MENDES, Bete
*dep. fed. SP
1983-1987, 1988-1991.
Elisabete Mendes de Oliveira nasceu em Santos (SP) no dia 11 de maio de 1949, filha do
suboficial da Aeronáutica Osmar Pires de Oliveira e de Maria Mendes de
Oliveira.
Em
1960, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde viveu durante quatro
anos. Neste período, cursou o ginasial e começou a se aproximar das atividades
do movimento estudantil de seu colégio, além de realizar as primeiras
experiências com grupos de teatro amador. De volta a Santos após o movimento
político-militar de 31 de março de 1964, concluiu o segundo grau e
transferiu-se para São Paulo em 1967, a fim de fazer o curso universitário.
Na capital paulista, teve sua primeira oportunidade para
trabalhar profissionalmente em teatro, estreando como atriz na peça A
cozinha, dirigida por Antunes Filho. Na época, ingressou no curso de
ciências sociais da Universidade de São Paulo (USP), onde travou contato com os
movimentos de oposição ao regime militar, vindo a participar como simpatizante
da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), um dos vários
agrupamentos de esquerda que utilizavam as táticas de guerrilha urbana como
forma de resistência à ditadura. Ainda como estudante de sociologia, fez sua
estréia na televisão, tornando-se conhecida nacionalmente por sua participação
na novela Beto Rockefeller, transmitida pela extinta TV Tupi.
Em
1970, Bete Mendes foi presa como suspeita de envolvimento em atividades
consideradas subversivas pelo Departamento de Operações Internas — Centro de
Operações para a Defesa Interna (DOI-CODI) de São Paulo. Libertada quatro dias
depois, chegou a planejar uma fuga para o Chile, mas acabou detida mais uma vez
entre os meses de setembro e outubro daquele ano. Vítima das torturas
praticadas nas dependências do DOI-CODI paulista, foi posta em liberdade após
30 dias de detenção, sendo absolvida da acusação de crime contra a segurança
nacional pela sentença do Superior Tribunal Militar proferida em dezembro de
1972. Por conta da perseguição política, teve que deixar o curso de sociologia
na USP.
De
volta à TV, dedicou-se à militância sindical no meio artístico e participou dos
movimentos feminista e contra a discriminação dos negros. Já como atriz da TV
Globo, engajou-se na campanha pela anistia e, entre 1978 e 1980, na
solidariedade sindical às greves dos metalúrgicos da região do ABC, em São Paulo. Ainda em 1980, ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT), que reuniu sob a
mesma legenda o “novo sindicalismo” surgido no ABC paulista, os setores
progressistas da Igreja Católica e socialistas de diversas tendências.
Eleita deputada federal pelo PT de São Paulo em novembro de
1982 e empossada em fevereiro do ano seguinte, participou dos trabalhos
legislativos como titular das comissões de Educação e Cultura e de Transportes
da Câmara dos Deputados. Afastada da carreira artística devido ao exercício da
atividade parlamentar, participou ativamente das manifestações durante a
campanha das diretas, votando a favor da emenda Dante de Oliveira, que,
apresentada na Câmara dos Deputados em 25 de abril de 1984, propôs o
restabelecimento das eleições diretas para presidente da República em novembro
daquele ano. Como a emenda não obteve o número de votos indispensáveis à sua
aprovação — faltaram 22 para que o projeto pudesse ser encaminhado à apreciação
pelo Senado Federal —, Bete Mendes decidiu, contra a orientação de seu partido,
no Colégio Eleitoral de 15 de janeiro de 1985, votar no candidato oposicionista
Tancredo Neves, eleito novo presidente da República pela Aliança Democrática,
uma união do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) com a
dissidência do Partido Democrático Social (PDS) abrigada na Frente Liberal.
Contudo, por motivo de doença, Tancredo Neves não chegou a ser empossado na
presidência, vindo a morrer em 21 de abril de 1985. Seu substituto no cargo foi
o vice José Sarney, que já vinha exercendo interinamente o cargo desde 15 de
março deste ano. Por ter apoiado Tancredo, Bete Mendes foi expulsa do PT
juntamente com Aírton Soares e José Eudes, deputados que também desrespeitaram
a decisão do partido de não comparecer ao Colégio.
Em agosto de 1985, convidada por Sarney, integrou uma
comitiva presidencial em viagem oficial ao Uruguai. Na ocasião, encontrou-se
com o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, adido militar da embaixada
brasileira naquele país. Reconhecendo-o como responsável pelas sessões de
tortura que sofreu, denunciou-o às autoridades após o retorno ao Brasil, em
cartas ao presidente Sarney e ao ministro do Exército, general Leônidas Pires
Gonçalves. O episódio quase se transformou na primeira crise militar da Nova
República, contornada pelas intervenções do presidente da Câmara, Ulisses
Guimarães, e do deputado Pimenta da Veiga, líder do governo. Meses depois,
Ustra foi removido do cargo.
Filiada ao PMDB desde outubro de 1985, no início do ano
seguinte foi cogitada para disputar as eleições como candidata a
vice-governadora na chapa encabeçada por Orestes Quércia. Mesmo tendo o apoio
da Comissão de Mulheres do PMDB, não aceitou o convite. Em vez disso, disputou
e ganhou a eleição deputada federal. Empossada em fevereiro de 1987, quando se
iniciaram os trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte, no mês seguinte
licenciou-se do mandato para assumir a Secretaria de Cultura do estado, no governo
de Orestes Quércia (1987-1991). Seu lugar na Câmara foi ocupado por Hélio
Rosas. Bete Mendes permaneceu nesta função até dezembro de 1988, quando voltou
ao parlamento em Brasília.
Em
outubro de 1990, candidatou-se novamente à reeleição, desta vez pelo Partido da
Social Democracia Brasileira (PSDB). Obtendo apenas uma suplência, deixou a
Câmara em janeiro de 1991, ao final da legislatura. Afastada da vida
parlamentar, retomou a carreira artística. Em 1992 participou da fundação do
Partido Popular Socialista (PPS), agremiação resultante das mudanças efetuadas
nos estatutos do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Em novembro de 1996, participou de um encontro de artistas
com o jornalista José Ramos Horta, vencedor do Prêmio Nobel da Paz e dirigente
no exílio da resistência do Timor Leste — ocupado militarmente pela Indonésia
desde 1975 —, com o objetivo de engajar-se numa campanha internacional de apoio
à liberdade e ao direito à autodeterminação do povo daquele país. Em 1997, Bete
Mendes esteve em Portugal participando de encontros sobre a causa timorense.
Com a vitória do candidato do Partido Democrático Trabalhista
(PDT), Anthony Garotinho, para o governo do estado do Rio de Janeiro em outubro
de 1998, Bete Mendes foi convidada para a presidência da Fundação de Artes do
Estado do Rio de Janeiro (Funarj). Assumiu este cargo em janeiro de 1999.
A atriz Bete Mendes teve também participações elogiadas no
filme Eles não usam black tie, de Leon Hirszmann, adaptação de um texto
teatral de Gianfrancesco Guarnieri, no qual fez o papel de uma operária, e na
peça Gota d’água, de Chico Buarque de Holanda e Paulo Pontes. Trabalhou
também em novelas e minisséries de televisão.
Em 2005, filmou Brasília 18%, com direção de Nelson
Pereira dos Santos e participou da montagem da peça Anjo Negro, de
Nelson Rodrigues, no teatro de mesmo nome, com direção de Nelson Rodrigues
filho.
Foi casada duas vezes. A primeira, com o ator Dênis Carvalho,
e a segunda, com o ex-deputado federal constituinte pelo Mato Grosso do Sul,
Antônio Carlos Nantes de Oliveira (1987-1991). Não teve filhos.
Luís Otávio de
Sousa/Marcelo Costa
FONTES: CÂM. DEP. Deputados
brasileiros. Repertório (1983-1987); Estado de S. Paulo (17/2/87); Folha
de S. Paulo (6/4/86, 18/2/87); Globo (26/4/84, 16/1/85, 13/4/86, 7 e
18/3/81, 27/10/96); INF. BIOG.; Jornal do Brasil (7/4/86, 17/2 e
14/3/87, 2/1/89, 23/11/96); Portal Dramaturgia Brasileira; Veja (21/8/85,
4/9/85).