FREITAS, Jânio de
* jornalista
Jânio Sérgio de Freitas
Cunha nasceu em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, em 9
de junho de 1932, filho de Antônio de Araújo Cunha, agrônomo, e Jaty Jussara de
Freitas Cunha.
Começou sua carreira como
desenhista na Revista do Diário Carioca, em 1953. Entrou no
jornalismo por acaso: um acidente esportivo o obrigou a se afastar
temporariamente da carreira que tinha escolhido, a aviação civil. Era bom
desenhista, passou a diagramador, mas, como já gostava de escrever, em pouco
tempo acumulou a função de repórter. Na reportagem geral trabalhou com Luiz
Paulistano. Pompeu de Souza deu-lhe então a oportunidade de fazer a primeira
página do jornal. Nessa ocasião passou também a trabalhar na revista Manchete
como redator, com Armando Nogueira e Otto Lara Resende. Assim, em 1955 fez
parte da equipe de jornalistas que renovou a Manchete, onde foi
repórter, fotógrafo, diagramador e redator-chefe. Essa experiência o ajudou,
anos mais tarde, a participar da reforma do Jornal do Brasil, em 1959.
Em 1957 saiu do Diário
Carioca e da Manchete e foi para o Jornal do Brasil a convite
de Odylo Costa Filho. E conciliou o jornal com mais dois empregos: um na
revista O Cruzeiro, para onde foi em 1958, e outro na Rádio Jornal do
Brasil. Quando iniciou-se a reforma do JB, feita por uma equipe de
jornalistas comandada pelo próprio Odylo, mudanças significativas foram feitas
no jornal, dentre elas a utilização de fotos na primeira página (que era
basicamente ocupada por anúncios), a publicação das primeiras fotos grandes -
com muita abertura, como não se usava na imprensa brasileira - e a ampliação do
noticiário político. Com Carlos Lemos, Jânio participou da organização da
página de esportes, considerada uma das seções do jornal que mais apresentou inovações,
tanto no diz respeito ao estilo editorial quanto ao gráfico. Foi nessa página,
por exemplo, que apareceram as primeiras colunas de texto sem os fios que as
separavam.
No fim de 1958, Odylo
Costa Filho saiu do jornal. Logo depois, Nascimento Brito, diretor do JB,
entusiasmado com a página de esportes, sugeriu que Jânio comandasse a reforma
do jornal. Não houve acordo salarial, no entanto, e Jânio foi afastado da
editoria de esportes, ficando na chefia do copydesk.
Alguns meses depois,
Nascimento Brito tornou a fazer o convite com alteração salarial. No entanto,
Jânio convenceu Brito de que a reforma gráfica exigiria também uma reforma
industrial, pois a impressão do jornal não era de boa qualidade. Teve sua
proposta aceita, mas assumiu o compromisso de dobrar a tiragem do jornal em um
ano.
Jânio levou dois dias para
elaborar o projeto e colocá-lo em prática. Em 3 de junho de 1959, o novo JB
estava nas bancas. Criou também um plano de cargos e salários para os colegas,
o que permitiu aos jornalistas maior dedicação ao jornal. Introduziu mudanças
no laboratório de fotografias, onde foram feitas novas instalações e
contratadas pessoas qualificadas. Em 1963, foi para o Correio da Manhã.
Em 1964 tentou organizar um diário para um grupo empresarial; mas o projeto foi
abandonado devido às restrições à imprensa na época. Em 1967, assumiu a
direção-geral da Última Hora do Rio de Janeiro.
Em 1968 montou uma revista
semanal, Direta, que não vingou. Passou para o Jornal dos Sports
equipando-o com off-set em 1969.
Ingressou na Folha de
São Paulo em 1980 e em 1983 começou a publicar a coluna política que mantém
até hoje. Publicou algumas notícias exclusivas. Em 1981 revelou o agravamento
dos problemas de coração do presidente João Figueiredo, que vinha sendo negado
pelo governo até que foi preciso embarcá-lo para os Estados Unidos para uma
operação de ponte de safena. Foi Jânio também quem primeiro revelou, em 1986,
que Dilson Funaro, então ministro da Fazenda, sofrera uma recaída de câncer.
O maior furo de Jânio,
porém, se deu em maio de 1987, quando teve acesso a informações que comprovaram
a existência de fraude na concorrência da ferrovia Norte-Sul, orçada em US$ 2,4
bilhões e que percorreria 1.600 quilômetros de Goiás e Maranhão,
constituindo-se num principais projetos do governo José Sarney. De posse do
resultado da concorrência fraudada, que seria divulgado em poucos dias, Jânio e
os editores da Folha decidiram publicá-lo em código sob a forma de
anúncio no caderno de classificados. No dia seguinte ao da divulgação da
concorrência a Folha republicou o anúncio denunciando a fraude. A
denúncia provocou a anulação da concorrência e o adiamento das obras da
ferrovia.
Essa reportagem rendeu-lhe
cinco prêmios de jornalismo, entre os quais o Esso e o Prêmio Internacional Rei
de Espanha.
Beatriz
Kushnir/Thatiana Murilo
FONTES: FERREIRA, M. M.
Reforma; Folha de São Paulo (20/11/87 e 13/6/93); Revista de
Comunicação (1990); Veja (20/5/87).