GABRIELLI,
José Sérgio
*pres. Petrobras 2005 – 2012
José Sérgio Gabrielli de Azevedo nasceu em Salvador no dia 3 de outubro de 1949, filho
de José Venâncio Passos de Azevedo e de Célia Gabrielli de Azevedo.
Militante do movimento
estudantil e presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) na Bahia na
década de 1960, e ativista da Ação Popular Marxista-Leninista (APML),
organização clandestina de combate à ditadura militar no Brasil, foi preso em
1970. Em 1971 graduou-se em economia pela
Universidade Federal da Bahia (UFBA) e em 1975 concluiu o
mestrado na mesma universidade, com a dissertação intitulada Incentivos fiscais e industrialização na Bahia:
uma tentativa de interpretação histórica. Ainda nesse período de formação,
foi editor de notícias internacionais da Tribuna
da Bahia, de 1972 a
1973, e professor da Escola de Administração de Empresas da Bahia (EAEBA), em
1974.
Transferindo-se em
1975 para os Estados Unidos, obteve em 1979 o título de mestre em economia
política na Universidade de Boston. Nesse mesmo ano voltou a dar aulas na EAEBA,
no ano seguinte tornou-se professor adjunto da UFBA, e em 1984 foi diretor do
Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES). De
volta aos Estados Unidos, foi senior
teaching fellow na Universidade de Boston de 1985 a 1987, ano em que
obteve o título de doutor em economia com a tese Policy simulation in a multisectoral model with price rigidities and
exogenous investment: a case study of Brazil 73-75. De 1987 a 1990 foi consultor da
Secretaria do Trabalho e Bem Estar Social da Bahia, de 1992 a 1994 foi
superintendente da Fundação de Apoio a Pesquisa e Extensão (Fapex), passando em
seguida a consultor, e em 1993 foi professor e pesquisador do Centro de
Pesquisa Ensino e Consultoria (Cepec) da Universidade Gama Filho. Em 1996
tornou-se diretor da Faculdade de Ciências Econômicas, em 2000, professor
titular de macroeconomia e, em 2002, diretor da Pró-Reitoria de Pesquisa e
Pós-Graduação da UFBA. Também nesse último ano completou sua formação acadêmica
com o pós-doutorado na London School of Economics and Political Science, na
Inglaterra.
Paralelamente à vida
acadêmica, com o fim do bipartidarismo em 1979 e a reorganização partidária que
se seguiu, foi um dos fundadores, em 1980, do Partido dos Trabalhadores (PT) na
Bahia. Nas eleições de novembro de 1982, concorreu a deputado federal pela
Bahia nessa legenda, mas não foi eleito. Em 1986, candidatou-se a prefeito de
Salvador na legenda do PT e mais uma vez não foi bem-sucedido. Em 1990, concorreu
ao governo da Bahia na legenda petista e pela terceira vez não foi eleito.
Em 2003, com a posse na
presidência da República de Luís Inácio Lula da Silva, assumiu a diretoria financeira
e de relações com investidores da Petrobras. Ao tomar posse, recebeu diversas
criticas, feitas por analistas da área e pela imprensa, que o acusavam de ser
um acadêmico sem reconhecimento profissional no mercado, o que poderia ter repercussões
negativas para a companhia, então em processo de internacionalização. Durante o
período em que esteve à frente dessa diretoria foi responsável pela gerência executiva
das áreas de contabilidade, finanças, financiamento de projetos, investidores, planejamento
financeiro e tributário.
Em julho de 2005 foi
indicado pelo Jaques Wagner, então titular da Secretaria de Relações
Institucionais da Presidência da República, e por Dilma Rousseff, ministra-chefe
da Casa Civil, para ocupar a presidência da Petrobras em substituição a José
Eduardo Dutra. Nomeado presidente da empresa, bem como dos conselhos de administração
da Petrobras Transporte S.A. (Transpetro), da Petrobras Química S.A (Petroquisa)
e da Petrobras Gás S.A. (Gaspetro), ressaltou em sua posse que, entre outros
projetos fundamentais, a internacionalização da companhia e a volta dos
investimentos em refino e petroquímica haviam sido iniciadas no período em que
fora diretor financeiro, e que o grande desafio que enfrentaria em sua gestão
como presidente seria a melhoria e ampliação do varejo.
A Petrobras, sob a
presidência de Gabrielli, descobriu petróleo na camada pré-sal (o
hidrocarboneto encontrado abaixo da lâmina de água e do sal no fundo do mar) do
mar territorial brasileiro, conquistou a autossuficiência em petróleo para o
país e comprou a Suzano Petroquímica, a maior empresa de resina de
polipropileno da América Latina. Por outro lado, enfrentou a instalação de uma
comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar indícios de fraude nas
licitações para a reforma de plataformas de exploração de petróleo, apontados
pela Operação Águas Profundas, da Polícia Federal, e de irregularidades nos
contratos de construção de plataformas, apontados pelo Tribunal de Contas da
União. No campo internacional, a Petrobras, em parceria com a Vale do Rio Doce,
iniciou um longo estudo para identificar as áreas com melhor potencial de
exploração e produção de gás natural em Moçambique; em conjunto com a empresa
portuguesa Galp Energia, ganhou a concessão para explorar petróleo em quatro
blocos em águas profundas na bacia de Peniche, na costa portuguesa no pceano
Atlântico; enfrentou ainda longas negociações com o governo boliviano, em razão
de um decreto que tornou a empresa Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos
(YPFB) a única exportadora de petróleo cru e dos demais derivados, como por
exemplo, a gasolina, produzidos no país. Em consequência disso, a Petrobras
resolveu vender as duas refinarias que possuía no país.
Declarou,
em 2009, que a Petrobrás teria captado, somente nos cinco primeiros meses de
2009, maior volume de recursos de sua história, que seria o triplo do obtido no
ano anterior e suficiente para as necessidades de financiamento da estatal nos
dois anos seguintes. E, que sob tais condições, a empresa forneceria 150 mil
barris de petróleo por dia naquele ano e 200 mil nos nove anos subsequentes.
No
mês de Maio do mesmo ano, quando instalada no Senado Federal uma Comissão Parlamentar
de Inquérito (CPI) para apurar um rol de denúncias de irregularidades
envolvendo a Petrobras e a Agencia Nacional do Petróleo (ANP). Na condição de
presidente da estatal, caracterizou a Comissão como parte de uma campanha de
criação de fatos artificiais para a oposição ao governo federal. Participou de
sessão na CPI, em 10 de Novembro, quando prestou esclarecimentos e demonstrou
balanços financeiros recentes da empresa. O relatório final da CPI, elaborado
pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR) e datado de dezembro de 2009, propunha
alguns ajustes na legislação brasileira, como a alteração da legislação das
Contribuições para a Seguridade Social - COFINS, para os Programas de
Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público - PIS/PASEP;
e a segunda proposição pretenderia disciplinar as licitações e contratos da
Petrobras, no sentido de contribuir para correção das falhas e para o aprimoramento
das contratações da empresa.
Em
novembro, durante audiência pública na Assembleia Legislativa do Ceará,
Gabrielli defendeu o novo marco regulatório para o pré-sal, um modelo de
partilha da produção, em contraponto à lei 9478, de 1997, que implementou o
regime de concessão. Com relação à distribuição dos royalties, declarou que era
a favor de um aumento no valor a ser repassado para os estados não produtores.
Anunciou também que a produção de gás natural seria ampliada de 45 milhões de
metros cúbicos para 135 milhões de metros cúbicos.
Declarou,
em entrevista concedida em junho de 2010, que a empresa previa em seu plano de
negócios 2010-2014 investimentos de US$ 73,36 bilhões nas atividades de refino
e distribuição, valor 70% superior aos US$ 43,4 bilhões projetados no plano
anterior de 2009-2013. No mesmo período, os aportes em exploração e produção
cresceriam 14%, de US$ 104,6 bilhões para US$ 118,8 bilhões. Argumentou que
desde 1980 a estatal concentrou os seus investimentos na expansão da capacidade
de produção de petróleo, e que a relação produção/refino passou de 13%, em
1980, para 108%, em 2009. Com a entrada em operação de novas refinarias no
período, a Petrobrás previa que essa relação alcançaria 132%, em 2014, e 123%,
em 2020.
Após
a eleição de Dilma Rousseff em outubro de 2010, foi confirmado no cargo pela
presidente na República. Defendeu, em Junho de 2011, a permanência do
ex-ministro da Casa Civil, Antônio Palocci no Conselho de Administração da
estatal, cargo para o qual foi eleito no final de abril.
Em 23 de janeiro de 2012, anunciou sua saída da
presidência da Petrobrás. Foi substituído pela diretora da área de gás e
energia, Maria da Graça Foster. À época, teve sua administração criticada por especialistas do setor, que atribuíam mais
caráter político à gestão do que técnico. Em um período de dois anos, as ações
da empresa caíram mais de 40%. Apesar do valor da empresa ter crescido, em 2011
a companhia teria perdido quase R$ 90 bilhões em valor de mercado.
Assumiu o cargo de
secretário do Planejamento da Bahia em 9
de Março de 2012, na gestão de Jaques Wagner (PT). Em maio de 2014,
quando instalada na Câmara uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para
investigar a corrupção na Petrobrás, teve seu nome veiculado em reportagem da
Revista Veja, que teria apurado que o ex-dirigente da Petrobrás, José Eduardo
Dutra, havia se reunido com assessores do PT, do PMDB e lideranças do governo
no Senado Federal para preparar as perguntas e respostas que seriam feitas aos
depoentes, entre os quais Gabrielli. À
época, o presidente do Senado, Renan Calheiros, anunciou a abertura de uma
comissão de sindicância para investigar a participação de servidores da Casa em
uma possível fraude, mas nada foi constatado. Durante os oito meses da
CPI, a mesma enfrentou por diversas vezes falta de quórum para realização das
sessões. Foi encerrada em Dezembro, sem ter o relatório final, elaborado
pelo senador José Pimentel (PT-CE) votado. A CPI, presidida pelo senador Vital do Rego (PMDB/PB).
teria se limitado a chancelar o
relatório aprovado pela CPI mista que apurava também as denuncias contra a
estatal do petróleo, e que recomendava
ao Ministério Público Federal o indiciamento de 52 pessoas envolvidas nas
investigações da Operação Lava Jato, deflagrada pela Polícia Federal.
Apesar de não figurar
formalmente entre os investigados da Operação Lava Jato, foi questionado em
meados de 2014, a respeito de supostas irregularidades na refinaria de Abreu e
Lima, empreendimento da estatal em Pernambuco. Foi também alvo do Tribunal de
Contas da União (TCU), que o colocava entre os responsáveis pelos prejuízos de
US$ 792,3 milhões à Petrobrás causado pela compra, por US$ 1,25 bilhão, de da
refinaria de Pasadena, nos EUA; junto com outros ex-diretores. Em depoimento da
CPI mista da Petrobrás em junho de 2014, argumentou que a compra da referida refinaria
teria sido abaixo do preço de mercado, constituindo negócio vantajoso Na
ocasião, no entanto, o TCU determinou que os membros da diretoria executiva da
empresa que aprovaram a ata da compra da refinaria devolvessem o prejuízo, além
de ter solicitado bloqueio dos bens dos ex-diretores, pelo período de um ano, a
fim de garantir o ressarcimento. Assim como os demais diretores, recorreu ao
Supremo Tribunal Federal para evitar o bloqueio, mas a corte manteve a decisão
do TCU. No final do ano, teve ação civil publica contra a Petrobras e a
construtora Andrade Gutierrez ajuizada pelo Ministério Público do Estado do Rio
de Janeiro (MPRJ), que pediu a decretação da indisponibilidade de bens e quebra
dos dados bancários e fiscais do ex-presidente da estatal A ação tratava de
contratos firmados entre 2005 e 2010, e que teriam sido superfaturados,
resultando em prejuízos de quase R$ 32 milhões aos cofres da Petrobras. Foi
citado também em denúncia feita por Paulo Roberto Costa relativa à compra da
Suzano Petroquímica pela Petrobrás, em Agosto de 2007, quando teria determinado
o pagamento de um preço superior ao mínimo fixado. Segundo o delator, tal
decisão teria sido tomada por José Gabrielli, e chancelada pela diretoria da
estatal e pelo conselho de administração.
Apesar de ter sido
cogitado como candidato à sucessão de Jacques Wagner nas eleições de outubro de
2014 para Governador da Bahia, enfrentou ainda questionamentos sobre sua gestão
na secretaria estadual, que teria orçado projetos que não vieram a ser
executados. O candidato da situação, no entanto, foi o também secretário Rui
Costa, eleito sucessor de Jacques Wagner, que, assim como Gabrielli, deixou o
executivo estadual ao fim de Dezembro.
Foi casado três vezes,
a primeira com Goia Midlej Silva, com quem teve uma filha, a segunda, com Sahada
Josephina Luedy Mendes Palmeira, com quem teve um filho, e a terceira com Maria
Tereza de Carvalho Braga.
Publicou diversos
livros e artigos sobre macroeconomia, desenvolvimento regional, reestruturação
produtiva e mercado de trabalho. Comandou também um programa de rádio,
“Encontros com Gabrielli”, veiculado semanalmente nas rádios baianas, no qual
comentava sobre ações do governo do Estado, temas conjunturais e economia
regional, nacional e internacional.
Patricia Burlamaqui/Regina Hippolito
FONTES: Caros Amigos (19/8/09); Currículo Lattes; Folha de S. Paulo (10, 11, 14/5/07, 16/5, 5/10/09); Gazeta Mercantil (19/7/05); ISTO É (26/4/06); Jornal do Brasil (25/7/05), O
Estado de S. Paulo (12 e 18/5, 26/6, 6/10, 29/11/09, 30/03, 2/6, 20/12/10,
8/6/11, 4/8/14, 20/1/15). Disponível em: <http://www.estadao.com.br/>.
Acesso em 23/8/2015; Portal do Valor
Econômico (23/1, 5, 12/9/03, 5, 11, 20/7/05, 11/1, 7/3/06, 30/3, 2/4, 2, 3,
7 e 16/5, 3/8/07, 21/2, 28/8, 16/9, 23/12/08, 15/5, 25/6, 14, 15, 29/7, 2/9, 6,
29/10, 10/11/09, 5/9/12, 28/1, 25/6, 6/8, 13/8, 5/9, 16/12, 17/12/14).
Disponível em: <http://www.valor.com.br/>. Acesso em 23/08/2015; Portal G1 (23/1/12). Disponível em: <http://www.g1.globo.com/>.
Acesso em 22/08/2015; Portal da Petrobras. Disponível em:
<www.petrobras.com.br/>. Acesso em 22/08/2015; Portal do Senado Federal.
Disponível em: <http://www.senado.gov.br/>. Acesso em 26/08/2015.