GHIOLDI,
Rodolfo
*jornalista; rev. 1935.
Rodolfo Ghioldi nasceu em Buenos Aires no dia 21 de janeiro de 1897, filho de Manuel Ghioldi e de Luisa Luoni. Seu
irmão, Américo Ghioldi, foi deputado federal pelo Partido Socialista da
Argentina entre 1932 e 1943.
Iniciou
suas atividades políticas em 1913, como membro do Partido Socialista
Internacional argentino. Em 1918, ao lado de outros militantes, propôs a
transformação daquele partido no Partido Comunista Argentino (PCA), medida
efetivada no mesmo ano. Elemento de destaque dentro do PCA, ocupou por muitos
anos os cargos de secretário-geral e diretor de imprensa.
Delegado
do comitê executivo da Internacional Comunista (Komintern), conseguiu filiar,
em janeiro de 1924, após visita ao Brasil, o Partido Comunista Brasileiro,
então Partido Comunista do Brasil (PCB), àquela organização. Contornou-se assim
o problema surgido no IV Congresso da Internacional Comunista, realizado em
Moscou de junho a julho de 1922, quando o PCB — fundado em março daquele ano e
representado por Antônio Bernardo Canelas não fora aceito como membro do Komintern.
Em
1928 Ghioldi conheceu o líder tenentista Luís Carlos Prestes, então exilado na
Argentina. Nessa ocasião, Prestes fazia suas primeiras leituras de obras
marxistas e, segundo ele, “o encontro e a amizade com Ghioldi lhe permitiram a
troca de idéias e o aprofundamento das leituras”. Ainda em 1928 e no ano
seguinte Ghioldi teve Prestes ao seu lado durante os comícios da Liga
Antiimperialista, da qual era um dos principais dirigentes. Em 1930 e 1931
encontrou-se com Prestes em Montevidéu, onde o primeiro passara a residir. No
início da década de 1930 colaborou com a revista Soviet.
Em
outubro de 1934 participou em Moscou de uma reunião preparatória do VII
Congresso da Internacional Comunista, a qual congregou delegações dos partidos
comunistas latino-americanos. Representante do PCA, juntamente com Vittorio
Codovilla, foi encarregado de viajar para o Brasil para participar da
preparação de um levante armado que, se vitorioso, implantaria um governo
popular nacional revolucionário como primeira etapa de um futuro governo,
baseado nos sovietes de operários e camponeses. Sua indicação para deixar a
Argentina e atuar no Brasil deveu-se também às constantes perseguições e
detenções que vinha sofrendo no seu país de origem. Naquela ocasião, ocupava a
secretaria geral do PCA e era membro suplente do Komintern.
Ghioldi
desembarcou no Brasil em abril de 1935, mesmo mês do retorno de Prestes, com
passaporte falso e sob o nome de Luciano Busteros, jornalista espanhol. No Rio
de Janeiro, então Distrito Federal, entrou em contato com membros da direção do
PCB e passou a freqüentar suas reuniões, logo se integrando à coordenação da
Revolta Comunista de 1935. Esse movimento foi deflagrado em novembro, em nome
de uma revolução popular e da Aliança Nacional Libertadora (ANL) — ampla frente
política que reunia várias tendências sob a liderança do PCB — e consistiu em
levantes militares em Natal (dia 23), Recife (dia 24) e Rio (dia 27). A revolta
foi rapidamente reprimida e suas principais lideranças presas.
A participação de Ghioldi nos acontecimentos de novembro de
1935, e mesmo sua presença no Brasil, só foram descobertas dois meses depois,
no dia 25 de janeiro de 1936, quando foi detido juntamente com sua esposa,
Carmen Alfaya de Ghioldi, por Francisco de Meneses Jullien, da Delegacia
Especial de Segurança Pública e Social. Em carta datada de 18 de fevereiro de
1936 e dirigida a Honório Guimarães, Prestes informava ter comunicado ao PCA a
prisão de Ghioldi e referia-se à necessidade da formação de comitês de
intelectuais e de advogados, além da mobilização da Associação Brasileira de
Imprensa, com vistas à divulgação dessa prisão.
Em
depoimento prestado à polícia em março seguinte, Ghioldi nada revelou de
significativo. Afirmou apenas que sua estada no Brasil era garantida pelo PCA,
em troca da remessa de artigos políticos que escrevia. Declarou também que
antes da sua chegada ao país já tivera contatos com Prestes e com o alemão
Harry Berger, igualmente deslocado para o Brasil para participar do levante e
presente na reunião do comitê central do PCB em que foram estabelecidos os
pormenores do movimento. Gravemente enfermo, teve sua deportação solicitada
pelo presidente da Argentina, Agustín Pedro Justo, em carta endereçada ao
presidente brasileiro Getúlio Vargas e datada de 24 de dezembro de 1936. No
texto, Justo afirmava que o deputado socialista Américo Ghioldi desejava ter o
irmão ao seu lado.
Em maio de 1937 foi condenado pelo Tribunal de Segurança
Nacional (TSN) a uma pena de quatro anos e quatro meses de prisão. Em setembro
do mesmo ano — da mesma forma que alguns dos dirigentes da revolta de 1935 —
teve negado o recurso interposto junto ao Supremo — hoje Superior — Tribunal
Militar (STM) visando a revisão da sentença anterior. Nessa ocasião, ao ler sua
defesa escrita, fez profissão de fé comunista. Personagem da obra de Graciliano
Ramos Memórias do cárcere, Ghioldi cumpriu boa parte da pena na
ilha de Fernando de Noronha.
Jornalista, diretor de La Hora, publicou, entre
outras, as seguintes obras: Federalismo X autonomia provincial, Acerca de la
cuestión agraria argentina, Gilberto Freyre sociólogo reaccionário,
Sobre el pensamiento militar norteamericano, Ante la generación del 45,
Uzbekhistán el espero, Acerca de la entrega.
Faleceu em Buenos Aires, no dia 3 de julho de 1985.
FONTES: ARQ.
GETÚLIO VARGAS; CAMPOS, R. Tribunal; CARONE, E. República velha;
DULLES, J. Anarquistas; Jornal do Brasil (4/7/85);
LEVINE, R. Vargas; PORTO, E. Insurreição; SILVA, H. 1935; SILVA,
H. 1937; STRASSER, C. Izquierdas; Veja (10/7/85).