FLORES,
Mário César
*
militar; min. Mar. 1990-1992; sec. Ass. Estratég. 1992-1994;
Mário
César Flores nasceu em Itajaí (SC), no dia 27 de
fevereiro de 1931, filho de Agostinho de Aquino Flores e de Gertrudes Malburg
Flores.
Aspirante
à Marinha de Guerra ingressou na Escola Naval em março de 1947. Guarda-marinha
em abril de 1952, foi promovido a segundo tenente em maio do ano seguinte, e a
primeiro tenente em novembro de 1954. Capitão tenente desde abril de 1957,
exerceu o comando do navio-tanque Garcia d’Avila, da Flotilha do
Amazonas, de abril de 1959 até outubro de 1960.
Capitão
de corveta em maio de 1962 e capitão de fragata em setembro de 1966 comandou o
navio oficina Belmonte de abril de 1971 a abril de 1972. Nesse período,
ainda em outubro de 1971, foi promovido a capitão-de-mar-e-guerra.
Em
janeiro de 1973 assumiu o comando da Base Naval de Aratu, em Salvador, função
que acumulou a partir de agosto de 1974 com o comando do Grupamento Naval do
Leste, cargos que manteve até fevereiro de 1975. Nomeado adido naval em Buenos
Aires e Montevidéo, permaneceu na capital uruguaia até novembro de 1977, e na
capital argentina até setembro de 1978. Em novembro deste ano foi promovido a
contra-almirante.
De
agosto de 1982 a janeiro de 1984 comandou a Força de Apoio da Marinha. Em
janeiro de 1984 foi designado diretor da Escola de Guerra Naval (EGN). Em março
tornou-se vice-almirante. Designado diretor do Ensino da Marinha, acumulou os
dois cargos de fevereiro a dezembro de 1986.
Em
março de 1987 assumiu o comando da Esquadra e em novembro foi promovido a
almirante-de-esquadra. Designado diretor-geral do Material da Marinha em
dezembro, acumulou as funções durante 18 dias, só se desligando da esquadra em
janeiro de 1988. De março de 1989 a março de 1990, sob a presidência de José
Sarney (1985-1990) e sendo ministro da Marinha Henrique Sabóia, exerceu a
chefia do Estado-Maior da Armada, em substituição ao almirante Hugo Stoffel.
Com a posse do presidente Fernando Collor de Melo (1989-1992) ascendeu ao
Ministério da Marinha.
Considerado
um liberal por seus companheiros e tido como um dos maiores estrategistas da
força naval, Mário Cesar Flores preocupou-se com o reequipamento da frota e foi
um dos responsáveis pela instalação do Centro de Pesquisas da Marinha, em Iperó,
no interior do estado de São Paulo, onde se desenvolveram estudos sobre a
utilização da energia nuclear em submarinos. Entusiasta dessa tecnologia - que
considerava ser um dos passaportes para o Primeiro Mundo - em março de 1991
envolveu-se numa polêmica com o ministro das Relações Exteriores, Francisco
Rezek, que questionou publicamente os projetos em andamento na Marinha. Três
meses depois, em depoimento à comissão parlamentar de inquérito que avaliava as
causas do atraso científico e tecnológico do país, Flores prestou contas do
montante de investimentos realizados pelo Ministério da Marinha ao longo de 12
anos na área nuclear, ressaltando a necessidade de ‘uma política de
investimentos contínuos com recursos estáveis’.
Graças
ao bom trânsito que tinha no Congresso, durante o segundo semestre de 1992, no
curso dos trabalhos da CPI responsável pelas investigações da rede de corrupção
montada a nível federal, comprometendo diretamente o presidente da República e
resultando na abertura de um processo de impeachment contra Fernando
Collor de Melo, o almirante Flores manteve entendimentos com o grupo de
parlamentares que negociou reservadamente a transferência temporária do poder
para o vice Itamar Franco.
Após
a renúncia de Collor, em outubro de 1992, Mário Cesar Flores deixou a pasta da
Marinha por conta da completa reforma ministerial que se seguiu à posse de
Itamar Franco (1992-1994), em 2 de outubro. Substituiu-o o almirante Ivan
Serpa.
Único
integrante da equipe do primeiro escalão do presidente afastado convidado a
permanecer no novo governo, Flores foi nomeado para a Secretaria de Assuntos
Estratégicos (SAE), órgão de inteligência do governo, herdeiro do antigo
Serviço Nacional de Informações - extinto em 1990 - e à frente da qual estivera
até então Eliezer Batista.
Na
SAE, suas atribuições incluiriam além da eliminação do maior número possível de
‘arapongas’ - apelido dos quase dois mil agentes do antigo SNI, espalhados por
todo o país, incumbidos manter sob vigilância grupos subversivos atuantes durante
o regime militar - o estudo de áreas sensíveis, como energia nuclear, projetos
de desenvolvimento estratégico e ligados à segurança nacional. Em declarações á
imprensa, em 18 de outubro de 1992, Flores garantiu que não havia qualquer
semelhança entre as atividades da SAE - que considerava úteis e saudáveis - e
as práticas dos órgãos de inteligência e informação existentes no regime
militar (1964-1985).
Por
ser da competência da secretaria, o almirante empenhou-se na criação de um
esquema de ocupação e defesa da Amazônia, inclusive a sua vigilância aérea,
mesmo desconsiderando a possibilidade de invasão estrangeira. Principal
articulador do Projeto SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia), Flores
defendeu ‘a revisão do atual método de proteção das comunidades indígenas, que
não deveriam inibir a ação do Estado’.
Em
outubro de 1993, numa palestra sobre revisão constitucional na qual defendeu o
monopólio estatal no setor de exploração de petróleo e a abertura do mercado na
área de telecomunicações, Flores tornou-se pivô de um ligeiro constrangimento
ao admitir que diante da crise que o país atravessava ‘a sociedade pode(ria)
exigir soluções heterodoxas’. O mal entendido foi desfeito no dia seguinte à
publicação de suas declarações pelos jornais, através de uma carta enviada ao
presidente, na qual o almirante se dizia vítima de ‘deturpação do discurso’ e
refutava qualquer possibilidade de ocorrência de um golpe militar.
Dois
meses depois, em outra entrevista, disse que o plano econômico do ministro
Fernando Henrique Cardoso, ‘iria incrementar a recessão’. Ainda assim,
concordou com a execução das medidas e com a intenção de se atingir um
equilíbrio orçamentário antes do combate efetivo à inflação.
Em
dezembro de 1994, ao final do governo Itamar Franco, foi desligado da chefia da
SAE. Mesmo fora do governo continuou a ser uma espécie de porta-voz do projeto
SIVAM, que a partir de 1995 tornou-se fonte de suspeitas de superfaturamento e
de favorecimento da empresa norte-americana Raytheon, em detrimento de concorrente
francesa, Thomson. Em declarações prestadas perante a comissão especial do
Senado que investigou tais denúncias, Flores confirmou que ‘o governo Itamar
sofrera pressões dos Estados Unidos e da França, mas garantiu desconhecer uma
suposta carta enviada a Itamar pelo presidente norte-americano Bill Clinton,
pedindo ‘atenção especial’ à proposta da Raytheon.
Publicou
diversos trabalhos em jornais e revistas editadas pela própria Marinha e por
universidades sobre temas relacionados a estratégias militares de combate e
relações internacionais.
Casado
com Doris Xavier Flores, teve três filhos.
André
Dantas
FONTES:
CURRIC. BIOG.; Estado de São Paulo (18/1/90, 5/7/91, 13/10/92); Folha
de São Paulo (2/10/90, 13/9/92, 3/12/93, 25/11/95); Globo (1/4/89); Jornal
do Brasil (18/1/90, 22/3/91, 10/10/92, 18/8/93, 1/10/93, 6/12/95).