SALGADO,
Clóvis
*rev. 1930; gov. MG 1955-1956; min. Educ. 1956-1961.
Clóvis Salgado da Gama nasceu
em Leopoldina (MG) no dia 20 de janeiro de 1906, filho de Luís Salgado Lima e
de Virgínia da Gama Salgado.
Fez o curso primário no Grupo Escolar Ribeiro Junqueira, em
sua cidade natal, e o secundário no Colégio Militar do Rio de Janeiro, então
Distrito Federal. Em 1924, ingressou na Faculdade de Medicina do Rio, pela qual
se bacharelou em 1929.
Iniciou suas atividades profissionais como assistente de
cirurgia no Hospital da Gamboa, no Rio, atuando também em clínica médica
própria. De volta à sua cidade natal, ingressou na vida política, fundando e
dirigindo o jornal Nova Fase. No início de 1930 foi partidário da Aliança
Liberal, coligação formada em 1929 que lançou como candidatos à presidência da
República o gaúcho Getúlio Vargas e à vice-presidência o paraibano João Pessoa.
Com a derrota nas urnas da chapa aliancista em março de 1930 e o assassínio de
João Pessoa em julho desse ano, os aliancistas intensificaram as articulações
para o movimento armado destinado a depor Washington Luís. Com a eclosão da
revolução em outubro, Clóvis Salgado alcançou o posto de capitão-médico ao
engajar-se nas tropas mineiras que participaram do movimento.
Em face da dissolução dos órgãos legislativos do país, os
limites de ação do Governo Provisório chefiado por Getúlio Vargas começaram a
ser questionados. Passaram a confrontar-se na área política basicamente duas
correntes: uma, composta de “tenentes” e elementos radicais oriundos dos
próprios grupos dominantes, que apoiava medidas excepcionais, e outra, liderada
pelos grupos políticos tradicionais, que pretendia o uso de fórmulas legais. Em
Minas Gerais, a questão centrou-se na luta no interior da própria oligarquia. O
presidente estadual Olegário Maciel (1930-1933), através de entendimentos com o
governo federal, conseguiu manter-se à frente do governo mineiro, negando-se a
aceitar o título de interventor, enquanto o ex-presidente da República Artur
Bernardes, antigo chefe do Partido Republicano Mineiro (PRM), assumia a
liderança do movimento de oposição ao Governo Provisório.
Como
encontrasse dificuldades em contar com o apoio do PRM para seu governo, não
podendo evitar o conflito com Artur Bernardes, Olegário Maciel apoiou, em
fevereiro de 1931, a criação da Legião Mineira, cujo programa propunha
aprofundar as reformas políticas instituídas pela Revolução de 1930. A Legião
Mineira recebeu adesão de diversos membros do PRM contrários a Artur Bernardes,
mas não contou com o apoio de Clóvis Salgado, que se manteve solidário ao
antigo líder e permaneceu no partido, desenvolvendo também intenso trabalho no
jornal Nova Fase.
Como membro do PRM, Clóvis Salgado participou de um congresso
realizado por esse partido em Belo Horizonte no dia 15 de agosto de 1931,
quando foram feitos pronunciamentos e denúncias contra os atos do governo
federal. Bernardes e o PRM acabaram sendo responsabilizados por uma frustrada
tentativa de golpe contra Olegário Maciel desfechada dias depois por iniciativa
de setores do governo federal. Esse episódio resultou no sensível
enfraquecimento do bernardismo. Mesmo assim, em julho de 1932, com a eclosão da
Revolução Constitucionalista de São Paulo, Clóvis Salgado, seguindo a posição
de Artur Bernardes, prestou solidariedade aos paulistas, derrotados
militarmente pelas forças do governo federal.
Candidato
às eleições para a Assembléia Nacional Constituinte realizadas em maio de 1933,
Clóvis Salgado obteve pequeno número de votos, que lhe asseguraram, porém, uma
suplência de deputado constituinte na legenda do PRM.
Depois
da instauração do Estado Novo em 10 de novembro de 1937, Clóvis Salgado passou
a se dedicar ao magistério. Foi professor de clínica ginecológica na Faculdade
Nacional de Medicina e na Universidade de Minas Gerais. Tendo reunido as
condições para a criação do hospital de ginecologia na Faculdade de Medicina
desta última, instalou-o em 1939 no Hospital São Vicente. Foi um dos organizadores
da Cruz Vermelha em Minas Gerais, para a qual fundou e organizou uma escola de
enfermagem.
Ao
longo de sua atividade profissional, Clóvis Salgado foi médico-chefe do
Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários (IAPB) e, mais tarde, médico
do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) em Minas Gerais. Foi ainda
membro da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, da Sociedade de
Ginecologia de Minas Gerais, do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade
de Ginecologia de Buenos Aires e da Sociedade Brasileira de Ginecologia. A
partir de 1944 foi diretor do Hospital São Vicente de Paulo e do Hospital das
Clínicas da Universidade de Minas Gerais.
No curso do processo de desagregação do Estado Novo, em 2 de
agosto de 1945 concretizou-se a reorganização do PRM em caráter nacional, com a
fundação do Partido Republicano (PR), presidido por Artur Bernardes e contando
com a participação de Clóvis Salgado. Após a derrubada de Vargas pelos chefes
militares, em 29 de outubro de 1945, Clóvis Salgado voltou a atuar ativamente
na política mineira, tendendo para uma linha nacionalista ao lado de Bernardes
e apoiando as campanhas da Petrobras e em defesa da Amazônia.
No pleito de 3 de outubro de 1950, elegeu-se vice-governador
do estado de Minas Gerais na legenda do PR, em chapa com Juscelino Kubitschek,
eleito governador na legenda da coligação do Partido Social Democrático (PSD)
com o PR.
Em 1952 e em 1954, participou de congressos médicos
realizados, respectivamente, em Buenos Aires e em São Paulo. Nesse mesmo ano
afastou-se da direção do Hospital das Clínicas e passou a ser membro do
Conselho Federal de Educação (CFE).
Antes
de completar seu mandato como governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek
resolveu candidatar-se à presidência da República. Para isso, a Constituição
impunha-lhe que renunciasse ao governo dez meses antes do término de seu
mandato, entregando-o ao vice-governador Clóvis Salgado. Os pessedistas temiam
que uma nova aliança entre o PR e a União Democrática Nacional (UDN) gerasse a
derrota do partido em Minas Gerais. Através de entendimentos mantidos entre
Juscelino, Clóvis Salgado e Artur Bernardes Filho, ficou acertado que o PR
apoiaria a candidatura de Juscelino à presidência da República e Clóvis Salgado
assumiria o governo durante os dez meses restantes, comprometendo-se a presidir
a sucessão governamental em conjunto com o PSD.
No governo de Minas Gerais
Em 31 de março de 1955, Clóvis Salgado assumiu o governo de
Minas Gerais. Juscelino Kubitschek lançou sua candidatura à presidência da
República juntamente com João Goulart, candidato à vice-presidência na legenda
da coligação do PSD com o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
Em
17 de maio de 1955, o PTB mineiro rompeu oficialmente com o governo de Clóvis
Salgado, depois que o PR se recusou a apoiar a candidatura de João Goulart. Em
meados de 1955, através da Polícia Militar, Clóvis Salgado tomou uma série de
medidas ligadas à mobilização e reforço das forças policiais tendo em vista o
acirramento das disputas eleitorais.
Dos entendimentos travados em torno da sucessão estadual,
ficara acertado que o futuro governador de Minas deveria ser um pessedista que
fosse aprovado pelos membros do PR, sendo indicado o nome de José Francisco
Bias Fortes. Realizado o pleito em 3 de outubro, a vitória coube à chapa
Juscelino-João Goulart e, em Minas, a Bias Fortes.
Em 9 de novembro do mesmo ano, substituindo o presidente João
Café Filho, assumiu o poder o presidente da Câmara dos Deputados, Carlos Luz,
pessedista que havia sido contrário à candidatura de Juscelino, e que era
considerado comprometido com as forças que desejavam impedir a posse dos
eleitos. Clóvis Salgado apoiou o movimento militar liderado pelo general Lott,
que em 11 de novembro depôs Carlos Luz. Esse movimento provocou o impedimento
do presidente da República em exercício, empossando na chefia da nação o
vice-presidente do Senado, Nereu Ramos.
No governo de Minas, Clóvis Salgado deu atenção especial à
educação e à saúde, promovendo a criação do Departamento de Saúde Pública e do
Departamento Social do Menor. Participou da elaboração de um novo código do
ensino primário e favoreceu a criação de numerosos colégios estaduais e cursos
de segundo ciclo nas escolas normais oficiais. Iniciou a construção do Hospital
do Câncer e prosseguiu com as obras do Hospital do Pênfigo e da Escola de Saúde
Pública, além de ter incentivado a construção de postos de saúde em diversos
municípios mineiros. Foi um dos fundadores da Universidade Mineira de Arte e
presidente da Cultura Artística de Minas. Em 31 de janeiro de 1956, findo o seu
mandato, entregou o governo a Bias Fortes.
No Ministério da Educação
Nessa
mesma data, quando Juscelino Kubitschek assumiu a presidência, Clóvis Salgado
tomou posse como ministro da Educação e Cultura. Com o intuito de estabelecer
uma adequação entre o sistema educacional e as transformações que se operavam
no país, promoveu a reestruturação desse sistema através da chamada “Educação
para o desenvolvimento”, que configurava 12 proposições cujas diretrizes seriam
capazes de reformular os ensinos secundário e superior. Durante sua gestão,
dispensou especial atenção ao ensino técnico-profissional por considerar o
desenvolvimento tecnológico vital em face das necessidades do país. Concedeu
incentivos à Campanha Nacional de Teatro, à construção da Casa do Estudante do
Brasil em Paris e ao projeto de um estabelecimento idêntico em Madri. Nesse
período, o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) tornou-se o
principal núcleo do pensamento nacional-desenvolvimentista. Os princípios da
Universidade de Brasília, que dez anos mais tarde iriam inspirar a reforma
universitária, foram igualmente estabelecidos nessa época.
Clóvis Salgado participou da Conferência de Ministros da
Educação das Américas, em Lima, no Peru, e do Simpósio sobre Planejamento
Familiar em Nova Iorque, nos Estados Unidos.
Nos dias 30 e 31 de maio de 1956, os estudantes cariocas
entraram em greve, desencadeando uma campanha contra o aumento do preço das
passagens dos bondes. Em face da grande repercussão do movimento, Clóvis
Salgado, juntamente com o então prefeito do Rio de Janeiro, Francisco Negrão de
Lima, entrou em acordo com os estudantes, fazendo com que as passagens do bonde
passassem de um cruzeiro para 1,50 ao invés de dois cruzeiros, como fora
inicialmente estabelecido.
Segundo Maria Vitória Benevides, a permanência de Clóvis
Salgado na pasta da Educação durante todo o governo de Juscelino Kubitschek
deveu-se ao fato de ele ter sido o único político capaz de compor com as facções
partidárias, por representar o PR, que, embora pequeno, servia de mediador
entre o PSD e a UDN, favorecendo a estabilidade política do período.
Em
maio de 1960, foi realizada a convenção do PR e adotada a posição de que o
partido apoiaria Jânio Quadros, candidato udenista à presidência da República,
retirando seu apoio ao candidato da coligação PSD-PTB, Henrique Teixeira Lott.
Como líder da seção mineira do PR, juntamente com Tristão da Cunha e João Belo,
Clóvis Salgado contestou a decisão convencional, negando-se a apoiar a
candidatura de Jânio, mas Artur Bernardes Filho, presidente do partido, cumpriu
à risca o compromisso. Em julho de 1960, Clóvis Salgado deixou o ministério,
desincompatibilizando-se para disputar as eleições de outubro seguinte.
Em
outubro de 1960, Jânio Quadros foi eleito presidente da República. Nesse mesmo
pleito, Clóvis Salgado voltou a se eleger vice-governador de Minas Gerais na
legenda do PR, apoiado pelo Partido Social Trabalhista (PST). Para o governo do
estado, o PR apoiara a candidatura do pessedista Tancredo Neves, mas o
vitorioso, eleito na legenda da coligação da UDN com o Partido Republicano
Trabalhista (PRT) e o Partido Libertador (PL), foi José de Magalhães Pinto.
Depois de eleito, Clóvis Salgado reassumiu ainda em outubro o Ministério da
Educação e Cultura, permanecendo no posto até o final do governo Kubitschek, em
janeiro de 1961.
Clóvis Salgado apoiou o movimento político-militar de 31 de
março de 1964, que destituiu o presidente João Goulart (1961-1964).
Entre
1964 e 1968 foi membro do Conselho Federal de Educação. Com a extinção dos
partidos políticos pelo Ato Institucional nº 2 (27/10/1965) e a posterior
instauração do bipartidarismo, filiou-se à Aliança Renovadora Nacional (Arena),
partido de apoio ao governo.
Em abril de 1967, no governo de Israel Pinheiro (1966-1971),
assumiu a Secretaria de Saúde de Minas Gerais, em substituição a Ênio Pinto
Correia, tendo iniciado a descentralização administrativa e promovido campanhas
de vacinação em massa. Afastou-se do cargo em março de 1971, quando Israel
Pinheiro transmitiu o governo a Rondon Pacheco. Em 1973, assumiu a direção da
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, cargo do qual se
afastou em 1976.
Faleceu em Belo Horizonte no dia 25 de julho de 1978.
Era casado com a cantora lírica Lia Portocarrero de
Albuquerque Salgado, com quem teve três filhos.
Publicou Do tratamento das afeccões cirúrgicas do cólon (tese
de doutoramento, 1929), A reforma do ensino médio (1957), Elementos de
diagnóstico ginecológico, Sei criar e educar meu filho, além de diversos
artigos especializados.
FONTES: ANDRADE, F.
Relação; ASSEMB. NAC. CONST. 1934. Anais; BENEVIDES, M. Governo Kubitschek;
CORTÉS, C. Homens; COSTA, M. Cronologia; COUTINHO, A. Brasil; Grande encic.
Delta; Jornal do Brasil (19/7 e 19/8/77 e 6/11/80); KUBITSCHEK, J. Meu (3);
MIN. GUERRA. Subsídios; POERNER, A. Poder; SOC. BRAS. EXPANSÃO COMERCIAL. Quem;
TORRES, J. História de Minas; Who’s who in Brazil.