GARCIA
FILHO, Antônio
*militar; dep. fed. GB 1963-1964.
Antônio
Garcia Filho nasceu em Uruguaiana (RS) no dia 21 de
agosto de 1926, filho de Antônio Garcia e de Brandina Machado Garcia.
Ingressou no Exército em outubro de 1944, em Santa Maria (RS), como voluntário para lutar na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Durante o
conflito, participou das ações da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na
Itália. Terceiro-sargento em 1945, dois anos depois foi transferido para o Rio
de Janeiro, então Distrito Federal, passando a trabalhar na Escola de Infantaria
da Vila Militar. Em 1948 foi promovido a segundo-sargento. Neste período
realizou curso na Escola de Instrução Especializada.
Durante o governo de João Goulart (1961-1964), a situação
política do país foi agravada pela ação dos soldados, marinheiros e sargentos,
que passaram a se organizar visando a ampliação dos seus direitos. Nesse
sentido iniciaram uma luta para conseguir representação parlamentar, que lhes
era vedada pela Constituição de 1946. Líder do Comando Nacional dos Sargentos,
Antônio Garcia Filho foi escolhido em 1962 para representar a categoria na
Câmara Federal. Apoiado pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), teve sua
candidatura vetada pelo Tribunal Eleitoral, mas conseguiu mandado de segurança,
participando assim do pleito de outubro de 1962. Elegeu-se deputado federal
pelo estado da Guanabara na legenda do PTB e conseguiu tomar posse em fevereiro
de 1963, porque os pedidos de anulação eram regionais e ninguém havia tomado a
iniciativa de impugná-lo, ao contrário do ocorrido em outros estados.
Único sargento eleito e empossado numa cadeira legislativa,
participou da luta de seus colegas de farda para garantirem os mandatos dos
demais sargentos eleitos e que tinham sido cassados pelos tribunais regionais
eleitorais. Em setembro de 1963, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) votou
contra a elegibilidade dos sargentos, foi deflagrada a Revolta dos Sargentos de
Brasília, sublevação que atingiu a Marinha e a Aeronáutica, mas que acabou sem
maiores proporções pela não-adesão de efetivos do Exército, sendo debelada no
mesmo dia.
Durante o exercício do mandato Antônio Garcia Filho foi
membro da Frente Parlamentar Nacionalista (FPN), bloco interpartidário surgido
em 1956. Composta por parlamentares do PTB, do Partido Socialista Brasileiro
(PSB), do Partido Social Democrático (PSD) e da União Democrática Nacional
(UDN) e atuante na Câmara dos Deputados, a FPN tinha uma plataforma
nacionalista, voltada para a condenação à intervenção do capital estrangeiro na
economia nacional, especialmente no setor energético, e à remessa de lucros
para o exterior. Participou também da manifestação do Clube dos Sargentos,
realizada no dia 30 de março de 1964 no Automóvel Clube do Brasil, e que contou
com a presença do presidente João Goulart. Essa manifestação visava demonstrar
a satisfação dos marinheiros pela ação de Goulart, dias antes, durante sua
revolta, quando se concentraram no Sindicato dos Metalúrgicos no Rio em
protesto contra as restrições a eles impostas pela hierarquia militar. Na
ocasião, Goulart acabou anistiando os amotinados, atitude que gerou graves
manifestações de protesto por parte de oficiais das forças armadas. A
manifestação do Clube dos Sargentos serviu de pretexto para a deflagração do
movimento político-militar de 31 de março de 1964, que depôs João Goulart.
Em
abril seguinte, Antônio Garcia Filho teve seu mandato cassado e seus direitos
políticos suspensos por dez anos com base no Ato Institucional nº 1 (AI-1)
editado no dia 9 do mesmo mês pela Junta Militar que assumiu o governo após a queda
de Goulart. Levado para a embaixada da Iugoslávia, onde poderia se refugiar,
não quis deixar o país. Ainda em 1964, já na clandestinidade, foi para Goiás
com o intuito de organizar movimentos de resistência armada ao regime militar.
No ano seguinte esteve também em São Paulo e em 1966 retornou ao Rio de
Janeiro. Em 1970 foi preso, permanecendo 41 dias no Departamento de Operações
Políticas e Sociais (DOPS). Libertado, foi expulso do Exército, passando a
trabalhar como representante comercial da empresa de rações Anhangüera. Em 1973
apresentou-se à Justiça Militar para responder a processos referentes à sua
atuação política. Foi também proprietário de uma loja no mercado popular de
Madureira, no Rio de Janeiro.
Com a anistia decretada em agosto de 1979 pelo governo de
João Batista Figueiredo (1979-1985), Antônio Garcia Filho passou para a reserva
com a patente de primeiro-tenente, e não com a de capitão, que teria direito.
Membro da Associação dos Militares Atingidos pelos Atos Institucionais,
organização da baixa oficialidade, lutou junto ao Congresso Nacional para que o
Estado concedesse as promoções devidas aos cassados.
Nas
eleições de novembro de 1982, candidatou-se a deputado federal pelo estado do
Rio de Janeiro na legenda do Partido dos Trabalhadores (PT), obtendo apenas uma
suplência.
Faleceu no Rio de Janeiro no dia 23 de fevereiro de 1999.
Era casado com Lair Lopes Garcia, com quem teve três filhos.
FONTES: ARQ. DEP.
PESQ. JORNAL DO BRASIL; CÂM. DEP. Deputados; Globo (4/3/99); Grande
encic. Delta; INF. BIOG.; Jornal do Brasil (7/4/74); NÉRI, S. 16.