CLEOFAS,
João
*dep. fed. PE 1935-1937; const. 1946;
dep. fed. PE 1946-1951; min. Agric. 1951-1954; dep. fed. PE
1954-1955, 1959-1963 e 1965-1967; sen. PE 1967-1975.
João Cleofas de Oliveira
nasceu em Vitória de Santo Antão (PE) no dia 10 de setembro de 1899 (embora em
seu registro conste a data de 22 do mesmo mês), filho de Augusto Teixeira de
Oliveira e de Maria Florentina de Lemos Oliveira. Seu pai, proprietário de uma
pequena usina de açúcar, tinha pouca instrução, mas sua mãe, apesar de origem
modesta, chegara a ingressar na Faculdade de Direito de Recife, sem entretanto
concluir o curso.
João Cleofas fez os primeiros estudos sob a orientação da
mãe, concluindo o secundário como aluno interno do Colégio Porto Carrero, em Recife. Ingressou em seguida na Escola Livre de Engenharia de Pernambuco, única opção então
existente no estado à Faculdade de Direito, transferindo-se depois para a
Escola Politécnica do Rio de Janeiro (então Distrito Federal), pela qual se
diplomou em 1920.
Regressou então a sua cidade natal, onde seu pai morrera
pouco antes de sua formatura. Ingressou na vida política e, graças ao apoio do
presidente de Pernambuco, José Bezerra Cavalcanti, amigo de seu pai, elegeu-se
prefeito de Vitória de Santo Antão, cargo que exerceu de maio de 1922 a novembro de 1925. Em sua gestão, implantou no município os serviços de abastecimento de água e
de fornecimento de eletricidade.
Eleito deputado à Assembléia estadual para o período
1926-1928, elaborou nessa legislatura o projeto de regulamentação da profissão
de engenheiro no estado que, aprovado, constituiu a primeira lei regulamentando
essa profissão no país. Ao fim do mandato, afastou-se da política por divergir
do novo presidente do estado, Estácio Coimbra, adversário dos líderes aos quais
Cleofas era ligado (José Bezerra e Manuel Antônio Pereira Borba).
Embora
sem participar diretamente dos acontecimentos, colaborou com a Revolução de
1930, arrecadando entre os simpatizantes da causa em Pernambuco recursos depois
enviados aos revolucionários do Sul. Após a vitória do movimento, Carlos Lima
Cavalcanti foi nomeado interventor federal em Pernambuco, e em janeiro de 1931,
nomeou João Cleofas para a Secretaria de Agricultura, Indústria, Comércio,
Viação e Obras Públicas do estado.
No início de 1932, a grande seca ocorrida no Nordeste assolou
boa parte de Pernambuco. Em visita à região atingida, José Américo de Almeida,
ministro da Viação e Obras Públicas, propôs a Cleofas o adiantamento de verbas
federais para combater o flagelo, o que o secretário pernambucano recusou,
considerando a medida insuficiente e defendendo a inclusão de seu estado na
região atendida pelo programa de assistência especial do governo. Nesse
sentido, tomou a iniciativa de emitir, em nome do governo de Pernambuco, uma
nota que comunicava a inclusão do estado no Polígono das Secas. Embora não
tivesse conhecimento prévio da nota, o interventor Lima Cavalcanti
responsabilizou-se por ela, enfrentando a áspera reação do ministro José
Américo, que julgou invadida a área de sua competência e se opôs à medida.
Ainda assim, a decisão foi oficializada pouco depois.
Em sua gestão à frente da secretaria, Cleofas construiu, com
recursos militares, o tronco rodoviário ligando Recife ao interior do estado
(hoje a BR-316), e transferiu para o governo estadual a administração do porto
de Recife. Criou a Comissão de Melhoramentos Municipais, com o fim de coordenar
os investimentos nos municípios, e o serviço de perfuração de poços e açudes.
Em apoio à atividade agrícola, fundou a Diretoria da Agricultura, o Serviço de
Fruticultura e colaborou ativamente com os agricultores de cana-de-açúcar,
algodão e mamona, instalando ainda as três primeiras estações experimentais
para o cultivo do algodão de fibra longa no estado.
Em
junho de 1934, um mês antes do fim dos trabalhos da Assembléia Nacional
Constituinte (ANC), deixou o cargo, por ter aderido à proposta defendida na
Assembléia pela bancada pernambucana, que pleiteava a inelegibilidade dos
interventores para os governos estaduais. Desse modo, embora a proposta pernambucana
tenha sido derrotada, rompeu com Lima Cavalcanti, que pretendia permanecer no
poder.
A partir de então, passou a articular-se com os dissidentes
do Partido Social Democrático (PSD) de Pernambuco, controlado pelo interventor.
Em outubro de 1934, esse grupo formou a Dissidência Pernambucana, pela qual
Cleofas se elegeu deputado federal. Em seguida, a agremiação lançou a
candidatura de João Alberto Lins de Barros ao governo do estado. Concorrendo
nas eleições disputadas na Assembléia Legislativa estadual em 1935, João
Alberto foi derrotado por Lima Cavalcanti.
Na
Câmara Federal, João Cleofas participou da Comissão de Investigação Econômica e
Social, e integrou a minoria parlamentar, liderada então por João Neves da
Fontoura e Otávio Mangabeira. No início da campanha para a sucessão
presidencial de 1937, contudo, apoiou a candidatura de José Américo de Almeida,
patrocinada pelo presidente Getúlio Vargas.
Fechado o Congresso e interrompido o processo sucessório com
o golpe que instituiu o Estado Novo (10/11/1937), Cleofas passou a dedicar-se à
administração de seu engenho em Vitória de Santo Antão. Entre novembro e
dezembro de 1943, participou do I Congresso Brasileiro de Economia, promovido
no Distrito Federal pela Associação Comercial do Rio de Janeiro. No conclave,
apresentou a tese “Organização da agricultura no Nordeste brasileiro”. Em 1944,
ampliou seus negócios, adquirindo uma usina de açúcar.
Com o início do processo de dissolução do Estado Novo e de
redemocratização do país, participou da fundação da União Democrática Nacional
(UDN). Presente à primeira reunião do diretório nacional de agremiação,
realizada em 21 de abril de 1945, foi nomeado membro da comissão de orientação
política que participou da elaboração dos estatutos do partido. Passou então a promover
a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes à presidência da República. Nas
eleições realizadas em dezembro de 1945, contudo, o brigadeiro foi derrotado
pelo general Eurico Gaspar Dutra, candidato apoiado por Getúlio Vargas.
No mesmo pleito, Cleofas elegeu-se deputado federal na
legenda da UDN, representando seu estado nos trabalhos da ANC, iniciados em
1946. Na Assembléia, foi um dos signatários dos dois documentos encaminhados à
mesa por Otávio Mangabeira em junho, manifestando repúdio ao Estado Novo e
exaltando as forças armadas pela deposição de Getúlio Vargas em 29 de outubro
de 1945. Ambas as moções foram aprovadas pelo plenário.
Com a transformação da Assembléia em Congresso ordinário
depois de promulgada a Constituição, permaneceu na Câmara até o final de seu
mandato (31/1/1951). Em janeiro de 1948, foi o relator do projeto sobre a
produção de açúcar e álcool no país, opinando por sua aprovação desde que
fossem introduzidas modificações que estendessem o amparo oficial aos açúcares
destinados à transformação em álcool anidro nas destilarias do Instituto do
Açúcar e do Alcool, promovessem a exportação do açúcar “tipo usina” que
excedesse o consumo nacional, e dessem maior amparo ao produtor, adiantando-lhe
parte da receita enquanto não ocorresse a exportação.
Durante
a legislatura, integrou ainda a Comissão Geral de Investigação Econômica e
Financeira, tendo sido o relator da parte financeira, apresentando relatório
intitulado Desorganização financeira do país. Participou também da Comissão de
Finanças da Câmara, tendo sido o relator dos orçamentos do Ministério das
Relações Exteriores, do Ministério da Fazenda e do Ministério da Agricultura.
Presidente da seção pernambucana da UDN, candidatou-se em
1950 ao governo do estado, concorrendo com Agamenon Magalhães, candidato
apresentado pelo Partido Social Democrático (PSD). No mesmo pleito, concorriam
à eleição presidencial Getúlio Vargas, pelo Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB), Cristiano Machado pelo PSD e Eduardo Gomes pela UDN. Após conseguir o apoio
do Partido Social Progressista (PSP), Vargas passou a desenvolver negociações
com as seções estaduais da UDN e do PSD, prometendo colaborar com o candidato a
governador do partido que lhe desse apoio. Embora preferisse compor com o PSD
em Pernambuco, encontrou esse partido firmemente comprometido com Cristiano
Machado, o que o levou a aliar-se à UDN. Apesar do apoio de Vargas, porém,
Cleofas foi derrotado por Agamenon Magalhães.
Entretanto,
havia se candidatado também à reeleição para a Câmara, obtendo novo mandato que
não chegou a cumprir, já que Vargas, eleito presidente da República, nomeou-o
ministro da Agricultura, retribuindo dessa forma o apoio que lhe dera a UDN
pernambucana. Entretanto, o presidente nacional da UDN, Odilon Braga, afirmou
que a nomeação de Cleofas para o ministério não envolvia nenhum compromisso do
partido em colaborar com Vargas. No dia 31 de janeiro de 1951, o novo governo
foi empossado, assumindo João Cleofas a pasta da Agricultura.
No ministério
No
primeiro ano de sua gestão, Cleofas criou por decreto, em 25 de julho de 1951, a Comissão Nacional de Política Agrária (CNPA). João Gonçalves de Sousa, secretário-geral da
comissão, traduzira um livro publicado pela Organização dos Estados Americanos
(OEA) sobre o problema da reforma agrária em várias partes do mundo, aqui
intitulado A reforma agrária no Brasil e no mundo, com a finalidade de esboçar
as diretrizes básicas para uma reforma agrária no Brasil. A partir dessas
diretrizes gerais, a CNPA passou a elaborar projetos específicos, como os da
Lei de acesso à Terra Própria, da Lei Geral de Imigração e da Lei de
Parcelamento Rural. Entretanto, esses trabalhos foram interrompidos em
decorrência de denúncias feitas por Carlos Lacerda, que afirmava ser a reforma
agrária mero pretexto para Vargas reivindicar poderes excepcionais, movido por
pretensões continuístas.
Em
relação à política creditícia, Cleofas tomou desde o início diversas medidas
relevantes: por decreto de 13 de agosto de 1951, transformou a Carteira de
Crédito Cooperativo do Banco do Brasil em Banco Nacional de Crédito Cooperativo, aumentando assim o incentivo à cultura de subsistência
desenvolvida por pequenos e médios produtores. Interessado em promover a
mecanização no campo, instituiu o Fundo de Mecanização da Lavoura, sistema de
créditos bancários rotativos implantado a partir de convênio entre o Ministério
da Agricultura e o Banco do Brasil.
Por
outro lado, foram ampliadas as operações da Carteira de Crédito Agrícola e
Industrial do Banco do Brasil, sendo adotados novos títulos de crédito para
facilitar o financiamento rural e implementado um sistema mais amplo de
garantia de preços mínimos. Ainda no Banco do Brasil, foi criada a Carteira de
Colonização, com o objetivo de apoiar a colonização por iniciativa particular.
Em 22 de novembro de 1951, o ministro tornou efetivo o
decreto de 24 de outubro de 1945 que criava a Confederação Rural Brasileira,
entidade de classe formada pela reunião das federações de associações rurais de
todo o país (em janeiro de 1964, essa entidade deu lugar à Confederação
Nacional de Agricultura). No mesmo sentido, Cleofas encorajou a criação de
federações estaduais de agricultura e de associações rurais municipais — ao
assumir o ministério, havia 31 destas associações, número que se elevava a 800
quando deixou o cargo.
Foi ainda em sua gestão que, no dia 22 de dezembro de 1952,
foi criado o Instituto Brasileiro do Café (IBC), que passou a desempenhar as
funções exercidas inicialmente pelo Departamento Nacional do Café e, a partir
de 1946, pelo Departamento Econômico do Café. Em outubro de 1953 assinou,
juntamente com todo o gabinete, a Lei nº 2.004, que instituiu o monopólio
estatal do petróleo e resultou na criação da Petrobras no ano seguinte.
Em janeiro de 1954, a Lei nº 2.163 criou o Instituto Nacional
de Imigração e Colonização (INIC), órgão que revitalizou os núcleos de
colonização existentes no país e determinou a criação de 14 novos núcleos. O
INIC esteve, durante a maior parte de sua existência, entregue a políticos
ligados ao Partido de Representação Popular (PRP), que congregava os
remanescentes integralistas.
Cleofas procurou também implantar o Serviço Social Rural,
iniciativa que, aprovada na Câmara, esbarrou no veto do Senado e só chegou a
ser implementada durante o governo de João Café Filho. Entretanto, o Congresso
aprovou a criação da Companhia de Seguros Agrícolas, proposta pela CNPA.
Preocupado em elevar a produção de trigo no país, Cleofas
promoveu uma campanha de intensificação do cultivo desse cereal em cooperação
com as secretarias de Agricultura dos estados produtores. Em conseqüência, a
produção anual subiu de cem mil para um milhão de toneladas ao fim de sua
gestão.
Nesse período, o ministério criou também estabelecimentos de
ensino de práticas agrícolas em todo o país, e promoveu estudos para a
instalação de uma rede nacional de silos e armazéns.
Sucessão estadual e sucessão federal (1954-1955)
Em fevereiro de 1954, no início do debate sobre o problema
sucessório, Cleofas escreveu ao governador de Pernambuco, Etelvino Lins,
afirmando que apoiaria o candidato do PSD ao governo do estado caso o partido
aceitasse a chapa Juarez Távora-Juscelino Kubitschek para as eleições presidenciais,
promovendo a “união nacional” proposta pelo próprio governador pernambucano.
Nesse caso, a candidatura presidencial deixaria de ser essencialmente
partidária, o que facilitaria as composições ao nível dos estados.
Em março, Cleofas tornou a discutir esse problema em almoço
oferecido em Petrópolis pelo governador do estado do Rio de Janeiro, Ernâni do
Amaral Peixoto, presidente nacional do PSD. Getúlio Vargas e Benedito
Valadares, também presentes, participaram das conversações. Entretanto, a chapa
Juarez-Juscelino não foi adiante.
Cleofas deixou o Ministério da Agricultura no dia 8 de junho
de 1954, desincompatibilizando-se para concorrer ao governo de Pernambuco nas
eleições de outubro daquele ano. Foi substituído interinamente por Osvaldo
Aranha, e depois efetivamente por Apolônio Sales, que tomou posse no dia 28 de
junho.
Reassumindo sua cadeira de deputado federal, iniciou a
campanha como candidato da UDN ao governo pernambucano, concorrendo com o
general Osvaldo Cordeiro de Farias, indicado pelo PSD. O Partido Comunista
Brasileiro (PCB), decidido a derrotar as forças pessedistas, formalizou um
acordo com a UDN e endossou a candidatura de Cleofas, que recebeu ainda o apoio
do deputado federal pernambucano Jarbas Maranhão, membro do diretório regional
do PSD, que foi expulso do diretório devido a essa atitude.
Embora vitorioso em Recife, Cleofas foi derrotado no interior
por Cordeiro de Farias, que venceu as eleições e assumiu o governo do estado em
janeiro de 1955.
No
mês de abril de 1955, em plena campanha para as eleições presidenciais de
outubro, reuniram-se representantes do Partido Democrata Cristão (PDC), do
Partido Libertador (PL), da UDN e da dissidência do PSD (os diretórios de
Pernambuco, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que se opunham à candidatura de
Kubitschek, apoiada oficialmente pelo partido). No encontro, debateu-se o
acordo entre Jânio Quadros, governador de São Paulo, e João Café Filho, no
exercício da presidência da República, segundo o qual o governador paulista
abriria mão de sua candidatura em prol de Juarez Távora caso pudesse indicar o
candidato à vice-presidência e fosse assegurada a São Paulo maior participação
no governo federal.
Ao fim de algumas reuniões, udenistas e líderes da
dissidência do PSD decidiram recusar os termos dessa proposta e lançar a
candidatura de Etelvino Lins, homologada na convenção nacional da UDN realizada
em 28 de abril de 1955. Cleofas protestou contra essa indicação e, logo que
Etelvino iniciou sua campanha, o Correio da Manhã publicou editorial (4/5/1955)
em que Cleofas o acusava de permitir diversas modalidades de jogo no estado,
explorando as taxas que dele advinham, excluídas do orçamento oficial, para
fins eleitorais.
Em
decorrência das objeções suscitadas por sua indicação, Etelvino acabou
retirando sua candidatura no dia 22 de maio, e a UDN passou a apoiar Juarez
Távora, já candidato pelo PDC. Nas eleições de outubro, Juarez foi derrotado
por Juscelino Kubitschek, que assumiu a presidência da República em 31 de
janeiro de 1956.
A união das oposições em Pernambuco (1957-1958)
Em
13 de novembro de 1957, João Cleofas, presidente da seção pernambucana da UDN,
participou de um comício contrário às modificações introduzidas na legislação
fiscal do estado pelo governador Cordeiro de Farias. As classes empresariais,
descontentes, haviam promovido a paralisação das atividades industriais nos
dias 9 e 13, recebendo o apoio dos sindicatos dos trabalhadores. Na
manifestação do dia 13, participaram, além de Cleofas, o presidente do
diretório estadual do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Antônio de Barros
Carvalho, e o deputado federal pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB),
Alexandre Barbosa Lima Sobrinho.
Essas lideranças estaduais, unidas em uma frente única de
oposição, pronunciaram-se não só contra a nova política fiscal como também
contra a violência policial registrada no final do governo de Cordeiro de
Farias. A partir de então, articuram-se udenistas e a chamada Frente de Recife,
composta por comunistas, socialistas e trabalhistas, em torno da candidatura ao
governo do estado do usineiro Cid Sampaio, presidente do Centro das Indústrias
de Pernambuco, em oposição à de Jarbas Maranhão, apoiado por Cordeiro e pelo
PSD.
Cleofas
trabalhou intensamente em favor de Cid Sampaio, promovendo reuniões com os
representantes dos partidos oposicionistas para coordenar a resistência ao
governo e o apoio ao candidato das oposições. Constituíram-se as Oposições
Unidas de Pernambuco, congregando UDN, PTB, PSB, o Partido Social Progressista
(PSP) e o Partido Trabalhista Nacional (PTN). Recebendo ainda o apoio do PCB, a
candidatura de Cid Sampaio foi formalizada em uma ampla reunião realizada na
casa de João Cleofas. Como resultado dessa campanha, Cid Sampaio conquistou
expressiva vitória nas urnas em outubro de 1958, assumindo o governo de
Pernambuco em janeiro do ano seguinte. Nas mesmas eleições, Cleofas elegeu-se
deputado federal na legenda das Oposições Unidas.
Em
1961, integrou a delegação brasileira à XV Assembléia Geral da Organização das
Nações Unidas (ONU). Na ocasião, declarou que, para o Brasil, a meta
prioritária da década deveria ser o incremento da atividade agrícola.
Outra vez candidato a governador
Novamente interessado em disputar o governo de Pernambuco,
Cleofas candidatou-se às eleições de outubro de 1962, na legenda do Partido
Republicano (PR), contando ainda com o apoio da UDN e de Cid Sampaio, que a
essa altura haviam rompido com a Frente de Recife e com as Oposições Unidas de
Pernambuco. Seu principal oponente era o prefeito de Recife, Miguel Arrais de
Alencar, indicado pelo Partido Social Trabalhista (PST) e apoiado pelo PTB e
pela dissidência do PSD liderada pelo deputado Paulo Guerra. O terceiro
candidato era Armando Monteiro Filho, ministro da Agricultura no gabinete do
primeiro-ministro Tancredo Neves, indicado pelo Partido Republicano Trabalhista
(PRT).
O
pleito de outubro de 1962 em Pernambuco foi cercado de um clima de
radicalização política provocando reflexos no panorama nacional, marcado na
época pela polarização das forças político-sociais.
Conforme foi mais tarde amplamente divulgado pela imprensa, o
Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) teria canalizado dinheiro
norte-americano para a campanha de Cleofas, tentando impedir a vitória de
Arrais, que tinha o patrocínio das forças nacionalistas e de esquerda,
inclusive os comunistas. Programas de ajuda dos EUA, como a Aliança para o
Progresso e Alimentos para a Paz, também teriam contribuído, bem como empresas
norte-americanas sediadas no Nordeste.
Segundo
declarações posteriores de Lincoln Gordon, então embaixador dos EUA no Brasil,
mais de cinco milhões de dólares foram destinados a ajudar os candidatos nas
eleições de 1962, com a condição de que defendessem a participação do capital
estrangeiro na economia brasileira e combatessem a reforma agrária. Em 5 de
novembro de 1977, o Jornal do Brasil publicou notícia afirmando que, além de
auxílio financeiro, Cleofas teria solicitado material de propaganda anticomunista
ao governo norte-americano. Entretanto, Cleofas refutou as informações do
jornal, negando ter pedido apoio financeiro aos EUA. Admitia contudo ter
solicitado o material anticomunista, o qual, segundo ele, não chegou a tempo de
ser utilizado.
Entretanto,
a despeito da poderosa máquina eleitoral montada em favor de Cleofas, este foi
derrotado por Arrais, que reuniu 264.499 votos contra 251.146. Enquanto Cleofas
recebeu os votos do sertão pernambucano e das camadas urbanas médias e altas,
Arrais foi sufragado pela população mais pobre da capital e por alguns núcleos
interioranos de trabalhadores rurais.
Cleofas terminou seu mandato de deputado em janeiro de 1963.
No mesmo ano, instaurou-se na Câmara uma comissão parlamentar de inquérito
(CPI) para apurar se o IBAD e o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPÊS)
haviam servido como agências de repasse das contribuições norte-americanas para
a campanha eleitoral do ano anterior. Entretanto, a CPI não chegou a apresentar
suas conclusões finais, pois foi dissolvida depois do movimento
político-militar de 1964.
Em junho de 1965, em pleito extraordinário realizado para
preencher uma vaga na bancada pernambucana, elegeu-se deputado federal na
legenda da UDN, com mandato até janeiro de 1967. Ao longo de toda a sua
permanência na Câmara, integrou a Comissão de Finanças e Orçamento e a Comissão
de Agricultura e Política Rural. Com a extinção dos partidos políticos pelo Ato
Institucional nº 2 (27/10/1965) e a posterior instauração do bipartidarismo,
filiou-se à Aliança Renovadora Nacional (Arena), em cuja legenda se elegeu
senador por Pernambuco no pleito de novembro de 1966, derrotando o
oposicionista Armando Monteiro Filho, candidato pelo Movimento Democrático
Brasileiro (MDB).
Tomou posse no Senado em janeiro de 1967, integrando entre o
início de seu mandato e 1969 as comissões de Finanças, de Indústria e Comércio,
de Agricultura, de Economia, de Legislação sobre Energia Atômica, de
Comunicações, de Obras Públicas, de Projetos do Executivo, de Estudos para Alienação
e Concessão de Terras Públicas e Povoamento, e de Ajustes Internacionais.
Ao longo de 1969, o Congresso Nacional esteve em recesso em
decorrência do Ato Institucional nº 5 (AI-5), promulgado pelo presidente Artur
da Costa e Silva em 13 de dezembro de 1968. Nesse ano, Cleofas representou o
Brasil na Assembléia Geral da Food and Agriculture Organization (FAO).
No reinício dos trabalhos legislativos, em março de 1970,
Cleofas foi eleito presidente do Senado Federal, cargo que exerceu por um ano.
Ainda em 1970, presidiu a comissão que, em julho, visitou o Nordeste a fim de
examinar as providências cabíveis para socorrer as zonas afetadas pela seca.
Presidente
do Senado num período em que a atividade parlamentar foi severamente limitada
pelo endurecimento do regime, admitia que a Constituição de 1967 e as emendas
de 1969 tivessem eliminado prerrogativas do Legislativo em favor do Executivo,
fato que atribuía a uma tendência mundial e ao “processo revolucionário” em curso. Durante sua gestão, promoveu reformas nas instalações do Senado e proferiu quatro
pronunciamentos reunidos na publicação Falando ao Senado e ao Congresso.
Ao deixar a presidência da Câmara Alta, em fevereiro de 1971,
foi eleito presidente da Comissão de Finanças do Senado, cargo para o qual foi
sucessivamente reconduzido até o final de seu mandato. Escolhido presidente da
Comissão Mista de Orçamento Geral da União, exerceu essa função durante o
período em que ela cabia a um membro do Senado. Foi também suplente da Comissão
de Agricultura, em 1971 e no ano seguinte. Ainda em 1971, integrou a delegação
brasileira à ONU.
Em
junho de 1972, foi designado para integrar a delegação de parlamentares à
primeira Conferência Continental da Reforma Agrária e Colonização da América
Latina, realizada em Bogotá, tendo sido o relator-geral da posição brasileira.
Candidatou-se
à reeleição para o Senado pela Arena de Pernambuco no pleito de novembro de
1974. Concorria com Marcos Freire, candidato do MDB, que em sua campanha
manifestou forte oposição ao governo. Diante do sucesso crescente da pregação
oposicionista, Cleofas procurou com ela identificar-se, declarando-se favorável
à normalização política e à abolição do AI-5 e denunciando o desvio de
incentivos fiscais destinados ao Nordeste em benefício de empresas
multinacionais. Embora tenha afirmado que a candidatura de Marcos Freire era
“revanchista e contestadora”, chegou a dizer em relação a seu adversário que “o
que ele defende é o que eu defendo também”.
Ante a perspectiva, confirmada em seguida, de uma oposição
eleitoral maciça ao regime, o que impossibilitava a vitória de Cleofas, os
líderes arenistas de Pernambuco chegaram a pedir publicamente a retirada de sua
candidatura à direção do partido. Os dirigentes do partido, porém, não
atenderam a esse pedido, e Marcos Freire conseguiu uma expressiva vitória nas
urnas.
Por ocasião das eleições indiretas ao governo de Pernambuco,
para o período 1975-1979, Cleofas foi um dos líderes arenistas que apoiaram a
candidatura de Marco Antônio Maciel. Embora estivessem certos de que essa
indicação seria vitoriosa, o governo federal decidiu-se por José Francisco de
Moura Cavalcanti.
Afastando-se da política, fixou residência no Rio de Janeiro,
dedicando-se à atividade agrocanavieira no município fluminense de Campos, onde
possuía uma fazenda.
Cleofas foi ainda diretor e vice-presidente da Confederação
Rural Brasileira, além de presidente da Associação Auxiliadora da Agricultura
de Pernambuco.
Faleceu na cidade do Rio de Janeiro, no dia 17 de setembro de
1987.
Era casado com Maria Olenka Carneiro da Cunha, filha de
Francisco Solano Carneiro da Cunha, deputado por Pernambuco à Assembléia
Constituinte de 1934 e em seguida deputado federal até o golpe do Estado Novo.
Além de discursos, relatórios, pareceres e conferências,
publicou Estudos da economia pernambucana (1933), A mecanização
agrícola no Brasil (1954) e Reforma agrária no Brasil (1960).
Sílvia
Pantoja
FONTES: BELEZA, N.
Evolução; BEZERRA, G. Memórias; Boletim Min. Trab.
(5/36); CAFÉ FILHO, J. Sindicato; CÂM. DEP. Deputados;
CÂM. DEP. Relação dos dep.; CAVALCANTI, P. Caso;
CISNEIROS, A. Parlamentares; COHN, G. Petróleo; Congresso;
COSTA, M. Cronologia; Diário do Congresso Nacional; CURRIC.
BIOG.; Estado de S. Paulo (18/9/87); Folha de S. Paulo (28/8/77);
Globo (18/9/87); Grande encic. Delta; GUERRA FILHO, R. Ministério;
HIPÓLITO, L. Campanha; Jornal do Brasil (16/10/66, 5, 9/11/77
e 18/9/87); LEITE, A. História; LEITE, A. Páginas; MIN.
GUERRA. Almanaque (1954); NABUCO, C. Vida; NÉRI, S. 16;
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Endereços; SENADO. Relação; SILVA, G. Constituinte;
Veja (29/7/70, 4/9/74 e 23/9/87).