FONSECA,
Euclides Hermes da
*militar; rev. 1922.
Euclides Hermes da Fonseca
nasceu no Rio de Janeiro, então capital do Império, no dia 8 de março de 1883,
filho de Hermes Rodrigues da Fonseca, depois marechal e presidente da República
de 1910 a 1914, e de Orsina Hermes da Fonseca. Tinha o apelido de “Chiru”,
provavelmente devido à cor de sua pele, já que esse termo, no Rio Grande do
Sul, designa o índio ou caboclo.
Sentou
praça em 1902 e, desse ano até 1905, foi aluno da Escola Preparatória e de
Tática do Realengo, no Rio de Janeiro, então Distrito Federal. Ainda em 1905
serviu no 2º Batalhão de Infantaria, em Recife. Entre 1906 e 1908 cursou a Escola de Guerra em Porto Alegre, tornando-se aspirante em 1909. Desse ano até 1912 freqüentou a Escola de
Engenharia e Artilharia de Montanha, no Distrito Federal. Em janeiro de 1913
foi promovido a segundo-tenente. Entre 1913 e 1915 serviu no 1º Regimento de
Artilharia de Montanha, no Distrito Federal. Durante parte desse período
(1913-1914), foi posto à disposição do presidente da República, marechal Hermes
da Fonseca, e foi ajudante-de-ordens do diretor do Arsenal de Guerra
(1914-1915).
Em 1915 passou a servir no forte de Copacabana, em 1917 foi
promovido a primeiro-tenente e, em 1919, a capitão. Nessa patente era o comandante daquele forte, quando liderou a Revolta de 5 de Julho de 1922. As
divergências existentes entre as correntes políticas dividiam, em 1922, a opinião dos militares. O marechal Hermes da Fonseca, então presidente do Clube Militar,
opunha-se à candidatura oficial de Artur Bernardes à sucessão presidencial de
Epitácio Pessoa e colocava-se ao lado de Nilo Peçanha, candidato da Reação
Republicana. Com a eleição de Bernardes em março, formou-se um amplo movimento
contra a sua posse. Em meio a vários acontecimentos, no dia 29 de junho de 1922
o marechal Hermes enviou ao comandante da 7ª Região Militar, sediada em Recife,
um telegrama em que o exortava a não compactuar com as ameaças do governo
federal à autonomia do estado, configuradas na intervenção de Epitácio Pessoa
na política pernambucana, advertindo-o para que o Exército não se tornasse
“algoz” do povo.
Severamente repreendido pelo presidente da República através
do ministro da Guerra, João Pandiá Calógeras, o marechal Hermes enviou a
Epitácio Pessoa, no dia 2 de julho, um ofício em que reafirmava o conteúdo de
seu telegrama, o qual havia sido aprovado pela direção do Clube Militar.
Declarava, ainda, não poder “aceitar a injusta e ilegal pena” de repreensão
severa que lhe havia sido imposta. Considerando essa atitude do marechal Hermes
uma reiteração da sua indisciplina, Epitácio Pessoa ordenou sua prisão. Ao
mesmo tempo, foi decretado o fechamento, por seis meses do Clube Militar.
Diante desses fatos, acentuou-se o clima de tensão
político-militar. Em 3 de julho, o comandante do forte de Copacabana, Euclides
Hermes da Fonseca, mandou a seu pai uma mensagem na qual informava que o forte
decidira revoltar-se em protesto contra a sua prisão e contra a atuação do
governo federal e do Exército em Pernambuco. Devido à indecisão do marechal Hermes, Euclides resolveu, com o apoio de Antônio de Siqueira Campos e Delso Mendes
da Fonseca, protelar o levante para o dia 5.
O ministro da Guerra suspeitou das articulações existentes e
enviou ao forte, com a missão de substituir Euclides Hermes no comando, o
capitão José da Silva Barbosa, acompanhado do general Bonifácio da Costa,
comandante do 1º Distrito de Artilharia da Costa, a quem caberia fazer a
transmissão do posto. Euclides Hermes, depois de tentar inutilmente protelar
essa transmissão para o dia seguinte, desobedeceu às ordens recebidas e prendeu
os dois militares. Contando com o apoio da Vila Militar e da Escola Militar, os
rebeldes pretendiam marchar sobre o palácio do Catete, sob o comando do
marechal Hermes. Mas os levantes da Vila e da Escola foram rapidamente
sufocados, e o forte se viu sozinho. Os revoltosos do forte de Copacabana
iniciaram o ataque com um disparo do primeiro-tenente Delso Mendes da Fonseca,
logo substituído, no comando da torre do canhão de 190mm, por Euclides Hermes
da Fonseca. Este procurou atingir o Ministério da Guerra, inicialmente sem
sucesso: como o canhão não fora freado, o projétil teve sua trajetória
desviada, caindo nas imediações do quartel. Apesar de ter recebido um
telefonema de protesto de Pandiá Calógeras, Euclides Hermes, segundo a
narrativa de Hélio Silva, providenciou a retificação da falha, e os disparos
subseqüentes chegaram ao seu alvo, fazendo com que Calógeras se transferisse
para o quartel-general do Corpo de Bombeiros.
Em entrevista ao Centro de Pesquisa e Documentação de
História Contemporânea do Brasil (Cpdoc) da Fundação Getulio Vargas, Delso
Mendes da Fonseca deu de tais fatos uma versão diferente. Segundo esse
depoimento, o próprio Delso, comandando a torre do canhão de 150mm, teria sido
o autor dos tiros que atingiram o Ministério da Guerra.
Depois
de algumas horas de disparos e antes que as tropas legais iniciassem o
bombardeio pelo mar, o ministro da Guerra enviou aos rebeldes um comunicado em
que garantia a vida dos que abandonassem o forte. Após muitas deserções,
Euclides Hermes e Siqueira Campos incitaram aqueles que constituíam arrimo de
família a deixarem o local. Restaram apenas 29 rebeldes: o capitão Euclides
Hermes, os tenentes Siqueira Campos, Eduardo Gomes, Mário Tamarindo Carpenter e
Newton Prado, dois sargentos, um cabo, 16 praças e cinco voluntários. Os
oficiais, reunidos, decidiram enviar ao ministro da Guerra um documento a ser
entregue pelo próprio capitão Euclides, que incluía três condições para sua
rendição: respeito à vida dos revolucionários, demissão do Exército e livre
saída para o exterior. Euclides Hermes passou o comando a Siqueira Campos e
saiu com a proposta de rendição, mas foi preso e levado para o palácio do
Catete. O chefe da Casa Militar, general Hastínfilo de Moura, telefonou em
seguida para o forte e intimou os rebeldes a se entregarem, sob ameaça de fuzilamento
do capitão Euclides. Este, também por telefone, informou Siqueira Campos de que
as condições da rendição não tinham sido aceitas e lhe sugeriu fazer o que
achasse necessário. Os revolucionários decidiram, então, sair às ruas rumo ao
Catete, enfrentando as forças legalistas.
Sob
o comando de Siqueira Campos, os revoltosos caminharam pela avenida Atlântica
em direção ao Leme. Algumas deserções reduziram o número dos que combatiam as
forças legais. No fim do combate, às 15:15h, apenas três estavam ilesos ou
apresentavam ferimentos leves. Cinco morreram na areia da praia ou no hospital,
mais tarde; dois sucumbiram meses depois, em conseqüência dos ferimentos.
Siqueira Campos e Eduardo Gomes, gravemente feridos, foram hospitalizados. Em
18 de novembro de 1922, ambos enviaram a Euclides Hermes, preso no 1º Regimento
de Cavalaria Divisionária, uma carta em que relatavam a luta e justificavam a
sua saída do forte: tinham querido evitar que o Exército e a imprensa pudessem
acusar Euclides Hermes de haver abandonado o movimento.
Em 4 de fevereiro de 1928, o capitão Euclides foi condenado a
um ano e quatro meses de reclusão por ter participado do levante de 1922. Em
seu depoimento declarou que, segundo dissera na época ao general Augusto Tasso
Fragoso, estivera disposto a abandonar o forte após o comunicado em que Calógeras dava garantias de vida aos rebeldes, mas que teria sido o último a fazê-lo.
Anistiado depois da Revolução de 1930, desse ano até 1933 foi subcomandante do
1º Grupo de Artilharia Pesada, no Distrito Federal. Durante esse período, foi
promovido a major, em 1931, e combateu a Revolução Constitucionalista de 1932,
após o que, ainda em 1932, recebeu a patente de tenente-coronel. Em 1934,
cursou a Escola de Artilharia e, de 1935 a 1936, comandou o 9º Regimento de Artilharia Montada, em Curitiba. Em seguida, em 1936, passou a comandar o 4º
Regimento de Artilharia Montada, em Itu (SP), de onde saiu para servir na
Diretoria do Pessoal do Exército, no Rio de Janeiro, até 1937.
Promovido
a coronel em 1938, foi nomeado subcomandante da Diretoria Provisória de Armas,
também no Rio de Janeiro, tendo deixado esse posto para chefiar, até 1939, a 22ª Circunscrição de Recrutamento, em Campo Grande, hoje capital do estado de Mato Grosso do
Sul. Entre esse ano e 1940, voltou a comandar o 9º Regimento de Artilharia
Montada. De 1940 a 1941, serviu na Diretoria de Artilharia, no Distrito
Federal, e de 1941 a 1942 novamente comandou o 4º Regimento de Artilharia
Montada. Em 1943, passou para a reserva.
Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 11 de outubro de 1962.
Foi casado com Leolina de Ovalle Fonseca.
Amélia
Coutinho
FONTES: ARQ. MIN.
EXÉRC.; CARNEIRO, G. História; CONSULT. MAGALHÃES, B.; Encic.
Mirador; MACEDO, R. Efemérides; SILVA, H. 1922; TRIB. SUP.
ELEIT. Dados (8).