REGO,
Gustavo de Morais
*militar; ch. Gab. Mil. Pres. Rep. 1978-1979.
Gustavo Moraes Rego Reis
nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, no dia 24 de novembro de
1920, filho de Artur Henoch dos Reis e de Maria de Lurdes Morais Rego Reis.
Estudou
no Colégio Militar do Rio de Janeiro entre 1933 e 1938, transferindo-se em
seguida para a Escola Preparatória de Cadetes de Porto Alegre. Em maio de 1939
sentou praça na Escola Militar do Realengo, sendo declarado aspirante-a-oficial
da arma de cavalaria em janeiro de 1944. Promovido a segundo-tenente três meses
depois, a primeiro-tenente em junho de 1945 e a capitão em janeiro de 1949,
nesse período serviu em unidades de cavalaria blindada no Rio de Janeiro e em Porto Alegre. Enquanto tenente cursou ainda a Escola de Motomecanização e a Escola de
Educação Física do Exército, e já como capitão exerceu a função de instrutor de
motomecanização.
Em
julho de 1954 foi promovido a major e transferido para Belém como adjunto da 3ª
Seção do Estado-Maior do Comando Militar da Amazônia e da 8ª Região Militar
(RM), lá participando no ano seguinte da comissão militar de estudos para o
exame dos problemas relacionados com o aperfeiçoamento do sistema de segurança
da fronteira externa da Amazônia. Em 1956 retornou ao Rio para cursar a Escola
de Comando e Estado-Maior do Exército. De volta a Belém em 1959, serviu pela
primeira vez como assistente-secretário do general Humberto Castelo Branco, na
época comandante militar da guarnição da Amazônia e da 8ª RM. Ainda durante a
“fase amazônica” de sua carreira, foi presidente da comissão especial para a
escolha do local destinado do 8º Pelotão de Fronteira e da comissão para os
trabalhos de reconhecimento e escolha dos locais de novas unidades de fronteira
no território do Rio Branco, atual estado de Roraima. Em 1960 foi chefe do Estado-Maior
do Grupamento de Elementos de Fronteira, e após rápida passagem pelo
Estado-Maior do Exército (EME) no ano seguinte, acompanhou Castelo Branco a
Recife quando este foi nomeado comandante do IV Exército. Mais uma vez
assistente-secretário de Castelo Branco e ainda chefe de Planejamento e
Cooperação e de Relações Públicas do IV Exército, atravessou segundo suas
palavras um “período muito duro” entre 1962 e 1963 anos agitados dos governos
de Miguel Arrais, em Pernambuco, e de João Goulart, presidente da República
entre 1961 e 1964.
Promovido a tenente-coronel em agosto de 1963, foi
transferido para a chefia da 3ª Seção do Estado-Maior da Divisão Blindada, no
Rio de Janeiro. Com a eclosão do movimento político-militar de 31 de março de
1964, tornou-se assistente-secretário do general Ernesto Geisel, que exerceu a
chefia do Gabinete Militar do presidente Castelo Branco até março de 1967.
Nesta época chegou a planejar a estratégia necessária para barrar a candidatura
presidencial do ministro da Guerra, general Artur da Costa e Silva, à qual se
opunha o grupo castelista, sugerindo sua sumária demissão, o que no entanto não
se concretizou. Coronel em abril de 1967, no governo Costa e Silva, cursou em 1968 a Escola Superior de Guerra (ESG), assumindo em fevereiro do ano seguinte o comando de Fronteira
de Solimões, com sede em Tabatinga (AM). De volta ao Rio de julho de 1971,
assumiu a chefia de gabinete do general Geisel, que desde 1969 presidia a
Petrobras. Em 1973, quando Ernesto Geisel deixou a empresa estatal, já na
condição de candidato oficial à sucessão do presidente da República, general
Emílio Médici, serviu no gabinete do então ministro do Exército, general
Orlando Geisel, voltando em seguida a trabalhar como assessor mais próximo de
Geisel, encarregado de traçar as linhas principais do seu programa de governo.
No governo Geisel
Em 15 de março de 1974, quando a administração Geisel se
instalou em Brasília, ocupou, no cargo de assessor especial, gabinete
diretamente ligado ao do presidente. Segundo os jornalistas André Gustavo
Stumpf e Merval Pereira Filho, foi inegavelmente um dos assessores mais
influentes da Presidência da República, fazendo parte desde o início do núcleo
que sabia da decisão de Geisel fazer do general João Figueiredo seu sucessor.
Permanentemente
defensor da adoção dos chamados contratos de risco, que significavam a
permissão para que empresas estrangeiras de petróleo viessem explorar a
plataforma continental brasileira, fez parte de um grupo de pressão que incluía
ainda o secretário de Imprensa Humberto Barreto, os ministros da Fazenda, Mário
Henrique Simonsen, e das Minas e Energia, Shigeaki Ueki. A despeito da polêmica
suscitada na época, os contratos de risco foram assinados a partir de outubro
de 1975.
Promovido a general-de-brigada em novembro desse ano, foi em
seguida nomeado comandante da 11ª Brigada de Infantaria, em Campinas (SP). Sua
nomeação, assim como outras alterações ocorridas nos principais comandos
militares do estado de São Paulo, refletia a intenção de Geisel de colocar
pessoas de sua estrita confiança em postos estratégicos para preparar a
demissão do comandante do II Exército, general Ednardo D’Ávila Melo. A crise
aberta com a morte do jornalista Vladimir Herzog, ocorrida em outubro nas
dependências do Departamento de Operações Internas do Centro de Operações para
a Defesa Interna (DOI-CODI) do II Exército, resultou afinal na demissão do
general Ednardo em janeiro de 1976, após a morte do operário Manuel Fiel Filho
em dependências militares.
Durante sua permanência em Campinas destacou-se na política
local, sendo apontado como o principal responsável pela passagem do ex-prefeito
Lauro Péricles Gonçalves do partido de oposição, o Movimento Democrático
Brasileiro (MDB), para o partido governista, a Aliança Renovadora Nacional
(Arena).
Em
6 de janeiro de 1978, assumiu a chefia do Gabinete Militar da Presidência da
República em substituição ao general Hugo Abreu, que se demitiu em protesto
contra a indicação do general João Batista Figueiredo como candidato oficial à
sucessão de Geisel. Hugo Abreu havia sido peça importante no afastamento da
candidatura do general Sílvio Frota, à qual se opunha o presidente, mas, por
discordar da escolha de Figueiredo, que a seu ver não resultara de consultas ou
negociações entre os militares, pediu demissão em caráter irrevogável.
Na qualidade de chefe do Gabinete Militar, Morais Rego
tornou-se também secretário-geral do Conselho de Segurança Nacional.
Em
15 de março de 1979, ao final do mandato do presidente Geisel, deixou as
funções que exercia e no dia 23 tomou posse no comando da 6ª Região Militar
(RM), com sede em Salvador, substituindo o general Otávio Costa. Com a greve da
Polícia Militar da Bahia em março de 1981, assumiu o comando operacional da corporação
por determinação do ministro do Exército, general Válter Pires. No mesmo mês
foi transferido para a reserva, deixando o comando da 6ª RM no final de abril.
Em novembro de 1983 foi preso por determinação do ministro
Válter Pires por ter concedido entrevista ao jornal Folha de S. Paulo
criticando o presidente João Figueiredo, apontando-o como “um homem
temperamental, que se vê o obstáculo na sua frente, o cavalete pintado, e só
quer ultrapassar”. Na mesma oportunidade criticou também o próprio sistema e o
comandante militar do Planalto, general Newton Cruz, executor das medidas de
emergência que entraram em vigor em Brasília por ocasião da votação pelo
Congresso da Emenda nº 2.045, que regulamentava a nova política salarial.
Segundo noticiou o jornal O Globo em abril de 1985,
dedicava-se na época a escrever um livro com o título Não era bem assim,
com a intenção de reparar versões desfocadas e interpretações injustas sobre
ações da administração Geisel.
Ao longo de sua carreira militar, fez o curso de cavalaria na
Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais e estudou planejamento regional na Escola
Brasileira de Administração Pública da Fundação Getulio Vargas (FGV). Foi
membro do Grupo de Estudos da Amazônia e representante do Gabinete Militar da
Presidência da República no Grupo de Trabalho Interministerial criado para
elaborar nova formulação de políticas e objetivos da Superintendência do
Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e do Banco da Amazônia.
Faleceu no Rio de Janeiro no dia 4 de julho de 1997.
Do seu primeiro casamento, teve três filhos. Era casado em
segundas núpcias com Maria Lídia Mendonça de Morais Rego Reis
Publicou
A cabanagem — um episódio histórico de guerra insurrecional na Amazônia —
1835-1839 (1965), além de artigos para a revista A Defesa Nacional.
Além disso, prestou ao Centro de Pesquisa e Documentação de História
Contemporânea do Brasil, (Cpdoc) da FGV, um longo depoimento oral sobre a sua
vida profissional, incluindo suas impressões sobre o papel político dos
militares e destacando sua longa e estreita convivência com os generais Castelo
Branco e Ernesto Geisel. Parte desse depoimento integrou a trilogia organizada
por Maria Celina D’Araújo, Gláucio Ari Dillon Soares e Celso Castro, composta
pelos livros A memória militar sobre 1964 — visões do golpe, A
memória militar sobre a repressão — os anos de chumbo e A memória
militar sobre a abertura — a volta aos quartéis, e lançada em 1994-1995.
Maria
Celina Soares D’Araújo/Celso Castro (colaboração especial)
FONTES: Almanaque
exérc. (1974); CURRIC. BIOG.; Estado de S. Paulo (17/3, 23 e
25/4/81, 8/11/83 e 13/11/84); Folha de S. Paulo (5/1/78 e 8/11/83); Globo
(9/11/79, 23/4/81, 8/11/83 e 6/4/85); Jornal do Brasil (19/3/74, 29/11 e
3/12/75, 9/1/76, 1/7/77, 5, 6 e 7/1 e 23/8/78, 23, 24 e 30/3/79, 17/3 e
23/4/81, 8/11/83). Min. EXÉRC.;
STUMPF, A. & PEREIRA FILHO, M. A Segunda Guerra; Veja (18 e
25/7, 22 e 29/8, 19/9, 3 e 17/10, 28/11, 5 e 26/12/73, 6/2/74, 8 e 22/1,
24/12/75, 14/1/76, 11/1/78, 14/3/79 e 16/11/83).