 e, em maio do mesmo ano, segundo-tenente. Em fevereiro de
1922, foi classificado no 6º Batalhão de Caçadores, sediado em Ipameri (GO).
Promovido a primeiro-tenente em setembro do mesmo ano, serviu nessa unidade até
junho de 1927.
Entre setembro e dezembro de 1925, serviu sob as ordens do
coronel Álvaro Mariante, cujo destacamento operava no estado de Goiás na
repressão à Coluna Prestes, movimento rebelde que percorreu o interior do país
de abril de 1925 a fevereiro/março de 1927.
Ainda
em 1927, foi transferido para o 22º Batalhão de Caçadores, sediado na capital
paraibana, e em fevereiro do ano seguinte ingressou na Escola de
Aperfeiçoamento de Oficiais, no Rio. Concluiu o curso em dezembro de 1928, já
promovido a capitão desde o mês anterior.
Exerceu as funções de instrutor na mesma escola até março de
1931, quando iniciou o curso da Escola do Estado-Maior do Exército, ainda no
Rio. Concluiu o curso em janeiro de 1934, foi promovido a major em outubro do
mesmo ano e, de maio de 1935 a dezembro de 1936, exerceu a função de
oficial-de-gabinete do ministro da Guerra, general João Gomes. Classificado em
seguida no 32º Batalhão de Caçadores, sediado em Blumenau (SC), entre janeiro e
maio de 1937 estagiou no Exército francês.
Instrutor-chefe do curso de infantaria da Escola de Armas, no
Rio, de dezembro de 1937 a dezembro de 1939, retornou em janeiro de 1940 ao 32º
BC. Promovido a tenente-coronel em maio do mesmo ano, deixou a unidade em
janeiro de 1941, para exercer funções de instrução e direção na Escola Militar
do Realengo, onde permaneceu até junho de 1943.
Promovido
a coronel em abril de 1943, em julho foi escolhido para estagiar nos Estados
Unidos. Na ocasião, já iam avançadas as negociações que visavam à participação
brasileira na Segunda Guerra Mundial. O Brasil deveria enviar tropas para o
exterior, em íntima conexão com os norte-americanos. Assim, abriram-se cursos
especiais de emergência nos EUA para militares brasileiros. O coronel Lima
Brayner cursou a Escola de Comando e Estado-Maior de Fort Leavenworth e
estagiou no Estado-Maior da 100ª Divisão, em Fort Jackson.
Na Força Expedicionária Brasileira
Em outubro de 1943, criou-se no Brasil a 1ª Divisão de
Infantaria Expedicionária (1ª DIE), com a finalidade de participar dos combates
na Europa. A 1ª DIE, que viria a se tornar conhecida como Força Expedicionária
Brasileira (FEB), era comandada pelo general João Batista Mascarenhas de
Morais. Brayner chefiou o Estado-Maior da FEB a partir de janeiro de 1944, e
foi portanto uma das mais altas autoridades entre os oficiais brasileiros
integrantes da força. Não obstante, em diversos momentos demonstrou graves
desentendimentos em relação a como eram utilizados os combatentes brasileiros.
Segundo relata em suas memórias de guerra (A verdade sobre
a FEB), já em abril de 1944 criticava o empirismo que caracterizava
os preparativos militares e a lentidão na organização do transporte de tropas.
Além disso, discordava da maneira como se negociara a cooperação militar com os
EUA, que a seu ver originara sérios desentendimentos e a instalação de um
grande número de tropas estrangeiras em Natal. Responsabilizava por esses fatos o chefe do Estado-Maior do Exército, general Pedro Aurélio de Góis Monteiro, e
o regime ditatorial de Getúlio Vargas, que impedia os trabalhos parlamentares e
cerceava, assim, a discussão nacional de questões dessa relevância. Criticava
ainda o acordo econômico-militar firmado com os EUA em 23 de maio de 1942,
afirmando que só trouxera prejuízos ao Brasil.
Em
maio de 1944, Brayner passou a integrar o estado-maior especial que tinha a
missão de planejar e executar o embarque da 1ª DIE, juntamente com os
tenentes-coronéis Amauri Kruel e Humberto de Alencar Castelo Branco e dois
oficiais norte-americanos.
No
dia 2 de julho, partiu para Nápoles, Itália, a bordo do navio General Mann, na
condição de chefe do Estado-Maior Divisionário, órgão intermediário entre o
comando e os organismos de execução. Seguia na mesma viagem o 1º Escalão da
FEB, comandado pelo general Mascarenhas de Morais. O 2º e o 3º escalões
chegariam a Nápoles em outubro, o 4º em novembro e o 5º em fevereiro do ano
seguinte.
Em agosto de 1944, a 1ª DlE foi incorporada ao V Exército
norte-americano, estacionado na Tarquínia, passando a operar como uma “grande
unidade”. Na ocasião, Brayner reformulou seu estado-maior, criando serviços de
destacamento: saúde, inteligência e polícia.
Em outubro do mesmo ano, Brayner compareceu, juntamente com o
comandante da FEB, general Mascarenhas de Morais, a uma reunião de comandantes
de grandes unidades, realizada em Passo di Futa. Nessa reunião avaliou-se o
estado geral das tropas norte-americanas, considerado precário, e, em
decorrência, tomaram-se diversas decisões, algumas das quais atribuíam aos
combatentes brasileiros grandes responsabilidades. Segundo afirma em suas
memórias, Brayner considerava essas tarefas muito superiores às forças e à
experiência das tropas da FEB.
O
coronel Brayner deixou essa reunião com a convicção de que se devia organizar
um grupo de oficiais do Estado-Maior da FEB para atuar junto ao comando do V
Exército norte-americano. Em seu livro, relata que, nessa altura, entrou em
choque com o tenente-coronel Castelo Branco, chefe da seção de operações do
Estado-Maior, a quem teria acusado de obstar as iniciativas no sentido de
conseguir um maior entrosamento com os oficiais norte-americanos, de maneira a
abrir a discussão sobre o emprego das tropas brasileiras.
Quando, no inverno de 1944-1945, as tropas brasileiras foram
incumbidas de tomar a localidade de Monte Castelo, Itália, ponto de defesa
alemã de Castel Nuovo, principal objetivo militar da região, acirraram-se,
sempre segundo Brayner, as discordâncias entre sua posição e a do comando
norte-americano e de seus companheiros do Estado-Maior. Das tropas estacionadas
na região, apenas as brasileiras receberam encargos de combate, embora fossem
as menos aparelhadas e capacitadas para enfrentar o rigor do inverno europeu.
Entre 27 de novembro e 12 de dezembro de 1944, quatro ofensivas foram
rechaçadas pelos alemães, provocando um total de 350 mortes e ferimentos em
centenas de combatentes da FEB.
Brayner afirma em seu livro que encontrou em Monte Castelo a demonstração cabal da ineficiência do comando norte-americano e dos
inconvenientes da subordinação dos efetivos brasileiros ao V Exército. De
resto, os próprios alemães aproveitavam-se deste problema, lançando panfletos
redigidos em português nos quais escarneciam dos soldados brasileiros tutelados
pelos norte-americanos, instando-os a retornarem ao Brasil.
As sucessivas derrotas em Monte Castelo se explicavam, para o coronel Brayner, pela repetição de erros táticos, e
também pela atuação do tenente-coronel Castelo Branco, já que os preparativos
para as operações partiam exclusivamente da seção de operações, sem que se
tentasse promover um trabalho de equipe que envolvesse todo o Estado-Maior.
Brayner achava, além disso, que Castelo Branco concordava com os planos
formulados pelos norte-americanos sem proceder a uma avaliação das tentativas
já feitas e frustradas.
Em janeiro de 1945, Brayner viajou ao Brasil em missão
oficial junto ao governo, precisando fazer declarações para tranqüilizar a
opinião pública que, apesar da censura, se alarmava com notícias que falavam de
pesadas baixas entre os combatentes brasileiros. Em visita ao Estado-Maior do
Exército, concluiu que reinava ali total desinformação a respeito do teatro de
operações na Itália, o que atribuía a falsos boletins de informação que o
tenente-coronel Castelo Branco teria expedido sem o seu controle.
Após
a tomada de Monte Castelo pela FEB em 21 de fevereiro de 1945, Brayner
concluiu, em face do alto preço pago em vidas e das condições de combate, que a
imposição feita pelos norte-americanos às tropas brasileiras contrariara todas
as doutrinas de guerra, com características de primarismo e desumanidade por
parte do comando do V Exército.
No dia 19 de abril, Brayner foi encarregado pelo general
Mascarenhas de Morais de negociar em Collecchio, no vale do rio Pó, a rendição
incondicional de 15 mil soldados alemães, proposta por 30 de seus oficiais. No
dia seguinte, praticamente todos os prisioneiros e equipamentos bélicos já
estavam recolhidos.
Encerrada a campanha militar do V Exército e da FEB em 2 de
maio, as tropas brasileiras estacionaram em Francolise, aguardando o retorno ao
Brasil, onde já ia avançado o processo de reconstitucionalização, reforçado
pela derrota dos exércitos fascistas.
A campanha militar da FEB, cujos efetivos alcançaram um total
de 25.334 homens, 15.069 dos quais utilizados em combate, deixou um saldo de
451 mortos, 1.145 feridos, 23 desaparecidos e 35 prisioneiros. Foram feitos
20.573 prisioneiros entre soldados alemães e italianos.
Com
a iminência da volta dos combatentes, criou-se um destacamento precursor,
incumbido de preparar, no Brasil, o retorno das tropas. Iniciava-se assim o
desmembramento do estado-maior divisionário, a que Brayner se opôs por
considerar a medida prematura e por entendê-la como uma manobra do governo para
esvaziar a FEB. No seu entender, essa manobra se confirmou quando a chegada ao
Rio de Janeiro do general Mascarenhas de Morais foi transferida à última hora
do aeroporto Santos Dumont para a Base Aérea de Santa Cruz, onde se poderiam
evitar manifestações populares.
Após o fim da guerra
Em
20 de outubro, o coronel Brayner foi incumbido por Góis Monteiro de regressar à
Itália para assumir o posto de adjunto militar à embaixada brasileira, função
que assumiu a partir do dia 27 de novembro. Na ocasião, apenas Brayner não
ingressou no Estado-Maior do Exército (EME), ao contrário dos chefes da 1ª, da
2ª e da 3ª seções do Estado-Maior da FEB.
Em
julho de 1946, foi designado para viajar ao Peru, representando o Brasil na
posse do presidente José Luiz Bustamante y Risero. Em janeiro do ano seguinte,
foi promovido a general-de-brigada. Finalmente, em setembro de 1947, foi
nomeado primeiro-subchefe do EME, cargo que ocuparia até fevereiro de 1949.
Nesse ínterim, em janeiro de 1948, integrou a Comissão Militar Brasil-EUA. Em
1949, representou o Brasil na conferência de Genebra, Suíça, para proteção às
vítimas e aos prisioneiros de guerra.
Em setembro de 1951, foi nomeado comandante da 5ª Região
Militar e da 5ª Divisão de Infantaria, ambas sediadas em Curitiba, exercendo
essas funções apenas até janeiro de 1952. Entre fevereiro de 1952 e março de
1955, chefiou a Secretaria Geral de Administração do Exército. Em setembro de
1952, enquanto exercia esse cargo, foi promovido a general-de-divisão.
No dia 11 de novembro de 1955, colocou-se contra o golpe
militar liderado pelo general Henrique Lott (ministro da Guerra até a véspera),
movimento que segundo seus articuladores visava neutralizar uma conspiração em
preparo e assegurar a posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek. O
movimento provocou o impedimento dos presidentes da República Carlos Luz, em
exercício, e João Café Filho, licenciado, empossando na chefia da nação o
vice-presidente do Senado, Nereu Ramos. Apesar disso, no dia seguinte Brayner
foi nomeado chefe do Gabinete Militar do novo presidente, permanecendo no cargo
até a posse de Kubitschek, em janeiro de 1956.
Em seguida, Brayner prestou assessoria militar à Delegação
Permanente do Brasil junto à Organização das Nações Unidas de julho de 1956 a março de 1959. Entre março e abril de 1958, ocupou interinamente o cargo de ministro da
Guerra na ausência de seu titular, o general Lott. Foi promovido a
general-de-exército em dezembro de 1958 e, em junho de 1959, nomeado chefe do
EME, exercendo o cargo até abril de 1961. Nomeado ministro do Superior Tribunal
Militar (STM), tomou posse em junho do mesmo ano.
Em 1967, ano em que deixou o STM por ter atingido o limite de
idade para o cargo, Brayner impetrou mandado de segurança contra o decreto do
dia 3 de janeiro do mesmo ano, assinado pelo presidente da República, Humberto
Castelo Branco, que o reformara no posto de general-de-exército, quando deveria
ser elevado à patente de marechal. A ação teve êxito e Brayner recebeu a
promoção, contada a partir do decreto de reforma.
Faleceu no Rio de Janeiro no dia 3 de fevereiro de 1983.
Escreveu A verdade sobre a FEB, memórias de um chefe de
estado-maior na campanha da Itália (1943-1945) (1968), Luzes sobre memórias
(1973) e Recordando os bravos: eu convivi com eles na campanha da Itália
(1977).
Renato Lemos
FONTES: ARQ. MIN.
EXÉRC.; BRAYNER, F. Verdade; CAFÉ FILHO, J. Sindicato; CORRESP.
SECRET. GER. EXÉRC.; CORRESP. SUP. TRIB. MILITAR; COSTA, M. Cronologia; DULLES,
J. Getúlio; Grande encic. Delta; MIN. AER. Almanaque (1963); MIN.
GUERRA. Subsídios; MORAIS, J. FEB; SILVA, H. 1942; SILVA,
H. 1944; Veja (9/2/83).