RIBEIRO,
Ivan
*militar; rev. 1935.
Ivan Ramos Ribeiro nasceu
em São Carlos do Pinhal, atual São Carlos (SP), no dia 23 de outubro de 1911,
filho de Alfredo Ribeiro Júnior e de Belisa Ramos Ribeiro. Seu pai era militar
e participou da revolta tenentista de 1924 no Amazonas, onde exerceu o governo
militar por um mês, de julho a agosto desse ano. Foi também deputado federal
pelo Amazonas de 1935 a 1937.
Ivan
Ribeiro fez o curso primário na Escola Pública de Barra do Piraí (RJ) e o
secundário no Colégio Salesiano de Manaus, ingressando posteriormente no
Colégio Militar do Rio de Janeiro, no então Distrito Federal, e, a seguir, na
Escola Militar do Realengo, também no Rio.
Em
1933 filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro, então Partido Comunista do
Brasil (PCdoB), que na época encontrava-se na ilegalidade. Escolhendo a arma de
aviação, passou à Escola de Aviação Militar, no Campo dos Afonsos (RJ), sendo
declarado aspirante-a-oficial, em 1934. Orador de sua turma de cadetes, deveu
ao discurso contestador que proferiu sua primeira prisão, determinada pelo
então ministro da Guerra, general Pedro Aurélio de Góis Monteiro, presente à
solenidade.
Participou
da Aliança Nacional Libertadora (ANL), frente política criada em março de 1935,
em defesa de um programa nacionalista e antifascista. Já no posto de
segundo-tenente, participou da insurreição armada de novembro de 1935,
promovida em nome da ANL, sob o comando do PCB, em Natal, Recife e Rio de
Janeiro. Foi um dos líderes da tomada da Escola de Aviação Militar do Rio de
Janeiro no dia 27 de novembro, ação que planejara juntamente com os capitães
Sócrates Gonçalves da Silva e Agliberto de Azevedo e com o tenente Benedito de
Carvalho. Os revoltosos resistiram por algum tempo aos ataques das tropas
legalistas, mas foram vencidos no mesmo dia pelo fogo de artilharia disparado
da Vila Militar.
Ivan Ribeiro conseguiu fugir da Escola de Aviação Militar
sitiada, mas foi preso poucos dias depois. Acusado de ter ferido o então
tenente-coronel Eduardo Gomes, comandante do 1º Regimento de Aviação Militar,
foi inocentado pelo próprio Gomes, mas perdeu a patente de segundo-tenente em
12 de dezembro de 1935. Preso inicialmente no navio Pedro I, transformado em
presídio e fundeado na baía de Guanabara, foi transferido para a Casa de
Correção em companhia de alguns intelectuais, entre os quais Graciliano Ramos,
que, em suas Memórias do cárcere, fala de Ivan Ribeiro como o “tenente que
sabia sintaxe”, porque ele escrevia bem. Removido para a Casa de Detenção,
posteriormente cumpriu pena de um ano e meio na ilha de Fernando de Noronha e
aí contraiu tuberculose, o que o obrigou a passar hospitalizado o ano de 1942,
último em que permaneceu preso. Foi julgado várias vezes, juntamente com os
demais revolucionários de 1935, pelo Tribunal de Segurança Nacional, órgão de
justiça de exceção especialmente criado para tal fim, que o condenou em maio de
1937 a dez anos de prisão.
Ao
sair da prisão ingressou na clandestinidade enquanto membro do PCB, e em agosto
de 1943 participou da Conferência da Mantiqueira, na qual foi criada a Comissão
Nacional de Organização Provisória (CNOP), que visava reorganizar o partido
nacionalmente, uma vez que este fora duramente atingido pela repressão do
Estado Novo (1937-1945). No início do ano seguinte, seguindo a orientação da
Conferência da Mantiqueira, discursou em comício nas escadarias do Teatro
Municipal, declarando-se comunista e defendendo a convocação de uma assembléia
nacional constituinte e a anistia aos presos políticos. Participou, como membro
suplente do comitê central do PCB, da primeira reunião desse órgão realizada
após a legalização do partido em maio de 1945. Com a queda do Estado Novo em
outubro do mesmo ano e a conseqüente reconstitucionalização do país,
candidatou-se no pleito de dezembro seguinte a deputado pelo Amazonas à
Assembléia Nacional Constituinte, na legenda do PCB, obtendo apenas uma
suplência. De volta ao Rio de Janeiro em 1946, tornou-se piloto civil da
Navegação Aérea Brasileira (NAB). Com a cassação do registro do PCB em maio de
1947 e o reinício da perseguição aos comunistas, demitiu-se da NAB em 1948,
quando retornou à vida clandestina. Tornou-se, então, um militante profissional
do partido.
Em fins de 1953 foi, juntamente com Branca Fialho,
representante do Brasil no Conselho Mundial da Paz, entidade patrocinada
sobretudo pelos países socialistas, que agregava personalidades de todo o mundo
de diversas tendências ideológicas. Por decisão do IV Congresso do PCB,
realizado em 1954, foi reconduzido ao comitê central do partido.
Participou do Conselho Mundial da Paz primeiro em Viena
(Áustria) e depois em Praga (Tchecoslováquia), até 1955, quando retornou ao
Brasil.
Desenvolveu
trabalho de organização sindical junto aos aeronautas e aeroviários. Apoiou a
Declaração de março de 1958 do PCB, que refletiu as mudanças ocorridas nas
concepções políticas do partido a partir das revelações dos crimes do estadista
russo Josef Stalin e da condenação ao culto da personalidade, contidas no
informe secreto de seu sucessor Nikita Kruschev, ao XX Congresso do Partido
Comunista da União Soviética (PCUS), realizado em 1956. Segundo Ronald
Chilcote, Ivan Ribeiro era membro da comissão executiva do comitê central do
PCB em agosto de 1960. Durante o V Congresso do PCB realizado em setembro de
1960, quando foram consolidadas as posições da Declaração de março de 1958,
responsabilizou-se pelo projeto de estatutos apresentado, elegendo-se membro
efetivo do comitê central.
Com
a vitória do movimento político-militar de março de 1964, que derrubou o
governo do presidente João Goulart (1961-1964), retornou à atividade política
clandestina. Teve seus direitos políticos cassados em 14 de abril de 1964, com
base no Ato Institucional nº 1 (9/4/1964), instrumento que permitiu punições
extralegais aos adversários do novo regime. Foi preso mais uma vez em junho de
1964, só tendo sido solto em junho do ano seguinte. Ao sair da prisão continuou
clandestino e, nessa situação, participou do VI Congresso do PCB, realizado em
dezembro de 1967, onde se mostrou contrário às posições defendidas por Carlos
Marighella, Mário Alves e Jacó Gorender, que defendiam a luta armada para a
derrubada do regime. Tais divergências deram origem a dissidências e à
posterior fundação da Ação Libertadora Nacional (ALN) e do Partido Comunista
Brasileiro Revolucionário (PCBR). Em outubro de 1968, Ivan Ribeiro foi vítima
de um infarto, o que acarretou o seu afastamento das atividades partidárias até
1969.
Esteve presente em dois congressos do PCUS, como membro da
delegação brasileira.
Faleceu em 1970, durante uma reunião do comitê central do
PCB, realizada na clandestinidade.
Foi casado com Elisabete Leivas de Otero, irmã de Francisco
Leivas de Otero, militar que participou da insurreição de novembro de 1935 no
3º Regimento de Infantaria (3º RI), no Rio. Teve quatro filhos.
O escritor Jorge Amado dedicou a ele e a Elisabete de Otero o
livro Seara vermelha.
Publicou
“História do movimento operário” em capítulos no semanário Novos Rumos.
Traduziu diversas obras do russo para o português, inclusive livros
científicos, tendo iniciado uma tradução de O capital, de Karl Marx, do russo e
do francês, que não chegou a concluir.
FONTES: AMADO, J.
Homens; ARQ. DEP. PESQ. JORNAL DO BRASIL; CARNEIRO, G. História; CHILCOTE, R.
Brazilian; CURRIC. BIOG.; PORTO, E. Insurreição; SILVA, H. 1935; SILVA, H.
1937; WANDERLEY, N. História.