CRISPIM, José Maria
*militar;
const. 1946; dep. fed. SP 1946-1948.
José Maria Crispim nasceu em São Miguel do Guamá (PA) no dia 25 de maio de 1911, filho de Antônio Pedro Crispim e de
Josefa Amélia da Costa.
Começou a trabalhar aos 12 anos como servente de pedreiro,
tornando-se mais tarde aprendiz de alfaiate e empregado de comércio. Completou
o curso primário.
Em 1927 sentou praça no Exército, transferindo-se em seguida
para o Rio de Janeiro, então Distrito Federal, onde concluiu o curso de monitor
de educação física. No ano seguinte foi promovido a sargento. Em fins de 1933 entrou
em contato com a literatura marxista, filiando-se em 1935 ao Partido Comunista
Brasileiro, então Partido Comunista do Brasil (PCB), que se encontrava na
ilegalidade. Nessa época era sargento de artilharia da guarnição da Vila
Militar do Rio de Janeiro. Com a derrota do levante promovido pelo PCB em nome
da Aliança Nacional Libertadora, em 27 de novembro de 1935, esteve preso até
1937.
Entre
esse último ano e 1941, em plena vigência do Estado Novo, percorreu
clandestinamente o estado de São Paulo, com o objetivo de organizar o PCB.
Esteve sobretudo nas cidades que margeavam a Estrada de Ferro Sorocabana,
desenvolvendo atividades políticas junto aos ferroviários e organizando-os na
defesa de suas reivindicações. Defendeu o Sindicato dos Ferroviários quando
este foi fechado em 1941 por portaria do Ministério do Trabalho e, ainda nesse
ano, foi preso, permanecendo quatro anos no presídio da ilha Grande, no litoral
do Rio de Janeiro. Com o início da redemocratização do país, foi anistiado em
abril de 1945.
De volta a São Paulo, restabeleceu sua ligação com o PCB.
Eleito secretário do comitê municipal do partido na capital paulista, coube-lhe
orientar a luta política durante a campanha eleitoral para a Assembléia
Nacional Constituinte. Em outubro de 1945, quando o padre Roberto Sabóia de
Medeiros convidou Luís Carlos Prestes para um debate público sobre sua doutrina
política, substituiu o dirigente comunista, que não pôde comparecer. O debate,
transmitido pelas rádios paulistas, alcançou na época grandes proporções. Foi
preso algumas vezes ainda em 1945.
No pleito de dezembro desse ano elegeu-se deputado por São
Paulo à Assembléia Nacional Constituinte na legenda do PCB, recebendo a maior
votação da capital paulista, com 35 mil votos. Assumindo o mandato em fevereiro
do ano seguinte, participou dos trabalhos constituintes como líder da bancada
comunista, defendendo o direito de greve e protestando contra o espancamento
dos operários da Light, ocorrido naquele ano.
Juntamente com Prestes e os demais parlamentares comunistas,
assinou os 15 pontos apresentados pelo PCB à Constituinte dentro de seu
Programa Mínimo de União Nacional. Esse programa defendia, em especial, a
proteção dos pequenos fazendeiros e pequenos industriais, autonomia dos
municípios, o direito irrestrito de convocação de ministros de Estado pelo
Congresso, a unificação da Justiça, a ampliação do direito de voto aos
analfabetos, soldados e marinheiros e a autonomia do Distrito Federal.
Declarava-se ainda contra as exceções à proibição do trabalho do menor e o
estabelecimento do estado de sítio preventivo, aceitando-o somente em caso de
agressão estrangeira.
Em
julho de 1946, durante a III Conferência Nacional do PCB, foi eleito para o
comitê central do partido. Com a promulgação da nova Carta em 18 de setembro
seguinte, passou a exercer o mandato legislativo ordinário. Em maio de 1947,
porém, o PCB foi colocado na ilegalidade, sendo o seu mandato, como o dos
demais parlamentares comunistas, cassado em janeiro de 1948. Em março seguinte,
juntamente com os ex-deputados Mílton Caires de Brito, Osvaldo Pacheco e Caio
Prado Júnior, lançou um manifesto contra a ameaça de intervenção federal em São Paulo, então governado por Ademar de Barros. A intervenção, contudo, não se concretizou.
Por haver sido tal manifestação considerada subversiva, foram todos
criminalmente processados. Crispim impetrou então mandado de segurança no
Supremo Tribunal Federal (STF) contra a cassação do seu mandato. O processo foi
julgado em maio de 1949, quando o STF lhe negou o mandado por unanimidade de
votos.
Em
1950, Crispim discordou do Manifesto de agosto, documento que refletia a
nova orientação do PCB a partir da cassação de seu registro. O manifesto
indicava que os comunistas deveriam preparar a luta revolucionária de massas,
caracterizando o governo de Eurico Dutra como “fascista sanguinário”. Embora
esse programa radical de ação se afastasse muito da real atividade do partido,
ele não teve o apoio unânime de seus membros, o que levaria a uma cisão em
1952. Integrante do comitê central, Crispim não aprovou a orientação do
programa de 1950, por julgá-la “sectária”. Sugeriu então que fosse adotada uma
política de maior apoio aos trabalhadores, que o partido lutasse pela
legalidade e que fosse convocado o IV Congresso Nacional. Suas críticas levaram
o comitê central a expulsá-lo do partido ainda em 1952 sob a acusação de
“traição” e “direitismo”. Juntamente com Crispim, abandonaram o PCB alguns
dirigentes dos escalões intermediários de São Paulo e militantes do Rio de
Janeiro. Em 1961 tornou-se líder da União Sindical dos Trabalhadores (UST).
Após
o movimento político-militar de 31 de março de 1964, que depôs o presidente
João Goulart (1961-1964), Crispim esteve foragido e foi condenado, à revelia, a
uma pena de 24 anos de prisão, solicitando então asilo político à embaixada
mexicana no Rio de Janeiro. Obtendo o asilo, viveu no México e depois na
Argélia, França, Chile, Argentina, Portugal e, finalmente, Itália. Seus
direitos políticos foram cassados em maio de 1966 pelo Ato Institucional nº 2
(AI-2), editado em 27 de outubro de 1965 pelo presidente Humberto Castelo
Branco. No exílio, filiou-se à Ação Libertadora Nacional (ALN), organização
criada em 1968 por Carlos Marighella e outros ex-membros do PCB. De Paris,
Crispim enviou uma carta em que propunha a fusão da ALN com a Vanguarda Popular
Revolucionária (VPR), à época, as duas maiores organizações clandestinas
empenhadas na luta armada contra o regime instaurado pelo regime militar.
Em novembro de 1979, beneficiado pela anistia decretada em 28
de agosto desse ano, retornou do exílio e radicou-se em São Paulo, onde se dedicaria — segundo afirmou — à continuação da luta contra a influência da
corrente liderada por Prestes. Pouco depois, filiou-se ao Partido dos
Trabalhadores (PT).
Teve uma filha.
Publicou Sobre a estratégia global da revolução no
Brasil (1974).
FONTES: Bancada; CÂM.
DEP. Deputados; CÂM. DEP. Deputados brasileiros. Repertório (1946-1967);
CÂM. DEP. Relação dos dep.; GALVÃO, F. Fechamento; Globo (13,
18 e 24/11/79); Grande encic. Delta; Jornal do Brasil (25/5 e 13/11/79);
LEITE, A. História; LEITE, A. Páginas; SILVA, G. Constituinte.