FIRPO,
Anacleto
*rev. 1924; rev. 1930; rev. 1932.
Anacleto Firpo nasceu em Dom Pedrito (RS) no ano de 1886.
Empregou-se
ainda muito jovem como caixeiro numa loja do interior de seu município natal,
onde permaneceu até os 19 anos. Em 1905, transferiu-se para Pelotas (RS), tendo
trabalhado sucessivamente como empregado de loja, caixeiro viajante,
comerciante e industrial.
Em Pelotas, iniciou também sua atividade política,
tornando-se um dos principais colaboradores de Joaquim Francisco de Assis
Brasil. Em janeiro de 1923, terminou no Rio Grande do Sul a apuração dos votos
da eleição de novembro de 1922 para a presidência do estado, tendo sido
proclamado presidente, pela quinta vez, Antônio Augusto Borges de Medeiros,
derrotando o outro candidato, Assis Brasil. Este e seus partidários, na maioria
antigos caudilhos federalistas, rebelaram-se contra o governo estadual,
convictos de que houvera fraude nas eleições. O movimento iniciou-se em 25 de
janeiro, dia da posse do presidente eleito, com uma série de levantes
regionais. Anacleto Firpo, fortemente ligado a Assis Brasil, teve atuação
destacada nessa revolta, encerrada em dezembro do mesmo ano após a intervenção
do presidente Artur Bernardes, com a assinatura do Pacto de Pedras Altas. Nos
termos desse pacto, os partidários de Assis Brasil não conseguiram a almejada
deposição de Borges de Medeiros, embora lograssem limitar sua autoridade e
impedir que viesse a candidatar-se para ocupar a presidência do estado pela
sexta vez em 1926.
Entretanto, o Pacto de Pedras Altas não conseguiu fazer
cessar a crise no Rio Grande do Sul, e parte dos elementos oposicionistas,
tendo continuado a sofrer perseguições movidas pelas forças de Borges de
Medeiros, passou a ingressar no Exército, enquanto outros estabeleciam ligações
com a jovem oficialidade revolucionária, os “tenentes”.
No dia 5 de julho de 1924, eclodiu em São Paulo a revolta tenentista. Quando os rebeldes abandonaram a cidade de São Paulo no final
do mês de julho, rumando para o interior, decidiram que seria importante
desencadear um movimento no Sul, de modo a dividir as forças legalistas. A
insurreição gaúcha foi articulada, ao longo dos meses de agosto e setembro,
pelo capitão Luís Carlos Prestes e pelo tenente Antônio Siqueira Campos. No dia
5 de outubro, realizou-se em Foz do Iguaçu (PR) um encontro reunindo
representantes dos revoltosos paulistas, entre os quais Juarez Távora e João
Francisco Pereira de Sousa, e representantes dos líderes revolucionários civis
e militares do Rio Grande do Sul: Siqueira Campos, Anacleto Firpo (que
representava Assis Brasil e o “general” José Antônio Neto, conhecido como Zeca
Neto) e Alfredo Canabarro, emissário político do “general” Honório Lemes. Após
examinar a situação dos revoltosos paulistas, que se encontravam no oeste
paranaense, debateram as possibilidades de desencadear um levante de grande
envergadura no Rio Grande do Sul.
No dia 8 de outubro, Anacleto Firpo, Siqueira Campos, Alfredo
Canabarro e Juarez partiram de Porto Aguirre, na Argentina, para a fronteira
gaúcha, iniciando a articulação do movimento. Quatro dias depois,
encontraram-se com Honório Lemes em Artigas, no Uruguai, onde ficou Canabarro e
de onde remeteram carta a Prestes para que este iniciasse os contatos com
militares do estado. No dia seguinte, perto de Mello, ainda no Uruguai,
reuniram-se com Assis Brasil e Zeca Neto, acertando o apoio dos líderes civis
“maragatos” (federalistas) ao levante militar. Após esses contatos, Anacleto
Firpo permaneceu junto a Assis Brasil e Zeca Neto, enquanto Juarez e Siqueira
se dedicavam à articulação dos militares revoltosos. No dia 29 de outubro,
eclodiu o levante que viria a ser o ponto de partida da Coluna Prestes, que
percorreu o país até fevereiro de 1927, quando internou-se em território
boliviano.
Em
1928, foi fundado o Partido Libertador (PL), sucessor do Partido Federalista.
Anacleto Firpo tornou-se um dos líderes do novo partido, e sua zona de
influência era o sul do estado.
No dia 1º de agosto de 1929, Anacleto participou da reunião
do diretório central do Partido Libertador, realizada em Bajé (RS), na qual o
partido decidiu apoiar a candidatura de Getúlio Vargas à presidência da
República, juntamente com o outro grande partido do estado, o Partido
Republicano Rio-Grandense (PRR). Tradicionalmente rivais, as duas agremiações
se reuniram ainda no mês de agosto, formando a Frente Única Gaúcha (FUG) e
integrando mais tarde a Aliança Liberal.
Com
a derrota da Aliança Liberal nas eleições de março de 1930, tiveram início as
articulações para preparar a revolta armada em vários pontos do país. Envolvido
na preparação do movimento juntamente com Assis Brasil, Anacleto Firpo foi
procurado em Pelotas no mês de setembro por Paulo Nogueira Filho, representante do Partido Democrático de São Paulo, para troca de
informações. Anacleto pôs o paulista a par da situação da aliança
revolucionária entre gaúchos e mineiros, enquanto Nogueira Filho, que acabara
de chegar de Montevidéu, informou-o de que Luís Carlos Prestes, então radicado
na capital uruguaia, recusara-se a qualquer entendimento com os
revolucionários, tendo-se mesmo negado a recebê-lo.
Iniciada a campanha revolucionária no dia 3 de outubro,
Anacleto Firpo integrou o estado-maior civil de Getúlio Vargas como
representante do PL. O estado-maior seguiu junto com Vargas para o Paraná no dia
12. Em Curitiba, onde permaneceu entre os dias 22 e 23, Anacleto Firpo convocou
Paulo Nogueira Filho, também integrante do estado-maior civil, para um
encontro com João Alberto Lins de Barros, a fim de debater a formação do novo
governo paulista. Já havia pressões para que João Alberto fosse indicado para
governar São Paulo, posição que contava com o apoio de Anacleto Firpo. Paulo Nogueira, entretanto, opôs-se a esta proposta, alegando não crer que o líder tenentista
tivesse um conhecimento suficiente da realidade do estado.
Com a vitória da revolução, Assis Brasil foi indicado para a
pasta da Agricultura. Anacleto Firpo, Paulo Nogueira e Joaquim Sampaio Vidal acompanharam-no em sua viagem para o Rio de Janeiro, no dia 18 de novembro. No dia
seguinte, Assis Brasil tomou posse no cargo, nomeando imediatamente Anacleto
Firpo seu secretário. Entretanto, Assis Brasil permaneceu pouco tempo à frente
do Ministério da Agricultura: embora só se tenha afastado oficialmente em
dezembro de 1932, já em fevereiro de 1931 havia assumido a embaixada do Brasil
na Argentina.
Em 1932, diversos líderes gaúchos aderiram à campanha pela
constitucionalização e, mais tarde, à Revolução Constitucionalista, entre eles
Assis Brasil. Participando da conspiração no Rio Grande do Sul, Anacleto Firpo
foi preso pelas forças do governo em Pelotas durante o movimento.
Retirado por longos anos da vida política, morreu em Pelotas
no dia 27 de abril de 1978.
Era casado com Mafalda Firpo, com quem teve três filhos.
Regina
da Luz Moreira
FONTES: FONTOURA,
J. Memórias; Jornal do Brasil (1/5/78); Jornal do Comércio, Rio
(29/4/78); NOGUEIRA FILHO, P. Ideais; SILVA, H. 1930.